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Calibã

 
Uma mesa de bar. Uma garrafa de vodka sobre a mesa. Algumas rodelas de limão. Papéis presos por um copo que transborda sentimentos ocres. Uma música lacônica ao fundo, um livro velho de poesias, faltando duas páginas conclusivas aos capítulos errantes da minha vida. Um lápis de ponta torta, meia dúzia de palavras escritas, porções e porções únicas e solitárias de pensamentos oriundos de algum lugar que desconheço. Alpendre da minha vida.

Traga-me mais uma garrafa. Voe daqui com essas minhas incertezas impuras! O cheiro do ralo domina este lugar, este lugar podre, insalubre, que atrai somente aos ratos daquele porão desativado. Joga-me migalhas de pão. Eu as cato uma a uma, e, as faço descer garganta adentro junto a alguns goles secos desta minha limonada russa. Queima-me, rasga-me por inteiro! Deixe as cruas e nuas eviscerações desta minha dor desgraçada! Saia daqui, vermes subversivos da minha razão, locatários fiéis de minhas insanidades! Junta-te a elas, essas palavras alquebradas, que perfuram essas velhas laudas da minha vida.

E se tu me olhas agora nos olhos e vês pena, pega esses teus trastes velhos, suados e rasgados, e, vá-te embora daqui!

Rasgo-te folha imunda! Nada merece ser registrado aqui!

Garçom, um suco de laranja, por favor!


rody

 
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rody
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