Preenchi Tua Metade
Preenchi Tua Metade
Desejo preencher a tua metade
Pois, sem ti sou menos do que desejo
Pois, sem ti sou um todo perdido
Desejando tornar-me inteiro
Sem ti sou mentira e quero ser verdade
Sem ti sou apenas sonho e quero ser desejo
Vi em ti meu sonho, andava perdido
Tu fizestes de mim um ser inteiro
Sou um canto de saudade, de verdade
Uma esquina que se esconde, no desejo
Uma rua às escuras, ando perdido
Se tua luz me ilumina, fico inteiro
No teu colo sinto o calor de verdade
No teu semblante vejo todo o meu desejo
Uma parte de ti deixa-me perdido
Outra parte de ti faz-me inteiro
Percebi que faltavas todos os dias, de verdade
Eras tudo o que eu queria, meu desejo
Sem ti, estou sempre todo perdido
Deixa-me te amar, faz de mim inteiro
Repartistes comigo toda a verdade
Enchestes meu coração, com teu desejo
Dividistes-me ao meio, fiquei perdido
Destes o teu corpo todo inteiro.
Contigo sei que o meu amor é verdade.
Sem ti sou menos da metade, só desejo
Sem ti sou de todo um ser perdido,
que só tu tornas inteiro.
Dá-me teu lábios, beija-me de verdade
Sacia todo o meu desejo
Preenche este vazio perdido
por ti, vem preencher, fá-lo inteiro.
João Garcez
2023/09/15
Imaginárias, arraiais, momentos
Ausência
Por teres estado ausente e cansado {sedento de mim}
Por teres estado perdido nessa mente
Por teres sentido viver em corpo estranho {longe de mim}
Por o pânico de tal confusão te exceder
Por isto acontecer entre excessos de pensamentos {não me esqueces}
Por isto te transportar para loucas sensações
Entre vivências estranhas e sonhos deslavados
Desossado e entre tons de adágio
Concertado entre harmonias vibrantes
Pára, respira e vive
esses acontecimentos sentidos {se os desejas}
Vai, vence esses obstáculos. {se tens coragem}
Quer sejam reais ou resquícios insignificantes
Destemido vence obstáculos imaginários
Conquista teus sonhos se ousas desafiar a vida….
Por isto acontecer entre excessos de pensamentos
Excessos de pensamentos, quais escritos alienados
entre pinturas imaginárias ou arraiais
arraiais furtivos e deslumbrantes,
perdição de sinapses incandescentes
Por isto me transportar para loucas sensações
por isto me levar a momentos de loucura saudável
por isto me conduzir a vivências estranhas
e sonhos nunca ousados em vida
por isto ser um momento de emoções vibrantes
Paro, respiro e vivo com enorme alegria
os bons momentos que a vida me presenteia
e me fazem suster a respiração!!!
Há dias e momentos que gosto mesmo muito!.......
E digo e penso e sinto
Excessos de pensamentos, são como escritos alienados
entre pinturas imaginárias e ou arraiais,
arraiais furtivos e deslumbrantes…
Páro e vivo
Procurando-te….
João Garcez, 2017/02/16
Amor meu
Amor meu!
Desisto! Desisto, porque não posso mais viver na ilusão de um amor que não existe. Esperei por ti noites a fio enrolada em lençóis gelados, tremendo de medo na escuridão. A luz que me iluminava era tão só o luar onde se reflectia a esperança do instante em que regressarias. Não sabia de onde vinhas, mas vinhas. Quando chegavas pela madrugada dentro, só o gelo da tua ausência permanecia. Eu, ora cansada, ora desejosa de te ter a meu lado, aceitava-te de volta e amava-te, amava-te perdidamente. Em cada dia que passava renovava a esperança no nosso amor que invadia a minha alma de alegria, aí encontrava a força que me fazia acreditar em ti.
As flores, que me oferecias, eram a semente de uma ilusão, que plantava no jardim do nosso amor, que regava diariamente com as lágrimas da tua ausência e que ia crescendo lentamente.
Era tudo ilusão…
Os teus sentimentos por mim eram como uma brisa que soprava quando te reaproximavas. No teu regresso, eu era apenas a pedra da calçada que pisavas. Nada mais.
Os lugares que juntos calcorreamos nesses loucos desejos, nada te dizem, sei agora.
Vivi durante estes anos na ilusão do teu regresso, na ilusão do teu amor. Nas paredes do quarto via reflexos dos meus pensamentos enquanto esperava por ti, em vão.
Decifrei nesta ilusão que tudo não foi senão um sonho, semeado em mim desde o primeiro olhar. Cresceu, viveu e volatilizou-se.
Os meus loucos desejos foram quimeras. O tempo desvaneceu todo o calor do meu coração, que era teu. Os teus sentimentos evaporaram-se como a água no lume. Ousei prolongar meu sofrimento nesta agonia pelo nosso amor, aumentando a cada dia esta solidão em que me prostraste.
O meu amor por ti cegou-me. Desaparecerás definitivamente dos meus sonhos.
João Garcez
Lembrança
Lembrança
Só acontece traduzir palavras [ ….lembranças não]
Só acontece escrever palavras [….sentimentos também não]
E transportando sedentas sensações entre ousados traços
de loucura saudável…[imaginária]
Entre paisagens de incontornável beleza
E precipícios de encantos inusitados
Em apneia prolongada traço
Reproduzo os contornos imaginários
Da tua alma
De cada sombra que resta de ti
De cada penumbra que ousei descobrir
De cada presente que pude te oferecer…
E ainda hoje
Neste recanto de solidão
Sinto e saboreio cada uma das tuas palavras { imaginárias}
Folheio cada página desses espaços vagos
E nesta contenda pertinaz de letras
Guarnecido e perfumado pelas imagens
Devaneio entre ideias quiméricas
Polvilhadas de doçura e esperança { …sonhos…}
De deparar com um deslumbrante cenário revelado
Ousado e discreto
E nesse passeio solitário
Te reencontro num cais
Apeada
À minha espera
Deslumbrada
Pela quimera.
2017/02/12, João Garcez
ATITUDE
A ATITUDE
Foi na altura certa para afirmar a posição de pai. Tinha sido derrubada a autoridade naquele momento preciso, tomar a atitude que se exigia era imprescindível - agora ou nunca.
O Toninho tinha dormido, em casa, com uma amiga. Não dizer nada antes aos pais era imperdoável, violava os princípios basilares de tradição bem como a ética familiar e, por isso, merecia repreensão maior.
- Realmente, não tínhamos dado por nada. Durante a madrugada, apenas ouvimos uns rugidos estranhos. Pensámos serem dos novos vizinhos. Pareciam demasiado perto, eram novidade. Entre um baloiçar estranho e ritmado do candeeiro, uma música semi-arrepiada de ventríloquos suspensos em cadência, qual música de banhos turcos em outono frio – sem cheiro a eucalipto, obviamente.
O ruído durou o tempo suficiente para orar pelas desgraças mundanas, rogando ao senhor pela remição dos pecados.
-Reprovo a escravidão do corpo e todo o homem que troca a graça espiritual pela platitude mundana. Com a aurora o ruído terminou.
Ao almoço, apareceu de súbito uma cadeira extra à mesa, comandada pela mão da mãe. Sentei-me e, entretanto, irrompeu naquele momento na sala uma trintona, de peito robusto, cara pontiaguda quebrada por um cabelo loiro e sedoso, que escondia sob ele umas sobrancelhas espetadas, assemelhando-se a pregos negros e finos milimetricamente dispostos, como que protegendo os olhos do reflexo do mar em dia de sol que - tapava a vista da TV.
Interrompi a garfada que ia comendo de salada de alface, misturada com agriões, que tinha colhido na ribeira da freguesia, enquanto ouvia as águas límpidas e cristalinas a quebrar nas rochas mansas. Olhei novamente absorto para aquele pedaço de mulher e recordei o alvoroço daquela madrugada. Meu filho estaria mesmo perdoado?
E diz a mãe com voz de predestinação.
- Há que postergar as atitudes dos filhos e apoiá-los.
JJG, MARÇO 2016
De que são feitos os dias
De que são feitos os dias?
Os dias são feitos de poesia
Ou de uma conta de somar
A que soma mais uma alegria
Que alguém nos tem para dar
Ou de um abraço perdido
Que surpreende pelo calor
Ou um beijo muito querido
Que se dá por amizade, por amor
Numa manhã de nevoeiro
Ouvindo os pássaros cantando
Tenho a alegria de ser o primeiro
A ouvir a natureza salvando
Ou a música da viola
Que me preenche logo de manhã
Ou a melodia que consola
E que torna a vida sã
Ou o desejo de ver
Quem nós mais amamos
A entrar pela porta e dizer
Olá como estás, já chegamos
Ou pelo desfiar dos dias
Em que os sonhos se vão realizando
Que surgem como mordomias
Que a vida nos vai presenteando
E afinal de que são feitos os dias?
Uns a fazer cálculos rebuscados
Que mal se conseguem entender
Que escondem regras do saber
E por isso são mais complicados
Outros a escrever poesia
Que encanta só de ler
São uma imensa minha alegria
Quando consigo escrever
Finalmente uma palavra de apreço
Por tudo o que fazem por mim
A todos sinceramente agradeço
Uma imensa gratidão que não tem fim
Valsa de dor
Valsa de dor
A chuva bate devagar
Na vidraça que sofre molhada
A húmida saudade da tua fala
As cordas da tua voz soam em mim
Como ecos de um tempo, ainda, presente
Qual valsa bailando de dor
Perdida nos balanços de uma dádiva
Entre memórias que não desfalecem,
Porque só as vãs se esquecem.
Em cada gota que escorre
Há uma lágrima que se espalha
E que o rosto disfarça
E que entre rugas se entranha
Com a força da tristeza
As palavras que largam dor
Traem a tristeza que encobre
Os dias que fogem de nós.
São sonhos perdidos entre noites de insónias
São desejos sentidos como fogo
É um poema apagado
São segredos revelados encostado a teu lado
Numa imagem que perpétua o passado
É a chuva que continua a cair
Ali do outro lado,
É a vidraça que está a fingir
Que tenho meu ombro encostado
E estou embaraçado
Porque tinha o poema apagado
E te oiço aqui a sorrir
Devagar começo a tocar
A viola a tocar
será que te estou a sentir?
E chuva há de parar
Quando teu rosto beijar
E a valsa contigo dançar
E a tristeza libertar
Num sorriso de espantar.
João Garcez, 2018/04/17
Como acordas
Como acordas
Acordastes bem hoje?
Ou acordastes como todos os dias...
Sentimentos assustadores? Não? Pois não.
Acordastes cheia, sabes que me tens sempre.
Acordastes vazia? Vazia de sentimentos? De emoções?
Querias-me a teu lado? Era isso.
E eu queria lá estar.
Dava-te o alimento como mais ninguém te deu.
Enchia-te de emoções como ninguém te encheu.
E chegado aqui estou encantado, sabias?
Estar a teu lado é sentir uma maresia
Uma frescura e uma leveza de vida
Tu, que pé ante pé fizestes crescer esta floresta de emoções.
Entendi tudo.
Pode-se ser muito, sendo-se nada.
Pode-se dar tudo, sem pedir nada.
Pode-se estar perto, sendo de longe.
Pode-se abrir o coração, estando fechado nas suas emoções.
Pode-se dar a conhecer o nosso mundo, sem escancarar a intimidade.
Pode-se entrar devagar, ficar e deixar marca profunda.
Mais profunda
do que as palavras deste poema,
Que dia a dia cria novo tema
E de alegria me inunda.
Coisa mais profunda.
João Garcez, 15 de Dezembro 2015
Porque nunca me esqueci de ti?
Porque nunca me esqueci de ti?
Penso em ti em cada segundo
Porque nunca deixastes de existir
Fazes-me sentir bem profundo
A razão, a alegria, a esperança no porvir
Saboreio teus desejos mais profundos
Vagueio entre sonhos de saudade
Aconchego-me nos desejos mais imundos
A solidão é o espaço de liberdade
O desejo tira-me o respirar
Mergulho no profundo do teu ente
Mais que nunca oiço o tilintar
Do coração que abraço fortemente
Quando a palavra soa a espaço
E sinto o teu mais profundo respirar
Todo em ti eu me desfaço
Tudo me tiras, quando acabastes de dar
Quando esqueço que existi
Lembro o sorriso que é teu
Deus sabe tudo quanto vi
No teu coração que é meu…
2018/02/17
À espera
À espera
Estou à espera
Que esperas tu?
Que fujas de onde estás presa.
Que sejas o que queres ser.
Que não faças a vida esperar.
Vai faz a tua vontade.
Entrega-te ao teu desejo
Mata a esperança declinante.
Ousa ter,
Usufrui do que a vida te dá.
A vida escoa-se
Anda, vem daí.
Estou à espera.
Posso esperar?
Sei que não queres, mas espero.
Estás bem, confortável,
na poltrona revestida de encanto e júbilo.
A vida chama por ti.
A vida está em chama.
A chama não é eterna.
Sei que não queres,
desespero não sei quando desisto.
Mas resisto!
Onde espero?
Posso esperar?
A vida chama por ti.
Espero aqui, acolá ou além?
Espero bem perto de ti.
Não vês, sim eu sei.
Não me vês à muito tempo.
Gostas de me ver?
Quero estar perto de ti.
Leva-me contigo, se queres.
Queres mas não podes
Desejas mas estás indecisa.
Sabes o caminho?
Então vem
Saboreia o caminho
Deixa que este sonho permaneça,
e desfaleça em teus braços.
Deixa-me ouvir cada palavra
deste amor impossível.
JJG
2021/06/05