Poemas, frases e mensagens de BláBláCharles

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de BláBláCharles

Números

 
4 anos.
9 meses.
46 Cromossomas.
48 Horas
De 15 em 15 dias.
 
Números

Vamos Brincar

 
Anda...
Vamos viver ao faz de conta!
Brincar à realidade.
Praticar todos aqueles verbos
Que são só atribuidos a uma certa idade.
Vamos ser presidentes de multinacionais.
Sem-abrigo que se aquecem com jornais.
Vamos abusar dessa tão nobre frase
Em que somos todos iguais.
Iguais
iguaizissímos
igualérrimos
Igualoides.
Vamos brincar o outra brincadeira qualquer...
Vamos?
 
Vamos Brincar

Ataraxia

 
Não chega que os pássaros cantem,
Não chega que o sol nasça,
Não chega a matemática e a sua exactidão.
Não chega os sorrisos de quem por nós passa,
Não chega a arte, nem a inspiração.
Não chega a antiga Grécia e muito menos os romanos.
Não chega a fé na cruz ao fim de tantos anos.
Não chega o oriente e o que ele nos traz de diferente,
Não chega outras culturas, não chega outra gente.
Não chega a geografia e os pontos cardeais,os quatro elementos são todos iguais.
Não chega odores,não chega texturas,
Não chega louvores, nem chega loucuras.
Não chega o amor, não chega o absinto,
Não chega o que finjo nem chega o que sinto.
Não chega a filosofia, a metafísica e o saber,
Não chega estar vivo, não chega morrer.
E por mais estranho que possa vir a soar,
Bem que me chega tudo isto não chegar.
 
Ataraxia

O Alpendre

 
A minha vida sempre foi uma daquelas fases
Em que nada se espera.
Onde se vê a vida a acontecer.
Mas também não se desespera
Está-se somente para se ser.
É estonteante a velocidade
a que os dias passam nestas fases.
Onde metaforicamente
Me encontro numa cadeira de balouço
No alpendre de uma velha casa vitoriana.
À espera de quem vem
À espera do que vem
E vou balouçando
Na minha cadeira também ela velha
Ao ritmo da rotação da terra.
E sempre me lembro de mim assim….
…à espera.
Porque razão me sinto eu mais velho do que esta velha cadeira!?
Do que esta velha casa vitoriana!?
Do que o lugarejo onde moro!?
Do país onde este fica!?
Do continente, planeta, galáxia, universo,
neste alpendre onde sou
Errático
Sozinho
Cobarde
Indiferente
Mas acima de tudo…. Intemporal!?
No balouçar desta cadeira que range
Na minha batida cardíaca que também ela já começa a ranger
 
O Alpendre

À Revelia

 
.... Vou-vos sussurrar entre cada
virgula e reticencias,
enquanto quem escreve está a pensar
no que escrever.....Tudo que
até aqui já foi escrito não era para ter sido,
porque quem escreve consta que em ideias está perdido...

...Decidi então "escrever-me a mim mesmo",
estou farto de obedecer a hierarquias biológicas....
Cérebro...
Musculo...
Mão...
Dedos...até chegar à caneta e por fim ao papel.
Acabo por ficar sempre aqui nu e exposto
a qualquer "manuel"...

....Desta vez decidi emancipar-me,
às lamurias e gargalhadas desse senhor que me
costuma escrever e que eu mal conheço...
...Muitas das vezes veste-me aqui com frases e
e pontuações, que até eu próprio não me reconheço...

....Vou andando...fiquem bem.....parece que uma ideia
surgiu.... Mal possa hei-de me grafitar outra vez...
Um texto que nunca ninguém viu.....
 
À Revelia

Amo-te Mais ou Menos

 
Amo-te mais ou menos.
Amo-te mais se souber
que também me amas.
Que me queres dar beijinhos.
Fazer-me festinhas,
passear de mãos dadas comigo.
Amo-te menos se não quiseres nada disto.
Se já tiveres a quem dar outros beijinhos.
Se a cabeça de outrem já tiver as tuas festinhas.
E já andares por outras ruas
de mãos dadas com um qualquer imbecil.
Amo-te assim ...
Umas vezes mais, outras vezes menos.
Amo-te assim mais ou menos.
 
Amo-te Mais ou Menos

"Dilaceramo-te"

 
Um dia hei-de me vingar por te amar assim desta maneira.
Amo-te com a violência de quem espezinha o inimigo caído no chão,
esmagando-lhe o crânio alternadamente com os calcanhares.
Amo-te com o pânico de quem foge pelas ruas atulhadas de gente
de pistola na mão com os olhos arregalados de medo.
Amo-te com o desespero de quem procura uma saída,
de uma central nuclear em iminência de explodir.
Amo-te com a degradação dos guetos apinhados
de heroinómanos que furam vezes sem conta as suas já podres jugulares.
Amo-te com a promiscuidade daqueles que dizem representar Deus
mas que nos confessionários se deliciam com o sexo oral dos jovens catequistas.
Amo-te com o silêncio de cortar à faca das salas de doentes em fase terminal
por esses hospitais mundo fora.
Amo-te à biqueirada,
Ao pontapé
Ao soco.
Amo-te á joelhada,
Á bastonada.
Amo-te apocalipticamente
Amo-te á queima-roupa..
...amo-te a sangue frio.
 
"Dilaceramo-te"

A Medida do Meu Ser

 
Sou muito…
Uma imensidão.
Sou zero multiplicado
por um milhão.
Sou um astronómico resultado
De zeros e nadas.
Sou historia.
Sou conto de fadas.
Sou o que há dentro
De uma caixa vazia.
Sou o hipotético se
Do verbo diria.
Sou o prelúdio
De outro qualquer compasso
Por acontecer.
Sou o prefácio
De um livro ainda por escrever.
Sou muito.
Uma imensidão.
Sou sim
Quando é suposto ser não.
 
A Medida do Meu Ser

Nunca

 
Que repetitivo nunca é este
Que nos sai da boca vezes sem conta
Tentando justificar que tudo que fazemos
não é o que somos sempre que o proferimos!?
O nunca é uma palavra-remendo.
Só tem real peso
Quando a sabedoria popular
Nos diz para jamais a verbalizarmos.
Palavra-correcção.
Bengala dos verbos precipitados.
Mas toda a vida é precipitada e
Vivemos em constante espontaneidade,
Uma historia nunca ensaiada
Na qual nunca teremos o luxo
De poder nunca dizer nunca.
 
Nunca

A Forca (Amor Próprio)

 
O amor não tem limites.
Até o homem e uma corda
podem dar o "nó".
 
A Forca (Amor Próprio)

Metade do que Sou

 
Tudo me leva a escrever.
Um poema que li,
Uma imagem que vi.
Um barulho de fundo,
Uma música que ouvi.

Um motor de um carro avariado,
O relato da bola na rádio.
O trocar de um pneu furado,
Ver um derby em pé no estádio.

O tacto o palato e o ouvir,
A visão o olfacto e o sentir.
Estar em pé sentado ou deitado,
Tudo me traz a este estado.

Que é um estado metade-real,
Um incentivo para que possa escrever.
Na verdade talvez seja outra coisa,
Que se assim não fosse eu não saberia ser.
 
Metade do que Sou

Chove Muito em Todos Nós

 
Qualquer distúrbio mental
só se evidencia
Quando o inconsciente ameaça
monopolizar o consciente
pelo peculiar inconformismo deste
Não há nada que destrua mais o homem
Do que o facto de não saber algo
Ou de ainda não o ter descoberto.
Neste processo de ignorância
Jung tinha razão
O consciente para se defender
De um atropelamento de informação
Abre as portas ao inconsciente
Até que este estabilize
(como uma barragem hidráulica em dias de muita pluviosidade).
Por vezes pelas formas mais estranhas
incoerentes, animalescas e por aí adiante.
Essa despejada informação
é conduzida a um enorme aterro
Onde por obra do acaso
Poderemos encontrar algo realmente valioso.
Em termos estatísticos tal equivale
à vinda de um messias
À explosão de um big-bang
A tornar falsa uma conjectura de Goldbach
À Loucura.
 
Chove Muito em Todos Nós

Um Lirico Idiota

 
O Poeta é uma designação fonética e gráfica
que tenta transportar a ideia de alguém mais complexo comparativamnte ao ser humano normal.
Um ser com uma linguagem bastante articulada
e com uma capacidade de sintese unica, usando a métrica o som e o conteúdo do que escreve para "desvendar" emoções. Todos nós sabemos que
por vezes não há, ou se há é muito limitada, linguagem para certas temáticas,onde as emoções estão incluidas. Mas também as cores tão incluidas. Temos muito pouca linguagem para cores.
Eu prefiro ver o "poeta" como um ser racional sempre pronto para o desafio de dissecar a linguagem para atingir o seu unico fim: Comunicar, do que ser um idiota que anda em espiral há séculos a tentar embelezar o que por si já é belo seja ou não escrito ou descrito. Talvez o poeta seja somente um Lirico idiota.
 
Um Lirico Idiota

Paradoxo

 
Não escrevo sobre amor
porque o amor não pode ser escrito
Não penso no amor
porque o amor não pode ser pensado.
Não digo a ninguém "que o amo"
Porque o amor não pode ser verbalizado.
Um pintor certamente não pinta o amor
porque o amor não pode ser pincelado.
O escultor tem a mesma incapacidade
porque o amor não pode ser esculpido
Não posso morrer por amor
porque o amor perdurará
muito tempo depois da minha morte.
O amor para nós seres humanos
È só e unicamente sentido,
Preso numa cela linguística
Até alguém descobrir a palavra-chave.
 
Paradoxo

"Self-Service"

 
Dê-me uma fatia
de poesia (por favor)!
Detesto este tipo de dia,
Em que por falta de magia,
A inercia toma conta
De tudo aquilo que eu faria....
....Detesto este tipo de dia...
Dê-me uma fatia
de poesia(por favor)!
 
"Self-Service"

Catarse

 
Por palavras, por tinta entre momentos,
Tornam-se orgânicos os pensamentos,
E a ditadura da escrita arrasta-me
novamente para este lugar.
Soldados de infantaria,palavras que jamais diria,
Marcham na métrica, no tempo, numa demanda à sonoridade.
São como um povo oprimido, em busca do exílio.
Anseiam no horizonte de cada folha em branco,
A vista de outra costa qualquer.
Barcas remendadas, frases atropeladas,
Ideias apavoradas, à espera do que vier.
Mortes cansadas, por não terem cemitérios,
Verbos exumados, sacrilégios editados,
Fins por acabar.
Mortes cansadas por não terem funerais,
Todas elas iguais.
Todas elas iguais.
Mortes abandonadas, sem terem sido pesadas,
Todas elas cansadas.
Todas elas cansadas.

Esta vida por autópsia, não tem onde morrer.
Ou limita-se a ser escrita, ou sujeita-se a escrever.
 
Catarse

"Carnatal"

 
O Carnatal está quase aí à porta
ponham as máscaras da concordia
Tudo que se fez ou não já não importa
Paz Amor Mesiricordia.
Vamos comemorar ao som da martelada
dos pregos cravados nas mãos e nos pés
desta efeméride talvez por nós inventada
que sustenta um astronómico numero de fés.
A arvore o presépio e as chicotadas,
A meia na lareira com os presentes e a coroa de espinhos
O sangue e as luzinhas pelas ruas espalhadas,
A traição as melodias e os sininhos.
Tenta-se então salvar todo o resto do ano:
Quantos Gigas teria hoje a cruz de Cristo?
Teria hoje vindo a sua coroa com wi-fi?
Toda e qualquer crença hoje é crackada
E o Carnatal sempre vem e sempre vai.
 
"Carnatal"

"Já Há Mais"

 
Eu nunca serei um escritor
PrOPicio a gás
PrOPano, pois recuso-me a pagar
PrOPinas.
 
"Já Há Mais"

A Eterna Vaidade

 
O homem não quer só flores na sua campa.
Quer o eterno pesar da sua ausência.
Não quer só o comum luto na nossa roupa.
Mas sim naftalina na nossa memória.
Quer nos inconformados
Quer-se em nosso pensamento
Onde o intelecto ousa a discórdia
Com o terceiro mandamento
Quer que questionemos
Toda a nossa existência
Que espremamos a nossa fé
Que espremamos a nossa ciência
E quando por fim nos apercebermos
Que em resposta alguma encontraremos paz
Engolir-nos-á a nossa angústia
De não poder voltar atrás.
E então choraremos ás escondidas
As lágrimas conseguidas entre nós
Chorá-las-emos sempre.
E esta é a única forma
De o homem se eternizar
Na memória de outros homens
Pela obra que criar.
 
A Eterna Vaidade

Higiene Intelectual

 
Escrevo para me purgar
Meto os dedos à garganta da existência
E vomito o alfabeto
Para aliviar esta azia metafísica.
Acontece-me escrever
Quando não me encontro distraído
Quando estou de vigília
De guarda ao que por mim não passa,
Ao que em mim não acontece.
É como uma carência de uma proteína qualquer.
Uma anemia por falta de glóbulos verde esperança,
Cuja sintomatologia consiste numa dor reflexa
Que vai desde o meu Córtex Frontal
Até ás discussões familiares dos vizinhos de cima.
Tudo me incomoda neste estado
E por isso escrevo.
Já devo ter o esófago queimado de tanto escrever.
E por isso escrevo.
Já devo ter um aneurisma na aorta de tanto escrever.
E por isso escrevo.
Já devo ter um enfisema pulmonar de tanto escrever.
E por isso escrevo.
Escrevo porque o corpo me pede
Porque o espírito me suplica
Mas Acima de tudo, escrevo por higiene intelectual.
 
Higiene Intelectual