Poemas, frases e mensagens de vanemarx

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de vanemarx

Nós de Poesia

 
A vida é feita de incompletudes...
Como os bares de mesas vazias
Nas calçadas
Ou as longas estradas
Repletas de nada dos dois lados

Ainda assim, escrevo
Mesmo sabendo que em mim
desatam-se nós de poesia
E atam-se outros em seguida.

O fato é que
Daquilo que me resta
Faço-me humanamente completa
meramente humana...

V.M
 
Nós de Poesia

Silêncio

 
Dias nascem
Em que desejo estar para sempre distante
Esquecida
Esquecendo-me a beira-mar
Feita em pedaços
Como um velho vaso roto
Para me espalhar pelas sombras das árvores
E sentir o frescor e o abandono de todas elas
Quase culpada por estar tão feliz
Ao ouvir os sons dos pássaros
Quando os pássaros cantam
E o silêncio
Quando o silêncio existe...
 
Silêncio

O que me resta de um Universo...

 
Certo suspiro desprendeu-se de mim

Como se uma virtude que não possuo

Escapasse sorrateira de minha alma

Ao ver adentrando impetuosa e displicentemente

pela minha humilde e quadricular janela

Todo um Universo...

Vi santos

E anjos

E astros

Atravessarem silenciosamente a pequena

Moldura...

Mas não havia santos nem anjos nem nada mais

Do que poderia haver

Apenas meu desejo de estar distante

E de não estar em lugar nenhum...

(O que havia, apenas, era minha poesia

E os fragmentos de uma alma)

Creio que para mim basta

que apenas essas duas coisas me restem...
 
O que me resta de um Universo...

Minha alma está nos meus versos...

 
Quando eu morrer

Não quero lágrimas

Nem reuniões hipócritas

Quero que façam o seguinte:

Abram minhas gavetas

Retirem de lá a meia dúzia de poemas mal escritos

Coloquem todos delicadamente em pequenas garrafas

e lancem todas elas nos mares serenos ou revoltos

pois sempre tive o desejo de viajar o mundo...
 
Minha alma está nos meus versos...

O Tempo

 
Foi assim...
Um dia, quebrei as correntes do medo
E o encarei, face a face!

Olhei nos seus olhos imensos
Talhados sobre a eternidade.
Ele também me encarou
E como diante de um espelho
Pude ver em meu rosto os sulcos deixados
Pelo passar insensível de seu navio
Lento...suave...constante...

Confesso.
Naquele instante me rendi aos seus encantos...
E desde então tornei-me sua amiga de infância
O Tempo...

Tornou-se também meu cumpadre
Prometeu continuar passando
Mas agora com mais alegrias
Mais flores, mais vida.
E talvez menos pressa...
 
O Tempo

PALAVRAS

 
Esgueirando-se
por entre meus lampejos de consciência
Vejo -uma a uma-
As palavras desaparecerem de mim
Nesta madrugada em que a humanidade adormece
- E os poetas renascem -
Meus olhos repousam sobre seu cansaço
humano e tardio
meu corpo está exausto
mas minha alma está liberta...
 
PALAVRAS

Pontes entre Abismos

 
A vida vem de longe
E é interminável a noite.
Com este pensamento esvaindo-se,
Segura e resoluta, sento-me diante de um espelho.
Não. Não me sento diante de um espelho.
No entanto, diante de mim
trago agarradas às mãos
algumas folhas de papel surradas,
uma caneta quase sem tinta e uma consciência pesada...

Minha alma vive construindo pontes entre abismos
Buscando sempre e sempre e tanto
O outro porto. Pés no chão. Pena em punho.

Tenta convencer-se (em vão?)
De que sentar-nos à beira das horas, vendo passar
As carruagens temerárias
(que nos surpreendem, tanta vez, quando notamos que somos
com elas, de carona.)
Não passa de brincadeira de criança.

Que a vida é fardo tênue demais
Para quem traz os pés e as mãos e o corpo
Deitados por sobre nuvens do sem-tempo.
Para quem cem anos não são mais que cem dias
Para aqueles que trazem como parte de sua bagagem extensa e imponderável e breve,
Exércitos invisíveis mas tão profundamente reais
Que reagem ao menor sinal,
Ao mais insignificante chamamento.
E creio que possuem cheiro de sol nascendo...

Da solidão.
Há de restar-me um dia apenas
Sua glória
Seu espinheiro
Minhas feridas
E estas lágrimas que sobre o papel desfalecem...
 
Pontes entre Abismos

Sobre a importância da PALAVRA

 
Palavra é uma lasca de vida!
É semente dormindo na terra...
Poetizar, é a arte da paciência,
De esperar que o verbo risonho
Vença a teimosia do chão
E venha ao mundo fazer folia...

Na palavra verdadeira fiz minha morada
Naquilo que digo, naquilo que penso,
Naquilo que escrevo,
Está um pedaço daquilo que sou.

Palavra é a ponte das almas
Por onde caminho até você,
E caminho com você.
Enquanto traço essas linhas
Vejo teus pés na outra margem
E teus olhos risonhos a me esperar.

A palavra verdadeira
É franca e transparente
Traz no traço a alma da gente
E uma vontade danada de ser mais
De aprender mais
De tirar o véu do mundo
De sentir um sentir profundo
De construir e viver a paz...
 
Sobre a importância da PALAVRA

LEMBRO

 
Ranger de portas...
Soar de sinos...
O passado volta
E sempre passa
Passa por mim e fica
Finca sua lâmina
no meu querer não pensar
E eu sem salvação,
Lembro.
 
LEMBRO

Poesia Impura

 
Poesia impura!
Impura por esta terra
Por este chão
Pela alma daqueles que cantam sua solitária dor
Também impura
Também humana

Repleta de terras e de chãos
E de gentes.
Impura pela pressa com que surge
Dessas mãos inertes há segundos atrás.
Vem célere, impensada...
E se vai.
Calmamente...

Eu queria cantar a canção do meu povo
De toda a minha gente
Que sou eu.
Seus suores, seus viveres,
suas capelas divinamente medíocres
E seus desejos mediocremente divinos.
Mas não tenho mãos, nem penas para tanto.
Apenas esta poesia impura.
Impura por ser de minhas mãos que nasce...
 
Poesia Impura

Tempestades - A meu amigo Trabis

 
Tempestades

Tudo em mim, são dias de tempestades...
Por isso entrego minha alma à poesia
E meus dias a escrever versos
E meto uns poemas em velhas garrafas
E as levo para as águas intermináveis dos mares
- revoltos e tristes -
E as lanço, na singela esperança
De que um dia alguém os leia
Ainda que meus pés não estejam mais sobre este chão
E meu corpo tenha sido já lançado no ventre desta terra impura
E minha alma tenha também partido
- para a imensidão do infinito com que sonho,
ou para o abismo solitário que me amendronta...
 
Tempestades - A meu amigo Trabis

Não me dou com poemas longos...

 
Mas vou desde já dizendo adeus
Pois não me dou com poemas muito grandes
Ou diz-se tudo em poucas palavras
Ou melhor não dizer...

Por isso tenho tantas vezes calado
E ouvido
E novamente calado...

Ou talvez porque se me pusesse a escrever o que levo n’alma
Nada faria além de um pequeno folhetim
Pois minh’alma anda nua, descalça e em liberdade.
Daí minha impaciência com poemas muito longos
Com os quais facilmente adormeço.

Mas vou desde já dizendo adeus
Pois não me dou com poemas muito grandes
Ou diz-se tudo em poucas palavras
Ou melhor não dizer...
 
Não me dou com poemas longos...

Memórias

 
Às vezes
um silêncio me invade
- como uma aproximação da morte -
Penso nos amigos que esqueci
naqueles que não fiz
naqueles que nunca odiei
(por não ter tido a chance)
e naqueles que ficarão para trás.

Em quantas memórias as memórias de mim sobreviverão?

Algumas
Poucas
Nenhuma.

E sigo carregando pela mão
Um bendito fardo que não vejo
E sorrindo o sorriso dos que não tem saída...
 
Memórias

Luz e Trevas

 
Há muitos séculos a escuridão me habita.
Caminhos íngremes, espinhos, arranhões, lágrimas.
Duelos transcendentais se travam
Na arena da minha mente.
O assombro me assombra a alma.
Tudo estará perdido?

Haverá para sempre um abismo intransponível
Entre dois mundos ?
Corrupção ou Justiça.
Ódio ou Amor.
Traição ou Lealdade.
Morte ou Vida?

Arre!
Das trevas não quero, sequer,
Uma vaga lembrança...
Sinto-me imensamente grávida!
Gerando em meu ventre uma semente silenciosa
Um pequeno anjo ainda sem asas
(Um pequeno e silencioso anjo ainda sem asas...)

Sem dores ele não nascerá, bem o sei.
Rebento dos séculos...rebento de minhas incontáveis vidas...
Gero sim, a mim mesma, sob muitas outras perspectivas...
Vejo desaparecerem um a um,
Os monstros que comigo
Dividiam o chão frio e desumano das cavernas...
Obscuras cavernas...insensíveis cavernas...

Olho para fora do esconderijo em que me meti
E meu peito torna a se encher de vida!
O inesperado acaba por acontecer...
Sinto-me parir e sinto-me nascer.

Não. Nada há de se perder!
A esperança não há de se perder,
O amor não há de se perder,
Nem a paz ou o carinho,
Nem o cuidado ou o afago...
Nem a poesia ou a vida.

Sinto-me parir e sinto-me nascer...
 
Luz e Trevas

Privé Tuin ou O Jardim Secreto

 
Nesta noite
-como comumente faço nos dias mais melancólicos-
Debrucei-me em minha janela
para ver o céu

Foi então
que a realidade surpreendeu-me
Como se a vida tivesse me reservado
toda sua solidão
Que é um certo silêncio da alma
prolongado ao infinito

(Ou o próprio debruçar-me nesta janela,
em uma noite em que
todos parecem dormir
E que a cidade finge dormir
E eu, tento acreditar
e acabo sempre acreditando
Que há algo para além deste céu
-que nunca vejo-
E desta solidão
-que de fato sinto)

E assim, depois de horas de meditação, de busca,
Fecho minha janela de ver o mundo,
Rezo minha oração de todos os dias
E vou tentar dormir
Sem encontrar o que venho procurando
Ao longo desses séculos
que são tantos...
 
Privé Tuin ou O Jardim Secreto

Urbana

 
Enquanto meu corpo se curva/
Sob o peso da vida citadina/
O que meus olhos anseiam por ver/
(Entre os vãos solitários e inconstantes dos prédios)/
É muito mais do que olhares vãos/
É simplesmente toda minha vida/
Traduzida em nuvens...
 
Urbana

Finados

 
Hoje pela tarde
- uma tarde de finados como a de todos os anos,
Chuvosa e inútil -

Quando desperdiçava meu tempo
Relendo velhos escritos, textos inúteis e
Poesias tão antigas quanto minha infância

Senti-me um pouco mais infeliz
Ao perceber que um dia terei que escolher
Entre minha poesia e minha felicidade
Isto porque notei que minhas palavras
Surgem e brotam
Apenas nos momentos mais tristes...

O motivo de minha angústia é saber
que sou uma sonhadora,
Que vivo os dias e as vidas
Buscando a felicidade
-ainda que não exista-

E então descobrir,
Com um sobressalto,
Que estou buscando uma forma
De matar a minha já medíocre poesia,
Buscando o veneno para minhas palavras...

Mas que chegue esse dia!
Eu as velarei com muito respeito
E guardarei em meu coração
Todo o bem que me fizeram
E me despedirei com a dor
Que sente uma mãe, se, ao toque do destino,
Vê-se obrigada a enterrar seu único filho...
 
Finados

Espelho poético

 
Sento-me diante de um espelho. Não. Não me sento diante de um espelho. No entanto, diante de mim trago agarradas às mãos algumas folhas de papel surradas, uma caneta quase sem tinta e uma consciência pesada...
 
Espelho poético

Catedrais

 
Ecos entrechocam-se pelas catedrais
Onde a falta do Espírito
Faz sentir as almas
-ausências,
Inquietudes tantas...
Uma solidão de muros altos
Duros, intransponíveis e frios...

Sou mais humana
Andando pela relva fora...
De pés nus
E poucos cuidados...
- Além de atentar para não pisar nas flores...
 
Catedrais

Manhã de Carnaval

 
Passa já da meia noite
e não consigo dormir
- um violão chora a "Manhã de Carnaval" -

Sinto-me quase culpada
Por estar ainda desperta
e idiotamente segurando a caneta
Sem nada escrever
A não ser essas palavras
Que nada me dizem...
 
Manhã de Carnaval