Ela tinha olhos que guardavam constelações.
Era como se carregasse no olhar pequenos fragmentos de infinito, capazes de iluminar até os silêncios mais escuros.
Quando passava a mão pelos cabelos dele, parecia que daquele toque brotava uma oração — simples, pura, invisível, mas capaz de influenciar até os pássaros que cantavam ao redor. Ele adormecia devagar e, entre um suspiro e outro, confessava não entender qual era a magia que havia em suas mãos.
Havia nele um abrigo. Ou, pelo menos, era isso que ela acreditava quando repousava sobre o peito dele, como quem já havia encontrado o nirvana. Era ali, entre batidas de coração e respiros lentos, que o universo se aquietava diante daquele instante de encanto absoluto.
Ela era lua cheia, clara e inteira.
Ele, um casarão escondido por uma densa floresta — pesado de memórias, cercado de sombras, difícil de atravessar sem esbarrar nos fantasmas. Sua luz, por mais intensa que fosse, não conseguia atravessar aquela densidade de segredos e omissões.
Ela era água límpida, transparente em sua essência.
Ele, um rio com seus mistérios e encantos, mas turvo. Daqueles em que é preciso coragem para mergulhar, porque nunca se sabe o que se esconde no fundo.
Nos lábios dela vivia o mais lindo poema de amor.
Mas as mentiras que ele semeou, junto às dúvidas que deixou no caminho, roubaram-lhe as palavras.
Ainda assim, dentro dela, a poesia permanecia.
E ela sabia: uma lua cheia não pode conviver com metades.
As palavras que se calaram hoje, amanhã florescerão de novo.
Agora, abraça o silêncio, sabendo que sua criança interior ficou doente, e precisa repousar!