Poemas -> Tristeza : 

Quisera andar de carrossel

 
Tags:  poema    poesia    parkinson    rogério martins simões  
 
 
QUISERA ANDAR DE CARROSSEL
Rogério Martins Simões

Quisera andar de carrossel
Com um sorriso de criança que ri
Rosto rebuçado, melaços de mel
Laivos da festa que resta em ti…

Num dedo prendo o balão,
Com outro seguro o corcel
Soco a bola com a mão
As mãos, o rosto e a testa
Besunto-me todo com mel.

Solta-se dos dedos o balão
Que voa a caminho do céu
-Mãe! Vai-me apanhar
Um sorriso igual ao seu…

-Meu filho a mãe não sabe!
Ler, nunca aprendeu:
A mãe vai procurar
O balão que se perdeu…

-Mãe que sabe escutar,
Meus choros em seu coração
Abençoada o seja minha mãe
Por tudo o que foi e me deu!

Rodopiam as lembranças da festa
Pára o movimento ondulante
Sujo-me de novo a cada instante…
Sem rebuçados com sabor a mel
Mas… Brinquei tanto no carrossel….

2005-10-20
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspecção-Geral das Actividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)
http://poemasdeamoredor.blogs.sapo.pt
Oiça aqui o poema declamado pelos Estúdios Raposa.


Rogério Martins Simões


Este poema foi escrito quando pela primeira vez fiz “borrada”. Foram os primeiros sintomas da minha doença de Parkinson e um verdadeiro desastre no jantar de anos da minha querida companheira. E nesse momento senti-me perdido! Recordei os tempos em que com o rosto “rebuçado” brincava feliz no carrossel.

Mais umas palavras:
Há dias assim. Ontem não estava assim e no início de hoje estou bastante mal e tremo e temo.
Aos poucos vou agravando a minha doença que teima em se enfeitiçar por mim.
Que enorme coragem Michael J. Fox
Escrevo aqui palavras que não tive coragem de escrever no blog.
A vida continua.
O espectáculo tem de continuar e enquanto há vida há esperança. Afinal só tremo do lado esquerdo.
Afinal ainda consigo vestir e tomar banho, apesar de hoje o fazer em duas horas quando há pouco o fazia em 15 minutos.
Afinal ainda ontem… era campeão nacional de atletismo no meu Sporting Clube de Portugal.
Quero agradecer a vós todos que gostais da minha poesia que não está à venda. Ela destina-se a todos vós, companheiros solidários dos que mais sofrem e a todos os que sofrem.
Estou solidário com todos aqueles que neste momento não têm como eu tenho uma “santa” Elisabete (a minha companheira) que me ajuda a apertar o nó da gravata e o cinto.
Sinto neste instante um aperto na garganta que me tenta asfixiar a esperança.
Não!
Irei continuar a lutar pela vida.
Irei continuar a escrever no teclado a poesia que me liberta e que a mão não consegue perceptivelmente escrever com a caneta.
Espero que apreciem a minha poesia se entenderem que ela tem valor. Sempre escrevi poesia e nessa altura não sofria de Parkinson.
Diziam que era linda!
Rasguei-a quase toda!
Por isso entendam isto como um grito de medo mas ao mesmo tempo tentando esconjurá-lo e pendurar-me na esperança ou se preciso for na fé que nunca me deixou sozinho.
A coragem não falta aos grandes homens!
Vejam a coragem e a tremenda luta que trava por mim e por todos os doentes que sofrem com a Parkinson Michael J. Fox
Todos temos de lutar e tentar viver um dia de cada vez -o melhor possível.
Rogério Martins Simões
 
Autor
poetaromasi
 
Texto
Data
Leituras
1674
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.