Trago-te em mim...
Trago-te em poema
que decifro em meu olhar,
que sinto ao versar contigo
em palavras que não digo,
na emoção que solto ao vento…
Pudera eu sentir nesse momento
o leve sopro alado do teu doce respirar.
(Rui Tojeira)
In \'Horizontes de Silêncio\'
...
Se me sinto esvaído e meu olhar se turva,
se esbarra num breu, que me fica defronte,
nas margens dos dias em que não sei ser eu…
Preciso ser poeta, arquitecto de sonhos,
que traço numa curva, para lá do horizonte.
(Rui Tojeira)
Madrugadas
Havemos de cinzelar outras manhãs
novas ânsias, outros planos e segredos
ainda havemos de ser almas de Titãs.
Reinventar esperanças de mãos dadas
e deixar romper o tempo entre os dedos
pintando as noites e dias, de alvoradas.
(Rui Tojeira)
Nas esquinas do tempo, que soçobra...
Nas esquinas do tempo, que soçobra…
Uma eternidade me cria e me consome
num voo rasante adejando a imensidão
sonho que beija a sombra das palavras
em pensamentos inundados de memórias
nidificadas em fios de mágoas e de glórias
pelo amor que me vai escorrendo pelo chão.
(Rui Tojeira)
Posfácio
Horizontes de silêncio
amanhecem nos meus dedos,
nesse olhar de olhos cegos,
que abarco no insano intento
de deambular contra os medos.
Palavras que a solidão abraça
no deslumbre do momento
em que o tempo me trespassa.
Dádiva fremente que me urge
pelo burilar subtil do substrato,
no exacto instante da nascente,
onde à flor da pele o verso surge
e me lança ao sonho p’la corrente.
(Rui Tojeira)
In \\\'Horizontes de Silêncio\\\'
http://www.bertrand.pt/ficha/horizontes-de-silencio?id=16118032
E eu viageiro de mim...
Tenho pressa de não ter distâncias,
de me encontrar frequentemente
no remanso da minha mansidão.
A espontaneidade é que me guia
pelo imprevisto dos caminhos
rumo a uma qualquer direcção…
No tempo
no espaço
que traço
num frenesim,
cá dentro
no pensamento
num encalço
fora de mim.
Por sendas e veredas me comovo
Num espanto de vida e de magia,
neste bem querer, de navegar…
(Por estradas calcorreadas e gastas
não há mais nada para inventar…)
Principal, é a boa companhia
é um bom senso comum
na atitude de caminhar.
Perceber que os ensejos
me levam a qualquer lado,
e eu sou de qualquer lugar.
(Porque o meu destino
é não ter destino nenhum.)
Imprescindível, é o chegar…
É o regresso acolhedor e aconchegante.
Onde bem longe da minha incoerência
preciso pôr a salvo qualquer imprudência.
Aqui onde tudo acontece, ora e doravante.
Onde deambulo em ti num doce adejo,
a esmo dessa inocência premente e nua,
dentro do teu mais apetecível desejo,
onde por ti me perco, em ti me desfaleço
e por ti renasço, de uma carícia tua.
Onde se afigura, que nada é impossível,
neste cosmos cingido pelo sol e a lua.
(Rui Tojeira)
In - Entre Ventos e Marés
Entre Ventos e Marés
Não delates nunca o que vejo
se abarco os sentidos no olhar!
O que pressinto e que antevejo
é muito mais do que o desejo
de que só eu consigo imaginar.
Sente o rumor desses silêncios,
que serpenteiam suavemente…
Eu sou o fio manso da corrente.
Sou coração de imensidão de mar,
sou olhos de chuva a transbordar.
Sou esboço mesclado e abstrato
escultor de sonhos em rochedos,
actor principal dos meus segredos.
Desenho palavras de lés a lés…
E construo castelos de areia
perdidos entre ventos e marés.
(Rui Tojeira)
in 'Entre Ventos e Marés'
Sonho Contigo
Sonho Contigo…
Porquanto são os sonhos concebidos
no épico domínio do sagrado,
onde não há ofensa nem pecado.
Porquanto em sonhos são permitidos
todos os intuitos e desejos,
cinjo teus encantos de carícias
cubro todo o teu corpo de beijos.
Rui Tojeira
Um abraço a todas as mulheres
És tu quem me enche a casa
de ternura e alegria
és tu o meu cordão umbilical
regaço de vida em cada dia.
Tu que não és sequer a flor do meu jardim,
pois se todos os jardins se abrem em flor, por ti.
(Rui Tojeira)
Perdido de ti
Perdido de ti...
Consomem-se-me inglórios os meus dias
arrastam-se-me as horas pesarosas
por entre os meus murmúrios suspirados
carregados de uma ausência em ferida
pelos cantos magoada e pressentida
feita de prantos por todos os lados.
Quebranta-se em mim o discernimento
e pesam-me as palavras que não digo,
consoantes em silêncio no meu peito.
Ajeito a minha cruz ao firmamento
e grito suplicando, estarrecido,
por ti que és minha luz e meu alento.
Lá fora os lobos uivam o meu lamento
e a noite veste-se de teus semblantes,
confesso-me mendigo do teu corpo
e proclamo-te deusa dos desejos
e desejo-te presa nos meus beijos
na estonteante loucura dos amantes.
(Rui Tojeira)