RESTA-ME
Salvo do naufrágio,
Agora ando exilado em mim.
Buscando o que não perdi,
Encontrando o que nem sei.
Respiro uma vida, enquanto aspiro outra;
Dividido entre elas, não inspiro nenhuma.
Mantido só pela razão,
Temo e não arrisco nada.
Crio fórmulas sem formas,
Componho músicas sem letras.
Ao medir-me, constato limites,
Reconheço que pouco me conheço.
Também não entendo o que se passa,
Tampouco, em tudo consinto.
Resta-me a esperança que ainda tenho em Ti,
Resta-me o conforto que ainda vem de Ti.
por Magno Ribeiro em 20/9/2009 às 5:00h
LABIRINTO
Atropelos e ideais insidiosos,
Levaram-me a desterros e desertos,
Ilhas e trilhas.
Muros se fechavam ou bifurcavam-se;
Adiante, multiplicavam-se em novos muros.
Era o círculo vicioso de alamedas estreitas e sombrias.
Crendo caminhar por atalhos,
Vi-me metido nas entranhas de um labirinto,
Recomeçando sempre que imaginava terminar.
Rodeado de certezas, quase sempre incertas,
Tornei-me papel em branco,
Sem linhas, sem tintas, sem textos.
Fui dor e doente,
Abastado e miserável,
Primeiro indicio, depois alvo.
Emparedado, sem horizonte,
Verticalizei ao erguer o olhar,
Até enxergar focos de luz.
Arfando, sôfrego, indeciso e lerdo,
Contornei as próximas esquinas,
Até que dei de cara com a saída.
Estancada, a vida pegou no tranco.
E do final daquilo que seria o fim,
Despontou o início do recomeço.
Daquele foco de luz, surgiram contextos,
Apareceram tintas, letras sobrevieram,
Palavras têm se formado; acenam-se os textos.
A CHEGADA
Quando chegou, eu ainda Te esperava;
A retina já embaçada,
Subitamente tornou visível o Teu invisível rosto.
Os meus ultrapassados limites,
Passaram entrever doces horizontes,
Somente porque Tu chegaste.
Se não fosse a dolente espera,
Queria eu Te esperar mais vezes,
Tudo para divisar Tua sutil aproximação.
Quando Tu chegas,
A imaginação cede lugar ao real,
E o silêncio converte-se em euforia.
Porquanto, já não careço saber onde estás,
Conquanto a espera cessou.
Tu estas bem aqui!
Por Magno Ribeiro em 1/4/2009 (04h45min)
SINOPSE
De equívoco em equívoco,
Distanciei-me do Teu habitat.
Ignorei tudo que já havias planejado,
E sem pestanejar me senti absoluto.
Aventurei-me por traçar sozinho outro plano;
Idealizei, projetei, executei, fracassei.
De fracasso em fracasso,
Abismos atraíam outros tantos.
Se as manhãs eram dedicadas aos sonhos,
As noites embalavam pesadelos.
Excedi-me em excesso,
Enfureci-te descomedidamente.
A fúria do Teu amor,
Causou-me espasmos em toda musculatura.
Meus ossos como que esmagados,
Deixaram expostas as fraturas das minhas transgressões.
Mesmo depois do Teu socorro,
Ainda sinto dores, enxergo cicatrizes.
Em vestígios de estrago
Enternecido aceitastes minha contrição.
Abrandastes o rigor do castigo,
Premiado fui com o Teu perdão.
Por toda expressão de Tua grandeza,
Me rendo, me prostro, Te exalto, Te adoro.
Por Magno Ribeiro em 17/4/2009 às 00h:50m
Futuro do presente
Quisera poder reviver o que deixei de viver,
Andar pelos caminhos que os descaminhos me afastaram.
Quisera poder regressar a minha forma primária,
Para apreciar a poesia de ser jovem, curtir as insônias,
Aprender a comer legumes e balancear os sabores do meu paladar.
Diante de absoluta impotência, o existir do meu presente,
Somente me é suportável pela onipresença do Criador.
Quem dera tivesse eu a ciência do futuro!
A frustração do passado teria sido evitada,
E os desacertos eliminados.
Mas, só a utopia faz-me desejar a prerrogativa do Supremo,
Que o bom senso me assegura ser inalcançável.
Nada a fazer, se o passado no passado,
Nem mesmo a onipotência divina se propõe recria-lo.
Pudera essa sensação contínua de ter deixado de se viver algo,
Afinal, o presente se tornará passado no próximo instante.
Resta-me vislumbrar o futuro,
Projetado pelos meus sonhos,
Ainda que imperceptível, inaudível e em parte intangível.
Contudo, o futuro do presente,
Não me pertence, repousa na onisciência de quem me criou.
Por Magno Ribeiro em 23/5/2009 às 18h48min.
FÉ
Às vezes presente,
Tantas vezes ausente.
Presente ou ausente,
Eu tenho fé.
Seja do tamanho de um grão,
Seja microscópica,
Sutil ou intensa,
Ela é a minha fé.
Se com ela me convenço, sem ela me venço.
Se com ela eu falo, sem ela me calo.
Se há nela esperança, sem ela nada sou.
Nos territórios transitórios da vida,
Espero algum dia poder ouvir:
A tua fé te salvou!
GRATIDÃO
Insurgi-me contra Ti,
Por tempos rendi-me a indiferença.
Assim mesmo surgiste em meu favor;
Surgiste, no entanto apenas à minha parca visão,
Conquanto, jamais apartastes Tua retina de minha direção.
Bastou-me apenas um abrir a porta,
Fizeste a festa e toda diferença.
O meu entendimento se viu convolado por esse Teu olhar;
Já a esperança perdeu o seu avesso,
Enquanto eu ressurgia do nada para o algo.
O que sucedeu aos muitos dias de noites,
Foi um tudo feito luz; uma nova manhã.
Irradiante a canção se tornou louvor,
E envolto em lances de exultação,
Expresso toda essa minha gratidão.
por Magno Ribeiro em 24/4/2009 às 00h29min.