Sonetos : 

Volúpia

 
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte...
--- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...



Florbela Espanca
( 08/12/1894 — 08/12/1930)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
Florbela Espanca
 
Texto
Data
Leituras
778
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 20/05/2009 21:41  Atualizado: 20/05/2009 21:41
Colaborador
Usuário desde: 20/01/2008
Localidade: SP
Mensagens: 3489
 Re: Volúpia
um arrebatamento súbito! uma pisada surda e forte no espaço! lindo soneto!

Maria verde

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 20/05/2009 23:31  Atualizado: 21/05/2009 00:05
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 Volúpia à soror saudade
esta Mulher, que lhe fez a vida? amargo o fado que lhe foi traçado, absorto o caminho, ligeiro o passo, acelerado o coração. esta Mulher que me come as palavras, ou os gritos mudos, e mente mais no meu sangue que no dela, me morre como se fosse água rente às palmas, escorre. esta Mulher é toda ela saudade.

Deixa-me dizer-te mulher poeta
os versos que te fiz sem o saber,
o teu poema o meu coração desperta
para palavras e silêncios por escrever.

Dói não ter-te aqui para te contar
as voltas que o mundo deu quando morreste,
Choro o pouco que resta para chorar
e eternizo as palavras que deixaste.

Mas, poeta, não te digo nada,
carrego nos meus versos afogada
a mágoa de nada te dizer.

Leio-te sempre a boca já calada,
no peito vai chorando amargurada
a mão que um dia te quis escrever.


Dedicado à Florbela Espanca, Mulher Saudade...