Não era cerimónia a parcimónia. Não se escrevia cereal, não se misturava Ceres com à parte.
Uma era total, a outra, divisão.
Se havia nalguma, vergonha, talvez a que sobra seja a que sonha.
Por vezes encontravam-se numa frase, ou ainda, num verso, numa conversa em que se desconversa, apruma, linda.
Uma era social, tinha gente ideal, a outra quase vazia, fazia dum gato pingado ou dois o prato, depois, esse miado.
Mais gente, mais barulho, enchia o bandulho, troca, perna que se roça, indecente, inocente. Impuros os puritanos, insanos.
Fazia cerimónia a parcimónia.
Encolhidas a um canto. A sala redonda. Onda onde fala, tanto.
Ambas partilhavam uma parte. O sufixo. Prolixo químico que faz saltar o verniz, cínico, faz mal ao nariz, a amónia.
O amoníaco, demoníaco, maníaco.
A noite pôs-se, açoite.
Faz-te à estrada, errada.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.