Conjugástico
Eu falo
Tu falas
Ele fala
(Ela não)
Nós falamos
Vos Falais
Eles falam
(Elas não)
Sexo Virtual 1
Se a garganta suportasse um dedo,
ou mais, um braço
uma espada, um pênis...
Não sentiria o medo, de morrer
afogado.
Se Tua entrada fosse uma caverna,
olharia desconfiado
e abraçaria as sombras
de nosso caminho.
Se nosso sexo fosse um vínculo
amaria o corpo, e não sua imagem...
e a semelhança, não faria doer.
Se tua vulva calasse o advérbio,
tudo seria um adjetivo largo, eloquente,
rígido, firme, potente.
Mas nosso gozo é um piscar de olhos,
de um mundo seco
para um mundo oco.
Revelação D`eus
A chuva descobre o esqueleto da tarde,
Fado dos cantos fundos revela o osso frio da rima.
Tranquila em torpor de uma morte incerta, observa – o vôo dos pássaros
Em linha reta.
A chuva faz descer um corpo de plumas,
Nas asas de um desejo mudo poema.
Escava o livro das horas de Esteno.
No encontro com a vítima descarnada
(personagem)
Alma em carne do texto
Que vaga,
Por aí, nas várzeas:
Lembrança apodrecida na lama.
Fantasma do ídolo, totem desconhecido que clamo.
Criatura sinistra da ilusão ritual – mantras que entoas só,
Em um monastério natural, rico em devoções extremas.
Sem nome, me alertam: a incorporação é involuntária.
Deuses e deusas, invadem
O corpo abertura, do possível.
Troca esquizofrênica. Eu Múltiplo.
(pois Ele está em tudo, sendo nada).
Fio interminável do febril Enforcado.
Religarão com a palavra, o Verbo da Morte.
Beijo no anel da mão esquálida.
Gosto servil da taça de sangue.
Fogo no puro coração recipiente.
Carne sugada do pão duro – Não O morda
Em tua fome
Imortal.
Na catedral dos horrores,
Do amor hostilizado,
O conforto espiritual emerge d’um coro de pranto.
Este olhar de expressão violenta – suspiro de alma em imagem.
Assustados aqueles puros de maledicências.
Por este Deus impassível, que juram:
Não quer o bem, nem o mal.
E recebe todas as preces, sem pressa.
E desse
espero
Ser Contido.
(Neste amor que explica a tudo, menos a si mesmo)
Certa vez, em Salvador, sofri uma "incorporação involuntária" de algum orixá ciumento, e isso me fez pensar neste poema... Como um deus africano, totalmente desacreditado por mim, pode ser capaz de tomar meu corpo e falar através da minha voz? Somos alvos de espiritos que invejam nossos corpos, e por isso temos nossos dias ruins, influenciados pela nostalgia dos mortos?
A canção das conchas II
II –
Segui a senda da verdade proscrita
Agarrado à casa mítica, aracnídea.
Frágil lar de regenerências mil,
Insistente orgânico, porém fatal.
Rompi o hímen da mentira infinita,
Estiquei o cordão tênue até o início – Encontrei,
Neste orifício que sucede ao corte – a mancha escarlate
Da mansão sem quartos
No abismo de uma premonição.
No berço abracei ursos de pelúcia, seres imaginários.
Do sonho infantil criei heróis de um mundo extático.
A criança paralisou-se no interior deste crescimento.
Abriu-se ao choro do Nascimento sem colo placentário.
Ser-és edênico, ser-és de Marte.
Na música de tempo infinito, um coração bate e luta.
Contra corpos estroboscópicos, um desejo superior reluta –
Amarei as sombras desta passagem?
Em ritos curandeiros, adentro a gruta caliginosa. Assisto:
O nascer em fogo da cura de Asclépio, ou
O abraço venenoso da serpente arguta?
Uma imagem de carne feita carne, estigma de barro e lama somente.
Das estrelas vieram às letras do alfabeto,
De sombras foram feitas as primeiras imagens.
No limite carnal de nossa fome amante
Abraçamos a atmosfera do delírio no luto – Noite arrasta drogada
Zumbis olham insones.
A profundeza alcança Pele,
O toque abismal do profano.
Do penhasco despeço, ao infinito
Um passo sutil, rumo marítimo.
E contra a memória construída na caverna,
Fiz casa da negação – ponte – atravesso ancestral.
Rugido pré-histórico acorda gutural. Grito!
Amedrontada por fissuras, estalactites.
Esta simples Voz de potência angelical
Observo o teto de todas ausências enquanto giro.
Ouço o chocalho de conchas que continua lá.
Perco a serpente do caminho,
Peço ao prazer que me perca.
Na turbulencia do coração deste ser-sem-corpo,
Alma de papel colorido, máscara vitral do descontentamento.
Bebo o Letes das distâncias intransponíveis,
Anterior que fui ao rosto rasgado por lágrimas...
Busquei na boca escancarada da noite bêbada,
O alívio oral da criança derradeira:
UM GRITO DE FOGO!
Minhocas cavam veias no interior do colchão,
A nudez amarrada pelos braços firmes da verdade, grita:
“Já não amo, Sou."
Humores
Negros dias coléricos,
Amargo caos pensante.
A neblina cai enquanto odeio com frivolidade.
Cinzas manhãs melancólicas,
Enraizadas no túmulo nômade
De nossa antropofagia lembrada.
Estático zumbido da tarde
Um acidente no crepúsculo
E este olhar caído, fleumático.
A madrugada é sanguínea,
Fruto seco de um rosto velho.
Deus adormece na boca do lobo.
Aerólito
Aerólito
Teofania da queda, mensagem, herança.
Lágrima celestial, Angélica errância.
Corpo fagulha, sêmen do universo.
Chuva no ventre do não-nascido.
Hora parada, noturno disperso. Ponto
Cintila – alvo no olho do abismo.
“As trevas são Pai-Mãe”,
“A luz, seu filho.”
Queda no denso, um outro espaço:
O vazio se fecha
No ocaso.
Inconcebível e desconhecida
A luz é olhar das trevas.
Um passado em passos que olvido,
Enquanto a esperança
Escada abaixo,
Arrasto.
Desejo, desejo...
Existir solar no
Ânus dourado – Amor
Invisível lapidado,
Puro cristal do pensamento.
O ouro da aurora no excremento,
Calor da falta, fugidio crepúsculo.
Tudo provoca uma fuga.
Mas onde está o silêncio?
Dentro do Eu desconhecido,
Secreto de si, ser pulsante.
Entre-se, no alígero instante,
Da linguagem que se perde.
Pois a ti pertence o reino a justiça a graça –
Por todos os ciclos geradores.
Incessante Alento Eterno.
Ovo virgem, imaculado.
Seiva triste e leitosa
Da vida, branco coágulo
Nos mamilos da Mãe Raiz.
“A luz sou Eu.”
Inspirado em M.Blavatsky.
Poema sem corpo
Portanto, não se espante...
Está previsível o que soa absurdo,
e montótono,
o que perverte.
A dádiva é um alívio redondo,
feito dos mesmos suspiros
mesmos alívios indecentes.
Vá lutar, por um afago!
Ame sua própria tragédia de feto - e repare
na extremidade insatisfeita
onde tocas o vazio.
Brinque de Ser, esteja
sempre aqui.
(Pois o passado e o futuro são locais sem pegada)
Oramos todos, aflitos. Um instante...
No momento desta despedida breve -
O prazer, a sede do corpo
Seca.
A fome é feita no final,
e a retidão ocasiona o início.
Onde volto,
ao tango de outrora.
O amor está ferido pela distância,
e a saudade penetra o sangue da falência.
Talvez reste algo para reclamar, ou então,
desitência.
Senil malevolência - ódio à juventude que adio.
Para onde fugi - O Abismo - encontro também
os laços tardios,
os abraços partidos,
as carnes trêmulas,
os vícios do espírito.
Poesia, corpo espectral
feito de sacrilégios, ou sacro'ofício
da morte maior: deste corpo,
privilégio.
(Nascimento Andrade)
A saída pode ser o início, já pensou nisso?
Poema dedicado à Pavel Plastikk.