Sinto perto de mim uma sombra,
Que, pouco a pouco, me envolve;
Confesso que isso me assombra,
Pois algo me furta e não devolve.
Talvez corrompa a minha alma,
Ou, quem sabe, me leve o sonho.
Sei é que ando a perder a calma,
Por isso me tresdobro, tristonho.
Sinto esvair-se minha ingenuidade
Quando interajo com suínos e símios,
Com certos muares (de verdade),
Que acham os próprios relinchos exímios.
Talvez eu seja o culpado pelos tormentos,
Pelos copos que se enchem e transbordam.
Plantei tempestades, hoje colho os ventos
Dos tecidos cosidos por mãos que não bordam.
Mas nem por isso deixarei de dar os meus recados,
De gritar para aqueles pobres que não têm juízo:
Que Alá escolheu aqueles que não teriam pecados;
Por isso os doidos terão lugares certos... no Paraíso.
Gyl Ferrys