Poemas, frases e mensagens de FATUMBI

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de FATUMBI

Sofrer contigo...

 
Eu te vi, pequeno,
meu gigante - e quis tê-lo
na palma da mão.

Pássaro ferido, sem vôo,
beijei a suavidade
de seu desconsolo.

Um menino, ele é só um menino!

E meu amor partiu-se em dois:

Eu era agora a mãe
guardiã do amante
em um ventre esvaziado.

Eu era agora o filho
assistindo
o pai que pranteia escondido.

Pequeno gigante,
meu amor é incalculável.
E sofrer por seu sofrimento
é algo que me alegra
silenciosamente.
 
Sofrer contigo...

A canção das conchas

 
A canção das conchas
 
Canção das conchas

(Ninguém esteve aqui antes e esta será sempre a primeira vez para todo mundo)

I –

Um outro dia
Vira de lado
E Eu durmo.

E outro dia,
Cai a teus pés
Em outro outono.

Suspiro da alvorada
E outra partida
Para tarde demais.

E lá estaremos,
No jardim feito estranho.
Sombras livres de engano.

E outra vez, na praia azul – Encontramos
Conchas que guardamos.
Casas de casas em casas,
Abrigos sem descanço.

No bolso infinito, profundo vislumbre –
Memória de lares em faces.
Falácias ancestrais,
Doméstico submundo.

No olho horizonte
O fim se esconde.
Tumulto da espuma,
Ondas pensantes.

Trilha discreta de pegadas
Rumo ao anterior do caminho.

Trilha branca, flores nefandas,
Letras que pela maré... elevam.

E outra vez, outro dia – Além
Infância. Este sonho que tanto revivo,
Dissolvido diurno
Ferve em treva.

Na taça melancólica da dúvida,
Bebe as lembranças que negas.

Som de chocalho feito de conchas,
Sismo de eras, abalos no tempo.

Rasgo irrompe dor.
Pelas unhas do rebento epilético.
Enquanto da teia desce, ao berço,
O espectro divinatório da aranha.

(continua)

A aranha é o Verbo.
 
A canção das conchas

Banquete totêmico III

 
Banquete totêmico III
 
Não esqueci
o Lobo enterrado em meu peito de caçador.

Não esqueci sua angústia,
tingindo de sangue a neve de um suicídio.

O Lobo agora sonha minha vida - e minha vida
sonha um lobo.

Não esqueci o Lobo do gelo,
os passos furtivos da madrugada que vem.

Não esqueci a escravidão da caminhada
e preparo minhas costas
para carregar outro mundo.

Despido de minha pele
aqueço-me em uma carcaça - o calor
de um ato homicida.

Transmiti o segredo de outro
e a transformação
de um totem
efêmero.

Sou uma alma felina,
Ou o licantropo que uiva pro Sol...

(Nascimento Andrade)

Penso...
que o ser humano é, em si
toda fauna existente
e imaginada.
 
Banquete totêmico III

O Sono

 
O Sono
 
Dai-me um corpo fraco,
Corpo de excelente conforto – frágil,
Submisso sobre o colchão da espera.

Torna a respiração lenta, e seca.
Com a voz em murmúrio, luto sincero.
Comoção das velas no escuro.

Que o corpo afogue entre lençóis e almofadas.
E encontre o fundo líquido, amniótico –
Lago jurássico, piche pulsante.

Quero o corpo ignorando a vida.
Não sabe, o corpo, estar doente.
Sabe a alma, que nega o sol.

Dai-me um corpo vazio de si,
Torna o orgão um símbolo, ou um fantasma.
E que o coração bata monótono tambor.

Agora, durmo para despedir o corpo.
Em um passo sideral, adoto distancias,
Arrasto estrelas para o meu interior oco.

E se um coágulo explode em rosa,
no topo do pensamento último, pressinto
que só durmo para Despertar.
 
O Sono

Enter the void

 
 
Procure alguém feito de vácuo,
um beijo nos lábios da introspecção.
Duvide das formas que correm livres,
através do olhar
espectador.

Procure um parceiro feito de fogo,
mas tenha cuidado para não se queimar.
Que o fogo seja somente
sua aliteração.

Menos chama, mais aparente,
o amante veio do círculo polar - pele feito escama
de um deus que não sabe amar.

Ouça os céus, minha pequena,
e toda vastidão do desejo comprimido
na solidão de uma estrela.

Seu prazer
será o retiro.

Seu orgasmo,
um instante.

Sex can be cruel!
 
Enter the void

Rocket

 
Rocket
 
10,9,8...

Some a pele, dos pés à cabeça. Frio na ponta dos dedos e calcanhares.

7,6,5...

O estômago se divide,e rompe. O intestino enforca as vértebras, e o suor que escorre agora, vapor é.

4...3...2...

O zumbido de mil abelhas, o mantra da despedida.
A lembrança do primeiro grito na origem, e o
ar que escapa na volta do tempo.

1...

Brilho ofuscante e inefável. Rostos confusos no branco do leite visionário - são todos o mesmo ente.

0...

Último breve instante
ante pensar a eternidade:
"As estrelas nunca estiveram tão próximas..."

Experiências de pós-morte são mais frequentes do que se imagina.

http://en.wikipedia.org/wiki/Near_death_experience

Baseado neste video:

http://www.youtube.com/watch?v=tV83U4CDAx4
 
Rocket

De um corpo em sol

 
De um corpo em sol
 
Eu comi o Sol,
Amei o interior de luz, feito ao meu redor.
Devorei-me na fome de Ser. E cresci
Mais do que o corpo.

Enalteci a beleza em minhas formas,
Purificadas pela ingenuidade com que me toquei –
E exercitei meu corpo, jovem
Nu no telhado da cidade.

Agora tenho um ventre,
E dele extraio o fogo
Que meu deseja transforma
Em si.

(Permanece ainda
O cólon irritado...
Por não ter um rosto em sua alfomada.)

Meu útero masculino
Deseja expelir ansiedades. E temo,
Apesar do esforço,
Ser incapaz para o amor.

Amo o sol que devoro em lábios
Como os teus,
Amo o lapso de nossa história, contada por um calor lembrado – você dentro de mim.
 
De um corpo em sol

Se amei...

 
Eu amei a aurora,
e a fonte onde os pássaros bebem vinho.

Eu amei o amanhecer deste corpo
em um pântano matutino
onde dormem as mariposas.

Eu amei a voz das corujas,
cantei rouco
a fome de um rato.

Eu amei o erro,
e a gargalhada de um menino
que cai
e machuca.

Eu amei todas as trilhas,
e a perdição que me levou à ti.

Eu amei
o possível.

E menti.

(Nascimento Andrade)
 
Se amei...

Conjugástico

 
Conjugástico
 
Eu falo
Tu falas
Ele fala
(Ela não)

Nós falamos
Vos Falais
Eles falam
(Elas não)
 
Conjugástico

Sexo Virtual 1

 
 
Se a garganta suportasse um dedo,
ou mais, um braço
uma espada, um pênis...

Não sentiria o medo, de morrer
afogado.

Se Tua entrada fosse uma caverna,
olharia desconfiado
e abraçaria as sombras
de nosso caminho.

Se nosso sexo fosse um vínculo
amaria o corpo, e não sua imagem...
e a semelhança, não faria doer.

Se tua vulva calasse o advérbio,
tudo seria um adjetivo largo, eloquente,
rígido, firme, potente.

Mas nosso gozo é um piscar de olhos,
de um mundo seco
para um mundo oco.
 
Sexo Virtual 1

Revelação D`eus

 
Revelação D`eus
 
 
A chuva descobre o esqueleto da tarde,
Fado dos cantos fundos revela o osso frio da rima.
Tranquila em torpor de uma morte incerta, observa – o vôo dos pássaros
Em linha reta.

A chuva faz descer um corpo de plumas,
Nas asas de um desejo mudo poema.
Escava o livro das horas de Esteno.
No encontro com a vítima descarnada
(personagem)

Alma em carne do texto
Que vaga,
Por aí, nas várzeas:
Lembrança apodrecida na lama.

Fantasma do ídolo, totem desconhecido que clamo.
Criatura sinistra da ilusão ritual – mantras que entoas só,
Em um monastério natural, rico em devoções extremas.

Sem nome, me alertam: a incorporação é involuntária.

Deuses e deusas, invadem
O corpo abertura, do possível.
Troca esquizofrênica. Eu Múltiplo.
(pois Ele está em tudo, sendo nada).
Fio interminável do febril Enforcado.
Religarão com a palavra, o Verbo da Morte.

Beijo no anel da mão esquálida.
Gosto servil da taça de sangue.
Fogo no puro coração recipiente.
Carne sugada do pão duro – Não O morda
Em tua fome
Imortal.

Na catedral dos horrores,
Do amor hostilizado,
O conforto espiritual emerge d’um coro de pranto.
Este olhar de expressão violenta – suspiro de alma em imagem.

Assustados aqueles puros de maledicências.
Por este Deus impassível, que juram:
Não quer o bem, nem o mal.
E recebe todas as preces, sem pressa.

E desse
espero
Ser Contido.

(Neste amor que explica a tudo, menos a si mesmo)

Certa vez, em Salvador, sofri uma "incorporação involuntária" de algum orixá ciumento, e isso me fez pensar neste poema... Como um deus africano, totalmente desacreditado por mim, pode ser capaz de tomar meu corpo e falar através da minha voz? Somos alvos de espiritos que invejam nossos corpos, e por isso temos nossos dias ruins, influenciados pela nostalgia dos mortos?
 
Revelação D`eus

A canção das conchas II

 
A canção das conchas II
 
II –

Segui a senda da verdade proscrita
Agarrado à casa mítica, aracnídea.
Frágil lar de regenerências mil,
Insistente orgânico, porém fatal.

Rompi o hímen da mentira infinita,
Estiquei o cordão tênue até o início – Encontrei,
Neste orifício que sucede ao corte – a mancha escarlate
Da mansão sem quartos
No abismo de uma premonição.

No berço abracei ursos de pelúcia, seres imaginários.
Do sonho infantil criei heróis de um mundo extático.
A criança paralisou-se no interior deste crescimento.
Abriu-se ao choro do Nascimento sem colo placentário.

Ser-és edênico, ser-és de Marte.

Na música de tempo infinito, um coração bate e luta.
Contra corpos estroboscópicos, um desejo superior reluta –
Amarei as sombras desta passagem?
Em ritos curandeiros, adentro a gruta caliginosa. Assisto:

O nascer em fogo da cura de Asclépio, ou
O abraço venenoso da serpente arguta?
Uma imagem de carne feita carne, estigma de barro e lama somente.

Das estrelas vieram às letras do alfabeto,
De sombras foram feitas as primeiras imagens.
No limite carnal de nossa fome amante
Abraçamos a atmosfera do delírio no luto – Noite arrasta drogada

Zumbis olham insones.
A profundeza alcança Pele,
O toque abismal do profano.
Do penhasco despeço, ao infinito
Um passo sutil, rumo marítimo.

E contra a memória construída na caverna,
Fiz casa da negação – ponte – atravesso ancestral.
Rugido pré-histórico acorda gutural. Grito!
Amedrontada por fissuras, estalactites.
Esta simples Voz de potência angelical

Observo o teto de todas ausências enquanto giro.
Ouço o chocalho de conchas que continua lá.
Perco a serpente do caminho,
Peço ao prazer que me perca.
Na turbulencia do coração deste ser-sem-corpo,
Alma de papel colorido, máscara vitral do descontentamento.

Bebo o Letes das distâncias intransponíveis,
Anterior que fui ao rosto rasgado por lágrimas...

Busquei na boca escancarada da noite bêbada,
O alívio oral da criança derradeira:

UM GRITO DE FOGO!

Minhocas cavam veias no interior do colchão,
A nudez amarrada pelos braços firmes da verdade, grita:

“Já não amo, Sou."
 
A canção das conchas II

Humores

 
Humores
 
Negros dias coléricos,
Amargo caos pensante.
A neblina cai enquanto odeio com frivolidade.

Cinzas manhãs melancólicas,
Enraizadas no túmulo nômade
De nossa antropofagia lembrada.

Estático zumbido da tarde
Um acidente no crepúsculo
E este olhar caído, fleumático.

A madrugada é sanguínea,
Fruto seco de um rosto velho.
Deus adormece na boca do lobo.
 
Humores

Aerólito

 
Aerólito
 
Aerólito

Teofania da queda, mensagem, herança.
Lágrima celestial, Angélica errância.
Corpo fagulha, sêmen do universo.
Chuva no ventre do não-nascido.
Hora parada, noturno disperso. Ponto
Cintila – alvo no olho do abismo.

“As trevas são Pai-Mãe”,
“A luz, seu filho.”

Queda no denso, um outro espaço:
O vazio se fecha
No ocaso.

Inconcebível e desconhecida
A luz é olhar das trevas.
Um passado em passos que olvido,
Enquanto a esperança
Escada abaixo,
Arrasto.

Desejo, desejo...
Existir solar no
Ânus dourado – Amor
Invisível lapidado,
Puro cristal do pensamento.
O ouro da aurora no excremento,
Calor da falta, fugidio crepúsculo.
Tudo provoca uma fuga.
Mas onde está o silêncio?

Dentro do Eu desconhecido,
Secreto de si, ser pulsante.
Entre-se, no alígero instante,
Da linguagem que se perde.
Pois a ti pertence o reino a justiça a graça –
Por todos os ciclos geradores.
Incessante Alento Eterno.

Ovo virgem, imaculado.
Seiva triste e leitosa
Da vida, branco coágulo
Nos mamilos da Mãe Raiz.

“A luz sou Eu.”

Inspirado em M.Blavatsky.
 
Aerólito

Poema sem corpo

 
 
Portanto, não se espante...

Está previsível o que soa absurdo,
e montótono,
o que perverte.

A dádiva é um alívio redondo,
feito dos mesmos suspiros
mesmos alívios indecentes.

Vá lutar, por um afago!
Ame sua própria tragédia de feto - e repare
na extremidade insatisfeita
onde tocas o vazio.

Brinque de Ser, esteja
sempre aqui.

(Pois o passado e o futuro são locais sem pegada)

Oramos todos, aflitos. Um instante...
No momento desta despedida breve -
O prazer, a sede do corpo
Seca.

A fome é feita no final,
e a retidão ocasiona o início.
Onde volto,
ao tango de outrora.

O amor está ferido pela distância,
e a saudade penetra o sangue da falência.

Talvez reste algo para reclamar, ou então,
desitência.

Senil malevolência - ódio à juventude que adio.
Para onde fugi - O Abismo - encontro também
os laços tardios,
os abraços partidos,
as carnes trêmulas,
os vícios do espírito.

Poesia, corpo espectral
feito de sacrilégios, ou sacro'ofício
da morte maior: deste corpo,
privilégio.

(Nascimento Andrade)

A saída pode ser o início, já pensou nisso?

Poema dedicado à Pavel Plastikk.
 
Poema sem corpo

"Umbigo inverso"