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Dos Vedas à Shakespeare – eis-me aqui

 
Dos Vedas à Shakespeare – eis-me aqui
 
Os espiritualistas (e eu incluo-me nesta classe) defendem a tese de que não devemos sucumbir aos desejos do corpo. Também encontramos esta exortação na Bíblia Sagrada no texto da carta de Paulo aos Gálatas Cap.5 versículos 16 a 26, cujo pequeno trecho ressalto à seguir: “Digo, porém: Andai em espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.” Verificamos afirmações semelhantes no Budismo, no Taoísmo, no Islamismo...enfim, em praticamente todos os “ismos” a que temos conhecimento pelo mundo afora.
Porém, eis que surge meu questionamento, puro e cristalino, não eivado de malícia e sim sedento da busca de mim mesma: Quem realmente deseja? O que é o corpo sem o espírito que o anima? Teria o corpo físico vontade própria?
Há pouquíssimos dias fui testemunha do desencarne de minha mãe. Eu que nasci dela, cresci com ela, sofri com e por ela, alegrei-me com ela....enfim com ela vivi. Posso garantir-lhes: nunca conheci ninguém tão apegado à vida e às coisas materiais como ela. No entanto, na hora de sua morte, toda esta vontade, este desejo, todo o apego que tinha não foram suficientes para mantê-la neste plano.
Quem decide afinal? O corpo? Não creio; e antes que eu comece a tecer minhas teorias, gostaria de deixar bem claro que são apenas o que são: teorias. Longe de mim levantar bandeiras da “verdade”, até porque a verdade de cada um varia conforme sua necessidade e consciência. Porém, gostaria de lembrar que, a VERDADE é uma só e esta sim é imutável e libertadora. Caminhamos rumo à Ela e como disse nosso Mestre Jesus: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32)
Mas voltando ao “templo de nossa perdição e libertação”: o corpo. Este invólucro muitas vezes relegado à segundo plano, não raro desconhecido por seus próprios donos, massacrado pelo emocional, palco de sensações maravilhosas, berço de nossa existência, templo de nosso SER. Nosso corpo é um mero veículo, em tese. Ele é o meio através do qual nos manifestamos e interagimos com outros meios de manifestação Divina. Utilizamos nosso corpo para promover a paz e a guerra, a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a riqueza e a pobreza, a dor e o prazer. É um invólucro frágil e limitado...mesmo assim ainda causa este “estrago” todo. Será?
Quem realmente age através de tudo isto? O cérebro...não. Ele faz parte do corpo. Seria o emocional? A ciência diz que o emocional resulta de um conglomerado de reações químicas oriundas do sistema hormonal. Logo, o emocional também é parte do corpo físico, apesar de sabermos que temos outros corpos astrais, dentre os quais, o corpo emocional. A mente? É bem provável que ela seja a “atriz coadjuvante” nesta história.
Meu palpite é que o espírito comanda todo este “espetáculo”. Claro, o espírito encarnado...este limitado às circunstâncias de um “veículo”. Digo isto pois quero lembrar da grande diferença entre o espírito encarnado e o ESPÍRITO DIVINO, o Divino Espírito Santo, o Anima Mundi, a Razão de Tudo. Este sim é Único e Verdadeiro e presente em tudo e em todos. O Imutável. Ele simplesmente é!
Nossa condição é diferente: somos espíritos encarnados. Precisamos de um meio para nos manifestarmos neste plano. E poderia ser qualquer outro meio também....afinal tudo é manifestação.
Mas voltando ao Regente da orquestra: eis o espírito. Cheio de experiências diversas, vivências. Cada qual com seu nível evolutivo; com sua faixa vibratória própria, pulsando na ânsia do retorno ao seu Criador. O movimento é um só com duas nuances: expansão e contração. São as batidas do coração, as pálpebras que se abrem e fecham, a respiração inconsciente e cadenciada de nossos corpos, o amor que gera novas vidas. Este movimento é incessante e independe de nossas vontades e consciências ainda tão tenras. Tudo é como deve ser.
E se assim é....acostume-se com seus conflitos. Eles existem porque você precisa deles. Para crescer. Para voltar. Para recomeçar. Para chegar à cauda do Dragão e retornar à cabeça do mesmo a fim de completar o ciclo e recomeçá-lo novamente. É o movimento...E quando você descobrir que não há mais nada externamente que possa tirar-lhe seu equilíbrio, que possa desvirtuar-lhe de seu eixo...creio que finalmente estarás bem próximo do TODO e serás um com ELE.
Lembrei-me agora de Shakespeare, e de sua famosa frase de Hamlet: “Ser ou não ser: eis a questão.” Eu digo que esta frase traduz bem o drama do ser humano. Permitam-me uma adaptação: “Ser e estar – eis a questão.”
Nosso drama resume-se em ser o que somos nas circunstâncias em que estamos.
Caros amigos, já há algum tempo, venho compilando textos de minha autoria em um livro que pretendo publicar. A idéia que este texto apresenta será, ao menos em parte, um dos capítulos deste livro. Não sei quanto tempo levarei para escreve-lo e, plagiando Clarice Lispector, a quem tenho grande admiração: “ Não sou escritora”. E, como ela, assim não defino-me para que não me cobrem. Afinal, escrevo por paixão. Portanto preciso estar apaixonada de alguma forma para escrever; logicamente, isto nem sempre acontece.
O livro já tem nome: ENQUANTO O NIRVANA NÃO VÊM. Ele tratará deste drama humano do auto-conhecimento no cenário realista de nosso cotidiano onde muitos sabem ou acreditam em sua origem e destino; porém estão mais perdidos que cego em tiroteio no meio deste longo caminho que une as duas pontas.
Vivamos! Este é o meu conselho, se me permitem. E quando tiverem dúvidas: simplesmente parem e observem...têm dado bem certo para mim.


Faze o que tu queres será o todo da Lei.
Amor é a Lei. Amor sob Vontade.

 
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Ravendra
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/04/2009 10:20  Atualizado: 16/04/2009 10:23
 Re: Dos Vedas à Shakespeare – eis-me aqui
Li com muito interesse este seu texto, Ravendra, que se dispersa por temas que igualmente me são muito caros.
O tema que mais me chamou a atenção foi, todavia, a questão que levanta logo no início e que é, mais ou menos esta: quem manda em nós o corpo ou o espírito. Questão velha e universal que correntemente me parece erradamente abordada já que não deverá ser colocada nesse dualismo maniqueísta.
A minha ideia aponta para que, tendo o homem sido criado à imagem e semalhança de Deus, não somos (nós pessoas comuns) gotas de puro espírito instaladas num corpo. Somos sim almas que animam um corpo na vida terrena e que evoluem, eventualmente em existência diversas, terrenas ou não, pares teores espirituais mais puros, isto é, próximos de Deus. daí que o espiritismo confira à vida de além túmulo análogos prazeres e sofrimentos ao da vida física.A destrinça entre espírito e alma é subtil e mais importante do que correntemente se entende. Não se trata de mera sinonímia.
Muito mais haveria a dizer e a debater.
Obrigado pelo seu texto.

Bj