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2.

 
 
um dia, não muito longe, fecho os olhos e inclino a cabeça, o rio ao fundo a fugir-me dos pés atados no ramo da árvore. à copa desta sentam-se pardais que me olham ao contrário, presságio da cada vez menos futura morte. ouvem-se as garças levantar voo da outra margem, onde um pescador amanhece o anzol, é domingo. minto. é quarta-feira à noite e esqueci-me de mim. as paredes do tronco da árvore onde pouso estão pintadas de negro, há folhas a cair do corpo. a vinte centímetros do chão morro.
um dia, não muito longe, abro mão de alguns passos e corro árvore abaixo, até morrer ou até o meu coração chover algumas feridas, dessas que não cicatrizam e duram o tempo de estarmos vivos. tenho saudades de ser feliz.



. façam de conta que eu não estive cá .

 
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Margarete
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/10/2008 21:37  Atualizado: 23/10/2008 21:37
 Re: 2.
60 segundos, II. rápidos :)

beijo.

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 23/10/2008 22:38  Atualizado: 23/10/2008 22:38
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 Re: 2.
Margarete,

Em suma: Todos temos saudades de ser feliz;
Em suma: As folhas caiem pelo outono;
Em suma: Toda a natureza surge e ressurge com outra raiz;
Em suma: Nenhuma das garças e pardais de que nos escreve têm dono;
Em suma: Há sempre algo que se diz e desdiz;
Em suma: Este seu texto...não o abandono.

Como já comentei, escreve muito bem...
Gostei, verdadeiramente.


Bjs

Enviado por Tópico
luísfilipepereira
Publicado: 24/10/2008 13:10  Atualizado: 24/10/2008 13:10
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 Re: 2.
Lindo. Texto-mais-que-perfeito rasando os dias sombrios até aos confins da morte. só as árvores nos perseguem corpo adentro e no seu verde vertical pernoitam as saudades e as feridas que sangram o desejo de ser feliz no âmbito claro da infinda escuridão. Parabéns, Mar!
luís filipe pereira
www.lippepereira.blogspot.com