Caminho entre destroços de mim
Com o porte de um desfile.
O tempo mastigou meus dias
Com dentes de ouro falso,
Mas ainda piso firme
Como quem crê na eternidade de um salto alto.
Meus bolsos estão cheios
De cinzas, Bilhetes antigos,
E gargalhadas mal lembradas
Mas faço deles um estojo
Para a última faísca de beleza.
O espelho me olha com pena,
Mas eu retribuo com pose.
A decadência me veste como um alfaiate fiel:
Encaixe perfeito nas costuras da desilusão.
As paredes do meu quarto
Descascaram com charme.
Até os cupins parecem artistas,
Esculpindo arabescos nas vigas
Do que restou de mim.
Já não espero visitas,
Mas deixo as velas acesas.
Não por esperança,
Mas por vaidade.
E se perguntarem se sofri,
Direi que sim
Mas sofri como se dança um tango:
Coluna ereta, olhos fechados,
E um perfume
Que disfarça qualquer desmoronamento.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense