De vez em quando
leio um poema
e nem sei bem o que leio,
talvez se ando
com um problema,
ele sabe-me e eu sei-o.
Sabe-me bem,
nem sei explicar porquê
o bem que me sabe,
ler um poema que tem
versos a rimar, quando alguém o lê,
ou sem versos e onde a rima não cabe.
Não resolve a minha vida
a leitura
(não tem a literatura tal papel),
é uma coisa escondida
e dura
um poema ser-me fiel.
Leio para me rir
da graça que há na desgraça
e na desgraça que na graça há;
que tudo é partir,
que tudo é móvel e passa
seja aqui, ou acolá.
Leio, para ler essa coisa rara
que me passa ao lado,
que não vejo
à minha frente e, à minha frente para,
perfeita como um quadrado,
ou um beijo.
Nunca me fez mal
ler um poema, fosse pequeno ou grande,
que me encha as medidas.
Vale
ter um por onde ande
por outras vidas.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.