4. A procura
Tu que procuras na solidão
um espaço de reflexão dos teus passos.
Tu que procuras,
uma razão
um caminho por realizar
ou um amor por acontecer
a solução está em teu redor.
Tu que procuras uma identidade
que seja mais que a tua verdade
que a sintas sem que mintas
olha para a tua dor.
Só encontrarás alguém
se primeiro procurares por ti!
3. Garrafa
Como nos tempos idos, por mares nunca navegados, uma garrafa solitária trazia-nos a novidade do desconhecido. Trazia-nos, também, a esperança dos náufragos.
Hoje envio-vos a minha garrafa, completamente transparente, não porque tenha naufragado ou porque queira dar-vos alguma novidade. É porque tenho a esperança de ser lido. É porque tenho a esperança que o que escrevo pode interessar.
Se encontrares esta garrafa, neste mar de escritas plantado no Universo da Internet, ficarei satisfeito por saber-te desse lado, interligado ao momento, e se isso acontecer, já valeu a pena escrever este texto simplista da garrafa.
Muito obrigado.
este meu vício maluco
sou um dependente das palavras. hoje numa conversa terapêutica com uma amiga entendi essa realidade. percebi claramente que preciso das palavras como uma droga, e não pensem que me iludo, não, sei que essa droga não é canalizada para uma qualquer íntima artéria da arte, até porque a qualidade da minha escrita não se deita no patamar da genialidade, mas sei e sinto que essa necessidade produz efeitos fantásticos quando corre, como sempre, para as veias que alimentam o meu ego. sou um viciado de adrenalinas e egos inflamados. preciso de sentir o peso das leituras a crescerem em mim, que parte se expande nos textos que espalho por aqui, ou por ali, com a convicção de que alguém irá ler, primeiro, e gostar depois, pois são corpo do meu corpo. preciso dos comentários, embora sem eles a vontade de expor a escrita se duplique na mesma, mas cada comentário recebido dá ânimo a este meu vício maluco. escrevam beijos e abraços ou façam críticas, construtivas ou destrutivas, não importa nada, porque serão sempre comentários importantes porque preciso deles, vistam a forma que vestirem.
há vícios piores, há disfarces melhores, mas quem sou eu para negar-me tal evidência que sinto ao partilhar o que tanto escrevo, bem ao mal, pouco importa!
É preciso!
É preciso viver. Sem fingimentos. É preciso
É preciso olhar o futuro. Sem constrangimentos. É preciso
É preciso ter consciência. Na plenitude. É preciso
É preciso gritar. Ruir os silêncios. É preciso
É preciso chorar. Amar e sofrer. É preciso
É preciso ser liberdade. Cantar e sorrir. É preciso
Sentir vontades, correr e parar, ser preciso
É preciso!
A mação podre de um pomar ainda verde!
Hoje já podemos ter uma plena consciência que a agricultura mundial mudou. Mudaram os cultivadores e os processos que usavam. Até a fruta já não é a mesma!
De textura aprovada e imagem cuidada, em especial na parte externa, e que ilude os que, ao longe, passam e olham, ou que não lidam, regularmente, com ela. De sabor, por vezes, estranho em que nada do que antigamente tinha um valor estimado e de grande honra tem hoje importância. Vicissitudes de um tempo moderno!
Mas não se julgue que este novo ritual afecta apenas a agricultura. Não! Afecta muito mais e também chega ao âmago de uma sociedade quase sem princípios, quer por falta de tempo dos pais ou educadores para os filhos, quer pela vida que foge numa correria estapafúrdia.
E, no futebol, a realidade não é diferente! Desporto que já foi rei, hoje é comum, em Portugal, ver-se os estádios vazios, onde existe uma forte perseguição da corrupção e onde tudo se coloca em causa.
Por isso, quando se cultiva um pomar que se quer verde, não importa apenas a textura da maçã ou da sua imagem cuidada, seja externa ou interna, mas importa, cada vez mais, o seu sabor genuíno que grande prazer saberá dar a quem sempre a cuidou, a fez nascer e acompanhou, a par e passo, numa longa caminhada de suor e sofrimento, sempre com uma rega atempada, adequada e profícua.
O problema, escamoteado, passa muitas vezes por termos um fazendeiro vizinho que assiste ao crescimento do nosso pomar com um olhar invejoso e provocador, e que, mais tarde, aceita ficar com a nossa fruta, aquela de que precisamos, seja para comer ou para dar de comer aos suínos da nossa quinta.
Dá que pensar se os métodos são os melhores ou se os valores não estarão adulterados.
Entretanto, como uma maçã podre de um pomar ainda verde não faz a regra, mas antes a excepção que a confirma, cá vamos vivendo, cada dia, na esperança de vermos um amanhã melhorado e com outro género de fruta!
Eduardo Montepuez
(6 de Julho de 2010)
Sobre o humor
O sentido de humor é uma coisa fantástica e muito saudável! Mas o melhor medidor do homem é quando tem a coragem de fazer humor com o que ama!
8. Tu És especial
Tu és especial. Sei sempre o teu nome mesmo que não veja o teu rosto. Sei-te presente sem que sinta o teu olhar, mas sei que viajas por mim. Tu és especial.
Flor de um canteiro universal ou granjeio deste espaço crescente roubas as palavras, mesmo sem que nelas mexas, para acalentar essa necessidade erudita que tens. E eu, aqui tão longe e tão perto, faço a distribuição das letras na esperança que passes por aqui para sorveres algumas das palavras expostas ou até as frases que queiras guardar. Tu, nem sabes nem sonhas, o quanto és especial para mim quando me motivas mais escritas, quando também escreves para que possa ler-te. E nesta partilha, sem compromisso prévio, crescemos no mundo das letras e aprendemos a ser gente, com sentimentos narrados ou com gestos multiplicados.
Se o mundo fosse só eu, ou só tu, perdia-se na falta da partilha essa semente da amizade e, por consequência, a do amor e a da vida, subvertia-se o valor dos sentimentos e da gratidão de dar e receber e, ainda assim, faria sentido em continuar? Triste e só! Não! Não teria sentido qualquer passo que desse nem poderia dizer-te: - Tu és especial!
Obrigado por ser Tu, desse lado do texto, em sintonia com as palavras que nascem de mim.
22. sem título
Trago na máscara diária o meu Carnaval
E nos dias a minha folia de ventos quentes
Sou muito mais quando consigo ser todo
Até nas horas das noites desertas
Ainda e muito, caminho de pé
Vertical aos meus sentidos – único modo
Onde a paz transpira e respira
Porque também é vida
Eis os meus passos – de pegadas longas
Em ritmos desenhados
Expostos na minha passagem.
9. Destino
Os machados nas mãos dos homens
Tatuaram os tempos: o invisível ainda se expande
Na inocência guardaram a respiração
Os passos acabados. Esses homens
Ensombrados pela ambição e pelo sucesso
Rumaram à morte. No ventre da mãe
De luz proeminente: um grito sábio
Dom do nascimento efémero
E do sofrimento legado.
Não! Não escrevam sobre o Escritor...
Morreu o escritor José Saramago!
Não! Não escrevam sobre o Escritor...
Deixem-no um pouco só. Nesta última viagem.
Não digam frases feitas e outros louvores.
Não lhe dêem medalhas e outras condecorações.
Agora de nada adianta, porque é tarde, muito tarde para o que quer que seja.
Deixem-lhe um silêncio, profundo, como a incompreensão do Mundo.