APAGO OS MEUS TRAÇOS
Apago meus traços, perdidos num adeus
Percorro os meus sonhos, cansada, perdida
Desfaço o silêncio, destes olhos meus
E rasgo as mágoas e agruras da vida
Preencho a ausência e bebo um poema
Feito do meu corpo, vazio, sedento
Carrego a saudade como um dilema
Deixo meus desejos nas asas do vento
Assino a viagem que vou percorrer
Na folha da vida, que me está a fugir
Enterro a angustia, p'ra ninguém saber
Que um dia com ela eu irei partir
Desfaço meus laços e digo-te adeus
Nesta encruzilhada de mágoa e de dor
És a minha luz e a dos olhos meus
Doçura, carinho, ternura e amor
Apago os meus traços, na tela com beijos
Percorro o teu corpo, p'ra sentir o sabor
Das nossas loucuras, dos nosssos desejos
Da minha ansiedade, de ti meu amor.
ADORMECI
Adormeci ao relento
Cansada de esperar
Que navegasses no vento
Para me vires visitar
Sonhei então que a lua
Que também enamorada
Desceu ás pedras da rua
P'ra eu ficar acordada
E vi o teu lindo olhar
A bailar nos olhos meus
Para me virem contar
Quais os desejos dos teus
E nesta espera que dura
Não quero ainda acordar
P'ra não sentir a amargura
Que é eu ter que esperar
Adormeci no convés
Do barco da ilusão
E desbravei as marés
Que tinha no coração.
RASGO AS PALAVRAS
PARA TI MEU IRMÃO COM MUITO AMOR.
Porque hoje a saudade bateu mais forte
Porque hoje era um dia p'ra recordar
Porque hoje nem mesmo a tua morte
Vai fazer o meu coração tudo calar.
RASGO AS PALAVRAS
Rasgo as palavras, para não as dizer
Percorro o meu ser, tal cume em riste
Enterro meus sonhos,para os não viver
Navego nas ondas, do que não existe
Na minha procura, eu sei que em vão
De te não ver, eu sofro calada
Espalho a amargura, do meu coração
Nos ventos agrestes e no pó da estrada
E neste vazio, que em mim existe
Nesta tristeza, que eu tento calar
Só sei da certeza, que tu partiste
Lindos teus olhos, não vão mais voltar
Olho-me ao espelho, não me conheço
Não sei se aqui estou, ou se já parti
Só na minha angústia, eu me reconheço
Nas mágoas e saudades que eu tenho de ti
Eu sei que um dia, eu te vou encontrar
Com ferros, amarras te vou prender
O que não dissemos, nós vamos falar
E não mais irmão eu te vou perder.
DESPERTEM
Despertem horas sombrias
Não fiquem pasmadas agora
E dêm amor, alegrias
Á juventude de outrora
Despertem, porque as maldades
Não podem ficar mais caladas
Têm que viver as verdades
E serem desmascaradas
Despertem palavras vãs
Não bradem com ironia
Pois em todas as manhãs
A morte passa, sombria
Que todos entes queridos
Não vivem eternamente
Ou vão partir esquecidos
Que afinal até são gente
Despertem pois toda a gente
Que a saudade está a matar
A alma de quem não sente
E se negou a amar
Despertem que estou agora
Olhando o anoitecer
P'ra ver o nascer d'aurora
Quero vê-la envelhecer
Despertem dessa amargura
Que o dia está a nascer
E vejam quanta a ternura
No dar e no receber.
NUNCA TE DIREI
Nunca te direi que um dia
De manhã ao acordar
Eu tive a ousadia
De contigo eu sonhar
Nunca te direi que em poemas
Na tua alma me enfio
Que o teu sentir é o rio
Onde lavo as minhas penas
Dos meus sonhos e loucuras
Eu nunca te irei dizer
E das minhas diabruras
Tu nunca irás saber
Do choro que me fez secar
Eu nunca te direi também
Que levei anos a sonhar
Que também tinha uma mãe
Nunca te direi, sabe a aurora
Das mágoas que tenho no peito
E que a tua alma é agora
A cama onde me deito
Nunca te direi dos desejos
Que tenho para te oferecer
Só quando limares meus ensejos
E sentires os meus beijos
Loucos, na tua pele a bater
INDOMÁVEL
Indomável é o sonho
Em noite de céu estrelado
E o pesadelo medonho
Na lembrança do passado
É a luz que faz questão
De continuar a brilhar
Que ilumina a solidão
Mesmo que esteja a chorar
Indomável é a morte
Que ao carregar tanto frio
Deixa escrito em sorte
Um abraço num vazio
E até a velha hera
Sempre ao sol e ao vento
Teima em dar um rebento
P'ra enfeitar a Primavera
Indomáveis somos nós
Pois seja noite ou dia
Não queremos estar sós
E ás vezes nem companhia
Indomável o meu ser
Quando sente o teu ardor
Deixa meu sentir a arder
Em labaredas de amor.
ZANGUEI-ME
Zanguei-me com a luz do dia
Com as estrelas o luar
Se eu estou tão sombria
Porque têm que brilhar
Zanguei-me com a saudade
Porque marcou meus caminhos
Não com rosas mas espinhos
Me roubou a mocidade
Zanguei-me com um Jesus
Por tanto lhe perguntar
Porque me deu esta cruz
E um coração para amar
Zanguei-me até com o mar
Pois me sinto tão perdida
Neste mar da minha vida
Não me consigo encontrar
Zanguei-me com a caneta
E, só vou voltar a escrever
Quando tu fores um cometa
No meu universo a arder.
Rosa-Branca
ABRAÇA-ME
Abraça-me nostalgia
Ao de leve por favor
Que não quero a agonia
De mais sentir teu sabor
Abraça-me luz do Sol
Que quero quente ficar
Mas se fores tu farol
Também me podes abraçar
Abraça-me ó luar
Ó estrelas do firmamento
Convosco quero voar
Na brisa e até no vento
Abraça-me vida minha
Que me estás a fugir
Não olhes p'ra trás, caminha
Que maltratas meu sentir
Não lembres mais minha dor
Não pises mais o meu chão
Nem me tires o calor
Que abraça meu coração
Abraça-me que eu sou mar
Perdida nas tuas marés
Afoita no teu ondular
E casta rendida a teus pés.
FOI-SE O SOL
Foi-se o sol deitar mais cedo
Para eu poder brilhar
E amar-te em segredo
Nesta noite de luar
Foi-se toda a amargura
P\'ra longe o vento a levou
Para soltar a ternura
Que fechada a vida passou
Foi levada a nostalgia
P\'las estrelas a brilhar
Deixaram-me a ousadia
Com laço para te ofertar
Ao de leve veio a brisa
Pés de lã devagarinho
P\'ra me deixar sem camisa
Deslizar no meu corpinho
Rebelde então veio o mar
Para o meu corpo cobrir
D\'espuma do seu ondular
E salgar o meu sentir
Foi-se o sol e foi a lua
Já nos podemos amar
Tu és meu e eu sou tua
Como a noite é do luar.
Quero Dançar
Eu quero dançar assim
Nas tuas asas ó vento
Para não rirem de mim
E não fazerem lamento
Quero dançar ao luar
No dia á luz do Sol
No cimo da água do mar
Ou na luz de um farol
Quero pisar a ondinha
Que o meu pé vem beijar
Voar até á estrelinha
Que me vem iluminar
Passar assim o serão
A dançar com muito ardor
Dançar com o meu coração
Embalada na ilusão
Nos teus braços meu amor.