Poema em aberto (dedicado a todos os poetas do luso) reed.

 
Entrei,
Na porta estava escrito:
“Recital Luso Poetas”
A sala estava quase cheia, muitos ainda
iriam chegar para constar nessa lista
Reconheci alguns nomes:

adelaidemonteiroanamartinsalbertosalbertodafonseca
ângelalugoangélicamattosajaraujoalentajanaalexis
analyraanimarolimantoniormartinsanacoelho
antoniocasadoamanduamiciamoraarfemoavozita
bethamcostablueberrybeijaflor76bernardonbranca
camelodasquintascarloscarpinteirocarlosricardo
caopoetaceliacccintiacoconceiçãobcoletivocherry
cristovaodakiniedilsonjoséeduardasemontepuez
eunicecontentefatimaabreufatinhamussafatofhatima
franciscocarlosfredericosalvoflyglpfogomaduro
gildeoliveglóriasalleshaeremaihelenderosehisalena
henricabiliohenriquepedrohorroriscausajuliosaraiva

joseantonioantunesjoseluislopesjosésilveira
josémanuelbrandãojosetorreskryssfourkarlabardanza
ledalgelucianolilianajardimlilamarques
luisalpsimõesmarciagrossimargaretemarciaoliveira
marialuzmagentamarianamariaverdemimmassarimiriade
morenomoura365nandanitoviananorbertolopesonix
onovopoetapaulabaggiopaulogondimpaulogeraldo
poesiadenemoquidamrosafogo
re)velatarommarosadesaronrosy
roquesilveirasamanthabeduschisandrafonseca
sandrafuentessaozinhasommervillestereasoamiga
sofiaduartetâniamaracamargotrigoulyssesveríssimo
varenkavergiliovónyferreirazipper

Silencio!
O recital vai começar!

"Poesia em aberto"

Os dias não são mais brancos
São pintados pelos que aqui estão
Se tornaram de uma beleza esmagadora
E ao cair da tarde
Subitamente
As noites se tornam eternas
Os dias com suas noites
Acariciam as idéias
Como uma flecha
Esse chão onde cresço
É um chão nunca vivido
Onde os dias não se rendem
As palavras brotam
De todas as mãos
Se juntam, fluem, mudam
É um chão entre aberto
Onde o amor esta sempre pronto
Um poema escrito a várias mãos
Pois nesse solo sempre
Vai vingar mais um
É puro movimento
Almas que amam
Se alguém tentar traduzir
Não se entenderá mais nada
 
  Poema em aberto (dedicado a todos os poetas do luso)  reed.

Ode à Anta

 
Quanto mais eu rezo
Mais me assombro e me atormento.
Já fiz de tudo: Mandinga, simpatia,
Joguei letrinhas num dia de vento
E nada disso me adianta.

Por exemplo:
Persegue-me gente pequena,
Uma lenta e pesada Anta,
Uma amálgama de Hiena,
De Verme e de Jumento.

Sei que é só um Sancho Pança,
Um cérebro retardado de criança,
Cérbero ladrando, vigiando o portão
Dos infernos,
(Olha que anda a Anta a fazer versos)

A proteger uma nanica Torre
Já quase tombada
Onde uma bruxa má e podre,
Exalando vis vapores fétidos,
Vive rosnando, de mãos dadas
Com uma senhora decante,

Uma mal-cheirosa Harpia,
Ser horrendo de afiadas unhas e dentes,
Criatura velhaca de mamas pendentes,
Metida a ser a escriba mais sábia,
Cheia de semântica e de sintaxes.

Porém onde toca o seu dedo da mão,
Faz mais mal do que o cavalo de Átila
Que, diziam, onde tocavam suas patas
Não nascia mais relva no chão.

Recado para a gorducha Anta Quadrada
Que vale também para Hiena Fedida:
Vão lá vê se estou na esquina
E vê se tomam vergonha na cara.

Despeço-me com a alma ferida,
(Chega-me correr uma lágrima rara)
Daqui, do topo dessas árvores,
Dos possíveis... Covardes.

Ass: Macaco das Araras.

Para melhor compreensão do texto.

Anta:

A anta ou tapir, maior mamífero da América do Sul, é no entanto muito menor que seus parentes da África e da Ásia. Teorias recentes buscam a explicação para este fenômeno na última glaciação, quando a América teria secado demais para permitir a sobrevivência de animais de grande porte.

A anta chega a pesar 300 kg. Tem três dedos nos pés traseiros e um adicional, bem menor, nos dianteiros. Tem uma tromba flexível, preênsil e com pêlos que sente cheiros e umidade. Vive perto de florestas úmidas e rios: toma freqüentemente banhos de água e lama para se livrar de carrapatos, moscas e outros parasitas.

Herbívora monogástrica seletiva, come folhas, frutos, brotos, ramos, plantas aquáticas, grama e pasto. Pode ser vista se alimentando até em plantações de cana-de-açúcar, arroz, milho, cacau e melão. Passa quase 10 horas por dia forrageando em busca de alimento. De hábitos noturnos, esconde-se de dia na mata, saindo à noite para pastar.

De hábitos solitários, são encontrados juntos apenas durante o acasalamento e a amamentação. A fêmea tem geralmente apenas um filhote, e o casal se separa logo após o acasalamento. A gestação dura de 335 a 439 dias. Os machos marcam território urinando sempre no mesmo lugar. Além disso, a anta tem glândulas faciais que deixam rastro.

Cérbero:

A descrição da morfologia de Cérbero nem sempre é a mesma, havendo variações. Mas uma coisa que em todas as fontes está presente é que Cérbero era um cão que guardava as portas do Tártaro, não impedindo a entrada e sim a saída. Quando alguém chegava, Cérbero fazia festa, era uma criatura adorável. Mas quando a pessoa queria ir embora, ele a impedia; tornando-se um cão feroz e temido por todos. Os únicos que conseguiram passar por Cérbero saindo vivos do submundo foram Héracles, Orfeu, Enéias e Psiquê.

Cérbero era um cão com várias cabeças, não se têm um número certo, mas na maioria das vezes é descrito como tricéfalo (três cabeças). Sua cauda também não é sempre descrita da mesma forma, às vezes como de dragão, como de cobra ou mesmo de cão. Às vezes, junto com sua cabeça são encontradas serpentes cuspidoras de fogo saindo de seu pescoço, e até mesmo de seu tronco.

Harpia:

As harpias (em grego, ἅρπυιαι) são criaturas da mitologia grega, frequentemente representadas como aves de rapina com rosto de mulher e seios[1]. Na história de Jasão, as harpias foram enviadas para punir o cego rei trácio Fineu, roubando-lhe a comida em todas as refeições[2]. Os argonautas Zetes e Calais, filhos de Bóreas e Orítia, libertaram Fineu das hárpias, que, em agradecimento, mostrou a Jasão e os argonautas o caminho para passar pelas Simplégades[2]. Enéias e seus companheiros, depois da queda de Tróia, na viagem em direção à Itália, pararam na ilha das Harpias; mataram animais dos rebanhos delas, as atacaram quando elas roubaram as carnes, e ouviram de uma das Harpias terríveis profecias a respeito do restante de sua viagem. [3]

Segundo Hesíodo, as harpias eram irmãs de Íris, filhas de Taumante e a oceânide Electra, e seus nomes eram Aelo (a borrasca) e Ocípete (a rápida no vôo)[4]. Higino lista os filhos de Taumante e Electra como Íris e as hárpias, Celeno, Ocípete e Aelo[5], mas, logo depois, dá as hárpias como filhas de Taumante e Oxomene[1].

Átila:

Átila, o Huno (406–453), também conhecido como Praga de Deus ou Flagelo de Deus,[1][2] foi o último e mais poderoso rei dos hunos. Governou o maior império europeu de seu tempo desde 434 até sua morte. Suas possessões se estendiam da Europa Central até o Mar Negro, e desde o Danúbio até o Báltico. Durante seu reinado foi um dos maiores inimigos dos Impérios romanos Oriental e Ocidental: invadiu duas vezes os Bálcãs, esteve a ponto de tomar a cidade de Roma e chegou a sitiar Constantinopla na segunda ocasião. Marchou através da França até chegar a Orleães, antes que lhe obrigassem a retroceder na batalha dos Campos Cataláunicos (Châlons-sur-Marne) e, em 452, conseguiu fazer o imperador Valentiniano III fugir de sua capital, Ravenna.
 
Ode à Anta

Cabo da esperança

 
CABO DA ESPERANÇA

Quanto custou dobrar o Cabo,

Assegurar os mantimentos

E o ânimo dos Homens?

País de marinheiros, de aventuras,

Ninguém pergunta quanto custa

Dobrar o cabo da ternura.

Dobrar o Cabo, sem perder a esperança,

E ao sabor do vento navegar,

Indiferente à tempestade ou à bonança,

Ser uma ilha entre o azul e o mar.

arfemo

(reed.)
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Cabo da esperança

A AMIZADE

 
A AMIZADE...

transporta-se no bojo

ou na raiz,

e, quando exígua,

está ao alcance

de uma mão,

pura,

é sua irmã,

e mesmo inerte

aperta-nos,

deixando uma marca,

húmida,

de ternura.

Arfemo

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A AMIZADE

NO SILÊNCO DO TEU CORPO ADORMECIDO

 
É quando dormes,
no silêncio arrefecido das tuas noites profundas,
que desperta em mim
o esplendor amadurecido do teu rosto.
Envolto no musgo inocente dessa juventude gasta
bebo os resíduos palpitantes da tua respiração,
atravessando as colinas do teu corpo retalhado
onde revejo as encruzilhadas que cruzámos,
de mão dada,
contornando o vazio dos abismos
e fugindo às armadilhas traiçoeiras do deserto,
de oásis em oásis,
onde nos deitávamos à sombra do veneno dos dias.

Tão perto e tão longe te acho agora,
mergulhada nas margens de um rio cansado,
fechada numa concha obscura
no mais fundo que há em ti,
onde em silêncio digeres
lágrimas antigas que não derramaste.

Dormes.
Olhos pousados no espanto do infinito
vagando na glória indefinida de um sonho,
construindo mundos atrás de uma porta entreaberta
onde buscas o equilíbrio
perdido no pesadelo escarlate das horas.
Moves-te sem gestos,
num arfar sereno e perfumado,
pequenos gemidos que crescem no sono
numa litania que te embala o corpo
e sobressalta a inocência da tua nudez
debruçada sobre as asas da madrugada.

Quase nada sei de ti.
Dos segredos que ocultas nos labirintos do peito,
e que são só teus,
apenas vislumbro rumores desvanecidos
ecoando nos espelhos da ventania
que agitam, ao de leve, a tua sombra suspensa.
Embora tenha penetrado vezes sem conta
os abismos profundos do teu corpo,
em lentas e repetidas viagens
saciando o fogo de estranhos desejos,
e plantado, na luz suave do teu ventre,
as sementes que nos hão-de perpetuar,
quase nada sei de ti.

No silêncio do quarto povoado de velhas imagens
permaneço acordado a teu lado
a soletrar as batidas do teu nome
num sussurro que invade a noite demorada,
tecendo um rosário de eternas lembranças,
à espera que o sol se levante no horizonte
para vir saudar teu despertar.
 
NO SILÊNCO DO TEU CORPO ADORMECIDO

Nada De Nós

 
Odeio o lado vazio da cama onde me deito. Durmo de braços atados para que não transponham os limites do encaixe silencioso que o meu corpo moldou no colchão. Preciso de tréguas da dor da tua ausência que envenena cada inspirar expirado.
Porém, mal adormeço, o meu coração implora aos braços que se estiquem e te procurem na infinitude do vazio, na esperança inútil de te sentir. Acordo cada dia com o sabor caústico da saudade no peito e os braços debulhados em lágrimas. Nesse árido instante a realidade castra-me os sentidos. Não há mais beijos. Não há mais sorrisos suados. Não há mais frémitos de emoções, nem palavras exaladas em murmúrios. Nada de nós.
A inútil existência de mim remeteu-me a um vácuo mórbido que dilata a cada hora que passo sem ti.
E o vazio do outro lado da cama olha-me pétreo e inabalável.
 
Nada De Nós

TEMPO DE PARTIDA

 
TEMPO DE PARTIDA

A terra é fresca, entumecida,
O fruto escasseia ou está ausente,
Aproxima-se o tempo de partida.

Que nada impeça
O traçado oblíquo da razão,
Nem o riso da criança,
Nem a ternura de irmão.

Percorrida em traços largos,
Ao sabor do vento forte,
Por entre o Sul e o Norte,
Da minha imaginação.

Nela encontro o que procuro.

Arfemo
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TEMPO DE PARTIDA

O Deus Que Habita Em Mim!

 
O Deus Que Habita Em Mim!
 
O Deus que habita minh'alma,
Vem da aurora dourada
Com seus raios vivificadores
Que renovam as Esperanças e a Fé
Para um novo dia...

Vem dos lírios dos campos e
Dos jardins floridos...
Vem do crepúsculo do Sol com
Seu espetáculo de cores douradas
No horizonte...

Vem da noite enluarada
Com suas estrelas brilhantes,
Reluzentes, estrelas cadentes
E sua Lua encantada...

O Deus que habita minh'alma,
Vem do divino orvalho
Da madrugada
Com suas gotículas prateadas
Caindo sobre as flores delicadas...

Vem do lindo azul do mar,
De toda à natureza,
Das matas verdes e igarapés,
Cachoeiras e do lindo
Canto dos passarinhos
Como o canto do rouxinol e
Do bem-te-vi...
Vem dos Salmos de Davi....

O Deus que habita minh'alma
É o Deus do Amor, da mística rubra flor,
Do peregrino e trepidante beija-flor,
Dos nobres sentimentos
E enlevados pensamentos...

Vem da chuva que faz brotar...
Vem do místico arco-íris
Com suas cores sutis...
Vem da melodia
Da inspirada poesia...

Enfim, o Deus que habita em mim
É o mesmo que está em toda parte,
Em tudo e em todos,
No meu e no teu coração,
Somos filhos da mesma criação,
Do mesmo Pai Criador,
Portanto, somos todos Irmãos,
Filhos do Amor!

Elias Akhenaton
 
O Deus Que Habita Em Mim!

Nunca mais olhei as horas

 
mesmo antes de ti
o vento soprava como uma sinfonia
tudo que consigo pensar
(segue arrumado e bonito)
dentro da caixa no armário

lembra a chuva
e uma agenda agitada
comprada na concorrência
(nem frágil, nem temporária)

basta me aproximar do armário
sentir sua respiração
rastejando dentro da caixa
como celular angustiado
pouco importa...
(é que somos a mesma pessoa)

nela guardo
as partilhas de alma
no café da manhã
o calor de seus braços
a cor, o ar e o sabor...

as roupas suas não estão
(jamais voltou, nunca morreu)

Vania Lopez
 
Nunca mais olhei as horas

Doutoramento Poético (Aos que repudiam a crítica)... continua actual

 
Sou feito de palavras...
Das que rasgam olhares,
Simpatias e traições.
Terra cheia que lavras
Se tuas letras semeares,
Tu, escritor de emoções.

Prendam-me as mãos,
Degolem-me o desejo
E bebam a tinta poeta
Escrita em vós, irmãos.
Enquanto eu versejo
Na força da caneta.

Sou feito da tua leitura
Que me engasga e esmaga,
Que me dá vida à poesia,
Faz de mim gente pura,
Que não me rasga
Ou chora hipocrisia.

Errem! Sejam meros humanos,
Aceitem que são maus actores,
Poetizem a vida canalha,
Mas não a tapem com panos,
Não a pintem sem cores
Ou a cortem à navalha.
 
Doutoramento Poético (Aos que repudiam a crítica)... continua actual

Teu corpo ave cinzenta

 
Teu corpo ave cinzenta simulou um voo

ao encontro dos deuses, mundo dos "ses",

em movimento pendular: ser e não ser,

cintilando ao retornar pela última vez

o corpo brotou manancial de água fresca

sobre suave tapete de plátanos em flor

sem cuidar de saber se ao partir voltaria:

eclipse ou expressão circular da geometria

teu corpo ave cinzenta aninhou uma última vez

no meu colo, e ali ficou, delicada, serena forma,


depois despertou tão naturalmente naquele dia,

que deixou a ilusão de ser eterno – não seria…?



arfemo
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Teu corpo ave cinzenta

Poema para

 
POEMA PARA (ao estilo de…)

Peguei na roupa de Domingo,
afivelei no rosto uma rosa vermelha
e parti, como quem já viveu.
No caminho, aliviado das estrelas,
guardei uma lágrima de reserva,
sem saber se tu aparecerias pronta
para me receber.
Foi assim que tudo aconteceu
eu acordei tendo a meu lado
o travesseiro húmido e não tinha chovido
naquele dia.

arfemo

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Poema para

CORES DIFERENTES...

 
CORES DIFERENTES...
 
Cores diferentes...

Hoje fiquei aqui recordando
Das coisas que nos diziam em criança
E a gente ficava acreditando
Sem ter a mínima desconfiança.

Certa vez perguntei a uma vizinha
Com a pureza do meu coração
Porque sua cor não era igual a minha
Respondeu a minha indagação...

Que no dia em que ela nasceu
Era noite, profunda escuridão
E sua mamãe, coitada esqueceu
Foi dormir e apagou o lampião...

Estava tudo escuro como breu
E a cegonha, não enxergava nada
Então sua pele escureceu
Ficando assim diferenciada.

Na minha inocência de criança
A dúvida ficou solucionada
O porque de existir a diferença
Satisfeita, não perguntei mais nada.

♫Carol Carolina

Este fato aconteceu mesmo!
Perguntei a uma vizinha
chamada dona Alzira e minha
mãe ficou muito aborrecida
comigo. Ela temia que a dona
Alzira ficasse magoada.
Mas não, ela me sentou em seu
colo e explicou o que achou
certo e eu fiquei satisfeita.
 
CORES DIFERENTES...

Meu coração.

 
Meu coração.
 
Meu coração.

Com fios dourados de carinho
Teci uma corrente de ilusão
Seus elos presos com jeitinho
Para não sofrer um arranhão

Com cuidado amarrei um embrulhinho
Dentro dele coloquei meu bem maior
Ajeitei tudo com muito carinho
Dando o que tenho de melhor

Está repleto de um sentimento
Que não quero comigo levar
Então resolvi pedir ao vento
Meu embrulhinho entregar

Quando então ele chegar
E tiveres segurado em tua mão
Neste mundo não vou mais estar
Porque te mandei meu coração!

♫Carol Carolina
 
Meu coração.

Sofia

 
SOFIA

1.
À medida que o tempo humedecia,

crescia entre a areia do pecado,

cálida na substância e na idade.

Fez-se mulher: sumo de romã

em taça fria.

2.
Sacudiu graciosamente os ombros,

abotoou, lasciva, o último botão,

pegou na sacola, cingiu o corpete,

e partiu naquele dia, como nos demais,

mas jamais apareceria,

Sofia.

arfemo

rep.

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Sofia

OLHARES...(Haiti)

 
OLHARES...(Haiti)

olhei para ti,
como um escultor
(que não precisa
de matéria).
basta-me a dor,
para dar corpo
às formas
na memória

arfemo
 
OLHARES...(Haiti)

Os loucos da minha rua

 
OS LOUCOS DA MINHA RUA

O ar que se respira, carbono negro, denso,

quase impuro, nada tem a ver com a cor,

nem com as guelras (do odor não me lembro),

vem da memória, dizes, talvez do coração,

pois nem o pulmão que o inspira, sente.

Assim se vão passando os dias, indolentes,

aqui no asilo, onde às árvores chamam gente,

e elas murmuram entre dentes, qualquer coisa,

que bem podia tratar-se de sementes.

Mas não, é coisa de doentes…

arfemo

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Os loucos da minha rua

Água-forte

 
ÁGUA-FORTE

Pintei o seu rosto

com a tinta que restava,

diluída,

quase se não via

a minha obra.

mas ainda brilham

os olhos que gravara,

a água-forte, na memória,

e o espelho me devolve,

a toda a hora,

a sua ausência.

arfemo

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Água-forte

SEGUNDA-FEIRA

 
Lavo a cara com o primeiro café da manhã
que derrete a remela no fundo cego dos meus olhos
e me ajuda a suportar o choque oblíquo dos raios solares
que se riem, por detrás da colina, do meu rosto desbotado.
Acendo uma nuvem de fumo denso e sufocante
que me guia na orla convulsa da rebentação
e caminho encostado à cal efervescente dos muros,
com a mágoa de quem vai recomeçar tudo de novo
e uma vontade moribunda, presa por gastos arames.

Sirenes de chumbo rasgam o orvalho preguiçoso
e vêm pousar as garras nos meus ombros curvados
que arrastam o passo nas alamedas da madrugada
por entre o rumor azedo de roldanas cariadas
e o grito estéril do cristal vacilante das manhãs.

Acendendo o rastilho das horas que me vão devorar,
alumiadas pelo pasmo renitente das gambiarras do vento,
escondo o corpo nas prateleiras enferrujadas do armário
junto com a roupa que penduro em cabides de plástico,
e é já só minha sombra quem trespassa o vítreo portal
mergulhando a pique nas ravinas viciadas da semana.
 
SEGUNDA-FEIRA

Realidade

 
tudo parece real nas noites oblíquas das turfas
nos risos das casas e nos papéis das sombras.
as pedras esguias tornam-se dentes de estátuas
e a seiva percorre o dorso da corça
na escuridão dos corpos decepados.
há gritos de amor e de lamentos
parecendo riscas secretas
nos rostos velozes que se tocam.
depois há sempre a espera,
a que se distrai e a que se lança em ameaça
no minuto do sereno
ou no olhar agendado que se move no chão.
e os nomes que se entornam nos pés
que não mordem mas golpeiam.
realidade, são as palavras ditas e as não sentidas,
a cor dos lábios sem alento
que respiram e sofrem
num tremor subsistente.
realidade é a febre das palavras
e o futuro lento dos ventres
no suor dos corpos em movimento.

Eduarda
27/04/2010
 
Realidade