Poemas, frases e mensagens de Carmen Palmeiro

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Carmen Palmeiro

...e eu amei-te...

 
... e eu amei-te
... e ao amar-te, esqueci-me
... e esquecida me entreguei
no calor dos teus braços...
Na tua boca,
o doce desespero!
Na pele,
o travo amargo da paixão!
O odor...
...um aroma agridoce...
carinhoso...
... e eu, o sabor do medo!
Sem me dar
dei-me inteira ... a medo!
Apavora-me a intensidade,
a ansiedade do desejo...
Amedronta-me a saudade
adiada
esperada
odiada
... e eu amei-te
num misto embriagante
e perigoso
deliciosamente sufocante
impotente e bom.
Como é bom!
Como é injusto querer-te assim!
... e fui amada
possuída
beijada
extasiada
esquecida
... e eu...
eu amei-te
e ao amar-te esqueci-me
entregue ao calor dos teus braços
esquecida que não te posso amar.

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...e eu amei-te...

Lua Cheia

 
É noite de Lua Cheia
e o ar que se respira, sufoca,
falta a estrela que me guia
e as nuvens encobrem meu caminho...
... mas é noite de Lua Cheia!
é noite de ver o Sol da noite;
é noite de boémia e folia!
- Saltam vozes! - Ouvem-se gritos!
e a tempestade consome-se por fim!
consome-se o trovão;
desaparece o relâmpago...
... e é noite de Lua Cheia!
é noite de paixão;
é noite de carne e cama!
Outra noite igual a tantas outras...
... outras luas iguais a esta!
Outro desespero e complexo oculto...
Outra noite de Lua Cheia ....

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Lua Cheia

Na noite...

 
Parceira como só a noite sabe,
és cúmplice das horas livres
- tão preenchidas por ti!
Só ela conhece, só ela escuta
o que desvendam as sombras:
- sons abafados em beijos;
- olhares profundos de saudade;
numa ânsia tímida que se tem
sem se querer ou dominar!
E a candeia da noite que ilumina
dá alento aos seus amantes!
Perdem-se na líbido do prazer
e encontram-se no êxtase da alma.
Talvez ela saiba o que o amanhã lhes reserva!
Talvez ela queira saber
porque os seus protegidos, esses, têm medo!

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Na noite...

Espera

 
Já se fez noite
e meu pensamento insano
nada mais alcança que a tua memória!
Não quero dormir!
Preciso alimentar o sonho...
Padecer de dor e morrer!...
... desgastada, exausta por esperar.
Sim! Porque eu espero!
Inconscientemente espero.
É um desassossego no peito.
"Um querer mais que bem querer!"
E ódio! ... Muito ódio!

Como te odeio!

Um tudo em nada;
Um nada furtuito;
E esta sede de desvendar o mistério
que toma minha alma
e retarda em mim o esquecimento!

Como te quero!

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Espera

Alguém

 
És, para mim,
aquilo que não quero que sejas.
Mas és!
E eu gosto de gostar por o seres.

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Alguém

Mãe Natureza

 
Perto da casa onde moro há um parque. São meia dúzia de metros quadrados de relva, salpicados de plátanos e castanheiros. Aqui e além um aparelho de madeira improvisado, para quem se dignar exercitar o corpo e, a rasgar o parque, um ribeiro. Mais parece uma amostra! De qualquer modo está lá a marcar presença com a corrente que lhe é permitida. Não é a saudosa quinta. Verdade que não! Mas pode-se ouvir a água a correr, o chilrear dos pardais, o mocho no tronco da árvore... pode-se ver o melro vaidoso, exibindo a cauda bem direitinha! Galinhas e piriquitos de quintais vizinhos penicam pelo chão espezinhando os pés de hortelã ribeira, ortigões e malvas! E eu bebo de tudo aquilo! Bebo com os olhos ... ouvidos ... nariz .... Bebo!
Sabe tão bem presenciar o milagre da Mãe Natureza! Gosto de ir até lá! Nem que seja por cinco minutos! Nem que seja só de passagem! Tenho no mar e no campo uma espécie de carregador de baterias que surte no mesmo efeito que tem um chá de tília! Relaxa, recarrega, alivia, sei lá! Alimenta! É uma espécie de encontro que tenho comigo mesma.
Quando era criança vingava-me em passeios solitários e exploradores pela quinta dos meus avós. Coitados! Deixava-os preocupados muitas vezes! Havia sempre qualquer coisa que me prendia por mais uns minutos e, quando dava por mim, já tinham passado duas ou três horas! Conhecia o ritmo daquela terra como as palmas das minhas mãos. Tinha memorizado o relógio de aromas da quinta. Sabia exactamente em que momento abria esta ou aquela flor, quando o seu aroma era mais intenso e quando voltavam a "adormecer". Vigiava ninhos, casulos e tocas... Nunca nada era demais ou suficiente.
Haviam dois momentos naquela quinta, por os quais eu esperava um ano inteiro. A postura da borboleta pavão diurna e o florir de umas minúsculas flores azuis duma erva daninha. Não cabia em mim de contente! A borboleta era linda! Enorme! E o sacrifício dela encantava-me. A erva daninha.... a erva daninha nem parecia sê-lo! Quando floresciam aquelas cinco pétalas azuis.... minha nossa! De um azul bem forte .... carregadas de vida! Nem pareciam reais. Como eu adorava rebolar pela manta de malmequeres, subir pelas rochas, fugir do gado! Eh! Eh! Poucos têm a sorte que eu tive!
Perto da casa onde moro há um parque. Não é a saudosa quinta mas eu gosto de ir até lá!
 
Mãe Natureza

Querer o Adeus

 
Queria olhar-te nos olhos...
Dizer: olá!
Dizer: adeus!

Queria sentir-te o toque
parar a tua mão no tempo,
morrer num abraço...

Esquecer o teu gosto,
deliciar-me no beijo
e enterrar o agridoce!

Queria olvidar o dia,
amaldiçoar a noite,
sobreviver pedrada em ti.

Queria acordar ao amanhecer
na aurora finda
do teu amor...

Maldito sonho que me assombra;
Karma desventurado...
E eu que queria tanto...

o pesadelo que te tornaste em mim,
que me deixa a chorar de júbilo,
que me deixa a rir de pesar...

mas não me deixa partir,
sem ti,
sem o querer que não quero ter!
 
Querer o Adeus

Fome de mim

 
Tenho fome de mim.
Enjoei o mundo
mas tenho fome de mim.
Fartei-me da vida
mas tenho fome de mim.
Sou a mesma dos mesmos
mas tenho fome de mim.

A paixão já nada me diz
e os lençóis onde me deito
são os mesmos de ontem.
As minhas mãos não mudaram....
Os meus cabelos, esses - cresceram!
E eu? - Eu envelheci...
Tão nova e tão velha ...

Tenho fome de mim.
O caminho é o mesmo
mas tenho fome de mim.
Amigos, meus, não os tenho
mas tenho fome de mim.
Não invejo o passado que tive
mas tenho fome de mim.

Nada ofereço, nada recebo ...
... Os ventos passam,
as marcas ficam
e também eu
mas mesmo assim,
contínuo
e tenho fome de mim.

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Fome de mim

Personalidade!

 
Hoje estou particularmente aborrecida! Chateada mesmo! Acho que a idade me tem trazido esta inconstância no sentir! Estou menos tolerante, mais crítica! Chego a sentir-me embirrante! Mas por muito que queira, não consigo! Irrita-me profundamente a falta de personalidade das pessoas. Ora digam lá que graça tem fazer porque os outros fazem?! Dizer porque os outros dizem?! Gostar porque os outros gostam?! De vez em quando vou dar com pessoas a mudar de gostos, de hobbies, mudam até o estado de espírito só para imitarem! Haja paciência! Será que se sentem bem com elas mesmas?! Eu acho impossível! É óbvio que não é lei universal! Felizmente! Mas que os há....
Parece que têm medo de não serem aceites se se mostrarem! Eu digo com todas as letras: -Que falta de chá! Para mim têm muito mais valor as pessoas originais, mas com convicção, firmes e leais a elas mesmas. De qualquer forma aqui vai um incentivo aos ídolos deste país:
-Comam sopa! ... e baixamos o colesterol!
- Oiçam música popular e vistam os trajes tradicionais! ... fomentamos o patriotismo!
- Não fumem, nem bebam! ... baixamos o número de viciados!
- Aprendam latim! ... e pode ser que se comece a falar melhor o português!
E mais um cem número de coisas em prol dos que ainda não aprenderam a discorrer por si! Começo a pensar seriamente que era capaz de resultar! Se continuarmos a querer aprender apenas por imitação, então temos a solução para todos os nossos problemas sociais, nas mãos dos ídolos! Pensem nisso! A hipérbole faz justiça ao nome mas não é assim tão exagerada!

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Personalidade!

Era uma vez… Quase!

 
Quase todas as histórias de donzelas e contos de fadas que conheço começam com um: “Era uma vez…” Esta minha história começa com um quase! Num outro tempo, numa outra dimensão, quase foi a palavra de ordem!
Quase todos os dias, ao levantar, aquela miudinha de olhos de azeitona pedia, cheia de esperança à água que lhe limpava o rosto um pouco de felicidade. O brilho no seu olhar era contagiante. Saía porta fora, aos pulos, qual corça à chuva e corria… corria! A ânsia de agarrar qualquer coisa entre as nuvens do céu e o cheiro a terra molhada era tanta que corria sonhos acordada, dia após dia! Sonhava apenas uma coisa: Ser feliz!
Como em todas as histórias onde reina “um quase”, ela quase que o foi. A vida não lhe sorria mas ela abraçava-a com carinho e esperança, com força de viver! Era uma lutadora, uma guerreira! …e quis o destino que lhe passasse pelas mãos todos os seus desejos mais secretos. Mas era uma criança, mesmo mulher feita, continuou iludida nos castelos que construíra e, dos desejos, sobraram apenas as sombras.
Acordou um dia sem lençóis de malmequeres, sem borboletas para caçar e sem as melodias do silêncio do campo. Acabaram-se os desejos ao espelho! A mentira e o medo invadiram-na demasiado tempo, agora resta-lhe apenas o gosto amargo da solidão e o quase de quase ter sido feliz!

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Era uma vez… Quase!

Fruto Proibido

 
A que te sabe o fruto do amor?
A que te sabe o suco,
o sumo,
o deleite?
Sou tua, não o nego.
Sou de quem me bebe,
de quem tem mais que eu,
mais do que eu no que é meu!

O que sentes quando ouves;
teu nome;
meus gritos;
suspiros;
alívios;
desejos e pedidos;
declarações?!

O que sentes quando me tocas;
acaricias;
abraças;
percorres...
com olhos ... boca ... e dedos ...

Lindos olhos esses que me olham.
Lindos olhos esses os teus.
... e poderosas as mãos que me trazem ...

... que me trazem presa a ti!

A que te sabem estas palavras?
Palavras que não são mais que os actos.
Palavras insuficientes para tanto...
este tanto que desconheço
e para o qual caminho ...

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Fruto Proibido

... puro e simples nada ...

 
Queria conservar o olhar
mas não existe conservante para o olhar...

Desejei guardar o sorriso
mas não há, no mundo, recipiente...

Tentei sintetizar a essência
mas não encontrei método ou alquímia...

Ensaiei textos... escrevi palavras
mas nada define o sentir e a lembrança...

Reproduzi, na mente, sons e imagens
mas ficaram apenas ruídos a duas dimensões...

SONHEI
IMAGINEI
REPRESENTEI
IDEALIZEI

... de tudo um pouco...
mas por muito que tentasse
nada substituiu,
por um segundo que fosse,
aquela COISA
aquele SER
aquela IMAGEM
que me acorda e adormece,
que me mata e ressuscita!

Quiçá seja apenas neblina
nevoeiro que me desfoque a vista.

Quiçá veneno, cianeto
com cheiro doce de amêndoa.

Quiçá ilusão, fantasia
fruto inventado no desespero da solidão.

Ou um puro e simples nada
sombra vadia perdida no meu caminho!

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... puro e simples nada ...

Não é!

 
Abraço o teu olhar
em pensamentos indiscretos.
Recordo o gosto...
tão teu ... tão nosso ...

O que sinto ... Não vou dizer!

A palavra não a pronuncio.
Não quero! Não posso!

Não me pertences
mas existes em mim
como um prego cravado na cruz.

E a palavra?!
Não a soletro sequer!

Aquela palavra ... essa palavra
sombria, escondida na penumbra
da lembrança! Não! Não é!
Não é saudade o que eu sinto!

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Não é!

Farta, farta, farta...

 
De obedecer, de aceitar ordens
de mandarem em mim, de me julgarem
por aquilo que sou ou deixo de ser.
Estou farta de viverem em meu redor, de estar presa
e de ser o centro das atenções ... estou farta ...
de tudo e de todos, de me rodearem, de me prenderem,
de me julgarem por aquilo que faço ou deixo de fazer,
estou farta de mim, da sociedade, dos meus ...
de andar com quem ando e de não andar com quem não ando;
das minhas atitudes e das atitudes dos outros perante mim.
Estou farta de fazer o que faço, o que não faço, do que digo,
do que não digo, do que não penso, do que penso ...
... do que não sou e do que sou ...
Estou farta!
dos conselhos, das opiniões, dos comentários dos outros,
de ser diferente e de ser igual, de querer ser eu e ser os outros.
Estou farta que me persigam, que me obriguem,
que me mintam, que me condenem ...
que não me deixem viver a minha vida tal como ela é
em vez de viver a vida que os outros querem que eu viva.
Estou farta da liberdade aparente, do sonho e da realidade,
da teoria, da prática, da síntese em geral ...
... estou farta ... farta ...
das leis, de cumpri-las e de lutar contra elas
de não saber por onde vou, para onde vou, o que quero afinal ...
... estou farta de ser eu... eu... eu...
... estou farta de estar farta!

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Farta, farta, farta...

Paraíso

 
Ao longe,
lá bem longe
deste meu alcance.
No fundo horizonte,
perdido está,
um singelo paraíso!
Nas fontes,
a água fresca e cristalina;
no céu, as aves coloridas;
e nas copas das árvores
a carne do pecado...
Soltam asas e garupas,
voos a trote
pelas sombras perfumadas
e neste sonho de quimeras
encontram descanso
as almas penadas!
Saciam fome, matam sede,
e fazem amor
em beijos doces!
Sempre no limiar da vista
perdidas num só coração...

Num outro mundo,
numa outra realidade,
alguém esquecido pesca abraços,
caça olhares e colhe amassos!
E nesta triste margem,
um universo paralelo,
um plano, reflexo
frio, solitário, abandonado!

Prefiro o sonho!

As areias puras
e os pés descalços...
Os corpos meio nus
e o por do sol...
O prado verde
e a aurora...
O silêncio
no chilrear dos pássaros...
A minha mão
no teu peito...
A tua imagem
reflectida no céu!
O meu beijo
no interior da tua boca!

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Paraíso

...tão longe e tão perto ...

 
São longas as palavras que te escrevo,
são leves as memórias
e para todo o sempre, a recordação
de um dia, os dois, termos amado.

Foram breves os dias,
longas as saudades
e nestas vaidades
caminho feliz embora angustiada,
sabendo trazer, no meu colo, o fruto e
a recompensa que jamais poderei ostentar...
... que não é meu de direito
nem minha a honra,
quer de dar como de tirar...
a vida!

... a quem nada pediu!
... a quem tudo devo!
... e de mim nada tem!

E que neste vento fujam as gotas de orvalho;
impere a força e a vontade;
caminhe o amor e a liberdade
no vento, na brisa,
no sopro de quem venero!
... e como te amo - esqueço-te!
... e em mim só, permaneço
sem berço nem lar
nem casa para cuidar
de nossos actos e momentos.

E nesta cidade, no campo,
sigo a morte e o encanto
das ruínas a construir
quando também eu me for...
e, por amor de ti,
de ti partir!
 
...tão longe e tão perto ...

Vício

 
Mais um
Mais um que arde.
Mais um que se consome em cinza;
e a cinza, onde está?
Desvaneceu-se em nada...
Mais um
Mais um que se consome
Mais um que bebo e, água;
água pura que envenena ...
E na mesa, na esplanada, no café
passa o tempo, as horas, os minutos ...
um viver sem razão e com ela;
uma forma de estar inconstante;
um adeus que não se dá ...
- Olho-te! Sorris!
Entras em mim, no olhar
e a mensagem é ...
... não sei, mas é!
Mensagem nossa, momento nosso...
e o tempo passa,
na memória que me deixa
e é dia, é hora, é tempo de se ser ...
o quê?!

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Vício

"Pura e inalcansável"

 
Só na água mais pura, cristalina conseguimos o reflexo perfeito... é o êxtase encontrá-la mas é também tortura! Apenas nos é permitido admirar, tudo o mais é "inalcansável"! Se lhe tocarmos deixa de ser perfeito... se o agarrarmos esvai-se por entre os dedos... - cdjsp
 
"Pura e inalcansável"

Miáufa!

 
Miáufa!

O maior medo não é o de conquistar.

A maior conquista não é a de possuir.

O maior desafio,
e esse sim mete medo,
é o de conseguir manter.

É não perder
ou,
perdendo,
não sofrer com isso.

A natureza do medo,
aquela que amedronta na sua forma mais primitiva
é simplesmente,
a dor!

É a dor que incapacita,
enquanto se mantém viva na memória do homem,
a audácia de se pensar
em arriscar!
 
Miáufa!

Muso

 
Incitas-me a escrever.
É curioso
ou curiosa
a forma subtil
como o fazes.
Já te intitulei de "muso";
anjo negro;
paixão;
sofrimento!
Fluis em mim
nas mais ingénuas sensações,
nas mais complexas imagens.
És um rio vivo!
Inspiração.
Já te denominei vício,
hábito,
Karma...
...já te agradeci!
O alento.
A presença!
O existir!
O teu existir
dá-me alento
seca-me a lágrima
fortalece-me o corpo...
Já te chamei amor!
... sacana
... narcisista
e cobarde!
E como um seixo
que aquece e não arde,
já te quis para mim...
... ingenuidade!

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Muso