Sorriso nu
Na tua ausência subalimentam-se
as letras e os poemas emigram
para paragens mais amenas,
já o suspiro,
é dor em papel nu
Ficam as vogais desidratadas
e no fio balançam em desequilíbrio
batem asas indomadas
e não encontram
o livre-arbítrio
Tentam pousar na tentação
ou no delírio ensimesmado de sol
mas a canícula sulca a pele
e do papel fazem lençol
O delito esboroa-se no branco
enquanto o negro toma conta do borrão
castrado, insone e franco
da tristeza no coração
Porém, existe um nome
embutido a letras douradas
nas minhas mãos e essa fome
faz bombear sílabas aladas
ao pensamento…e sorrio!
Depois
Depois
Ainda a ausência da primavera
chora o sal dos beijos despojados
das folhas dos eucaliptos, já as margens
desabrocham à areia na fantasia
de um novo verão
Apenas as sombras sobram da alegria
vivida e vívida desses abraços
em ramos enlaçados nos dedos de água
e encobrem a pele dos troncos cobertos
de tanto amor
E depois, nascem alegorias brancas
bramindo destinos ao cheiro a rosmaninho
enquanto a sede sucumbe ao ruído
que fazem as cegonhas no ninho
e esfuma-se a saudade no ar
Viajando, no tempo ausente!
Dias e dias andando ausente de mim!
Preces, pra que a vida faça sentido...
Largada á deriva, como um barco em alto mar, perdida, sem me encontrar...
No tempo não há meserícordia!
Nesta solidão, angustiada, não sei porque vivo...
Sómente aqui...
Viajando, no tempo ausente!
Luísa Zacarias
o relevo branco de teus traços
partiste sem um adeus
de despedida
não é o amor que dói
é a tua ausência
separa-nos um oceano
um outro lugar distante
[a impedir
o toque de nossos corpos]
que paisagem te envolve
que silêncios escutas
que olhares contemplas
que amores procuras?...
...que e mais que seria...
não são as palavras
que descrevem a falta
da tua presença em mim
és tu
e tu não és definição
como não posso exprimir
este tão profundo sentir
imprimo nesta folha preta
o relevo branco de teus traços
o monstro sou eu e eu nunca notei
a noite esta sem lua
não vejo as sombras da vida,
a tua ausência torna as horas
uma a uma cada vez mais frias
no campo
o branco das flores
das amendoeiras
impedem a tua presença
são tão breves os seus dias
para poderem mostrar sua beleza
que eu não posso negar
a luz fusco da escuridão
para em seus últimos momentos
ficar por lá as contemplar
a noite avança o frio queima
a aragem vem na escuridão
para esconder as silhuetas
tatuadas de desilusão
pétalas caem pelo chão
deixando um tapete branco
que o vento vai desenrolando
à medida dos meus passos
perfumando de branco
a paisagem do intenso preto
vida e morte
sonho e hediondeza
a satisfazer o prazer da noite
e a elogiar a tua ausência
só ouço vozes e murmúrios
dos fantasmas do dia
que ainda insistem no teu rosto
e diante uma janela embaciada
tentam criar a tua presença
a noite sabe mais do que devia
sabe bem que é escura
por mais que tente tatear
ouvir e cheirar na sua negrura
não deixa ver o lugar
onde habitas e me podes amar
eu não te vou poder achar
lembro-me que em menino
eu não tinha medo do escuro
apenas receava não encontrar
a bela e monstro a namorar
agora entendo
esta minha decepção
afinal a bela é ela
o monstro eu não o encontrei
foi então que percebi
que o monstro sou eu
e eu nunca notei
Como nunca
O mais difícil
são as distâncias
de impossíveis palavras
no lugar do que é dito
escutar fonemas
como outras águas
brotando
de um invólucro fissurado
ver que há o fora das coisas
e que não é possível
falar das coisas por dentro
por não terem lá nada
ou nada mais
que o nosso pensamento
de ausências
difíceis.
NO MUNDO DO SILÊNCIO
Já posso morrer descansado
Pois que comprei um pavilhão
No Boulevard do Repouso.
Passarei o tempo deitado
Sem sofrer do coração
E sem obrigações de esposo.
Está na Quinta dos Deitados
Não tem vista para o mar
Mas tem vista para Lua.
Não direi asneiras, fico calado
Não me importa o verbo amar
E sem saudades da minha rua.
Nesta Cidade dos Adormecidos
Passarei todo o meu tempo
Sem pensar sequer à vida.
Os desgostos serão esquecidos
Serão levados pelo vento
Que varrerá esta Avenida.
Não ouvirei mais promessas
Feitas pelos mentirosos
De Paz e de harmonia.
Nunca mais terei pressa
Para ir ouvir o Rui Veloso
Nem sentirei a nostalgia.
Na Avenida dos Alinhados
A paz estará sempre em mim
O silêncio será o meu mundo.
Para sempre, ficarei calado
E continuarei sempre assim
Não longe, mas lá no fundo.
A. da fonseca
Ruínas
Recorto esta longitude
E deito-me nos alicerces
Calcificados pela espera
Que o tempo crucifica
(e mortifica-me)
Pela dor da tua ausência
E desdém do teu olhar.
Escondo-me do mundo
E respiro no sonho
Onde me abarcas
E monopolizas os gestos
Que imagino teus.
Sobrevivo arruinada
Num mundo paralelo,
E quem me vê
Não me conhece.
(Não passo de uma mentira
Que inventei
Apenas para estar viva)
E a verdade reconcilia-me
Com a ruína…
“Quando você vem...”
Destilo poesia, versos estanques, no cio
A quem fez meu coração cativo, me amarrou
Nesta prisão onde até teus álibis silencio
Já que sei de cor, onde teu caminhar te levou
Se chegas, produzes um arco Iris em mim
Tua ausência rascante é depressa suprida
O nevoeiro se esvai, viçando nosso jardim
Brilham olhos tristes, esquecem a dor sentida
Sai recolhendo os pedaços, na casa abandonada
Exorciza os fantasmas que arrastam correntes
Na solidão das noites, pensamentos dolentes
Viajam ate você, olhos perdidos no nada
Veias cantam poemas, falam desta saudade
Ao entrar pela porta, os versos viram verdade
Glória Salles
No meu cantinho...
Manda-me recado
MANDA-ME RECADO
Manda-me do teu coração um recado
Sinto hoje em mim esta dor danada!?
Diz-me que por ti já terias voltado
Mata a saudade em que vivo sepultada.
Basta de ausência que parece castigo
Manda recado, meu coração desespera
Um sorriso, um abraço, conto contigo.
Tarde a tarde, me afundo nesta espera.
Sinto-te nos meados das manhãs de Maio
Sinto-te nas flores, no Sol que fulgura
Sinto-te no coração, e do teu não saio!
Envia ramos de flores quebra a solidão
Eu, esquecerei a dor, que em mim dura!
E assim soltarei meu grito de libertação.
rosafogo