Poemas : 

Do céu aberto

 
Tags:  amor  
 


desconheço a porta por onde entraste
mas é quase certo que tem as dobradiças bem oleadas
e fechadura sensível com língua de seda
deve ser de madeira muito bem tratada
com todas as brechas calafetadas
e rematada com verniz desprovido de estalos

eu que pensava que todas as portas rangiam
ao mínimo aproximar
e qualquer toque nas maçanetas causava prurido
e que ao primeiro rufar de campainha
elas engrossavam num peso bruto de daqui não passas

dessa porta
não se ouviu voz a soletrar nome às frinchas do aro
não soprou aragem de respirar do lado de fora pela soleira
nem passou perfume em sinais de criar químicas
tão pouco voaram cartas de amor pela caixa de correio agulha

o soalho à entrada não gemeu
nem o tapete personificado escorregou de estatelar
nem os candeeiros te caíram que nem brincos de cristal
a tilintar às minhas orelhas
muito menos soaram alarmes nos sensores de abafar os olhos

todas as portas ficaram caladas até à cozinha
onde a chaleira te foi às mãos com poemas chá de hipericão
e o armário afastou-se da ficção para te caírem bolachas húngaras
recheadas com mel de abelha mestra de achegar-se

não bastasse, todas as portas te prestaram vassalagem
até à sala de estar
e a lareira subiu de chamas até à boca
a dizer eufemismos impróprios para cardíacos
até beijar com as letras todas do eucedário

que porta é essa, por onde entraste
que apagou todas as paredes da casa
até um quarto a céu aberto?


30-09-2025


 
Autor
AlexandreCosta
 
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