Poemas, frases e mensagens de cavenatti

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de cavenatti

Sei.

 
sei, há um tempo longínquo,
além da imaginação,
onde a alma voa,
em vento puro, livre,
em busca de emoção...
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te espero
de braços abertos,
nas luzes de um céu azul,
habitáculo das estrelas,
do qual uma se desprendeu...
 
Sei.

Vento.

 
O canto do vento,
doce, contido,
em seu movimento
espia saudades.

Congela o tempo,
recorda carícias,
relembra desejos,
mastigo de beijos.

Viaja meus sonhos,
confissões penitentes,
meus próprios segredos,
pecados da mente.
 
Vento.

Notícias.

 
no sofá, assisto a um teatro
de anônimos,
no roteiro, a morte
no papel principal...

ao controle remoto,
desligo a desgraça,
o asfalto ferido,
o corpo da vez...
 
Notícias.

Flores.

 
na amplidão dos pampas,
colho flores em seus jardins,
horizontes amarelos,
caminhos, descobertas,

desvio dos rasantes
dos quero-quero,
não cobiço seus ninhos,
quero a liberdade das cores...
 
Flores.

@ANDEJO - ENCONTRO XIII-2.019 e 2020 - Intruso.

 
no baldio
da mesa
um caderno de poemas,
página aberta...

transito
entre as letras,
bebo a angústia
tangível...

os versos falam
intimidades,
murmurações,
corpos sem rótulos...

as palavras
determinam,
eu, intruso,
obedeço...
 
@ANDEJO - ENCONTRO XIII-2.019 e 2020 - Intruso.

Camisas de passeio.

 
"não há como esquecer
das camisas de passeio
dependuradas no varal,
secando ao sol"...

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eu tinha duas camisas,
uma branca, outra verde,
com elas desfilava,
aos finais de semana,
no entorno da Igreja matriz...

o largo acolhedor,
acendia o meu olhar de curiosidade,
a cada volta uma nova história,
nova paixão,
novos sonhos...

a praça já não é a mesma,
demoliram a Igreja,
o pipoqueiro morreu,
um moderno Templo ostenta
pinturas abstratas da Via Sacra...

revelação:
neste tempo onde as camisas
não me servem mais no corpo,
não sei confessar-me às (novas)
gravuras nas paredes da Igreja...
 
Camisas de passeio.

Amores dos sonhos.

 
não escreverei sobre amores
que tive e não me tiveram,
nem das trocas de olhares,
risos, compromissos,

não escreverei
a história das canções
a mim dedicadas
nos parques de diversão,

não escreverei sobre o perdão,
por ter furado a fila,
por pequenas traquinagens,
por ter ludibriado no jogo de bafo;

não escreverei sobre:
conhecidos, parentes,
retratos, doentes,
saudades,

escreverei, somente,
sobre os amores
dos sonhos,
amores cuidados...
 
Amores dos sonhos.

@ANDEJO -ENCONTRO XIII- 2.019 - Vejo.

 
eu contava estrelas
brincava na luz da lua
sentava na sarjeta
rolava no chão
virava pó...

os mais velhos
conversavam
com as cadeiras
apoiadas nas paredes,
nos muros da vila...

a minha casa tinha
na calçada,
um degrau
à porta da sala,
casa e rua uma coisa só...

meu pai ficava
com seu "radinho" de pilha,
sentado no degrau da porta,
dizia ele "ouvindo o mundo"...

meu cachorro latia,
brincava, rolava,
e, cansado,
se amoitava aos
pés do meu pai...

tudo tão logo-ontem,
olho... não vejo estrelas
nem terra em minhas mãos,
vejo... saudades...
 
@ANDEJO -ENCONTRO XIII- 2.019 - Vejo.

Concha da orelha.

 
o suor se liberta,
sonho acordado,
viajo nas nuvens,
assisto o teu corpo,

tua mão (re)passeia
em minha pele morna,
na concha da orelha,
sussurros...

meus lábios criam pernas,
teus trajetos são enigmas,
meu olfato se inebria ao cheiro
dos teus cabelos quentes...

eu me enfurno
entre os teus
joelhos...

presencio o teu belo rosto
a sorrir raios de sol,
e as estrelas dos teus olhos
pousadas em mim...
 
Concha da orelha.

Amada.

 
na beleza e leveza
do seu corpo,
na cadência do seu andar,
faço-me bêbado de paixão
em um beijo seu...

conjecturo emoções,
sei, não posso,
quero!...
sei, não devo,
espero!....
 
Amada.

Vielas.

 
assisto a realidade:

casas empilhadas,
reboco ausente,
vielas, corredores,
escadas em caracóis...

no infinito,
visualizo caminhos
que levam homens
na direção do céu...
 
Vielas.

Ausência.

 
há vestígios
de espelhos quebrados
nos cantos da casa,
o reflexo é ausência...

sobra o encanto
das lembranças,
as sombras
das coisas vi(vi)das...

não há pressa,
no tempo cúmplice,
a palavra (não dita)
se faz poema...
 
Ausência.

@ANDEJO - Reler.

 
sinto que o tempo
é mar,
as vezes calmo,
outras... revolto

hoje me vejo
com cabelos
sobrando no pente,
seriam ideias?!

no pescoço
a barba arranha,
um misto de branco,
castanho...

os braços-galhos
já não suportam
carregar os dias,
não são solidários...

pedaços da
memória
sobram nos olhos,
rompem a vigília...

sinto mais frio
que quando criança,
leio-mais-a-vida,
rabisco...

no meu pacote,
folhas-dias-livro,
encontro o tempo
para reler-escrever... o amor

autor: Cavenatti
 
@ANDEJO - Reler.

Primitivo.

 
há velas à deriva
o mar marola
em um tempo primitivo
essencial...

desfaço na noite
o disfarce do dia
sou Ser rudimentar...

nas imagens toscas
estrelas se afogam
o segredo se esconde
o amor peregrina ...
 
Primitivo.

Coleção.

 
nos sentimentos escritos,
de um tempo distante,
(da infância),
seleciono sonhos...

em uma estrada
desconhecida,
tempo desconhecido,
dou vida a eles...

ouso passos,
vivo (a)venturas,
alimento
encantamentos...

bebo dos sóis
que encontro,
o diurno na batalha,
o noturno no amor...
 
Coleção.

@ENCONTRO XIII - 2.019 - Entendimento.

 
a luz amarelada
(do cair da tarde)
adentra o quarto,
sem permissão,
finge tingir as paredes,
acomoda-se no leito,

o ar rarefeito
do começo da noite,
dá-me a impressão
que o dia acaba
em velas terminais,
tão sem pressa...

ritual,
as almas se recolhem,
as ruas se acalmam,
os pássaros
buscam repouso,
eu, o entendimento...
 
@ENCONTRO XIII - 2.019 - Entendimento.

Vício.

 
a minha escrita ainda sabe:
relatar a paixão,
descrever os sonhos,
redigir te amo,
rabiscar poemas
à tua formosura...

os meus olhos ainda sabem:
recordar teu andar,
admirar tuas ancas,
teu colo,
teus seios,
o teu todo...

a minha boca,
sem-vergonha-alguma,
ainda sabe: gritar os gritos
que gritamos juntos,
o grunhir que inventamos,
degustar o sabor do vinho
que alambicava tua tez...

comíamos um-ao-outro,
bebíamos o viço da juventude,
e m b r i a g a d a m e n t e,
um vício que perdura
nas lembranças,
que estas letras confessam...

.
 
Vício.

Fecundação.

 
o que dizer do céu que explode
em labaredas, tempestades,
será que Deus está nervoso, ou,
costurando contrariedades?!...

a água que emana,
mata a sede, apaga o fogo,
leva navios passageiros,
a outros portos...

a água que inunda, apodrece
galhos, transforma o sacrifício
em temperos, alimenta a era,
fecunda a terra...
 
Fecundação.

Signos.

 
chão pretérito
raízes
retorcidas...

rio mórbido
penumbras
lodo...

o dia
desfaz
o dia...

pássaro
sem asas
poeta banido...
 
Signos.

@ANDEJO - Soletres.

 
soletres
meu nome em cálice,
derrames
minha água nas margens,
caminhes
meu leito desguarnecido,
inundes
minha correnteza,
trilhes
meu destino,
descortines
o meu sol, o meu mar,
desbraves
meus arquipélagos,
rabisques
um poema ao rei,
...
relates
o teu descobrimento...
 
@ANDEJO - Soletres.