Fruto Proibido
A que te sabe o fruto do amor?
A que te sabe o suco,
o sumo,
o deleite?
Sou tua, não o nego.
Sou de quem me bebe,
de quem tem mais que eu,
mais do que eu no que é meu!
O que sentes quando ouves;
teu nome;
meus gritos;
suspiros;
alívios;
desejos e pedidos;
declarações?!
O que sentes quando me tocas;
acaricias;
abraças;
percorres...
com olhos ... boca ... e dedos ...
Lindos olhos esses que me olham.
Lindos olhos esses os teus.
... e poderosas as mãos que me trazem ...
... que me trazem presa a ti!
A que te sabem estas palavras?
Palavras que não são mais que os actos.
Palavras insuficientes para tanto...
este tanto que desconheço
e para o qual caminho ...
cdjsp
... puro e simples nada ...
Queria conservar o olhar
mas não existe conservante para o olhar...
Desejei guardar o sorriso
mas não há, no mundo, recipiente...
Tentei sintetizar a essência
mas não encontrei método ou alquímia...
Ensaiei textos... escrevi palavras
mas nada define o sentir e a lembrança...
Reproduzi, na mente, sons e imagens
mas ficaram apenas ruídos a duas dimensões...
SONHEI
IMAGINEI
REPRESENTEI
IDEALIZEI
... de tudo um pouco...
mas por muito que tentasse
nada substituiu,
por um segundo que fosse,
aquela COISA
aquele SER
aquela IMAGEM
que me acorda e adormece,
que me mata e ressuscita!
Quiçá seja apenas neblina
nevoeiro que me desfoque a vista.
Quiçá veneno, cianeto
com cheiro doce de amêndoa.
Quiçá ilusão, fantasia
fruto inventado no desespero da solidão.
Ou um puro e simples nada
sombra vadia perdida no meu caminho!
cdjsp
Não é!
Abraço o teu olhar
em pensamentos indiscretos.
Recordo o gosto...
tão teu ... tão nosso ...
O que sinto ... Não vou dizer!
A palavra não a pronuncio.
Não quero! Não posso!
Não me pertences
mas existes em mim
como um prego cravado na cruz.
E a palavra?!
Não a soletro sequer!
Aquela palavra ... essa palavra
sombria, escondida na penumbra
da lembrança! Não! Não é!
Não é saudade o que eu sinto!
cdjsp
Farta, farta, farta...
De obedecer, de aceitar ordens
de mandarem em mim, de me julgarem
por aquilo que sou ou deixo de ser.
Estou farta de viverem em meu redor, de estar presa
e de ser o centro das atenções ... estou farta ...
de tudo e de todos, de me rodearem, de me prenderem,
de me julgarem por aquilo que faço ou deixo de fazer,
estou farta de mim, da sociedade, dos meus ...
de andar com quem ando e de não andar com quem não ando;
das minhas atitudes e das atitudes dos outros perante mim.
Estou farta de fazer o que faço, o que não faço, do que digo,
do que não digo, do que não penso, do que penso ...
... do que não sou e do que sou ...
Estou farta!
dos conselhos, das opiniões, dos comentários dos outros,
de ser diferente e de ser igual, de querer ser eu e ser os outros.
Estou farta que me persigam, que me obriguem,
que me mintam, que me condenem ...
que não me deixem viver a minha vida tal como ela é
em vez de viver a vida que os outros querem que eu viva.
Estou farta da liberdade aparente, do sonho e da realidade,
da teoria, da prática, da síntese em geral ...
... estou farta ... farta ...
das leis, de cumpri-las e de lutar contra elas
de não saber por onde vou, para onde vou, o que quero afinal ...
... estou farta de ser eu... eu... eu...
... estou farta de estar farta!
cdjsp
Paraíso
Ao longe,
lá bem longe
deste meu alcance.
No fundo horizonte,
perdido está,
um singelo paraíso!
Nas fontes,
a água fresca e cristalina;
no céu, as aves coloridas;
e nas copas das árvores
a carne do pecado...
Soltam asas e garupas,
voos a trote
pelas sombras perfumadas
e neste sonho de quimeras
encontram descanso
as almas penadas!
Saciam fome, matam sede,
e fazem amor
em beijos doces!
Sempre no limiar da vista
perdidas num só coração...
Num outro mundo,
numa outra realidade,
alguém esquecido pesca abraços,
caça olhares e colhe amassos!
E nesta triste margem,
um universo paralelo,
um plano, reflexo
frio, solitário, abandonado!
Prefiro o sonho!
As areias puras
e os pés descalços...
Os corpos meio nus
e o por do sol...
O prado verde
e a aurora...
O silêncio
no chilrear dos pássaros...
A minha mão
no teu peito...
A tua imagem
reflectida no céu!
O meu beijo
no interior da tua boca!
cdjsp
...tão longe e tão perto ...
São longas as palavras que te escrevo,
são leves as memórias
e para todo o sempre, a recordação
de um dia, os dois, termos amado.
Foram breves os dias,
longas as saudades
e nestas vaidades
caminho feliz embora angustiada,
sabendo trazer, no meu colo, o fruto e
a recompensa que jamais poderei ostentar...
... que não é meu de direito
nem minha a honra,
quer de dar como de tirar...
a vida!
... a quem nada pediu!
... a quem tudo devo!
... e de mim nada tem!
E que neste vento fujam as gotas de orvalho;
impere a força e a vontade;
caminhe o amor e a liberdade
no vento, na brisa,
no sopro de quem venero!
... e como te amo - esqueço-te!
... e em mim só, permaneço
sem berço nem lar
nem casa para cuidar
de nossos actos e momentos.
E nesta cidade, no campo,
sigo a morte e o encanto
das ruínas a construir
quando também eu me for...
e, por amor de ti,
de ti partir!
Vício
Mais um
Mais um que arde.
Mais um que se consome em cinza;
e a cinza, onde está?
Desvaneceu-se em nada...
Mais um
Mais um que se consome
Mais um que bebo e, água;
água pura que envenena ...
E na mesa, na esplanada, no café
passa o tempo, as horas, os minutos ...
um viver sem razão e com ela;
uma forma de estar inconstante;
um adeus que não se dá ...
- Olho-te! Sorris!
Entras em mim, no olhar
e a mensagem é ...
... não sei, mas é!
Mensagem nossa, momento nosso...
e o tempo passa,
na memória que me deixa
e é dia, é hora, é tempo de se ser ...
o quê?!
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"Pura e inalcansável"
Só na água mais pura, cristalina conseguimos o reflexo perfeito... é o êxtase encontrá-la mas é também tortura! Apenas nos é permitido admirar, tudo o mais é "inalcansável"! Se lhe tocarmos deixa de ser perfeito... se o agarrarmos esvai-se por entre os dedos... - cdjsp
Miáufa!
Miáufa!
O maior medo não é o de conquistar.
A maior conquista não é a de possuir.
O maior desafio,
e esse sim mete medo,
é o de conseguir manter.
É não perder
ou,
perdendo,
não sofrer com isso.
A natureza do medo,
aquela que amedronta na sua forma mais primitiva
é simplesmente,
a dor!
É a dor que incapacita,
enquanto se mantém viva na memória do homem,
a audácia de se pensar
em arriscar!
Muso
Incitas-me a escrever.
É curioso
ou curiosa
a forma subtil
como o fazes.
Já te intitulei de "muso";
anjo negro;
paixão;
sofrimento!
Fluis em mim
nas mais ingénuas sensações,
nas mais complexas imagens.
És um rio vivo!
Inspiração.
Já te denominei vício,
hábito,
Karma...
...já te agradeci!
O alento.
A presença!
O existir!
O teu existir
dá-me alento
seca-me a lágrima
fortalece-me o corpo...
Já te chamei amor!
... sacana
... narcisista
e cobarde!
E como um seixo
que aquece e não arde,
já te quis para mim...
... ingenuidade!
cdjsp