não...
não me olha só por fora.
esse rosto
essa fala medida
esse passo elegante —
é vitrine.
montada.
brilhosa.
em sedas
de fingimento.
a verdade mora lá atrás.
no fundo escuro
onde nem eu
entro direito.
onde guardei
tudo que não serve
pra exibição:
as falhas sem poesia
os ciúmes mal resolvidos...
a vontade de gritar quando sorrio.
ninguém quer ver
o fundo.
o fundo nem sempre
é odorizante
tem o mofo de
escolhas erradas
cartas que rasguei
os "sim" que dei
querendo
dizer "não".
aplaude-me
pelo que vê
mas teria estômago pra ouvir meu silêncio?
para andar descalço
nas palavras que eu
nunca disse?
para amar-me
sem a moldura?
talvez não.
talvez —
como muitos —
prefira vitrine.
vidro
reflexo
pose.
mas o cansaço se expõe
agora quero
ser fundo.
mesmo que ninguém fique
Inconstante...

A linha preferencial da autora é sempre posicionar o sujeito poético na primeira pessoa.