Hemiplégicos

 
Hemiplégicos

Se eu lembrasse dos caminhos que passei...
Não vou dizer o que quero ou o que não quero,
o fluxo da vida não permite qualquer negociação.
As pessoas vão e vem, e nunca estão na direção,
é a vida quem determina o que se tornarão,
se algo bom ou ruim, se continuarão, ou não...
Somente quando procurar o inexistente
Caminho que as trouxeram, é que verão,
que não sabem o que foram, nem o que são...

E assim a vida vai indo em sua compulsão
não se importando com os pífios mistérios
que sobre ela inventaram e ainda inventarão...
E são tantos seus produtos de interior
hemiplégico... que são aleijados, eles são...
E uns se acham muito estranhos, desconexos...
Todavia, esses é que mais da vida obterão,
não o entendimento das coisas, isso não,
Mas aquilo que embaça, a Grande Solidão...
 
Hemiplégicos

Quem sou...

 
Quem sou...

Quem sou...
Não sei...
Mas, seja o que for,
acho que não sou boa coisa...
O que sei ao certo
é que as vezes sou deserto...

Não sei porque sou assim,
não sei nem mesmo,
nem me importa,
o que pensam de mim...

Talvez seja isso,
isso que dizem que sou,
ou o que pensaram algum dia
pessoas com quem eu convivia...
Ou que quiseram que eu fosse,
me tornasse,
fosse coisa boa, ou não,
não sei...
Só sei que as vezes sou solidão.

Talvez eu seja essas lembranças,
sei lá,
essas coisas que ando pensando,
que imagino quando estou fumando...
É,
talvez eu seja o que ando sonhando...
Ou talvez aquilo que deixo de sonhar,
que é maior que o que a mente
consegue abarcar...

Acho que sou esse imenso mar
de coisas desconhecidas,
não imaginadas, inimagináveis,
mas que coexistem em ininteligível relevo
nas horas da madrugada,
que vão se revelando na poeira do tempo
das coisas inacabas,
das coisas jamais começadas...

Talvez eu seja essas dúvidas,
uma alma desesperada,
que procura,
mas que não quer achar nada...

Talvez eu nem esteja mais aqui,
e na ânsia de ser,
de procurar saber o que sou,
eu já não seja o que tenta entender,
aquilo igual a você,
humano, mas sem saber por quê...

Sou como uma ave engaiolada,
sou essas coisas todas, e mais,
mas o melhor é que não fosse nada
 
Quem sou...

Leve Brisa

 
Brisa que corre pela noite
Seca minhas lágrimas
Que estão a escorrer de meu rosto

Dor que não passa
Culpa que me invade
As lágrimas correm

Correm em sentido ao chão
Deslizam meu rosto
E aos prantos cubro com minha mão

Coração disparado
Medo que não passa
Sentimento ruim
Medo de uma desgraça.

Culpa que pesa em meus ombros
Insuportavelmente a dor me invade o peito
Parece uma flechada de veneno
Que aos poucos vou sentindo o efeito.

As sombras me perseguem
Ruídos me enlouquecem
Parem de me deixar assim
Já não sou mais dona de mim.
 
Leve Brisa

Amor é...

 
Amor é...
 
Nunca ninguém me ensinou a viver. Apenas me deram um corpo e me ordenaram: vive. Nunca ninguém me ensinou a amar. Apenas me deram uma alma e ordenaram: ama. Assim prossegui pelo caminho da vivência desfolhando significados. Mas nada! Nenhum livro, poema ou mandamento me fez crer em sua existência. Ele existia porém, os sábios assim contavam e sobre ele cantavam os enamorados. Mas nem em músicas eu achei o seu valor. Nem nos lábios em que o procurei eu achei o seu calor. E quando julgava ele pousando em minha mão logo vinha um pássaro maior e o levava. Foi com essa mão cheia de nada que eu cumprimentei a ilusão, que me dei a conhecer à saudade, que tomei em meus braços a dor (abraço forte, amargo afago). Com essa mesma mão escrevi sobre o amor como um cego que conta as estrelas. Escrevi como um surdo compondo a mais bela das sinfonias. Passei a correr atrás de borboletas, a perseguir pirilampos. Corri do mundo todos os cantos, vales e valetas. Desbravei à faca todas as matas. Mas nada, nada sobrou senão momentos! E sobre esse nada me debruçava e com todas as letras o descrevia. Das montanhas geladas que escalei e dos desertos em que me joguei só recolhi ecos e desesperos. E com esses restos o rescrevia. Descrevi céus e oceanos, grãos de areia e universos. Desenhei esboços complexos de todas as frentes, de todos os versos, de todos os objectos e sentimentos, mas do amor... Do amor nem o mais fino dos traços, nem o “era uma vez”, nem um ponto final. Foi então que larguei os vestígios dos pedaços dos porquês. Depois de tanto tempo decorrido me encontrava onde tinha partido. Tudo finda quando o frio aperta, a sede mata e a caneta se farta de tanta agonia. E para que não findasse, como que num ato de auto defesa, fechei os olhos para o que me rodeava (para nunca mais os abrir). E num ato de auto estima me fechei que nem ostra para a vida (para nunca mais me abrir). Mas ao me fechar e ao fechar dos olhos encontrei uma coisa linda! Enquanto o coração desacelerava e a respiração ainda ofegante acalmava, veio uma paz! Uma paz tão intensa que me fez chorar. Decidi abrir os olhos e me abrir para um nunca mais fechar. É que o amor não se encontra em vãos de escada ou escorrendo pelos passeios. Não está debaixo de nenhuma pedra de calçada nem escondido na cor de seja o que for, do que quer que seja. Amor não sobeja de uma fonte nem se esconde por detrás de um monte. Não há ponte que a eles nos leve. Amor não se almeja nem se descreve. Não se grita aos sete ventos. Amor não é momentos. Amor não é sentimentos. Amor é...
 
Amor é...

Droga de amor

 
Droga de amor
 
Energia, força, raiva me dás
Me deixas num estado nervoso sem explicação
Me deixas borbulhando, fervendo, em ebulição
Vou te pegar e sublimar esta energia num beijo
Sublinhar teu rosto com expressões desconhecidas
Vou queimar teus lábios, agarrar teus pulsos
Pois sou paixão e em ti acharei o chão
Acalmarei meu vicio, pois és meu vicio
És a minha dependência, meu pão
És algo que quero e que não pode à mão faltar
É como querer de repente suster para sempre o ar
E esse efeito de tontura dominar este meu ser
Me subjugar à tentação e ao pecado de querer
Pois eu não consigo deixar de lado esta energia
Esta força que me dás
Esta raiva que me convida
Este querer e não poder que me leva quase ao desmaio
Este querer te ter por perto que resulta sempre ao contrário
É o vício. Esta dependência
Me faz esconder choros e risos que não consigo conter
Me faz dar, dar, dar e dar, mas esperar em troca receber
Pois esta mão só é feliz quando te toca
É uma flor que sem água cai morta
É um amor que se trafica de porta em porta
É vício que em mim habita, é como droga
Ou morro ou fico louco, não tem outra
Mas que importa?
Prefiro vício
A desperdício
 
Droga de amor

Fecho os olhos

 
Fecho os olhos

Fecho os olhos pra poder voltar o tempo
Só assim posso te ver
E mais distante vão aqueles momentos
Em que deixaste eu te querer

São tesouros esses meus pensamentos
Que me impulsionam a viver
Andando por essas estradas estranhas
Em que caminho sem por quê

E os meus sonhos são todos sem sentido
Porque neles não está você
E a sua imagem vai também se desfazendo
Aumentando mais esse sofrer

Começa o dia e já chega a noite
E não sei mesmo o que fazer
Vou levando e sendo também levado
Pela onda que obriga a viver

Pensar que algo mágico pode acontecer
Se continuo no caminho, isso me faz seguir
Pois em meio a essas impossibilidades
Sei que é possível encontrar você...

Fecho os olhos pra andiantar o tempo
Assim parece que não há viver
E aqui vou entre esses pensamentos
Vivendo de inventar você

Eu relembro todos aqueles momentos
Que você não quis querer
E vivo também o falso encontro
Num futuro que não posso saber

Mas algo me impulsiona deste ponto
Em que penso em você
Eu vou flutuando nessas esperanças
Sem querer te esquecer...

Fecho os olhos pra poder voltar o tempo
Só assim posso te ver
Me são raros esses meus pensamentos
Sem você não há viver...
 
Fecho os olhos

Novo amor

 
Noite quente, lua cheia
estrelas a brilhar.
Meu coração a amar
Amar alguém,
Mas ainda não sei quem.

Que venha o amor
com carinho
e sem rancor
Seja ele sincero
é assim que eu espero.

Peço a Lua,
Confesso as estrelas
Guardo no peito
amor demais para mim
Quero dividi-lo.

Venha ver quanto carinho tenho
Para me dispor somente a você.
 
Novo amor

Nossa canção, "nossa saudade"

 
Venha minha menina...
Já está pronta a nossa cama do “tempo”
Eu ainda não posso me deitar,mas ficarei aqui contigo
Lá fora tudo é encoberto pela neblina “vida”
Mas não se preocupe,estarei aqui até adormecer
Ei de esperar,até que a aurora de amor venha
Enquanto isso eu canto para ti...
Nossa cançao,“nossa saudade” minha menina

Me deixe cobri-la com nossa colcha de “momentos”,
Lá fora está o frio da “ausencia”
Ainda há o chuvisco do meu lagrimejar
Mas não se preocupe,ele para quando sente você
Tudo ficara bem meu amor,apenas durma
Ei de esperar,até que a aurora de amor venha
Enquanto isso eu canto para ti...
Nossa canção,“nossa saudade” minha menina

Teus olhos demonstram cansaço,que longo dia tivemos
Mas agora esqueça,amanhã há de vir o raiar
Se lembre que te amo minha menina,
E tudo vai ficar bem...
Ei de esperar,até que a aurora de amor venha
Enquanto isso eu canto para ti...
Nossa canção,“nossa saudade” minha menina
 
Nossa canção, "nossa saudade"

Duas metades

 
Duas metades
 
São duas cordas
Duas metades
Um nó
Repara como não é uma corda só
São dois pedaços de nós, do nosso amor
Foi uma corda que esticou, esticou, esticou

São duas caras
Duas metades
Um beijo
Pintado pelo vicio nítido do desejo
Separadas pelo vinco vítreo do azulejo
Foi o tempo que quebrou, quebrou, quebrou

E enquanto partimos e reatamos
Enquanto quebramos e retocamos
Simplesmente nem reparamos
Que de tantos nós a corda encurta
Que de tanta tinta o amor deturpa
E que sem a corda que nos une
Ou o azulejo que nos espelha
Não há lume nem centelha
Nem vontade que nos nos valha
Que nos livre do queixume
E ateie este amor de palha
Navalha escorrendo em ciume
 
Duas metades

 
Nó
 
Fico olhando teus olhos
Teu rosto, por entre palavras
Tento medir distâncias, não consigo
Encontrar respostas nos teus lábios
Nesses cabelos que não cheiro
Nesses ombros que adivinho

Fico lendo do avesso
Invertendo o reverso do três por quatro
Querendo encontrar o que não tenho
O que não existe, o sonho passado
Uma alma que não te pertence
Uma, mais uma mentira, outro pecado

Não posso, não quero, só devo
Continuar duvidando da tua ausência
Dessa paz que me incutes mas não é tua
Dessa dor que alivias mas não és cura
Dessa essência que devolve a vida
Mas a que um corpo não se habitua

Não, porque és demais para mim
Para um peito humilde de um homem só
Porque teus beijos, os que supus
Os abraços com que sonhei
Todas as palavras que juntei e somei
Toda a luz que dispuseste e eu abracei
Fazem à volta do meu pescoço um nó.
 
Nó

Vontade?

 
Vontade?
 
Vontade? Hoje me parece inquietação! Um pouco de revolta, talvez! Frustração? Fazes de pugilista com mãos de brincar! Fazes cócegas aqui, beliscas ali. E entre risos e ais onde está a vontade?
Sim, onde está a pessoa séria, engravatada que esperas de mim? Onde está a minha vontade contagiada? Onde está a tua vontade? Porquê me inquietas? Me abraças e me jogas na parede?! Por simplesmente não poderes estar parada?! Corres, corres e corres! Suas de desespero! Qual a razão? Onde está a vontade de sair desse lugar? Parece um pesadelo! Tens medo que alguém te pegue, corres e não consegues, e quando sentes a mão... acordas inquieta! Estendes os braços ao mundo mas és tu quem giras. E ao girar impedes que se cheguem perto! Tens tudo! Tens demais! Tens de largar! Tens de te livrar! Tens que mostrar a tua frustração! Mas onde está a vontade? A que não belisca? A que tem um projecto? A que segue em consciência o caminho certo? Diz-me, preto no branco, para que serve a cor que emanas? Essa pretensão? Amuas que nem criança, mas negas afecto que nem pedra, que nem diamante! Te mostras em bruto, por lapidar! Não queres que te toquem, não! Não queres que retoquem a tua máscara de porcelana! Que de tão longe parece linda, mas, olha aqui, ali, acolá! Parece que está partida! É essa a razão da tua revolta? Me diz apenas onde está a vontade! Diz-me apenas, sem empurrar, sem luvas de borracha, sem inquietação. Tens tudo, até o tempo! Respira fundo. Pensa, me responde, eu espero. Me convence que vontade não é agir duas vezes antes de pensar. Me convence da tua vontade, não da tua ansiedade.
 
Vontade?

Águas do luso...

 
Águas do Luso

Água que no Luso nasces
e nos lábios de meu Amor morres…
Como te invejo… como eu te invejo
por tocares na boca sagrada,
por beijares a minha Amada.
Água cristalina, tornas-te parte
daquele corpo que a mim fascina.
Agora sei o porquê de tão bela alma.

Culpa tua água cristalina…

Bebe as lágrimas dos Deuses
que no Luso brotam.
Água que respiras e bates
nos olhos do meu coração,
que neles fazes espelhar
meu rosto.
Água que és do Luso
só em ti confio para regar
a Flor mais linda.
Beber-te nos lábios dela
é tudo que mais desejo.

-Pedro Lopes – Plenitude do sentir -
- Editorial Minerva, Lisboa, 2006 -
 
Águas do luso...

Onde estás, minha dor?

 
Onde estás, minha dor?
 
Não sei se por clemência
Se por magia ou coincidência
Eu não te encontro onde devia.

Fecho os olhos de contente
e por mais, por mais que tente
Não te vejo, que alegria!

Eu te conheço, és traiçoeira
Vais querer arranjar maneira
de voltares à minha vida

Mas eu te espero abrindo o peito
Só p'ra veres que deste leito
Um outro alguém fez moradia

(Só para veres que p'ra tormento,
para dor e sofrimento
Não tem lugar nem alimento)
 
Onde estás, minha dor?

Frase

 
Muitos escrevem em busca da fama. Eu busco apenas falar com quem não me Ama...

(Pedro Lopes)
 
Frase

Assim, de repente...

 
Assim, de repente...

As vezes eu fico sozinho
Aí vem umas pessoas voando e ficam do meu lado
Não podem falar
Apenas seus olhos em silêncio me dizem alguma coisa
Assim, de repente...

As vezes eu quero ficar sozinho
E saio calado diante de todos
Que me olham em desaprovação
E dizem que sou estranho
Porque não me despeço
Porque vou de repente
Porque, de repente,
O riso perde o sentido...

As vezes eu quero ficar sozinho
E eu não decido isso
A vontade vem
Vem uma força que esvazia
Que apaga a estrada por onde vim
E apaga também o sentido por onde ia
E não vejo mais
E tenho que me retirar
Assim, de repente...

No meio dessas pessoas
Tão amáveis
De sorriso tão fácil
Eu sinto falta
Eu sinto muita falta
E essa falta
Assim, de repente, me invade
E enche meu coração
E ai não posso mais participar
Entender a piada
E ver uma graça em qualquer coisa...

Alguma coisa
No meio dessas pessoas tão sadias
Me faz lembrar
De algo que não apalpo
Mas, como uma pontada no meu nada,
Ela me acorda
E me diz que tenho que saí
Que acabou a brincadeira
Deu meia noite
E não há fadas
Não há nada...

Apenas a Noite que me abre os seus braços
A me oferecer seu beijo
Durante a madrugada
Em que penso e penso...
Mas nada,
A mim não se revela nada,
Mas a vontade de ir vem,
Mesmo sem saber por que,
Nem para onde, vem,
A vontade vem
Assim, de repente...
 
Assim, de repente...

Os ventos do amor

 
Os ventos do amor
 
Eu também sofri em tempos
Quando os ventos eram outros
Mas hoje os olhos estão absortos
Num sem fim de sentimentos

Que não te sirvam os maus momentos
Para mais tristezas nem mais tormentos
Pois momentos p'ra amar são poucos
E os ventos do amor são loucos!
 
Os ventos do amor

Deixa

 
Deixa!
Eu dizer todos os dias sobre sua beleza.
Deixa!
Eu ver o anoitecer ao seu lado.
Deixa!
Eu te mostrar como é bom ser amado.
Deixa!
Eu poder lhe dizer como você é importante.
Deixa!
Eu provar seus beijos.
Deixa!
Eu sentir seus abraços.
Deixa!
Eu inspirar seu cheiro.
Deixa!
Eu acariciar sua pele.
Deixa!
Eu fazer parte da sua vida.
Deixa!
 
Deixa

Eu queria não perceber nada disso...

 
Eu queria não perceber nada disso...

Atualmente sou alguém que não sente
Alegria alguma,
A mão que era para me afagar
Apenas me descobre
E aponta minhas cicatrizes antigas
E não entende
Que apesar das dores que já senti
Não me acostumei a sofrer...

Eu queria não perceber nada disso...
Eu queria muito não saber o que se passa
Achar que tudo terminaria bem
E poder continuar na vida que levo
Não destruir o que não existe
Não ter que baixar os olhos envergonhados...

Eu vou para o quintal depois que a casa dorme
E fico pensando em como cheguei onde estou,
Nas tantas voltas que já dei
E, por fim, penso que deve haver
Alguma finalidade para isso...
Porque não existe sofrer gratuito,
Apesar de, às vezes, tudo parecer parado,
Não há dor que perdure eternamente...
Entro e deito, e fico pensando
Ás entradas dos sonhos...

Essa situação me faz querer pensar
Em épocas raras em que vivi
Fracas nuances da alegria,
Épocas que vão ficando dispersas,
Acinzentadas,
De cujos detalhes vão se perdendo,
Restando apenas algo como
Uma música inaudível,
Ou a remota sensação de lembrança
De se ter tido um sonho bom...

Meu maior esforço é tentar lembrar
Que um dia alguém me amou,
Me amou do jeito que sou,
Sem me negar um pouco de carinho,
Uma brincadeira, essas coisas
Cuja falta nos deixa tão frágeis...
Eu lembro,
Às vezes, da mais recente,
Que já vai longe,
E percebo que ainda não está
Tudo perdido,
Que os ventos um dia vão
Vir para esse rumo...

A vontade que eu tenho,
É tão difícil de saber...
Eu fico lembrando
De um sonho que tive,
De um sonho que se foi,
Mas que me confiou suas lembranças
E eu, em tempos tão secos,
Me refrescos com aqueles tempos,
Tempos que não vivi,
Que imaginei,
Que assim se incrustaram na minha alma...
 
Eu queria não perceber nada disso...

O canto da saudade

 
O canto da saudade
 
Dou por mim num canto, em branco, com a alma desalmada
Chorando pois nem meu pranto quer saber de mim para nada

Sofrendo só de lembrar que dói só de lembrar sofrendo
Morrendo a desejar o quanto eu desejo não estar morrendo

Mas tudo em mim é fim e tudo enfim me lembra
Da lembrança de uma dança a dois que hoje em dois desmembra

E esse ser que foi um só, não foi só um ser que se foi
É um vazio em meu peito que eu em leito de saudade...
Enfeito para esquecer que dói...

(Dedico este poemas a Flávia Rocha por me ter inspirado com o som do seu piano!|)
 
O canto da saudade

Satanás

 
Satanás
 
Pensamentos sangrentos
secam a minha boca.
Desde as entranhas às trémulas mãos,
o ódio se esvai em sangue.
Gritos que incitam a morte,
se dobram em vão desespero.
Sob o aço frio se rasga a carne,
que em leito quente e em dor arde.

Que venha Satanás,
quem meus cabelos penteia,
como a mãe que acaricia o ventre,
comer a mosca na débil teia.
Que venha Lúcifer,
provar deste doce sangue,
banhar nos seus lábios de mulher,
o líquido que jorra a meus pés.

Que se torne o dia em noite,
e o negro em cor de fundo.
Que se erga das trevas teu trono,
e jus se faça a teu infame nome.
Que chova morte sobre as frias campas.
Que se molhe quem chora por aquele que levas.
Oh Satanás, que por servo me tens!...
Uivando te louvarei, matando te vingarei.

Que a fidelidade que em honra te devo
me obrigue em força, p'ra de punho fechado
queimar bandeiras, destruir cidades,
benzer de fome famílias e lares.
Que o luto em justo fim se erga,
por entre exércitos de revoltados,
e se dizimem sobre a nova corte,
sob o acre cheiro da carne podre.

Que não se torne a morte em esperança,
mas o sangue quente em fria lança.
 
Satanás