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O dia em que eu chorei para dentro...

 
Tags:  diana    meu amor  
 
O dia em que eu chorei para dentro foi-me fatal. Essa manhã acordou já húmida, o Inverno agarrara-se a fiapos de nevoeiro, tentando aquecer-se, mas o efeito foi o contrário: fiapos de algodão levados a frio extremo transformam-se em agulhetas de gelo... que ferem, que fazem sangrar...
Mas foi a humidade que me danificou, mais que o frio. O frio foi até meu amigo, paralisou-me, ficou ali comigo, petrificou-me, como se quisesse que a Dor passasse por mim sem me notar...
A humidade foi-me cruel fatalidade. Não aquela que pingava na visibilidade do ar, cá fora! Não, essa não. O problema foram as lágrimas quentes, que, trementes e tementes do frio cá fora, se recolheram aos meus olhos e me caíram para dentro... Não sei bem que dano irreversível me causaram, sei lá, um curto circuito interno, sei lá!..
Sei que nunca, nunca mais, consegui voltar a ligar a alavanca de Arquimedes, e erguer-me acima do nevoeiro...
...e o sol que consigo, é sol inventado, algures entre uns olhos de mar e uns olhos de mel... e um bater de asas de anjo...


(relembrando...)


INFILTRAÇÃO

Sinto a minha alma molhada,
Empapada.
Acho que o meu coração cedeu,
Rompeu...
E uma infiltração difusa
Escorre por fenda obtusa.
Será chuva?

O meu coração é um charco,
Um barco
Sem fundo e sem vela,
Aguarela
Sem cor e sem vida,
Mera força amolecida...
Naufrago?

A minha alma apodrece,
Esvaece.
Do coração trespassa,
Perpassa,
A humidade que mina
O alicerces da ruína...
Será só orvalho?

O meu coração goteja,
Mareja,
Molha a minha alma frágil,
Intáctil.
E rios de cristal fluído
Aquecem-me o olhar perdido...
...São lágrimas!


Teresa Teixeira


(A minha Dor começa por D... Diana...)
 
Autor
Sterea
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Enviado por Tópico
AlvaroGiesta
Publicado: 09/06/2009 11:53  Atualizado: 09/06/2009 11:53
Participativo
Usuário desde: 03/03/2009
Localidade: Entre Barreiro e Vila Nova de Foz Côa
Mensagens: 36
 Re: O dia em que eu chorei para dentro...
De fácil leitura e compreensão este texto.
Tão poética a prosa quão a poesia.
Vou estar atento ao que escreve.
Cumprimentos

Enviado por Tópico
Carlos Ricardo
Publicado: 09/06/2009 13:58  Atualizado: 09/06/2009 13:58
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
 Re: O dia em que eu chorei para dentro...
Sterea,

emerge dos seus escritos uma tristeza que não é retórica, nem estilisada, antes profunda e deprimente. O sol pode ser inventado, mas a sombra não e a Sterea tem revelado uma imensa vitalidade para lidar com ela.
Parabéns!

Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 09/06/2009 14:09  Atualizado: 09/06/2009 14:09
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: O dia em que eu chorei para dentro...
EXCELENTE! Tanto a prosa poética como o poema!

É cada vez mais um prazer lê-la!

Um beijinho

Enviado por Tópico
AnaMartins
Publicado: 09/06/2009 14:31  Atualizado: 09/06/2009 14:31
Colaborador
Usuário desde: 25/05/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 2220
 Re: O dia em que eu chorei para dentro...
Uma simbiose perfeita da prosa e do verso. Mas mais do que isso, muito mais do que isso o arrepio que senti ao ler e rever-me claramente nos seus escritos. Deixo aqui o meu assentimento em silencio.

Mas sabe uma coisa? A alma molhada vai secar e barco mesmo sem fundo e sem vela vai boiar.

beijo


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 09/06/2009 15:00  Atualizado: 09/06/2009 15:00
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8102
 Re: O dia em que eu chorei para dentro...
Este é o poema de tristeza mais lindo que eu li na vida. Beijinho grande

Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 10/06/2009 08:19  Atualizado: 10/06/2009 08:19
Colaborador
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Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: O dia em que eu chorei para dentro...
Chorar para dentro magoa duas vezes, que mais cedo ou mais tarde, as sequelas aparecem cá fora. Não nos vale de nada magoar a alma, quando nos podemos ficar apenas pelas dores físicas...
E nós conseguimos até tirar partido das mágoas, quer espiritualmente, quer poeticamente.
Escrita sensível e muito humana de uma pessoa que aprendi a respeitar.
Grande abraçooo para a Teresa!
Abílio