Poemas, frases e mensagens de lapis-lazuli

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de lapis-lazuli

O Palma porque sim...minha senhora da solidão

 
Que venhas cedo…

Tenho o amor a gelar ali num canto pró frigorífico.

Fui pelas horas em ponta na demora dos teus andares bailarinos.

Hoje, não sei como dizer, mas cuspi uma mágoa.

Tem o sabor acre dos passos trocados e missivas de adeus nas estações do metro.

Cedo…

Eras tu no átrio da faculdade a passar-me aos olhos estenoses subaórticas hipertróficas idiopáticas, tanto para dizer a cardiopatia estúpida que me fazia o coração idiota e confusão aos olhos unidireccionais.

Tinhas a barafunda física dos meus sentidos em dança, em trança, em bocados que não conhecia senão dos dicionários baratos que trazem a palavra paixão na página quatrocentos e sessenta e dois em letras muito pequenas.

Depois, inventei os depois para te ver depois…

O concerto do Palma em mil novecentos e quando os passos não se trocavam a dar-te lume á porta do Coliseu.

Aparecias em todos os sítios para onde eu olhava.

Cedo…

Acabamos a noite no bairro onde o amor se diz alto a perceber nossos passos em volta…e na volta…

Quando decoramos todos os nomes de rua, quando contamos a um os degraus da Calçada do Duque, quando no Rossio ainda se tiravam bilhetes nas máquinas e se apanhava o comboio das dez para seis, sonhei uma greve geral que parasse os transportes para sempre.

Iríamos então a pé mundo fora, enquanto houvesse estrada para andar, enquanto quiséssemos continuar a dizer, encosta-te a mim.

Que venhas cedo…

Tenho o amor a gelar ali num canto pró frigorífico.

Sinto-me frágil, tão frágil que estava capaz de ir comprar umas garrafas para gelar ali junto do amor.

Mas o centro comercial fechou, Por mais que seja cruel não há ninguém que me ajude a ir atrás dos tempos, ao meu encontro na estrada, ao teu encontro na estrada, á origem do drama, onde nasceu esta balada de um estranho.

Temo que jamais voltarás, lá fora há um lugar no lado errado da noite meu amor…

Ainda há estrelas no teu olhar.

Cedo adivinho, conjecturo, pressagio o nunca…

Lembras-te quando o Joaquim leitão me pediu lume na Atalaia?

Mais tarde vimos o Palma encostado a um pavilhão da cidade internacional com medo que aquilo caísse, ou que ele caísse, ou que o amor, o mundo, o tinto, a cor, o lume, os teus olhos de então…cedo…

O Palma porque sim…

Minha senhora da solidão.
 
O Palma porque sim...minha senhora da solidão

O homem que fazia chover

 
Porque havia sírios e cedros e chuva sem ti.
Porque a cinza do céu e o tumulto dos pássaros me inventaram o só.
Porque tudo era escravo do futuro defunto em adeus…
Porque o mundo partido aos bocados tinha horas do ontem onde existias.
Lembrei-me do homem que fazia chover.
Musical e passado um harmónio vadio vagueava os Outonos.
Hipnotizado ataúde que moravas eterna no nojo da terra abaixo dos pés.
Crepita de crentes, vizinhas e gente que não conheci…
Com os seus sentimentos ao meu abandono com saudades de ti.
Então vaporou do tempo um tempo sem tempo de nós…
Um harmónio de frio, tempestades e rios correntes na voz.
Depois tremente, doente, invisível, estacou sem corpo…
Meu olhar no vazio, que sentiu tal frio de me sentir morto.
Perdi-me então por ali…
Num tempo de lençóis brancos que cheirava o verão…
Agua salgada e lágrimas de sol pela calçada.
E á frente toda a gente…que sente…
O tonto da tasca, o Tadeu tanoeiro e o sacristão…
O padre, os amigos, o pai sentido, a Conceição.
O Zé a Celeste, o tempo agreste no dia chorar…
Foram todos levar-te, aonde me foste abandonar.
Cravos, crisântemos, arranjos com faixas abraçadas nos lírios…
Olhei para o ar como se fosses pairar por cima dos sírios…
Depois melodia, que fiquei para ultimo no teu ultimo dia.
A harmónica e o homem que fazia chover… e chovia.
Emperrou á entrada do campo num calar sepulcral.
Tu que me amavas e acreditavas e por sinal…
Eu descrente…creio que deus…foi ao teu funeral.

Mãe.
 
O homem que fazia chover

Pai nosso dos violinos

 
Vivia no limbo e descuidava o corpo ás vezes com sangue…
Era uma estátua quieta com poemas de sede pintados nos lábios.
Vermelhos os ocasos sopravam tépidas orações de violino nas ondas…e o mar…
Traiçoeiro era uma pauta que punha aos dias uma clave de sol.
Então anoitecia e tinha pelas sombras fracções de um olhar misantropo.
Condescendia um afago de espectro na baía onde atracava a alma… e podia-lhe então soprar sacarino o silêncio com muito vagar para não fugir.
Dizia-se feitiço nos olhos distantes.
Que nunca sequer ousaria ditongos, como ideia, de lhe ser e tocar.
Por essa altura ali perto aprendia a nadar no oceano do génio…
Não pensaria sequer que voaria pelas águas a plantar horizontes.
Toquei-lhe nos versos a fumar névoas nas madrugadas insónias.
O nosso livro é uma contracapa com preâmbulo unívoco.
Hoje ouvia cantar na praia ao sul dos meus ocidentes…
Aportava uma lira de coragem na súplica dos mares amplexos.
Cheirei-lhe o útero sideral numa viagem ao cume dos seios.
A boca apeteceu beber toda água do mar para estar perto…
Os violinos oravam na praia ao redor dos cuidados…
Como um pai-nosso que não desvia o olhar das nossas ausências bravias…
Vivia no limbo e descuidava o corpo ás vezes com sangue…
Vesti-me de iodo para sarar as feridas amantes.
Das almas loucas dividimos o cálice no vinho das mágoas.
Aprender a nadar para transpor a latitude das aguas…
Nunca ninguém está sozinho…
Enquanto os violinos tocarem.
 
Pai nosso dos violinos

O inquebrantável género da roda e dos dias amargos

 
No artigo1 …
Eu tinha uma cidade…
Umbigo, básculas no teu corpo Latifúndio.
Ou cidade, outra cena de terra que me eram encostos namorados…
Socalcos, lagartas de vindima, uvas exclamativas como prisões…
E quando expiravam assim coisas como um segundo ou menos até…
Fazia dos joelhos alavancas e o vazio era compromisso lavrado onde o suor projectava todas as escolas de silêncio a beber champanhe e sei lá que mais.
Havia um arlequim, asnático, menino com orelhas de burro sem edição extra de recreio, ou pátio, ou céu ou pássaros que lhe resolvessem todas as imprecisões de raiva nas contas de dividir o pão, o mundo e o medo de ser o ser que sabia sábio o só, o sono e o som dos ses sem sol, porque era cego e cortaram-lhe as mãos.
De facto não existiam sequer sombras na pradaria.
Nem crianças, nem homens nem úteros de sêmea que fecundados inventassem o termo, o mero, o sorriso.
Para contas, um rosário quadriculado, repartição publica de sombra com fuste clandestino pelas cercas, protelando loquazes homens para ser, o amanhã com braços funcionários sem colónia ou férias penais.
Anoitecia uma pauta e a morte que acaba com todas as rimas era um cântico perseverante a chapinhar com as solas ambulantes distritos imperialistas onde um homem se ouve a si próprio.
Deixou a terra de cantos, quatro, já que as suas formas redondas desovaram o heptágono e num dizer híbrido trajado de magma, apostrofou os mares os, filhos, o demo, nuns sete filhos da tarde lá pela hora dos acepipes despojados á mesa com a meia-noite.
Ainda assim são os homens sem deus que fecundam os óvulos escolhidos.
Porque a morte acaba com todas as rimas, até com a fome, até com a morte…mas nunca com o amor.
Um café por favor.
 
O inquebrantável género da roda e dos dias amargos

Always the sun

 
Se o dia, fossem estes espaços de centelha ao meio da tarde, sombreados por margens de muito silêncio ao por do sol...
Os ocasos amenos do só, viriam como o tempo interrogado na boca, salgar perguntas que não sabemos de nós.
Vestígios tépidos no recinto sinonimo do porquê narrado até á metafísica.
O tempo é um não sei…
É um dos mais a mais invisíveis saberes que não sabemos razão…
Assim acontece.
Há testemunhas que o inverno acabou.
Brotam coisas novas do chão, ouvi hoje no rádio.
Vivo no futuro vencido em acasos á velocidade da luz.
Não me levem a mal o sol no peito…
Travo uma luta estóica contra os dias cinzentos.
Meteorologia de sonho e céu limpo.
Sinto o sabor da brisa estival no rádio ás sete sem chuva, a guerra acabou.
Brotam coisas novas do chão…
Eu queria fazer uma terraplanagem sobre a terra.
Onde o homem mais longe visse de perto o homem mais longe e assim ser-lhe tanto que não haveriam pátrias no mundo.
Devaneio imperialista sem livro de cheques ou trunfos de ouro.
Só ser igual aos iguais sem tumores no olhar e este nada mais a dizer, porque ouvi no rádio…
Que a meia-noite será sempre o principio dos dias.
Amplos santuários do corpo sozinho por buscas e biscas á batota das noites, a regar girassóis para iludir os invernos.
Se o dia, fossem estes espaços de centelha ao meio da tarde, sombreados por margens de muito silêncio ao por do sol...
Os ocasos amenos do só, viriam como o tempo interrogado na boca, salgar perguntas que não sabemos de nós.
Brotam coisas novas do chão…
Ouvi no rádio…
Noticias ás sete sem chuva.

Simples... não é?
 
Always the sun

Quero acabar a noite em ti

 
Quero acabar a noite em ti…
Despercebido e imenso como um nada ao acaso.
És-me as horas vagas na minha síncope escapatória á vertigem.
Assino-te como um caderno diário, perfumado e agridoce.
Abstracção…e pode o mundo acontecer em tragédias, que o meu olhar recusa o ódio e folga vegetativo no teu corpo sereno.
És uma brisa de lágrima que inspira a dilecção.
Tenho logrado meus pés nas intempéries, perdido por chãs remotas em jornadas de revolta onde não está o teu olhar amplexo.
Esse que acalma as contradições do meu génio inquieto e assassina as mágoas redundantes.
Quero acabar a noite em ti…
Na cercania desse vento terno que esboças na tempestade quente de um sorriso virgem.
Desvelo atento mas tão ténue que me cicatriza os males do mundo no afago da tua atenção.
Já me perdi para sempre onde sempre me encontraste…
O teu corpo, é uma estrada que acaba na cúpula quase materna da quietude dos teus olhos.
Se pudesse comprar destinos, investia os meus futuros a inventar dias ditosos.
Deus que nunca existe em mim, quer a vida que te tenha, para me indultar os defeitos.
E fui chuva e fui lama, infecção e invernia, condimento exagerado na condição do nosso afecto.
Tenho os dias do desespero tatuados como feridas num longínquo lembrar d’almas.
São sombras que me distraem do teu dar desprendido das asperezas da existência.
Nunca agradecemos um ao outro, o tempo nem os olhares, que gastámos no caminho…
Só no término das batalhas que afogam os dias colossais num mar de desejo e querer
Falamos fecundantes nas madrugadas sublimes que nos guiaram a acordar aqui…
Sem culpas nem julgamentos pronunciamos o para sempre na abstracção dos porquês.
Despercebidos e imensos como nadas ao acaso…
Quero acabar a noite em ti.
 
Quero acabar a noite em ti

Mãe dá-me butterfly´s

 
Mãe dá-me butterfly’s…
Amansa-me braços de motins plasmáticos e circulações periféricas com pulsações de trabalho arterial.
Tenho fúrias nas superfícies íntimas que sinto injustiças nas carótidas, na interna, na primitiva como a raiva que se ganha ao perder.
São oceanos oclusos de medo nas pernas, tremores finos na femoral profunda, terrores de não sentir amor na aorta ascendente e na descendente morrer de terror com sangue oculto nas mãos...
Mãe dá-me butterfly´s…
Coloca-me um dreno na alma e descoagula os rios infectados de seiva assassina.
Tenho demónios nas células que fazem anos no mesmo dia que eu...por isso é urgente…
Lucra-me o silencio, coloca-me uma cânula de traquesotomia outra endotraqueal, induz-me o coma ás palavras malditas que a minha vida tem sido uma mascara laríngea de expressões fingidas e cancros na voz.
Não quero reagir por sinapse, por estímulos arrogantes em distância de mim…
Jamais os eferentes a contrariarem-se em espasmo ao redor de todos os meus nervos simpáticos que sabem dizer o perdão com rosas no peito.
Mãe dá-me butterfly’s…
Devolve-me ás veias o oxigénio em débito ao meu coração de estátua e dá-me butterfly’s…
Dá-me qualquer coisa que não sangre os meus dias em razões oncológicas de não querer existir.
Dá-me a primavera com pétalas brandas e riachos serenos…
Planícies ronceiras nos dias amenos com cores demais.
Agras montanhas onde levitam no topo mariposas reais…
Mãe dá-me o ar...
Eu quero voar…
Dá-me butterfly´s.
 
Mãe dá-me butterfly´s

Música para seres poema

 
Lídima face púrpura, não colorada, escarlate, ou vermelho tingido…
Meio respiro encarnado que emenda o corpo de nada infringido.
Sopra de liamba teus olhos ventres de colmo dormidos…
Meus pés em sangue, teus braços abraços, teus livros escondidos…
Explodes doce, sem fel ou veladas ternuras que sabem meu nome no fumo…
És margem livre de quem não tenha alguém para amar.
Rujo o teu queixo e mordo-te a língua urtiga-do-mar…
Que pica e fica fundo, tão fundo, tão mundo, constantemente inconstante, zodíaco, estrela, amante, orgasmo de júbilo dolente que ejacula a olhar…
Que há promessas de música para seres poema…para seres pairar.
Então cá vou em trauteio rouco, louco pela esquina do verso pelo beco reverso pela rua batuta e marco…
Há no céu louva-a-deus e pétalas tão pintadas de sangue que o sol sinfónico fica afónico quando brilhas nos olhos.
Não te consigo dizer, declamar, cantar todas a florestas sombrias onde cortei Aquiles, o tendão onde erguia o peito aos faunos que em zomba me tinham no contrário de ti…
Por isso, ceguei, roubei despi-me no meio da avenida prostituta e ri… ri… ri-me!!!
Rima tresloucada em tombo, no lombo…que não sabia da tua mão em carícia.
Hoje há música para seres poema…
Sei… toca dentro de mim, toca na chuva, um toque de luva, veluda, impoluta…
Sacra melopeia de fé que me duvido se há orquestras no inferno.
Agora vamos, ao colo do colo, de mão na mão, grafitar paredes, correr trapézios sem redes, lamber a salina dos corpos suados na praia, gritar pelos bairros, mandar parar todos os autocarros e carros e comboios, aviões, ferry-boats,
os “camones” da Rua Augusta, as peças do S.Carlos, os concertos do coliseu…
Gritar-lhes que o beijo, descobriu o desejo debaixo do céu.
Lídima face púrpura, não colorada, escarlate, ou vermelho tingido…
Meio respiro encarnado que emenda o corpo de nada infringido.
Sopra de liamba teus olhos ventres de colmo dormidos…
Meus pés em sangue, teus braços abraços, teus livros escondidos…
Eram romances que estavam escritos sem estar traduzidos.
 
Música para seres poema

Quando a alma chora em piano

 
Quando alma chora em piano
Lápides tantas após ano
Em notas para me inventar
Indizível tom soprano, dispersante, desumano…
Um piano a chorar.
Quando perco o som de mim
Nos silêncios do meu fim
No estranho dos desamparos…
Cheiro brilhos da Bolívia
Onde cintilam buganvílias
Num canto de aromas raros.
Parto breve aos desencontros
Campo mártir de confrontos
Com soberba e ufano…
Sou um magala caído
Soldado desconhecido
Bastardo triste e engano.
Ficam coisas pelo chão…
Zeros sós e nãos partidos,
Côdeas rijas das palavras…
Anteontens descingidos
Malte lágrima, risos feridos...
Pianos mortos e armas.
Quando perco a melodia
Do sol, do meio-dia
No meio do mundo sozinho
O piano toca almas
Em notas ébrias e calmas
Solfejo tonto de vinho.
A vida é um compasso
Feito a passo e arrasto
Lápides tantas após ano…
Onde me esqueço de mim
E só me lembro por fim…
Quando alma chora em piano.
 
Quando a alma chora em piano

Margem Sul

 
Suponho que se chamam Libânio e Maria…
Maria não…não.
Lurdes, assim será.
Não sei sequer o que me levou a supor tais graças;
Mas assentam-lhes.
Vejo-os sair todas as manhãs de um palacete nas avenidas novas.
Estão apaixonados.
Libânio, que podia ser Romeu, ama Lurdes, uma Julieta de Lisboa...de Lisboa toda e de todos os cantos onde serenata o desamparo.
Suspeito, sem ter de suspeitar que trabalham no metro a dar vista aos cegos.
São exuberantes!
Caminham a representar Shakespeare, como se fossem reis, da Avenida da República.
Têm uma teatralidade venérea, com cheiro…
Todas a manhãs.
Trajam farpelas de época, ao que lhes assumo algumas posses.
Pela avenida fora, adornam os transeuntes de uma indiferença parva.
Só eles existem…todas as manhãs nos palácios da avenida.
Libânio é uma camurça amargurada pela coça dos tempos, é um pente e dois sapatos com a custódia de uma carteira com papiros envelhecidos, sem bilhete de identidade.
Lurdes, ostenta pinturas de guerra, com batons vermelho vivo a lembrar charcos de sangue nos palacetes da cidade.
Suponho que é assim.
Lurdes, faz pairar o ar, faz parar o trânsito, faz pairar Libânio que se encontra encantado numa côdea parada no vermelho dos semáforos…
A Lurdes sinaleira, com duas laranjas loucas a desfilar em contra-mão e a estampar risos nos carros.
Ninguém pára, todos olham…cegos, com Lurdes a dar-lhes vista.
No milésimo de uma buzina, a rua agora também paira…
Universitárias decentes, bibelôs púberes, agentes de seguros e um quiosque admirado!
Não pára o 28, á pinha de apressados, direitos a Cabo-Ruivo.
Via desatravancada e continua uma valsa a dois.
Este mês que passou surpreendeu em afectos no banco do jardim…
Sentados a merendar, a jogar pão velho aos pombos, na divisão de uma garrafa.
Os pombos também são seus…de Lurdes e de Libânio.
Sentei-me no banco em frente a cegar um meio sobrolho.
Libânio é poeta ou louco, ou as duas coisas…
De uma catacumba de silêncio, onde as cataratas choram as quedas do mundo, levanta-se num repente lúcido e grita…grita alto, grita aos pombos, grita aos cegos…sussurra a Lurdes um grito que gravou há muito tempo, antes do grito, antes do pairar…
-“Porque o amor é uma coisa que me dá nos teus olhos suspiros infindáveis…
Os pombos ficam cegos…Libânio insiste…
-“Subo ao teu peito enquanto um ar de arrepio me inspira os pulmões…”
Lurdes esticou um lenço porque o pobre do Libânio se engasgou com um cancro…tossia muito!
Tossia tanto, que Lurdes e uma carcaça mais um pombo aflito pairaram no meio da estrada.
Fui…cego, nunca mais os vi…
Porém, hoje ao fim da tarde vi a Lurdes das avenidas sentada a olhar o rio…
A Lurdes sem pairar… quieta
Todas as manhãs…
A Lurdes de Lisboa, que é de Lisboa toda onde serenata o desamparo.
A Lurdes triste, sem pão, sem palácio, sem pombos sem transito…
Sem Libânio…
Que se fartou de Shakespeare, das avenidas, de côdeas, de tossir…que atravessou o rio... e foi morar para a outra margem.
 
Margem Sul

O outro lado do mundo

 
Tu és o outro lado do mundo!
Recife de corais cintilante, em sombra nos segredos cavados na alma e na terra.
O outro lado do mundo…remanso encantado de um casulo transbordante de vida a voar em cruzeiro para as estrelas mais preclaras da noite perdida sempre em tua memória.
Tivesse aqui teus jeitos delicados e a jeito seria fusão nuclear nos corpos sentidos de ter o ter, de olhar o olhar, boca a boca até nos salvarmos.
E então brotaria do ar uma orgia de Jarros, crisântemos e lírios…e tu brincos de princesa a dançar, a colher sementes de mim e se mas…me desse á morte pelo teu amor…plantaria amores-perfeitos no teu corpo regado de espuma, champanhe e rubro.
Botões de rosa florejantes pintariam a cor da paixão com Oboés cantando o verde transcontinental que consuma o desejo universal e apátrida…
Contigo, no ar...a germinar sinfonias e cantos, a chilrear Beija-Flor, colibris, no teu ser existido o aroma de amoras silvestres, framboesas e cascatas de suor, cadentes no verbo para dizer…que te amo.
Deste lado Atlântico com velas latinas na nau dos sonhos…sou pérola inquietante, com nervo e com doce olhar... os teus horizontes exóticos nomes de praias e terras de Vera-Cruz…
Tivesse aqui teus jeitos delicados…
E todo o extra-fisico, este sôfrego lema saudosista de fama e proveito se enleasse quarto crescente de lua na barriga com vida da gente feita em afectos, dilecções artísticas, obra de arte humana que transpõe a culpa e a absolvição no afago dos íntimos conhecidos e queridos…e não te precisasse lembrar…
Não te ofusques em mim distante…
Que o amor é um mar imenso de rumores intransponíveis,
afogados em saudade…
Crê em mim ao fim das horas que louco na tua ardência,
dilacero tudo o que sou no espaço da nossa ausência lacinante.
Flor mais bela do jardim onde violinos sentados te chamam menina, mulher, mãe e respeito…
O berço do teu colo é o globo terrestre, o fundo do mar, toda a via láctea e os rumos desconhecidos para onde quero viajar…viajar...
Tu és…
O outro lado do mundo!
 
O outro lado do mundo

Dança para mim

 
Olha como ela dança…
Desaparecesse o redor e sobrasse o nós dois, aqui trémulo, demoraria uma música sem som a despir suores, com lábios crestados e a saliva alisada em suco, com desejo de possuir só por fome…
Aquele desenho, aquela sombra que contorce o corpo em morenas carícias de boca, pinga nos seios rebentos que explodem carinhos nucleares na demanda do útero, subliminar, quase proibido, como o “ah se eu pudesse” em mistério, fecundar o ventre na dança do corpo.
Em enigma, a flexão da anca sobra nas coxas em vigor lascivo, vexatório, que consumiria frio nas pedras sacras de uma basílica, nos quadrículos de uma bola de cristal que multiplica promissores esconderijos do ser, em esperança de desnudar imprudente o orgasmo no encosto do queixo gemido.
Como se move…como se afaga voluptuosa em obscenos recursos feminis, em desprezos que aumentam a gula do roço molhado e genital, que embebia a língua ao epicentro do hímen, para me ceder a devorar a natureza virgem do deleite, num corpo que me dança tactos, olfactos e quimeras, num alucino de fusão e fluxos segredados em contracções que rebentam em fluidos, breves e cálidos, como a efervescência do toque.
Por isso dança…dança que a matéria corporaliza o meu delírio, em lençóis encrespados, murmúrios lúbricos, lábios que acendem o fogo do querer e se esgotam condensados no coração em palpite, a compassar almas urgentes no ritmo do amor breve, libertos de núpcias, alagados os corpos extasiados, num segundo efémero… de sentir sublime!
Desaparecesse o redor e sobrasse o nós dois, aqui trémulo, demoraria uma música sem som a despir suores, com lábios crestados e a saliva alisada em suco, com desejo de possuir só por fome…
Tu danças assim... dança, dança, dança...
Dança para mim!
 
Dança para mim

Rima do vento errante

 
Do vento que me és passado em nada te esqueço por mim.
Mel que verte chorado saudades em doce de ti.
Avenida de mão apertada, cabelo de ouro e de rio
Lágrima de onda salgada, oceano distante de frio.
Dos corpos ora apartados, houve simbiose gentil…
Afecto de olhos somados, multiplicados desvelos por mil.
Da mão invisível partida, manobra viajante de cais
Procuro teu sonho na avenida, pinto teu rosto em murais.
Digam-me então se souberem, desses jeitos que eram tão meus…
Que partiram qual quimeras de inverno, amor-perfeito em adeus.
Gelo chuva nos olhos, esmolo ao presente desfeito…
Dias em tua memória que te guardo dentro do peito.
Ainda que não voltes mais á cama dos nossos segredos
Ficarei sentado no cais desenhando esperança nos dedos.
E podem o sol e a lua dizer-me teu adeus em dor…
Para mim és fragata, falua, eterna cantiga de amor.
 
Rima do vento errante

Magnitude Absoluta

 
Tu torpor abafado, que me vaporiza a pele rosácea ás horas mortas do meio-dia eterno.
És fogo na latitude zero, poente que adormece calado no murmúrio dos Oceanos.
Acordas sempre em vagares, com mandria de majestade, a espreguiçar vaidades pela sombra dos hemisférios.
Tu és trópico de câncer o Louva-a-deus bronzeado, na brisa matinal de uma seara de trigo.
Quisesse a Lua enamorada o aconchego dos teus abraços, e viveríamos na escuridão de um fecundo eclipse.
Aurora das madrugadas estivais, clarividente sopro de luz, das manhãs claras e grandiosas.
Fotossíntese de amor e pecado, quando te deitas na terra dos Homens, a escaldar anseios e prazeres instigando nos corpos férteis um desejo febril de cópula.
Tu que és Deus queira e quem dera, do dia que vem depois de hoje…
Metáfora da calma que anseio no despoletar catastrófico dos dias que adivinho sombrios.
Na alvorada das batalhas do mundo, és sentinela da loucura humana, testemunha ocular do crime dos riachos secos a pólvora.
Mas quando, se cansam os corpos, da guerra e do labor, acalmas o tormento cósmico no armistício melancólico de umas serenas cinco da tarde.
Renasces belo…
Então criança descamisada, boca de manga fresca, a brincar num navio mercante que cabe inteiro num riso solto, no fontanário da cidade.
És-me todas as palavras, as rugas que carrego na expressão do meu tempo vivo.
Cheiras a madeira exótica, aromas continentais das viagens que nunca fiz.
Fragrâncias de outras paragens, em que oxidas tatuagens, Pau-santo, Sucupira, Jasmin...
Sol...
Nas voltas que dás á Terra leva saudades de mim aos índios da Amazónia.
Quando navegares aos círculos não te esqueças de iluminar os canteiros do meu jardim…
Não te esqueças de me olhar, passa sempre para me acordar …
Não deixes de me brilhar, nem sequer de cá passar!!!
Não te esqueças de mim.
 
Magnitude Absoluta

Afinidades

 
Ele bebia cafés…
Ela servia refeições.
Ele lia jornais e mais…
Ela arranjava razões.
Ela era feita de doce…
Ele curto e amargo.
Ela queria que fosse…
Ele, seu, ombro e amparo.
Ele escrevia papeis…
Ela trocava guardanapos.
Ele fazia poemas…
Ela lavava pratos.
Ele desprezava os segundos…
Ela contava os minutos
Ele sozinho sentado
Ela sonhava-os juntos.
Ele pagou e saiu…
Ela limpava o chão…
Ele ficou na ausência.
Ela ficou na paixão.
Ela largou o serviço…
Ele lá fora esperava.
Ela viu-lhe o sorriso…
Ele confessou que a amava.

PS:Eram hoje...sete e meia da tarde.
 
Afinidades

Rosas Ocultas

 
Perguntei por rosas ao redor de mim…
Tudo era peito.
Beijei-te nos olhos essas mágoas serenas no rosto de fímbria.
És prumo.
Pedra firme no colo dos desamparos, rumo de portos e gente inalcançável.
Por aonde navega o sangue?
Inebriamento obliquo como o som do alumínio nos teus olhos.
Hás-de ter para aí luas ditosas…
Noites de tanto e de morte como quando te recriminam os olhos a partir instantes.
Reprimes o seio e cravas de espinhos e fumos e rosas as geografias faraónicas onde escondes a alma.
No teu berço de quietude suponho os seixos do rio adormecidos no fundo.
O teu vaso é um âmago diáfano de miosótis sem morada lavrada…
Perguntei por rosas ao redor de mim…
E fosse proibido divulgar o que se oculta só eu te saberia esses infinitos castanhos que são entes supremos dos meus recantos calados.
Devoto assim coisas como cidades a inventar orações.
Os cães, as silvas, os canaviais, os postes de electricidade distantes…
E tens o longe em forma de mão e um diadema prófugo nos teus reinos de ensejo.
Qualquer que sejas, serei.
Perguntei por rosas ao redor de mim…
E fosse proibido divulgar o que se oculta só eu te saberia esses infinitos burocratas que nos fazem distância e agenda com dias marcados para regressarmos ao antes.
Ao ter…
Rosas no peito.
 
Rosas Ocultas

Evangelho segundo o desejo

 
Perla celsa,
Seta cúpida
Protesto de posse e de…
Desejo…
Oxidar teu ventre
Até registar a matriz
Com frutos de herança
Num veludo enrijado
Dos seios em ternura…
Que retumba em leites fecundos
E cheira inocentes acenos maternos.
Rebenta a vida da vida num gesto de…
Para sempre.
Comemorar o sofrimento excelso
Do útero rasgado no respiro fundo do ventre
Em contracções, distracções e estrondo de…
Prémio Nobel da maternidade.
Logo suores e gemidos negam o pecado original,
Quando por querer ou prazer
Arfa na terra a inquietação do amor.
Por isso e por muito de fé e de bíblia
Embrutece o prazer com crime e mentira de…
“Se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e
Atira-a para longe de ti,
Porque te é melhor que um dos teus membros se perca
Do que seja todo o teu corpo lançado no inferno”(1).
Ao todo humano descoberto com agua e cimento de…
Ao tribunal divino ser condenado por amar e fazer a terra redonda.
Com garras com afecto, com pecado com coito com útero ou não…
Prazer é amor que deseja outro corpo e até uma mão.
Simbiose tentada que á mão dá nada e no útero berra…
Mas qualquer um vale e é por isso que falam…
Anjos na terra.

(1) Evangelho segundo Mateus, Capitulo 5:30
 
Evangelho segundo o desejo

Não me sigas o corpo

 
Não me sigas o corpo, que esse é só um apenas entre a parecença e os baixios na geografia dos passos.
O meu torso é um busto que posa nas pernas escrivaninhas um vexame transferidor de oblíquos meridianos em pausa.
Porque fizeram estradas com dois sentidos, cruzamentos que arredam costumes aproximados e rumam os homens a planear a dor em endereços distantes…
O corpo é errado, é a alma vista de lado, o dizer do querer enviesado, um balão sem ar, o comboio parado, que engravida a terra de úteros infelizes e mulheres sós no apeadeiro onde brincam crianças com lancheiras tristes.
Sibilo longa a metragem do amor nos labirintos do não sei…
Tenho uma bomba atómica de sorrisos em utopia nos meus jardins assombrados de ser…
Mão, coisas do abraço, nódoas de arco-íris, retratos do antigamente e as casas caiadas com festas de laranja e cores vivas de lençóis queridos…
Melodias de clorofila no inverno de mentol e o Verão, a Primavera numa colcha de folhas onde se acalma o sol de Outono.
Eu durmo pelos cantos urgentes onde o sono me chora breve.
As latas de Coca-Cola, o chão dos bandidos, o rosário de beatas e papel de pastilha no terminal dos comboios…
Só há carros porque há longe…
Somos filhos dos séculos e das estradas.
Não me sigas o corpo, que esse é só um apenas entre a parecença e os baixios na geografia dos passos.
Dá-me a mão…
Renasce em mim…
Vamos fechar as rotundas e chocar olhos nos olhos…
E rir, rir…
Das multas que nos inventam, por estarmos embriagados no carrossel da vida .
Não me sigas o corpo...
Segue-me o caminho.
 
Não me sigas o corpo

Vou dançar a Polka

 
Vou dançar a Polka…
Sei que tenho de o fazer!
Tenho de desembraiar e perder a vida numa dança qualquer…Polka, Tango, Valsa…
Tenho o som assassino das palavras cruéis a fender-me no fígado.
Tenho o vómito ao pé das amígdalas a vociferar…
Escritores de Merda!!!
E vêm piegas, inocentes, com pezinhos de lã e dotes virginais, que o Pacheco ejacularia putas e escárnio se lhe perguntassem: “o que diria aos novos escritores”…
-Olha que se fodam!!!
É desta maneira que tenho as letras, pobres, pró vinho, para dançar como um escroto, vil, ordinário, que até o Pacheco mandaria apanhar no cú e ele ia, e eu ia, a dançar a Polka, a cravar vinte paus por extenso, que me dá nojo ver reduções da expressão á escala numérica!
È isso, detesto matemática e amo a Polka…vá…uma Polkazinha…vá lá…
Os carneiros alinhados em frente á Sociedade Portuguesa de Autores, com manuscritos impressos em papel branquinho e eu de cuecas na cabeça, com merda até ás orelhas a cravar um olhinho…
-Deixa-me lá ver a tua ficção científica, deixa-me provar o teu sonhozinho de merda, cheio de robots e fadas e fodas lamechas…
Sempre em Polka, em Valsa, em Fandango…
Qualquer porra que honrasse o artista, o Zé, a Maria do Best-Seller dor de corno, da paixoneta punheteira que se pensa no Liceu vá lá…um Tsara, uma Yourcenar…
Não… o que eles querem é disto, uma varinha de condão que pinga moedas mágicas, com monstros, com conspirações á Rodrigues dos Santos e á Dan Brown…sim, que essa porra do Tolstoi, do Borges e do Satre já eram…
A propósito…o Satre também era um filho da puta, mas dançava a Polka…e dançava bem o cabrão.
Certo dia que não sei de verão ou inverno disse para enfiarem o Nobel no recto, que ia dançar…Polka, Tango, Folclore…o que fosse, para deixar bem claro que a escrita não se paga, não se vende, não é ficção, nunca é ficção…
È física, a doer, a fazer bebés, a lavar a loiça, a beber ácido e a comer iogurtes…
Polka, Polka, Polka…é uma alegria!!!
Ah…depois os criativos, os cursinhos, os ursinhos, a pelúcia das letras em delicias de: “aprenda técnicas sublimes de escrever”, “Truques e dicas para disfarçar o mau jeito e acabar a fazer lindos postais de natal, de casamento, de baptizado”…escrita criativa por assim dizer…de Polka…Nada!!!
Sei que tenho de o fazer!
Dois dentes de alho esmagados uma cebola duas lágrimas.
Quem te sabe assim á beira de um tacho abatida de peito e cansaço a perder o tempo e o ser, o tempo de ser…
Sai um bitoque para uma mesa qualquer ao lado daquela onde bebo um gin tónico.
Consigo a momentos entre o troado dos talheres ouvir-te em poema, a cozinhar na língua o fel, a vapor, a pôr em banho crucificado o teu nome Maria, a venderes-te á lei da valia de um Judas Iscariotes que explora o teu corpo a suar futuros de sangue e de nada…
De avental, de touca… Maria?
Coroa de espinhos operários que sustêm suores de obra-prima, de força… e de Polka!!!
A ti ninguém te escreve, Maria…
Madalena pecadora das cozinhas…
Não és criativa, não tens uma varinha de condão, nem conspirações mirabolantes…
Até a varinha mágica te tiraram e deram-te uma colher de pau para que não possas fugir, para que não possas escrever senão refogados e lágrimas que não têm romance, nem deus nem dança!!!!
Oculto sob o avental… o teu corpo Mulher.
Como estas outras que estão a meu lado tão fúteis como um verbo de encher…
E tu a encheres…panelas e pratos, terrinas, travessas…a encher o dia, que te vai levar de novo á cozinha, á algazarra dos putos, ao hálito etílico de um Cristo que carrega baldes de massa em força de pão para a última ceia.
Dois dentes de alho esmagados uma cebola duas lágrimas.
Vejo-te com uma faca na mão e queria-te a rasgar o destino, a rasgar o avental, a touca, o patrão de alto a baixo, esses empreiteiros porcos que babam pelos queixos nódoas de gente…rasgar estas gajas de lábios pintados e meias de renda que sobem na vida a entesar o pau sem pegar na colher.
Rasgar-me a mim, espetar-me como gin tónico no focinho e verter na humanidade um cálice de lágrimas de coragem…depois…confessares-te Maria.
Sei que tenho de o fazer!
Confessares-te ao mundo debaixo do avental, confessares o tempo e o ser, o tempo de ser…
Mulher.
E para nunca mais teria de ouvir poemas de doce, romances de açúcar, só passos, de Polka, de Tango e de Valsa…
Tenho de o fazer…
Depois aos grupinhos, ás tertúlias, a brincar á democracia das letras com peregrinações á primeira hora das editoras, a prostituírem-se a querer vender banha da cobra, Harry Potter’s, guerras das estrelas, coisas de gajas na meia idade…fodasse pá e a Polka pá…
Eu que me foda é?
Está bem mas…mas mando-vos todos bardamerda, Pessoanos e Camonianos e Lobo Antunianos, e Saramaguianos…
Que não me vendo pá…
Danço Polka!!!
A propósito…a Polka é uma dança?
Que se foda a Polka…o que eu quero é dançar o meu lápis até ao cadáver dos dedos!!!
Tenho dito!
 
Vou dançar a Polka

Sem penas para voar

 
Se a minha pena fosse lágrima
Soluço de breves letras
Gritando o poço da alma.
A tinta dos meus segredos
Libertaria os medos
Expulsos numa folha calma.
Minhas lágrimas fossem penas
De ditas expressões pequenas
Ao acaso em dias vãos
Não teria com certeza
Guerras escritas de incerteza
Chorando lágrimas nas mãos.
Se as letras fossem beijos
Páginas soltas de desejo
Esvoaçando linhas amenas
A tinta das minhas lágrimas
Desenhariam vidas mágicas…
Nunca escrevia com penas.
Fossem poemas o mundo
Sem carvão cinza e imundo
Ou ferida aberta que sangre
Minhas penas voariam
Num azul em romaria…
Não escreveria com sangue.
 
Sem penas para voar