Há um perfume antigo nas páginas que toco,
Cheiro de tardes perdidas em silêncio,
Onde o mundo parava só para me ouvir sonhar.
Cada livro na estante
É um espelho de mim em outra era:
Um eu mais jovem, mais curioso,
Ainda deslumbrado com a ideia
De que letras podem ser portais.
Sinto falta das noites em que uma vela bastava,
E o coração batia ao ritmo das palavras.
Ler era viajar sem deixar a coberta,
Era amar sem saber o nome do autor.
Os livros que li me ensinaram a lembrar
Do que nunca vivi,
Um tipo de saudade
Que só os leitores entendem.
Alguns livros ainda sussurram quando os abro,
Como velhos amigos reencontrados,
Com histórias que me conhecem melhor
Do que eu mesmo.
Às vezes, passo os dedos nas lombadas
Como quem acaricia um relicário.
Ali mora minha infância,
Meus primeiros sonhos,
Minhas primeiras fugas.
O tempo passou,
Mas a promessa ainda ecoa:
Abra um livro
E o mundo se dobra aos seus pés.
Nada é mais eterno
Que um instante lido com o coração.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense