Vontade?
Vontade? Hoje me parece inquietação! Um pouco de revolta, talvez! Frustração? Fazes de pugilista com mãos de brincar! Fazes cócegas aqui, beliscas ali. E entre risos e ais onde está a vontade?
Sim, onde está a pessoa séria, engravatada que esperas de mim? Onde está a minha vontade contagiada? Onde está a tua vontade? Porquê me inquietas? Me abraças e me jogas na parede?! Por simplesmente não poderes estar parada?! Corres, corres e corres! Suas de desespero! Qual a razão? Onde está a vontade de sair desse lugar? Parece um pesadelo! Tens medo que alguém te pegue, corres e não consegues, e quando sentes a mão... acordas inquieta! Estendes os braços ao mundo mas és tu quem giras. E ao girar impedes que se cheguem perto! Tens tudo! Tens demais! Tens de largar! Tens de te livrar! Tens que mostrar a tua frustração! Mas onde está a vontade? A que não belisca? A que tem um projecto? A que segue em consciência o caminho certo? Diz-me, preto no branco, para que serve a cor que emanas? Essa pretensão? Amuas que nem criança, mas negas afecto que nem pedra, que nem diamante! Te mostras em bruto, por lapidar! Não queres que te toquem, não! Não queres que retoquem a tua máscara de porcelana! Que de tão longe parece linda, mas, olha aqui, ali, acolá! Parece que está partida! É essa a razão da tua revolta? Me diz apenas onde está a vontade! Diz-me apenas, sem empurrar, sem luvas de borracha, sem inquietação. Tens tudo, até o tempo! Respira fundo. Pensa, me responde, eu espero. Me convence que vontade não é agir duas vezes antes de pensar. Me convence da tua vontade, não da tua ansiedade.
Águas do luso...
Águas do Luso
Água que no Luso nasces
e nos lábios de meu Amor morres…
Como te invejo… como eu te invejo
por tocares na boca sagrada,
por beijares a minha Amada.
Água cristalina, tornas-te parte
daquele corpo que a mim fascina.
Agora sei o porquê de tão bela alma.
Culpa tua água cristalina…
Bebe as lágrimas dos Deuses
que no Luso brotam.
Água que respiras e bates
nos olhos do meu coração,
que neles fazes espelhar
meu rosto.
Água que és do Luso
só em ti confio para regar
a Flor mais linda.
Beber-te nos lábios dela
é tudo que mais desejo.
-Pedro Lopes – Plenitude do sentir -
- Editorial Minerva, Lisboa, 2006 -
Onde estás, minha dor?
Não sei se por clemência
Se por magia ou coincidência
Eu não te encontro onde devia.
Fecho os olhos de contente
e por mais, por mais que tente
Não te vejo, que alegria!
Eu te conheço, és traiçoeira
Vais querer arranjar maneira
de voltares à minha vida
Mas eu te espero abrindo o peito
Só p'ra veres que deste leito
Um outro alguém fez moradia
(Só para veres que p'ra tormento,
para dor e sofrimento
Não tem lugar nem alimento)
Frase
Muitos escrevem em busca da fama. Eu busco apenas falar com quem não me Ama...
(Pedro Lopes)
Assim, de repente...
Assim, de repente...
As vezes eu fico sozinho
Aí vem umas pessoas voando e ficam do meu lado
Não podem falar
Apenas seus olhos em silêncio me dizem alguma coisa
Assim, de repente...
As vezes eu quero ficar sozinho
E saio calado diante de todos
Que me olham em desaprovação
E dizem que sou estranho
Porque não me despeço
Porque vou de repente
Porque, de repente,
O riso perde o sentido...
As vezes eu quero ficar sozinho
E eu não decido isso
A vontade vem
Vem uma força que esvazia
Que apaga a estrada por onde vim
E apaga também o sentido por onde ia
E não vejo mais
E tenho que me retirar
Assim, de repente...
No meio dessas pessoas
Tão amáveis
De sorriso tão fácil
Eu sinto falta
Eu sinto muita falta
E essa falta
Assim, de repente, me invade
E enche meu coração
E ai não posso mais participar
Entender a piada
E ver uma graça em qualquer coisa...
Alguma coisa
No meio dessas pessoas tão sadias
Me faz lembrar
De algo que não apalpo
Mas, como uma pontada no meu nada,
Ela me acorda
E me diz que tenho que saí
Que acabou a brincadeira
Deu meia noite
E não há fadas
Não há nada...
Apenas a Noite que me abre os seus braços
A me oferecer seu beijo
Durante a madrugada
Em que penso e penso...
Mas nada,
A mim não se revela nada,
Mas a vontade de ir vem,
Mesmo sem saber por que,
Nem para onde, vem,
A vontade vem
Assim, de repente...
Os ventos do amor
Eu também sofri em tempos
Quando os ventos eram outros
Mas hoje os olhos estão absortos
Num sem fim de sentimentos
Que não te sirvam os maus momentos
Para mais tristezas nem mais tormentos
Pois momentos p'ra amar são poucos
E os ventos do amor são loucos!
Deixa
Deixa!
Eu dizer todos os dias sobre sua beleza.
Deixa!
Eu ver o anoitecer ao seu lado.
Deixa!
Eu te mostrar como é bom ser amado.
Deixa!
Eu poder lhe dizer como você é importante.
Deixa!
Eu provar seus beijos.
Deixa!
Eu sentir seus abraços.
Deixa!
Eu inspirar seu cheiro.
Deixa!
Eu acariciar sua pele.
Deixa!
Eu fazer parte da sua vida.
Deixa!
Eu queria não perceber nada disso...
Eu queria não perceber nada disso...
Atualmente sou alguém que não sente
Alegria alguma,
A mão que era para me afagar
Apenas me descobre
E aponta minhas cicatrizes antigas
E não entende
Que apesar das dores que já senti
Não me acostumei a sofrer...
Eu queria não perceber nada disso...
Eu queria muito não saber o que se passa
Achar que tudo terminaria bem
E poder continuar na vida que levo
Não destruir o que não existe
Não ter que baixar os olhos envergonhados...
Eu vou para o quintal depois que a casa dorme
E fico pensando em como cheguei onde estou,
Nas tantas voltas que já dei
E, por fim, penso que deve haver
Alguma finalidade para isso...
Porque não existe sofrer gratuito,
Apesar de, às vezes, tudo parecer parado,
Não há dor que perdure eternamente...
Entro e deito, e fico pensando
Ás entradas dos sonhos...
Essa situação me faz querer pensar
Em épocas raras em que vivi
Fracas nuances da alegria,
Épocas que vão ficando dispersas,
Acinzentadas,
De cujos detalhes vão se perdendo,
Restando apenas algo como
Uma música inaudível,
Ou a remota sensação de lembrança
De se ter tido um sonho bom...
Meu maior esforço é tentar lembrar
Que um dia alguém me amou,
Me amou do jeito que sou,
Sem me negar um pouco de carinho,
Uma brincadeira, essas coisas
Cuja falta nos deixa tão frágeis...
Eu lembro,
Às vezes, da mais recente,
Que já vai longe,
E percebo que ainda não está
Tudo perdido,
Que os ventos um dia vão
Vir para esse rumo...
A vontade que eu tenho,
É tão difícil de saber...
Eu fico lembrando
De um sonho que tive,
De um sonho que se foi,
Mas que me confiou suas lembranças
E eu, em tempos tão secos,
Me refrescos com aqueles tempos,
Tempos que não vivi,
Que imaginei,
Que assim se incrustaram na minha alma...
O canto da saudade
Dou por mim num canto, em branco, com a alma desalmada
Chorando pois nem meu pranto quer saber de mim para nada
Sofrendo só de lembrar que dói só de lembrar sofrendo
Morrendo a desejar o quanto eu desejo não estar morrendo
Mas tudo em mim é fim e tudo enfim me lembra
Da lembrança de uma dança a dois que hoje em dois desmembra
E esse ser que foi um só, não foi só um ser que se foi
É um vazio em meu peito que eu em leito de saudade...
Enfeito para esquecer que dói...
(Dedico este poemas a Flávia Rocha por me ter inspirado com o som do seu piano!|)
Satanás
Pensamentos sangrentos
secam a minha boca.
Desde as entranhas às trémulas mãos,
o ódio se esvai em sangue.
Gritos que incitam a morte,
se dobram em vão desespero.
Sob o aço frio se rasga a carne,
que em leito quente e em dor arde.
Que venha Satanás,
quem meus cabelos penteia,
como a mãe que acaricia o ventre,
comer a mosca na débil teia.
Que venha Lúcifer,
provar deste doce sangue,
banhar nos seus lábios de mulher,
o líquido que jorra a meus pés.
Que se torne o dia em noite,
e o negro em cor de fundo.
Que se erga das trevas teu trono,
e jus se faça a teu infame nome.
Que chova morte sobre as frias campas.
Que se molhe quem chora por aquele que levas.
Oh Satanás, que por servo me tens!...
Uivando te louvarei, matando te vingarei.
Que a fidelidade que em honra te devo
me obrigue em força, p'ra de punho fechado
queimar bandeiras, destruir cidades,
benzer de fome famílias e lares.
Que o luto em justo fim se erga,
por entre exércitos de revoltados,
e se dizimem sobre a nova corte,
sob o acre cheiro da carne podre.
Que não se torne a morte em esperança,
mas o sangue quente em fria lança.