Vento.
O canto do vento,
doce, contido,
em seu movimento
espia saudades.
Congela o tempo,
recorda carícias,
relembra desejos,
mastigo de beijos.
Viaja meus sonhos,
confissões penitentes,
meus próprios segredos,
pecados da mente.
Tenho medo.
tenho medo
que tu batas à porta,
enquanto durmo...
tenho medo
dos rumores da noite,
dos sonhos...
tenho medo
de escrever o teu nome,
em meu destino...
tenho medo
de fantasmas
nas noites escuras,
tenho medo
das canções
que me falam de amor...
Notícias.
no sofá, assisto a um teatro
de anônimos,
no roteiro, a morte
no papel principal...
ao controle remoto,
desligo a desgraça,
o asfalto ferido,
o corpo da vez...
Flores.
na amplidão dos pampas,
colho flores em seus jardins,
horizontes amarelos,
caminhos, descobertas,
desvio dos rasantes
dos quero-quero,
não cobiço seus ninhos,
quero a liberdade das cores...
@ANDEJO - ENCONTRO XIII-2.019 e 2020 - Intruso.
no baldio
da mesa
um caderno de poemas,
página aberta...
transito
entre as letras,
bebo a angústia
tangível...
os versos falam
intimidades,
murmurações,
corpos sem rótulos...
as palavras
determinam,
eu, intruso,
obedeço...
Vielas.
debruço-me à realidade:
casas empilhadas,
reboco ausente,
vielas, corredores,
escadas em caracóis...
no infinito
visualizo caminhos,
que levam
os homens ao céu...
Amores dos sonhos.
não escreverei sobre amores
que tive e não me tiveram,
nem das trocas de olhares,
risos, compromissos,
não escreverei
a história das canções
a mim dedicadas
nos parques de diversão,
não escreverei sobre o perdão,
por ter furado a fila,
por pequenas traquinagens,
por ter ludibriado no jogo de bafo;
não escreverei sobre:
conhecidos, parentes,
retratos, doentes,
saudades,
escreverei, somente,
sobre os amores
dos sonhos,
amores cuidados...
@ANDEJO -ENCONTRO XIII- 2.019 - Vejo.
eu contava estrelas
brincava na luz da lua
sentava na sarjeta
rolava no chão
virava pó...
os mais velhos
conversavam
com as cadeiras
apoiadas nas paredes,
nos muros da vila...
a minha casa tinha
na calçada,
um degrau
à porta da sala,
casa e rua uma coisa só...
meu pai ficava
com seu "radinho" de pilha,
sentado no degrau da porta,
dizia ele "ouvindo o mundo"...
meu cachorro latia,
brincava, rolava,
e, cansado,
se amoitava aos
pés do meu pai...
tudo tão logo-ontem,
olho... não vejo estrelas
nem terra em minhas mãos,
vejo... saudades...
Concha da orelha.
o suor se liberta,
sonho acordado,
viajo nas nuvens,
assisto o teu corpo,
tua mão (re)passeia
em minha pele morna,
na concha da orelha,
sussurros...
meus lábios criam pernas,
teus trajetos são enigmas,
meu olfato se inebria ao cheiro
dos teus cabelos quentes...
eu me enfurno
entre os teus
joelhos...
presencio o teu belo rosto
a sorrir raios de sol,
e as estrelas dos teus olhos
pousadas em mim...
Signos.
chão pretérito
raízes
retorcidas...
rio mórbido
penumbras
lodo...
o dia
desfaz
o dia...
pássaro
sem asas
poeta banido...