Sentidos obrigatórios
Beijas-me e não existe mais nada.
Nem eu nem tu
apenas nós,
num despir apressado
de encontro ao tempo,
que insiste em não parar.
Tocas-me.
E é como se o meu corpo fosse percorrido
por mil volts de electricidade.
Os sentidos despertam,
um arrepio percorre todos os pontos nevrálgicos
arqueiam-se as costas,
abraço-te com as pernas
e espero
que entres em mim,
como se fosse
a primeira
e a última vez…
…retraio-me num pudor fora de tempo.
Escondo-me numa t’shirt que insisto em não despir…
…depois, passamos todos os limites inatingíveis.
E são horas de regressar a casa.
Chá do Deserto
Os minutos correm ora velozes, ora lentos,
numa luta competitiva, para chegarem às horas.
Espero em sinfonias de letras, um chá que não beberei.
Descubro um sentir novo.
Renovado.
Por isso, sempre novo. Mas com sabor antigo, revivido em tons de arco-íris e sabores perfumados.
Encantam-me os olhares e os saberes.
E a ternura sem idade.
A ternura sem fim de um beijo por dar. De um chá por beber.
Imagino momentos irrealizáveis.
Sonho cenários proibidos. A música é imprescindível neste sonho.
Quimeras soltas.
Breves tocares.
Alegrias breves.
A incerteza num adeus. O início num olá.
Memórias perdidas em tons de azul.
O sol cai direito ao peito.
Chocolate quente ao fim de um dia de Outono. Aconchegante, reconfortante. Doce, quente.
Mas sinto a falta do chá.
Sinto a falta da fuga aos olhares, da fuga de olhares, da fuga e do querer permanecer.
Sinto a falta do caminhar a passo, do toque na face, do olhar que me queima.
Sinto a falta da ternura dessas palavras mornas com que me brindas,
cada vez que conversamos.
E cada conjunto de palavras que se transformam em frases, numa dissertação humilde de temas fascinantes, bebendo cada informação como se fosse única, pois a descoberta das coisas que sabes e me transmites, é a aventura da minha vida.
Encontrar-te foi a forma de me enriquecer.
Descobrir-te é o sonho de viver.
Em cada palavra que troco contigo reconheço-me,
volto ao passado, sinto-me menina…
...e quando me afastas o cabelo dos olhos,
me acaricias a face ou me beijas a testa,
sinto por ti o que não pode ser sentido
e só por isso vale a pena sentir / viver!
Olho a vida com os meus olhos, mas vejo-a através de muitos olhares.
Através dos teus olhos, exalto os momentos em que me (re)descubro…
E conheço.
E sou feliz!
Invasão
Entras em mim devagar
como se fosses dono do tempo
Demoras-te num compasso desacertado
em ritmos de blues
Jazz
Hard rock depois
silêncio então…
Caio vezes sem conta
numa queda vertiginosa
rápida a sombra da nudez
e o mergulhar na tua boca
no teu peito
em ti
num entardecer de Inverno
em que me perco
e te encontro.
Regresso a casa:
Com o teu sabor em mim
o teu cheiro
e o teu olhar
sem promessas.
Que vai ser de mim sem ti?
Dez 2003
Dezembro 2003
Lua de fel
A vertigem
suspende
o grito,
tempo
em movimento
como são escassos os nossos momentos
Viagem
paragem
avanço e recuo
numa voragem de nós
estamos presos a um passado por desevendar
as mãos dadas foram só nossas?
Eu que mantenho as minhas nas tuas
desde o primeiro
beijo
sussurrado,
em murmúrio
soprado,
mesmo quando não estás
e desapareces
para amores antigos
que tentas
esconder
de ti.
E de mim.
Apenas te digo
que te aguardo
com as promessas que fizemos.
Apenas te digo:
nestas férias de mar,
os teus passos
caminharão
lado a lado com os meus.
As nossas mãos
dadas
em alianças
inquebráveis.
O meu peito cheio de ti.
E tu tão distante.
Podes esquecer amores que não tive?
Não consegues ver
que estes reflexos
existem só por ti?
Serei o Sol
que te faz brilhar,
meu único reflexo lunar
feito de mim.
Regresso a Praga
Confortada pela voz do Rufus Wainwright, relembro as ruas estreitas onde nos perdemos tantas e tantas vezes, nas tentativas contínuas de me encontrar.
No teu olhar ou através do teu toque. Suave. Sabedor. Experiente. Catedrático.
E eu, na aprendizagem que jamais esqueci, regresso às cores, aos sabores e aos odores de uma Praga envelhecida e sempre renovada. Em vielas e monumentos. Em quartos de hotel com cheiro a mofo. Em noites de Praga que guardo na memória.
Inesquecíveis, por mais que quisesse esquecê-las.
Pelo vazio que ficou. Quando decidi partir.
Estranho. Ter ficado vazia de ti, mesmo tendo sido eu que parti.
E ao rever-te, nesse olhar penetrante e intemporal, não posso negar que o meu coração acelerou...Porque razão?
O teu olhar, esse olhar que me penetra até à alma, que me desvenda os segredos, mesmo os que guardo de mim. Como podes ainda manter esse olhar hipnótico, que me seduzia, ao qual me abandonava? O teu olhar onde me perdia e reencontrava, simples esvoaçar de borboleta, fugaz o toque, as palavras que permaneceram na minha boca, assim o decalque do teu corpo em mim, os sabores e a ausência…A minha.
De ti e de mim mesma.
Sempre em fuga, dizias.
(continua)