Poemas : 

Dialeto da chuva

 


Não era falta.
Era húmus.
Matéria antiga
a respirar sob os pés.

O cheiro subia em espirais
como se a memória tivesse raízes
e a ausência germinasse em cada gota que caía.

Era o chão que falava
num dialeto de silêncios
de folhas que tocaram corpos
e nunca esqueceram o contorno.

Tudo era lento.
Como se o tempo
encharcado
escorresse pelos sulcos da pele.

E eu
meio lama
meio lembrança

ouvia a chuva falar
em sílabas estranhas
como se guardasse segredos
que só o vento entendia.




 
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idália
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 16/08/2025 10:22  Atualizado: 16/08/2025 10:22
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Mensagens: 16246
 Re: Dialeto da chuva
Poema de primeira grandeza onde há uma profusão sinérgica e metafórica que enchem os olhos do leitor. Agradabilíssima leitura!