Águas do luso...
Águas do Luso
Água que no Luso nasces
e nos lábios de meu Amor morres…
Como te invejo… como eu te invejo
por tocares na boca sagrada,
por beijares a minha Amada.
Água cristalina, tornas-te parte
daquele corpo que a mim fascina.
Agora sei o porquê de tão bela alma.
Culpa tua água cristalina…
Bebe as lágrimas dos Deuses
que no Luso brotam.
Água que respiras e bates
nos olhos do meu coração,
que neles fazes espelhar
meu rosto.
Água que és do Luso
só em ti confio para regar
a Flor mais linda.
Beber-te nos lábios dela
é tudo que mais desejo.
-Pedro Lopes – Plenitude do sentir -
- Editorial Minerva, Lisboa, 2006 -
Frase
Muitos escrevem em busca da fama. Eu busco apenas falar com quem não me Ama...
(Pedro Lopes)
Tediosa noite
Tediosa noite
Pedaço de gelo que ferves por dentro
ao tocar-te, y ao beijar-te viras fogo…
brasa que flameja em ardor e chama,
que me queima, e me leva para a cama.
O orvalho que se condensa no teu corpo,
ao sentires meus lábios percorrer a tua pele
que se arrepia a cada toque…
que se eriça como espinhos dum ouriço!
Que me faz envaidecer, por teu sorriso ter!
Maravilhado, petrificado, por ti encantado!
Massajando o teu cabelo ao entardecer…
Tediosa a noite em que me tiras o sono,
ouvindo o barulho da chuva nas telhas,
a pensar no que naquela tarde fomos!
Plenitude do sentir - Editorial Minerva
Tudo resto é desgosto...
Tudo o resto é desgosto
Operário assalariado, membro do proletariado.
Trabalhas que nem um desalmado explorado e mal pago,
por vezes humilhado, ferido na dignidade
Fechas os olhos a contento de superiores mal formados,
apenas preocupados com produtividade e absentismo.
De bigode ou pêra todos iguais, munidos de egoísmo
e desrespeito pela condição humana.
Palavras atrozes, pessoas algozes…
Para quem és apenas um número…
Aconteça o que acontecer “a culpa é sempre do operador”…
Pensam que te compram a alma com um salário mínimo.
Quantia irrisória que te pagam para seres profissional qualificado.
Directores de recursos humanos, a podridão sem explicação,
tal e qual os engenheiros da produção…
Se pudessem nem os direitos humanos respeitavam
Cantina que patrocinas a azia de princípio de tarde…
A levedura que é servida, o pão duro de domingo.
Aos que chegam atrasados “é-lhes servido apenas restos”,
os nervos impossíveis de mastigar.
Porque não almoça aqui o director do estabelecimento prisional?
Comida infernal com consequência intestinal
Ai tanto que temos a lamentar,
os que nada dizem têm uma cenoura a frente dos olhos,
filhos da entidade patronal, pessoas animadas pelo mundo desigual.
Sentes-te ordinário se não vais ao plenário…
Sindicaliza-te e luta com coragem, deixa de ser pajem.
Vives na indefinição de um contrato a prazo,
na notícia de a fábrica ir fechar ou deslocalizar…
Bons carros para os directores, sejam eles quais forem…
Fins de semanas e feriados passados na fábrica,
para sorrires mais um pouco ao fim do mês.
Entras ainda de noite para saíres depois de o sol estar posto,
a única luz que beija teu rosto é a de uma imensidão de lâmpadas florescentes.
Tirando o mês de Agosto tudo o resto é desgosto.
Mulher pintada mulher mascarada
Mulher pintada mulher mascarada
Milhafre que pousas à beira da estrada,
no corpo de uma linda mulher.
De rosto encoberto, desnudas teu corpo.
Despida de pudor, esqueces o preconceito.
Mudas teu nome a troco de dinheiro,
para tuas crias amamentar
regurgitas teu próprio alimento para lhes dar.
Finges prazer num segundo,
no outro vê-o como moribundo.
Infeliz daquele que nas tuas asas procura abrigo.
Um dia passa, outro fica e ninguém te dá a mão.
Invisível para a comunidade,
incapaz de com teus olhos ver…
Pedro Lopes – Reminiscência de infinito sentir
Ecopy, porto 2006
Não te quero - Pedro Lopes - Ângela Lugo
Não te quero
Em letras, palavras e versos
Fiz uma rima meio perdida
Que nos sentimentos dispersos
Havia de louvar minha querida
O que na alma me doía
O Amor que ela levou de mim
Que em meu coração se debatia
Com a saudade de teu jardim
Onde ainda guardo lembranças
Do odor das flores em minha mão
Do suave bater do meu coração
De ti somente desconfianças
Tenho que conter em minha visão
Dias que vivi na escravidão
Pedro Lopes / Ângela Lugo
Teu critério
Movida por esse teu critério estético
Dizes que meus versos não têm rima
Por ser feio, nenhuma obra-prima
Dizes que só o belo pode ser poético
Que meu poema é pobre, que te desanima
Por meu corpo ser franzino, e esquelético
Desejas que sempre permaneça hermético
Por não ter músculos munidos da pura enzima
Engano teu, nas minhas veias corre a tinta
Ninguém sabe do futuro seu significado
Se não será numa cama contigo lado a lado
Quando escrevo faço-o com sentimento
Não para ser belo, ou com ressentimento
Faço-o por Amor, com Amor, e pra ti Amor
Falando de mim
Há quem pense que sou tímido,
calado, introvertido, envergonhado.
Mas desconhecem que gosto de falar para o mundo…
Outros jurariam o contrário na impossibilidade de acreditar.
Existe quem me chame: filósofo,
sonhador, romântico até mesmo poeta.
Há quem me julgue a pior pessoa do mundo,
também quem pense ser a melhor.
Conheço quem tenha mudado de opinião.
Há quem diga que falo apenas por metáforas…
Uns pensam que sou elitista, outros dizem ser comunista.
Há quem emita opinião sem conhecer só de ouvir falar.
Já me disseram: nunca saber quando falo a sério,
ou quando estou a brincar.
Há quem tema o meu olhar, também há quem corra para me abraçar,
quem me despreza, quem me jura Amor eterno.
Há quem me chame de irmão, também há quem me dê sua mão…
Existe quem diga “amigos para sempre” e nunca mais diga uma palavra.
Há quem chore por mim, há quem me trate com indiferença…
Uns dizem que tenho o dom de usar das palavras,
outros acham que devia de usar pseudónimo quando escrevo,
para evitar tal vergonha…
Todos pensam saber quem sou, mas eu próprio me pergunto:
Quem sou?
Penedo da Saudade
Penedo da Saudade
Prometeste-me traços felizes no rosto,
mas por sua vez
fazes-me sentar no “Penedo da Saudade”…
e recitar na velha Coimbra,
o Amor Imortal de Pedro e Inês…
Rei de Portugal e dos Algarves que depois de morta
fez sua mulher.
Que nas mãos teve o coração do carrascos,
quem sabe se nestes mesmos penhascos.
Consequência do Salado, casamento amaldiçoado.
Reza o mito, que tão caro sangue secou o Mondego,
e que tuas lágrimas devolveram o leito.
Tal como ele, eu acredito, acredito
que tudo pode ser efémero menos o Amor,
na infindável sensação de prazer.
Que esse sorriso não dá para esquecer.
Eu sonho, eu vivo, eu Amo…
Lágrimas
Lágrimas
Poesia que dos olhos tiras
Para nas palavras devolveres
Matares a fome e entristeceres
Que o sentimento exprimes,
Para dar vida a teu nome
Recalcamento de vontades
E a dor que a mim me consome
Motivos florais, e outras liberdades
Tudo te serve de mote
Para dela saciares tuas vontades
Para me ferires com teu chicote
Poesia triste, poesia que alegras
Tira-me o chão faz-me voar
É a teu lado que almejo sonhar
Longe, bem longe sigo livre ao vento
Prisioneiro das trevas de uma poetisa
Versos fadados que em mim batem
Batem como o rufar de tambores
E reflectem demais dores
Que chamam pela pessoa que um dia fui
Sentimento inalterado, apenas apaziguado
Poesia que aos olhos tiras
Para as pintares no papel
As noites de choro afável
Inconformado com mentiras
Poesias que aos olhos tiras
Para as enxugares em palavras
Tão claras para o teu respirar
Tão amigas de quem sabe Amar
Poesia que aos olhos tiras
Reflectindo a dor em água
O sofrimento que apazigua
Molhando este triste rosto
Plenitude do sentir - Editorial Minerva