Na palma da minha mão
Na palma da minha mão
há o reflexo lapidado de um olhar,
desse olhar que se perde
no interstício da alma minha,
há um tudo e um nada, como a vida que desliza
na ponta da asa de uma gaivota cega
Na palma da minha mão
há um sonho, uma estrela dançante
num olhar gotejante
de corpúsculos cristalinos de sal,
torrente fluindo num pedaço de mar
do teu mar, pertinho de ti
Na palma da minha mão
tatuado a lume e lágrimas,
há um diamante, enobrecido pelo tempo
um tempo vão… forçado… o teu
Na palma de uma mão
na lonjura das vagas marinhas, sem nexo…
há um olhar vazio….. falho de algo...
de mim
Escrito a 31/05/10
Tempo vagabundo
Com a impotência algemada à alma
e as mãos calejadas de acariciar
o vazio do eco arquejante
lavro na pedra barrenta
do destino
um outro olhar,
um outro caminhar
Com a firmeza de um sem abrigo
semeio na alma as flores do desejo
desse desejo que me faz crente
e na berma da estrada
visto-me
dos minutos e das horas do tempo,
desse tempo
sem tempo p`ra mim
A impotência permanece
na ardência da alma nua
e num impulso de puro
atrevimento
exijo ao vagabundo do tempo
um milésimo de tempo
por fim
Escrito a 30/12/09
Como uma rosa Azul
Queria ser como a rosa azul
Viver meramente um dia
Ser a tua primavera, o teu Verão
O teu Outono, o teu Inverno
Sentir a fragrância da tua pele,
Tuas mãos docemente no meu rosto
Com a macieza das pétalas azuis.
Sentir o prazer de ser especial
Somente um dia, que importa
Como a rosa azul
Afogar a saudade no sabor do teu odor
Saciar o sonho perdido num olhar ardente
Mergulhar na limpidez orvalhada
Que afaga as tuas pétalas imortais
Diluir–me na imensurabilidade de ti
Um dia, uma vida, uma eternidade.
Morrer e renascer como a rosa azul
Escrito a 2/11/08
Sou ninguém
Sentes a suavidade da brisa
roçando o teu semblante,
nas madrugadas pardacentas
deste Outono que chega?
Sou eu que te afago
Sentes os ruídos imperceptíveis,
daqueles que se cruzam contigo
na alameda da vida?
Sou eu que falo de mim,
para que te compreendas a ti
Sentes o gotejar da chuva
escorrendo no teu corpo cansado?
Sou eu que acaricio os poros da tua alma
Sentes a vida que por ti passa?
saúda-a com um sorriso,
mesmo que ténue,
contempla-a e em pequenos goles
sorve-a, bebendo na fonte translúcida
e voa para a plenitude de ti
Porque foi comigo que te cruzaste
na distancia de mim, num tempo qualquer
Sentes? sou ninguém
mas estou aqui, sempre aí
aconteça o que acontecer.
Alma poetica
Palavras esculpidas
em papel inerte
pedaços da alma poética
de quem padece no corpo
a dor transcendente dos mortais
absurdos, bárbaros e insanos
alguém em que
as palavras são
desabafos impetuosos
que brotam do inconsciente
calcinado pelas emoções da vida
de uma alma engrandecida
dos sentires consciente do seu ser
que não cala a revolta,
a injustiça, a displicência
dos seres ditos racionais
pedaços de alma
prensados em palavras
transmitindo
gritos silenciosos
da grandeza de uma alma poética
penetrando na profundidade
da imundice humana
(a doce mulher, a insana poeta…)
Escrito a 19/01/08
E o vento silencia-se em palavras anémicas
O vento silencia-se em palavras anémicas
e as mãos abraçam o vazio, por onde os pássaros poisam as asas inertes
no colo envidraçado do verso
e onde os mares abraçam a linha recta do luso fusco
há pétalas envergonhadas despetalando-se do poema
que teima em desabrochar, despido de tudo e de nada
e as mágoas inanimadas deslizam nas paginas brancas celulóticas
onde famintos os vocábulos dicotómicos ausentam-se das rimas por dizer
e o vento silencia-se em palavras anémicas
Escrito a 3/12/16
Náufrago, deste (a)mar
No rio obscuro da vida
existe um barco á deriva
nas aguas paradas no tempo
deste tempo que se perde
na sombra das tuas brumas
O barco desliza inquieto, ávido
espera a luz do amanhecer,
onde o sol seque a humidade
que goteja perene de querer.
São tantas as gotas gotejadas
e tantas as fragrâncias exaladas
que em arrojado ondular desliza,
nas pacatas águas da vida
o barco náufrago, deste (a)mar
(E lá… )
Onde se funde o rio e o mar
na meiguice de um raio de luar
tu barco, deixarás de te perder,
descobrirás os teus velhos remos
e nos braços de um renovado ser
permanecerás firme, pungente,
neste rio que o destino
não quer ainda destruir
Escrito a 23/11/09
Volúpia
O clarão ilumina-se na calada da noite
num retumbar de explosivas sensações
rasgando as vestes que cobrem
o meu corpo flamejante de ti
A chuva docemente inunde-me
em carícias perfumadas de timidez
numa volúpia incontida de querer
A chama intensa extravasa
o meu olhar lânguido de desejo
O vento irrompe no pensamento
em temporais de idealização
A neblina afaga-me vagarosamente
em danças de desnudo prazer
A terra humedecida estremece
num prolongamento sísmico de mim
E o sol, ah o sol
aquece-se sofregamente
da ternura e êxtase exaladas
embebendo a terra de imenso prazer
numa exultação incontida de ser…..
Escrito a 27/02/09
O deslizar brusco do silêncio
No segredar das palavras incompletas
desliza bruscamente o silêncio...abrupto
brota-se um esgar carente…descontente
na pura revolta da mente...cálida
e das mãos, pousa-se lentamente
a luz perdida por aí…ainda quente
No descortinar dos códigos alados
no momentâneo momento circunscrito
agita-se o corpo privado de ti
E no entrelaçado do tempo
repouso a sede no meu corpo arfo
aguardo impaciente os versos suspensos
num novo poema...declamado
trajado de meiga cor...a tua
Entranhando-me no labirinto da razão
permaneço no tempo fugidio de mim
Escrito a 27/11/10
Ouves-me?
Sinto-te
nesse desespero que te consome
nos trilhos das noites ensombradas
pelas memórias resguardadas
no mísero grito do tempo
Queima no meu peito
a tua impotente ânsia
de renascer nas asas do infinito
onde o horizonte acalma
o olhar que fenece
no orvalho das fontes
Rompe as algemas
que te acorrentam
aos fantasmas do passado
perdido na porta entreaberta do tempo
Solta-te dos escombros arcaicos
que asfixia a plenitude de seres
como te quero contemplar
à luz das gastas velas,
que perpetuam
nas janelas da minha alma
Penetra no íntimo inexplorado,
sente os pulsares virgens
do renascer da dor que te pariu
e que te fez ser
Agarra o tempo, que o tempo te dá
e respira a paz do meu anjo
que permanece em mim,
no etéreo de ti
num tempo sem fim
Ouves-me?…
Escrito a 16/08/09