- É quirança, é hora do feijão – balbuciou com dificuldade. Ergueu-se devagar, apoiando-se no encosto do banco, balançando que nem cuia de cego, e começou a andar.
- Tu não qué pra mim te atravessar? – brincou Gato, levantando-se também.
- Não precisa, desço na vazante – continuou todo aprumado com os passos cambaleantes, encostou-se no balcão do bar fechado e parou e lançou um olhar vazio. Fez uma careta.
- Essa miséria já está bêbado – falou Pé de Pato. – E ainda secou a porra da garrafa. Ah! Desgraça.
- Ele bebe de manhã cedo, aquela temperada do Mundé, por isso se embriaga cedo, nem bebe café. Dona Cândida diz que ele dorme em cima do prato – disse Gato Guerreiro em pé, observando-o.
Matraquinha deu um passo em falso e ia caindo em câmera lenta, Gato correu em seu auxilio e o ajudou.
- Vou te levar, teimoso – completou. Ele quis sair, mas Gato era forte, passou o braço pelo ombro dele e o rebocou devagar, atravessaram a estreita pista e desapareceram na esquina da rua dezoito.
- Crianças a cachaça acabou – advertiu Pé de Pato descascando outro ovo. – Vamos inteirar...
A muito custo Jamanta puxou de bolso uma cédula de dois reais e entregou-lhe. Jorginho, malandro velho, disfarçou olhando para a sapataria.
- Que milagre é esse? Vai chover – ironizou Pezinho de pé e ajeitando a bermuda, aparecendo o cabo branco da faca. – Mas antes vamos falar com Deus – e entocou-se no meio das cadeiras. Rasgou um pedaço de papel e enrolou tranquilamente um ‘birro de macaco’ e o acendeu. Jamanta e Jorginho avizinharam-se em volta dele – É na ‘paulista’, um pau pra cada um – sentenciou e passou o pequeno chaule, um verdadeiro fino de cadeia para Jamanta. Este, afoito, puxou fundo, engasgou-se e começou a tossir, andando de um lado para outro.
- Êta é da boa – bradou Gato, que foi logo pegando a bia e sugou tudo até queimar o beiço, cuspindo-se todo.
Gato Guerreiro logo se recompôs, assim como Pé de Pato que passava a mão no rosto e Jorginho de boca aberta como um palerma e Jamanta lacrimejando.
- Morreu, agora vamos inteirar uma garrafa – propôs Gato com uma moeda de um real.
Pezinho entregou-lhe a cédula que recebera de Jamanta.
- E quem vai lá descolar? – indagou com o dinheiro na mão. Todos os olhares se convergiram para o coiriento Jorginho que ia sentando-se no meio fio. Gato deu-lhe os três reais, mas antes o advertiu:
- Agora vai fazer como naquele dia.
- E aí Gato, tu tá me tirando?
Gato o olhou com desprezo:
- Não te digo nada. Não vai dar uma de doido que o pau te acha.
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