Poemas, frases e mensagens de Epifania

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Epifania

Ao espelho

0 4º elemento e a subjectividade(Com Haeremai)

 
- Iam todos em total algazarra. O carro estava à pinha e nem indícios de vida naquele automóvel. De vez em quando viam-se uns reflexos em tons violeta, que deixavam um colorido vivo nos rostos escuros que ali se amontoavam. Vi-os então de braços no ar a tentar galgar o tejadilho do carro. Eram negros como a fuligem e deixavam a antever a noite que ainda estava longe. A manifestação do 4º elemento é um acontecimento importante. E ali estava eu, esperando que algum carro passasse para me dar boleia. Mas repara que o carro só poderia trazer 3 elementos, para que o 4º elemento se ajustasse ao meio.

Epifania I

- Mesmo num mundo de total confusão, como a do carro em movimento, assim a vida! Um mundo cheio onde o conflito é nota festiva. Mesmo assim a solidão domina o Mundo. Neste carro que parou para me dar boleia, o som deixou de se ouvir. Talvez a curiosidade perante o 4º elemento. Mas é transitório, acredita.
De novo os rostos na penumbra, porque não se visualizam no espaço. Prefiro as almas, essas reconheço-as no meu campo visual interdito a esta dimensão.
Haeremai I

- Entendo-te quando falas em números. Se por um lado, precisas de equilíbrio, por outro deixas de lado as figuras ancestrais de um mundo feito em 4 partes. Ar, terra, água, fogo. Tens a figura geométrica de um quadrado que pode ser ajustada, se nela incluíres um triângulo. Então tu serias o 4º ou o 5º elemento para te apossares das partes que teu corpo consumiu num dia só, onde o sol espreitou e deixou marcas visíveis na cor da noite? Rostos negros de desilusão ou seria a pele bronzeada pelo sol, ou seria mesmo a cor daqueles rostos que se diferenciava da tua? Já esqueceste que a lua muda de cor assim como o sol, a terra, o ar e água? Hoje por exemplo, aquela nuvem gigante pintou o mar de traços negros a carvão. Mas o mar continuava lá genuíno, como o mundo que o criou.
Epifania II

- Nada parece o que é… ou nada é o que parece? As formas geométricas existem no espaço, na relatividade. São subjectivas como as imagens reflectidas num lago ou num espelho. Vês a realidade? Não, nem a verás nunca. O dia perde o Sol num soluço nocturno. As imagens mudam conforme os tons pintados pelo astro Rei. O que somos então? O dia ou a noite? Ou nem uma coisa nem outra? Seremos realidades subjectivas do Ser? Aparência ou subjectividade da realidade. Sabes? Eu morri na teoria da relatividade!

HaeremaiII
 
0 4º elemento e a subjectividade(Com Haeremai)

À conversa com...

 
- Parece que nos diluímos no espaço, que tudo é ilusão criada por nós, e que nos materializamos aqui por uma única razão - Infernizar a vida uns dos outros.

- Concordo contigo. Às vezes parece-me ter caído num abismo de incertezas, que tanto faz saber-me aqui, como em qualquer lugar de um mundo, que parece nem existir. Já todos os sorrisos se condensaram.

- Então, porque teimam em sorrir, quando os moldes de que são feitos, nem estátuas chegam a ser? Sorrir com gosto é ter nos olhos o mundo, na boca um sopro abençoado e no corpo a dança dos tempos áureos.

- Agora tudo tem fome de tudo, porque a fome já é uma nova marca, no mercado. A fome dos sorrisos forçados com lágrimas embalsamadas já cresceu por toda a parte.

- É preciso sentir que a cada palavra se solta um novo perfume entre sorrisos e que esses mesmos sorrisos, sejam o mote para um dia, irradiando felicidade.

- Isso. Sorrir - o acto de conquistar a amabilidade escondida em cada rosto.

DM (Epifania & Ainafipe)
 
À conversa com...

ÔNIX/Dakini/Epifania, em trio - Revelações íntimas

 
ONIX - Escrevo-vos porque assim é melhor para mim. Expressar o que sinto e sem interrupções de qualquer espécie, é uma vantagem atingindo os limites impostos por um outro olhar, enquanto se renovem novas espécies a quebrar as regras do inconstante movimento, sempre que nos voltamos para o exterior. Sempre que vos olho na vossa nova vida, fico com a certeza cada vez mais acentuada, de que dúvidas não tenho, quanto à nossa permanência no sentido evolutivo. Sei que são sempre as aproximações de outros, que nos farão enxergar o além que está tão próximo, quanto o clímax de dois corpos a expurgar todos os credos em cruz, enquanto o além se divide em pontos equidistantes. Sei, e sei que sabem também, que sem essas pessoas, não seríamos mais do que esboços levemente traçados num conjunto abstracto, a tentar atingir o concreto e o definível, sem nunca chegarmos ao ponto de encontro que nos mereça. Digo-vos isto, porque agora que estou além dos limites do eu, dá para fazer viagens, traçando novos limites consoante os movimentos que dou aos olhos, acentuando espaços fechados e concentrando-os num único e novo olhar.

Dakini - Concordo. No entanto, há aquele ditado que diz: “Figura caída, pétala amarelecida”. Há quedas que são uma fonte de vida - Aquele que a leva o vento, e a transforma, é digna de um bom momento. Esquecer a Primavera que lhe deu vida, é ir ao fundo de um abismo e ficar lá esquecida, de que há novos tempos e novas estações a desenterrar, do mundo que as pariu. Breve, muito breve, terei muitas folhas caídas nesta cidade que meus pés pisam, num piso ressequido pelo verão. Terá uma nova cor. São estas cores diversas que me levam a acreditar que os olhos da Epifania, serão sempre o inicio de tudo, conduzindo-nos para outras cores. Consoante os momentos que nos trazem bons momentos, outros nos levam para lá de uma qualquer figura abstracta. Figuras que se juntam a outras que deixaram de ser mera figuras, para passarem a ser um conjunto de imagens dispostas a deitar por terra, todas as figuras criadas à imagem de um só momento. Lembro ainda que a Epifania, ficou lá atrás na cor verde.

Epifania - Tens razão. A cor verde, está para mim, muito próxima do amarelo, que é uma cor de eleição aos meus olhos. O branco que lhe deu origem, está perto de se alterar para o que a natureza tem para lhe dar. Mas essa, precisa sempre de novos tons, para que atinja a maturidade suficiente, e saiba que as cores são um reflexo da sua visão. Há as noites que se abrem para que saiba onde ficou o dia, e há o dia que lhe fornece todos os ingredientes, para que brilhe no escuro. Por isso, a noite é o meu refúgio. É lá que me renovo transmutando as cores. Vou entrar agora no amarelo e através desta cor, pensar no sol como uma fonte de vida, fazer do passado, um passado a perder de vista, e construir o presente com novos momentos.

Ainafipe - Se pensarmos, no que os vossos olhos se limitam a observar, sem no entanto conseguirem ver nada do que observam…Sei da vossa insistência em permanecerem num plano desintegrado, mas olhem bem para mim e sintam, se o que vos tenho dito não é a mais real imagem que poderiam ver. Aqui não há cores, odores, sons, ou espécies a renovar a minha visão, mas sim figuras a cair no vazio. Entram no limbo dos sonhos e já nada resta, a não ser esperar pela constatação de que já foram imagens duplas, num tempo marcado pelos meus olhos, após o que, serão uma só, à espera de uma nova espécie até à próxima Primavera, onde as cores serão um simples manifesto dos seus sonhos.
 
ÔNIX/Dakini/Epifania, em trio - Revelações íntimas

No espaço da imaginação

 
- Eufóricos os momentos que nos levam ao engano, a tentarem cegar-nos para poderem arrombar uma porta fechada. Sabes quem nos haverá de dizer quem somos, quem fomos e quem viremos a ser de novo? Nós!

- Esqueçamos então as teorias que nos levem a ser qualquer coisa que não conhecemos ainda. Ledo engano para nos levar ao engano. Esqueçamos quem somos agora neste momento e seremos algo de maravilhoso que continua vivo em nós!

- Isso! Um modo único de ser, mesmo quando as Eras tomam conta do tempo.

- Há tempos sombrios, desnortes, que deixam sempre muita coisa no ar, em suspense, sem resposta. Depois vagueia no espaço da minha imaginação como foi o caso de ontem, em que o pensamento coabitava com um espaço trancado. Rapidamente se cortou a comunicação, como se o fio descarnasse, ou então fosse violado por qualquer intrusão dessas que acontecem nas novas comunicações, onde te movimentas e nem sempre te orientas no verdadeiro sentido das coisas.

- Sabes, às vezes penso estar a falar com ninguém em nenhures. Isso tem-me deixado sempre em suspense nesse encontro imediato com o nada. Depois e sem direito a defesa, fica o pensamento também a vaguear por aí. Não sei se já sentiste, mas inspiras-me sempre a escrever-te, e também me levas a dançar como dançámos à chuva naquela noite, com uma taça de vinho tinto nas mãos. Lembras?

- Sei sim que te inspiro a inspirares-me! Como sabes, escrever para mim é um vício. Doentio até, se pensar num conjunto de várias ordens do pensamento a levar-me para lugares onde nunca pensei estar, muito menos visitar. Mas sabes que também dói? Dói por dentro. Dói a alma, tanto que às vezes não consigo falar, andar, pensar…só escrever. E escrevo tanto que só depois de escrever é que penso no sentido que dei às palavras depois de as ler. Por isso sinto-me esvair em cada uma, em cada texto, em cada livro, tal como me sinto quando te penso e não te toco, e não te falo e não te vejo…amor, paixão, tesão mesmo que só em refrão.

- Sei disso tudo. Tanto que tenho momentos que preciso fechar os olhos, e em silêncio procurar-te naquele emaranhado de partículas coloridas, que dançam em frente aos meus olhos trancados à luz. Sabes que na escuridão a luz é mais luz! A luz que encontro num fundo negro quase nunca me cega! Há luzes que embriagam os sentidos, e cegam, cegam, a nossa própria luz. Sabias?

-Sim a tua já me cegou uma ou duas vezes. Mas já escrevi tanto e só queria falar-te sobre uma ou duas coisas. Um ou outro pensamento que ficou ontem suspenso, e me impediu de adormecer no imediato momento em que coloquei o corpo no posição horizontal. Óbvio que quando assim é, penso em ti. Esta posição dá cabo de mim, quando amo.

- Sim, mas adiante para mais um ponto, ou uma vírgula neste pensamento que a noite suspendeu. Pois, só porque à noite a luz é mais luz, e o conhecimento dela própria não deixa margens para dúvidas.

- Pois é! Ficou o pensamento em estado de amnésia. Adormeci com ele e acordei com ele. Sabes como sou distraída.

- Eu sei, mas quem não te conhecer deve achar que és assim meio desmiolada ou mesmo uma inteira destrambelhada.

- Sabes que não ligo a coisas e coisinhas. Mas os “mas” colocam-me sempre questões. Por outro lado tenho a minha própria análise sobre os “mas”, esses teus quando me deixas vaguear pela tua imaginação e essa sim, é sublime e gosto muito mais.

- Eu também gosto do gozo que me dá, ver-te assim entusiasmada com o pensamento em diversão. Adoro quando o colocas em acção, determinado a deitar por terra qualquer enredo que possa estar a ser criado na tua imaginação.

- O pior é que as coisinhas aparecem e depois vêm os filmes, os enredos, as suposições. Enfim um rol de coisas que nos levam sempre a conclusões que nem sempre são as reais.

- Mudando de assunto: não me amas como eu te amo, disseste-me. lembras? A minha imaginação é algo somente meu, e a tua, a súmula de alguns tempos nos verbos que transitam e se ordenam mediante a minha comunicação. Agora imagina se todos nós gostássemos do mesmo modo das mesmas coisas, se a cor preferida de todos fosse o amarelo por exemplo, já pensaste que grande confusão.

- Amo muitas coisas, obviamente. Mas, um Homem, quando amo, permito que entre em mim, que me sinta por dentro, que me dê prazer, o sexual também, que me deixe senti-lo também assim….vejo as coisas deste modo. Estarei errada? E tu quando pretendes deixar esse lugar ermo e desceres cá abaixo. Estou cansada de esperar por ti.

- As relações humanas não são fáceis e a confusão é mesmo uma constante….também o é comigo. Pensa em quando nos conhecemos e no que te disse: - Não precisas dar-me a mão. Conheço todos os caminhos de quando ainda tinha a verdade nos olhos. Resulto de um modo de dizer as coisas simples e belas e tu és o meu guia, o meu assunto do dia para me dizeres também, de quando tudo era branco nos meus olhos.

- EU Amo-te sempre mais

- Eu também

Epifania & Ainafipe
 
No espaço da imaginação

O Mundo da Lua

 
- Cheguei cedo, mas nem assim aconteço nas memórias do mundo. Um mundo feito de histórias. Um mundo feito também de estigmas. O mundo da metafísica e dos sonhos. Um mundo cansado de deuses e de santos pelos caminhos.

- E eu, silenciei os dias para gritar as noites. Roguei perdão pelo cansaço dos meus olhos. Ninguém me diz como chegar ao mundo da lua. Ninguém me ajuda a levitar. Preciso esvair-me neste chão. Este pedaço de terra regado pelas tuas lágrimas, já não precisa de nada mais. Irei permanecer por aqui, até que ouça o uivo do lobo.

- Entendo-te. A cidade é o local dos enredos. Nos becos os gritos ficam mudos. Nem um pingo de luar acaricia os corpos dos mendigos. Lá das montanhas, voaram os falcões e apagaram os ecos que foste largando pela estrada. Precisas de um esboço meu. Só ele te fará erguer e caminhar sozinha. Lembras-te do branco dos meus olhos?

- Carimba-o na face oculta da noite. Deixa-o ficar. Permite que chore. Só hoje, para que veja fios do luar a tecerem novos andrajos para os pobres. Depois afunda-os no meu rio. É doce por enquanto e nada o fará mover-se em direcção ao mar.

- Porque demoras a noite nos teus olhos? Nascer e viver no mundo da lua é como virar o mundo ao contrário. Nem sei porque quero ser a tua lua. Sei lá porque quero que sejas a minha noite.

- Abro-me a ti, mas tu nem sempre me encontras neste ermo, nesta encruzilhada. Foste sempre agoiro no céu. Alteras os tempos e os partos. Mudas a rota dos ventos e as brisas. Castigas os elementos. Fustigas os jardins de pedra. Beijas os mortos e os vivos. Conheces todos os movimentos das estrelas. E eu por aqui à espera. E tu, conhecerás todos os meus segredos?

- Sei de todos eles, mas só um me faz continuar a mostrar-te o branco dos meus olhos - A tua vontade de seguires viagem. Quero que saibas que o tempo das tulipas brancas é agora, ou nunca. Nas mãos dos homens tracei um único destino, chamado tempo de memórias. Nos teus olhos está o mundo virado ao contrário, sempre que os fechas à noite, e os abres pela manhã.

Epifania dos Anjos
participação na Antologia da Lua e Marfim
 
O Mundo da Lua

Preciso de ti na minha cama hoje

 
- Foi só um sonho.Um sonho breve, como breves são os meus toques profundos nas tuas partes de baixo. Sim porque no alto só vi luzes a desfazerem-te por dentro.Como guia estás muito em baixo de forma hoje. Sabes como te adoro e como preciso de ti na minha cama hoje. Põe-te em forma.

- Se tivesses miolo de pão caseiro, em vez de miolos, ainda faríamos uma refeição a dois. Assim, que dirão os verdadeiros miolos de um bom par de partes baixas, a tocar-te as partes traseiras, se se cansam do ventre que lhes deu vida.

- Quem sabe, caberemos os dois numa cama, com luzes a iluminarem os verdadeiros miolos e chegaremos ao êxtase total, de onde se vêem as verdadeiras luzes da ribalta.

- Vamos dormir. Estou cansada de tanta conversa da treta. O verdadeiro Homem até já se foi. O que dirá de tanta merda a chafurdar nas suas longas conversas a dois.

Epifania & Ainafipe
 
Preciso de ti na minha cama hoje

Lobos de matilha

 
- Demoraste a chegar. Ouvi-te entrar pé ante pé sem ruídos no soalho, nem nos batentes das janelas. Nem ouvi a chave a entrar na fechadura.

- É verdade. Do sítio de onde eu venho, há um silêncio absoluto, Nem vi as pegadas deixadas pelos lobos da montanha. Há lá uma variedade de seres que não precisam dos olhos. Quando vêm um, nunca vem só, basta um sinal que não me é ainda perceptível. Têm um espírito de entreajuda fenomenal, estes seres.

- Dizes, bem. Esse espírito de entreajuda também existe por aqui. A saber sobre os lobos de matilha: quando precisam acumular uma boa dose de força maior, enquanto seres isolados, isolam tudo o que as suas mandíbulas precisam. Os seus olhos são como faíscas incendiárias. Arrasam tudo à sua passagem. “Não fica pedra sobre pedra para contar a história”. De vez em quando, ainda se vê algum afoito na pedraria, mas logo se recolhe, pois o ruído das antenas que esses seres utilizam para estabelecerem, comunicação é ensurdecer.

- Mas isso é um ambiente grotesco. Tudo em mim é uma constatação diária, sem propósitos de atingir a especificidade das alturas indesejáveis. Tenho vertigens e muitas. Se me visses com uma destas crises, cairias estatelada no chão. De riso, talvez, ou então de medo pela constatação da hipótese, de que se num universo de dez pessoas, duas tiverem propensões para assimilar no seu olhar, este mal, tu poderás ser a próxima vítima.

- Contigo sinto-me numa posição privilegiada, se pensar que pertenço a essa tua espécie já mais avançada. Tenho dias que volto atrás no tempo, vendo-me como uma dessas lobas isoladas, que insistem no chamamento vertical, mas logo me deixo cair na minha sempre posição horizontal. Quero muito saber como vivem os lobos organizados em matilha. Ser vítima de um grupo assim desgovernado, já é um mal necessário. Não me queiras com vertigens, porque do alto vêm os variados sinais, identificando os trilhos que essa mesma matilha deve seguir

- Vou pesquisar, para saber como utilizam agora nos tempos modernos esses chamamentos. É isso. Devem ser as antenas, porque das montanhas, já chegou o Homo Sapiens, há milénios e até essas já possuem um sistema mais sofisticado, de modo a servir o espaço aéreo das novas comunicações. Há dias que nada apetece, a não ser deixar-te armadilhada nesse campo minado e monitorizado.

- Não vás ainda. Tens razão, pela minha falta de brilho. Deve ter sido das noites em branco. Tenho coisas para te falar. Comecemos então por determinar quem é quem, em matéria de amor. Não gosto dessas cenas por detrás dos espelhos. Comunicando sim, mas quero que me devolvas os meus olhos. Ainda não sabes quantos olhos tens na noite?

Epifania & Ainafipe

"Ao Espelho"
 
Lobos de matilha

O Homem era um Homem

 
- Aquilo que vi e ouvi no caminho que me levou hoje por becos escuros, deixa uma forte sensação de vazio, como se o meu corpo fizesse parte daquele acumulado de pedras negras, ainda a luzir debaixo dos reflexos das luzes dos candeeiros. Digo-te que fiquei completamente tolhida nos muros e nada me fazia arrancar dali. Os cães tremiam de frio os homens trocavam migalhas envoltas em farrapos e a manhã chegava, simplesmente chegava calada e fria. Eu fechei os olhos e deixei-me arrastar pelo vento que me furava a carne e me roía os ossos.

- Entendo que há muros frios e que a cidade é um sítio onde as pedras ganham formas, nessas ruas caiadas de negro. As sombras caem, os pilares aguentam todas as pontes sobre o rio, mas esses ambientes cimentados pelas mãos de quem tem fome, e de quem não tem medo do escuro, é de certa forma assustador. Prefiro ficar aguardando que te lembres do branco dos meus olhos. Ando por aqui nesta cor esbatida, mas não esqueço que não chegamos ainda ao ponto onde os nossos corpos se fundem e os nossos olhos assumem a verticalidade de um momento só nosso. Nunca me chegaste a dizer quantos olhos tens na noite. Talvez esta noite te tenha fornecido novos indicadores de como um olhar se transforma quando vê formas a denegrir ainda mais a noite.

- Nunca pensei quantos olhos são precisos para se cruzarem na noite. O que sei é que vi um homem. Uma figura bizarra a cortar o ar da noite, sempre que inspirava e expirava. Da sua boca saiam lufadas de ar, e do seu corpo uma nuvem de fumo miudinho que enchia o beco de sombras de várias cores. Houve até um momento em que me pareceu que a noite se tinha feito dia e que a cidade se tinha encolhido no corpo daquele homem. Mas o homem era um homem e não um figura daquelas que se vêem desenhadas nas paredes de betão ainda em estado de comiseração. Bem, depois vêm os grafitis, quando tudo estiver silencioso e quando o homem deixar de inspirar e expirar.

- Penso que as noites têm muito mais do que um homem a tentar sobreviver. Há mortes tão lentas que nenhum homem vê, nenhum rio colhe, nenhum caminho escolhe. Há escolhas assim por becos frios, onde os olhos se escondem. Da próxima vez, quero ir…Preciso dos teus olhos …(…)
 
O Homem era um Homem

Sorrisos matinais

 
- Vou editar um livro Ainafipe. Que pensas disto?
- Penso que é uma falha a colmatar outra falha

- Como assim? Falha porquê, se ainda nem te falei sobre ele?
- Não tens material para um livro. Só o terás, quando te estenderes ao comprido.

- Não entendo! Estender-me ao comprido, Conversa da treta esta nossa hoje…
- As ideias que vais transmitir não passam de simples idiotices de quem não tem mais que fazer para ocupar o tempo. Porque não ocupas o tempo a namorar? Quem sabe não terias aí sim, ideias orignais para editar um livro.

- Ideias originais? Então o acto de namorar é visto por ti como obtenção de ideias originais para se poder editar um livro?
- Claro. Só sabendo as posições em que te deitas, se do lado esquerdo, se do lado direito, se de bruços se de barriga para cima, te poderão catalogar, amealhando temas para um bom livro.

- Mas quem te disse a ti que eu quero escrever sobre um tema erótico?
- Não disseste mas eu sinto. A não ser assim, quem te iria ler? Só se fores amealhando sorrisos que tanto gostas e escreveres sobre eles. Começa pelos sorrisos matinais. Esses darão que falar ainda antes do livro sair.

- Gosto de sorrir de todas as maneiras. Um amigo ensinou-me uma nova técnica. Acho que me fez apaixonar pelo meu sorriso, e pelo dele.

Epifania & Ainafipe
 
Sorrisos matinais

 
- O meu olhar tocado pelo frio nocturno demorava-se naquele cubículo, onde todos se coçavam por entre os folhos rasgados das camisas já gastas. Já me cansa tanta gente nas ruas a esfregar-se na cidade. Ela sem dar por nada arrefece os corpos maldizendo todos os olhos perdidos na noite.

- Sei de um tempo em que se ajoelhavam no chão, como se fossem peregrinos cansados dos pés. O inverno cobre a cidade com um manto negro. Agora tudo é motivo para não caírem em desgraça nas igrejas. Os santos gostam de sossego e alma. O incenso é aroma quente nas suas mãos, o terço rodopia em círculos provocados por uma brisa suave, como se fosse um sopro de Deus.

- Dizem que as promessas são ocasionadas pelo enraizamento da fé e que Deus está em toda a parte, porém ali correm ventos despojados da verdade de Deus. Estou cansada de tanto alarido nas ruas da minha cidade. Por todo o lado nascem profetas. Se pelo menos nascesse por aqui algum…seria uma forma de minimizar a dor desta gente com palavras que os ajudassem na fé em Deus.

- Não sabes se o que os faz pernoitar por ali, é também movido pela fé e cumpram alguma promessa. Há várias formas de se entrar por esses caminhos. Uns de joelhos, outros de pé, outros deitados. Sabes como se cumprem promessas em silêncio?

- Penso que sei. Mas o pensar nem sempre me leva por caminhos da fé. Falta-me sempre uma mão para escrever, um pé para andar, a voz para falar, a boca para comer e a língua para levar a hóstia ao céu-da-boca.

- Perante esse cenário digo-te que talvez o silêncio seja o pensamento em acção. Ou acreditas nele, ou te afastas para saberes onde colocar as mãos quando pensas descrever um olhar que trai todos os teus momentos de fé.

Epifania & Ainafipe
 
Fé

Trevo de 4 folhas

 
- Já nem sei se me disponha a ouvir-te nesta hora tardia. Tenho um livro novo, e lá dentro um trevo de 4 folhas.

- Trevos a esta hora da noite, não. Prefiro as pétalas das rosas que perfumam ainda o jardim, de onde avistei o Bocage

- Rosas ? Não as vi, mas vi muitos cravos cheirosos, e julgo ter visto um no bico de uma gaivota que descansava junto aos pés do tal poeta.

- Eu vi muita coisa, mas gaivotas não. Vi alguns poetas que talvez se tenham lavado com água de rosas e vi um livro, isso sim, um livro que se desfolhava sozinho. Fiquei a ver onde ele foi parar, quando te saiu das mãos e voou junto aos olhos da estátua desse poeta. Coitado dele, ninguém reparou, mas eu vi-o a espreitar pela fresta de uma janela.

Dedicado à Nanda e ao seu Livro apresentado hoje em Setúbal
 
Trevo de 4 folhas

Só porque

 
- Só porque o dia ainda não terminou, e o movimento criado nas últimas horas permitiu que a noite estivesse já na ordem do dia.

- Só porque nunca se sai do mesmo lugar, do mesmo ponto, o centro onde os ponteiros do relógio se movem, marcam os minutos, os segundos, e abandonam as horas gastas em prol de um movimento obscuro...

- Concordo e reafirmo: por entre ruídos de um silêncio absoluto, mas decidido a segurar a força da noite no segredo oculto dos olhos raiados a sangue ainda vivo.

- Sim o resultado de uma noite de insónias, ou a última mostragem breve das montras de um relógio antigo. Lembras do tal poema que te inspirou essa chama branda?

Epifania & Ainafipe
 
Só porque

Orpheu

 
-Tenho ânsias, tremores na voz, medos nos olhos, calafrios nos dedos, quando penso nas palavras certas para te escrever um poema. Cantá-lo, chorá-lo, declamá-lo é coisa pouca, mas senti-lo, inspirando a luz que brota da fonte e dissertar sobre a linguagem da alma onde o Verbo se refaz em cada palavra renascida no cerne de um Poema?

- O misticismo em redor do círculo que envolve o Poema, trai o seu próprio movimento. Juntam-se letras, pontos e vírgulas, exclama-se e clama-se por vida entre uma palavra e outra, fora de ordem. Em outros planos onde guardas o pensar, algo te ditará um sentimento. E não, não danifiques o corpo do poema devassando o círculo que o protege ainda em segredos ocultos.

- Vou nadar no rio. Quero ir corrente abaixo até encontrar um ponto similar à trajectória das novas correntes no meu pensamento.Um Universo paralelo com coordenadas exactas para um pensar evolutivo.

-Banha-te na limpidez desse rio. As águas cristalinas trazem partículas de luz que se firmam no alto da serra. Cristais foragidos da fonte onde todos os Poetas choram. Cristaliza as ideias e atingirás a foz. Lá, encontram-se cristalizadas as formas exactas e concretas de uma corrente migratória e não ilusória. Talvez contraditória a tudo o que conheces no Universo poético de agora.

- Divagando sobre a minha inoperância para te escrever um poema, encontro-me nas tuas certezas, mas rimando com incertezas. Definitivamente vagabunda pelas ruas da minha cidade. Num dos muros, um grafiti espelha os olhos esbugalhados, um corpo desmembrado, e as mãos…as mãos na direcção do céu, como quem aponta para a Vida destituída de princípios evolutivos.

- A compaixão, a solidariedade, o Amor incondicional ainda são rescaldo nas mãos. Valores mais altos se levantam....a quererem atingir o topo da pirâmide, sem conhecerem a base de todos os princípios que deram forma à pirâmide.

- Fez-se luz nos meus olhos, firmeza nos meus dedos. A minha voz soltou-se no imediato momento em que caiu nas palmas das minhas mãos, o medo, e se condensou nos traços indeléveis e exequíveis à fermentação do pão.Caminharei descalça sobre a terra ensopada de todos os orvalhos matinais. As minhas pegadas serão rabiscos de um poema invertendo a ordem de todas as palavras escritas com os dedos das mãos.

- Escreverei o teu nome às portas de um céu que ruiu.Soletrarei as ondas do mar nos teus olhos. Verás quão grandioso é o horizonte a abrir-te um novo Universo onde a poesia já foi corrente quente a brotar da fonte de todas as notas líricas, tal como das novas palavras de Orpfeu.

Epifana & Ainafipe
 
Orpheu

Aprende-se

 
- Aprende-se a dar valor às pessoas que nos leem, sabendo que o fazem com gosto, e que a poesia não pode andar descalça, à espera que a levem sem se saber bem para onde.

- Aprende-se que as palavras apalpam o ar quando este é inspirado e expirado por gente de verdade.

- Por isso nada melhor que um ambiente pouco formal e mais intimista para nos sentirmos acomodados e em direcção a Casa.

- A poesia agradece a quem escreve para um público que pode ser também composto por poetas de verdade.

- Aprende-se que muitas verdades quase sempre passam pelo crivo, utensílio muito conhecido que utilizei várias vezes para limpar as sementes.

Epifania/Dakini
 
Aprende-se

(O 6º elemento- A união dos pontos onde nasce um corpo (C/Saozinha)

 
- Mesmo que a união seja um caminho traçado no verso e um esforço a caminhar em sentido in-verso, será preciso que nos sintamos nestas vibrações, ocupando um espaço, que bem conhecemos. A nossa casa! Uma morada bem redonda, onde o nosso olhar possa descansar as pálpebras abatidas, às janelas de um olhar moribundo, onde moram as forças adversas, contrariando os movimentos, quer de um lado quer do outro; a sombra, a luz, o homem, a mulher, a polaridade, o sim e o não, a noite, e o dia, o céu e a terra, e nós, sustentando as bases onde alicerçamos o poder de criar o nosso próprio caminho. Será aí a união dos pontos, onde nasce um corpo complexo e um corpo etéreo, juntos a tentar encontrar caminhos.

- Há um só brilho que avistamos á distancia, aquela pequenina luz que nasce a horizonte e ilumina os pontos onde o meu corpo se cruza , se perde e se reencontra no outro etéreo...misterioso...
....e este meu corpo diverso complexo ,perdido num emaranhado de sensações e emoções, se une ao outro, mais ausente, mais distante que se afasta e se aproxima em densidades diversas que se perdem por vezes na mesma casa, em jogos de luzes e sombras, em fugazes encontros na ânsia de se tornarem um dia companheiros completos nos caminhos onde os dois pontos se unificam.

- Perdemo-nos ao tentarmos aproximar as distâncias. Porque será que tanto queremos ver além da linha do horizonte, se não conhecemos o nosso próprio horizonte. Há um movimento fechado que falta decifrar, quando em sintonia com uma realidade que nos diz de todas as mudanças num plano regido por todas as leis universais, sem necessidade de as acatar, porque somos a própria lei em acção. Nesta complexidade, é onde tudo se arrasa, quando o nosso horizonte se esconde. É aqui que entramos em transe, pelo que, necessitamos de exorcizar todas as partículas de que somos compostos, para nos adaptarmos à vista de novas janelas, que se abrem aos novos tempos que se aproximam. Ver esses meandros, por onde passa a luz, é tentar decifrar o que a olho nu não se consegue. Se a minha consciência me disser de um ponto onde vocês estão, ela se abrirá ao todo centralizado nas vossas e será, não um ponto minúsculo a vasculhar horizontes, mas um circulo onde os jogos de luz e sombras se unificam ao encontro da universalidade de um ponto.

- Das janelas que se abrem neste ponto onde me encontro, poderia falar-te de uma só que dá vista a outras mais longínquas, mais distantes, mas basta-me esta, pequenina, que me mostra através de um ponto minúsculo a grandeza que poderá estar por detrás das outras que se alinham fora do alcance do meu olhar.
O meu horizonte, aquele que um dia pude deslumbrar através desta frecha no canto dos meus olhos, conheço-o bem, é nele que me centralizo nos dias em que o corpo terreno cansado da caminhada se deita e se perde nas pequenina partículas de luz que de repente o revitalizam para outras caminhadas.
E aí, sou o meu sonho reconstruído em horizontes que se afastam e se aproximam numa alternância onde luzes e sombras se confundem .
Já não preciso de vasculhar horizontes, pois eles estão lá a vista do meu olhar.......e dessa luz pequenina guardo-a muitas vezes nos bolsos, para não cegar este meu caminhar.

Epifania/Ainafipe/Saozinha
 
(O 6º elemento- A união dos pontos onde nasce um corpo (C/Saozinha)

O 9º Elemento – O Mito (Com Azke)]

 
Um mareante que se despe para mim
e se refugia neste acoplamento
onde a virgindade se compõe de todas figuras mitológicas
a povoar a terra …
Aí esconderam-se todos os corpos ansiosos pelo saber,
pelo querer desmistificar a ordem de uma póstuma constelação
virgem no cosmos…
interagindo com as cúpulas vertiginosas de uma onda sistemática
divergindo ao acaso pelo meu corpo.
Sabes por certo, quantas formas adquiri ao longo dos tempos?


Não me contém por acto à tela-ficção por,
apenas um meado ou relapso tempo qual me seja, tão breve, ou.
à margem em declínio por um presságio ínfimo(final, até), ao qual,
me,
faz re-pensar em turnos e turnos aos quais eu desabo
em
páginas e páginas tortas por requerê-las, enfim, ou
das formas,
das formas inclusas,
e,
mesmo estas,
das tuas,
e.
que não te sei...

Há tempos que se esgotam na possibilidade de um infinito perto.
Tão perto quanto as movimentações das páginas de um livro.
Tão longe quanto as palavras
que ficaram presas
nas mãos de um destino incerto.
Há relâmpagos que se misturam nas enseadas ciclónicas
e o meu corpo tomba
e o meu olhar declina-se perto dos teus olhos
que a me verem, sabem onde estou
E que formas haverei de tomar quando a mim regressar

Sim. ao porto por algo em espera ou.a considerar.
sejam às folhas que vierem ou em telas que se devam parecer
sejam
todas
as disputas concentradas em arauto por ilha alta da inglória
e que deixem:
à.
janela escancarada pra se verem aos ensaios de procura
de,
chuvas. pra dissipar à febre nuviosa e,
versos,
ou passos-discursos e afecto por dissidência em pausas, respirar,
(simples, assim.)
pra
planificar o ar:
seja este!
ora, não importa à forma, apenas basta o tempo pra ver-te a chegar lá...


Epifania /Azke/Ainafipe
 
O 9º Elemento – O Mito (Com Azke)]

Ser ou não ser...Homem

 
- Se eu pudesse oferecia-te água de rosas, ficarias tu então com a certeza de teres botões de rosa encostados à pele e nunca mais os largarias. Eles são a melhor ferramenta, para se abrir e fechar portas. Se não fossem os botões de punho dele em forma de rosas, estaria ainda à procura de alguns braços na lura onde encostei os meus ouvidos e nada ouvi.

- Se eu soubesse onde ir buscar toda essa energia, não andaria por aqui em busca de cheiros nobres que vêm de certos ambientes mais de acordo com água benta.
Sabes como me apetece de vez em quando entrar num espaço onde hibernam as melhores espécies, para me convencer que o Homem sabe que é Homem. Não fossem as diversas materializações da espécie, e estaríamos todos fechados nas luras, onde os ursos dormem, até ao ponto em que a sua força é só um sinal, onde reside a dúvida de se ser ou não ser Homem.

Epifania & Ainafipe
 
Ser ou não ser...Homem

O 7º Elemento - A relatividade do valor das coisas (C/Trilho-do-Pensamento)

 
- Não me importo minimamente se queres ou não comprar a minha verdade. Ela não está a venda pois é gratuita. Quanto a mim, compro a tua pelo que achas justo vender. Minha matemática permite criar valor de qualquer valor, e sei que o valor gerado pela partilha do teu tesouro comigo, será indiscutivelmente maior que o valor que terei de pagar por ele. Por isso, podes levar de mim tudo que considerares precioso, e em troca, posso até ficar com teu lixo. Saberás tu que minhas jóias para mim não valem nada e teu lixo é fortuna?

- Na imprecisão onde aporto as minhas dúvidas, estarás sempre presente como uma realidade omnisciente. Será a primeira entre todas as verdades gravadas no meu modo de ver as súmulas de todos os eventos que meus olhos organizam à roda do meu pensar consciente. As ideias formam-se em fila na contagem de todos os somatórios onde encaixo a minha imundice terrena. Não te posso vender o que não podes ter, a não ser que queiras viajar por todos os pontos onde o meu corpo descarrega as vicissitudes contraditórias de um eu, em emergente estado de euforia pelos tesouros que farás dele. Fazer dos nossos encontros, um modo de eleger a verdade dos meus olhos, é considerar que há tesouros exilados e simplesmente esperam.

- O valor do pão, que sobra das mesas onde sobra pão, é indiscutivelmente diferente do valor do pão nas bocas que sentem fome. Viajar por teus pontos é para mim corrigir a miopia da minha visão. Se quiseres aceitar, deixa-me então olhar-te como teu espelho te olha, meu reflexo fará com que parte do meu caminho se complete. Assim, arrancarei de ti os tesouros exilados que desconheces e a tua riqueza aumentará ao veres que os terás sempre como sobra.

- Considerando que aqui se fala de alimento, encontro-me em estado de absolvição pelo que meus olhos assimilam. Se por um lado, há um considerando sobre o valor que cada um atribui aos seus pertences, por outro, há uma esquadria em pé de guerra pelo que se pensa doar. Se vos tiver aos dois dentro de uma uniforme parelha, então os meus olhos serão, não um reflexo a coexistir com o vosso mundo, mas uma inflexão onde sempre os encontro. Juntos dar-se-ão o direito de existir para nosso bem maior, quando manifestarmos o desejo de querer ser um, a iniciar do zero.

Trilho-Do-Pensamento/Epifania/Ainafipe
 
O 7º Elemento - A relatividade do valor das coisas (C/Trilho-do-Pensamento)

O 11º Elemento - A desordem do caos (C/ Ana Coelho)

 
- Não pensar, não falar, não mexer, nada reter a não ser uma boa noite de sono a calar-me o corpo todo. Nesta manhã cinzenta, o Tejo ainda dorme, os barcos ressonam e as correntes sonham atingir o oceano mais profundo.

- Sopra a brisa suave, o nevoeiro embala os sonhos, o despertar é a força impulsiva de viver mais um dia de vida com o sorriso na voz...

- Brisa suave. Se soubesses dessa brisa e o que me traz de quando em vez. Gostei desse momento teu a aquecer-me o corpo e a afagar-me um sonho ainda virgem. Gostava de poder participar num momento único, nosso, como uma só personagem sem cair na desordem do caos. E sim, colher os frutos dos sorrisos matinais com um sorriso na voz, Tão perto que está, que o vejo a esvoaçar por todas as bocas do mundo

- Daqui recebo o som do teu sorriso, mesmo no silêncio sinto… o ar da rua passeia pela janela, os frutos matinais descem do alto ao encontro da tua luz que brilha para lá da bruma da manhã...a desordem é o processo para ordenar os fluidos do dia...

- Sentir, sentir só, é o que me resta, sempre que abro a janela e direcciono um olhar longe. Tão longe quanto o são as lembranças de um passado que quer, porque quer, estar sempre presente. Caminhemos em frente. Colheremos então todas as brisas que sorverão todas as gotas de orvalho de uma cidade onde o Tejo adormece.

- Para se saciar a sede do relógio parado no vento, as gotas desprendem os sons a navegar por margens onde o cosmos desperta…a claridade dos passos a cada novo amanhecer onde o olhar encontra a suavidade e todo o sentir !

Epifania / Ana Coelho / Ainafipe
 
O 11º Elemento - A desordem do caos (C/ Ana Coelho)

Resulto de um modo de dizer as coisas simples e belas

 
- Resulto de um modo de dizer das coisas, simples e belas como a água que me lava o corpo. Sim, sou eu mesma, igual a ti, que me levas para longe, de um pensar que nem eu sabia existir. Um pensar distinto, que me cobre de tulipas brancas.

- Mas as tulipas são brancas?

- São sim. Brancas da cor dos meus olhos.

- Mas e as rosas e as rosas? Como são as cores das rosas? Têm picos. Já viste o que me fizeram neste dedo? Doe-me este dedo.

- Sim, têm picos. Mas têm também, a cor do mundo quando as tocamos e as sentimos, assim ao de leve. Só ao de leve, como se deve tocar num corpo, afagando-o, e tornando-o belo a nossos olhos. Sabes como é dizer e fazer destas coisas simples e belas?

- Mas eu não sei nada. Cheguei agora! Ainda agora, e não sei sequer a cor do céu.

- Eu cheguei quando me viste entrar por aquela porta. Vi-te nos degraus da minha alma, subindo de mansinho, bem de mansinho. Fiquei ali sentada e esperando que me visses tu, porque eu já não sei onde estão os meus olhos. Subiram ou desceram até ao centro da terra. Foram-se quando ainda eram só rosas em botão. Os picos das rosas, deixaram-nos poisar no seu seio e dormem agora cansados dos picos de outrora.

- Mas eu vejo os teus olhos. Os teus olhos são da cor do mel. Sei porque vi as abelhas a fabricá-lo. Ainda agora vim de lá. Vou levar-te comigo. Dá-me a tua mão.

- Não precisas dar-me a mão. Conheço todos os caminhos de quando ainda tinha a verdade nos olhos. Resulto de um modo de dizer as coisas, simples e belas e tu és o meu guia, o meu assunto do dia, para me dizeres também, de quando tudo era branco nos meus olhos….
(cont)

01/07/10
 
Resulto de um modo de dizer as coisas simples e belas

Resulto de um modo de dizer as coisas, simples e belas, e tu és o meu guia, o meu assunto do dia, para me dizeres também, de quando tudo era branco nos meus olhos…
Epifania & Ainafipe