SIM, ACEITO ESCREVER CONFIDÊNCIAS EM GUARDANAPOS [1]
Tão urgentes,
apaixonados sem prudências -
rabiscamos nossos corpos,
as paredes,
as folhas dos jardins e
até telas de cinema!
Sim,
podemos ser os traços retos da chuva
e as curvas das nuvens..
Porque a principal regra do amor
é não ter regras!
Tu,
revistas este coração como se
quisesse encontrar a arma fatal.
E quando o céu descortina o escuro
venda a alma
que se esparrama na cama como estrelas,
e com gentilezas de trovador,
guarda minhas luas no bolso...
Nunca será necessária nenhuma palavra,
nenhum pedido formal...
E eu aceito
que promova uma devassa entre os corpos
com a sede
que se bebe em uma única taça...
como se encostasse a fome
perto da boca.
Meu ventre
vórtice divino,
nossa comunhão,
teu ninho de criação de galáxias...
Sim,
eu aceitei orbitar ao teu redor,
fazer dos meus passos as tuas pegadas
ter nossas mentes o centro do nosso mundo
enquanto pulsarmos na mesma frequência!
Mas de verdade,
a única promessa que fizemos,
é que,
quando tudo for sossego,
devolverás minhas luas e
seremos o espelho das ruas que traduzimos,
mesmo que estejamos embriagados de cafés e fins de tarde...
com alegria de espantar pombos e jovens...
nossas mãos eternamente entrelaçadas
serão um tinteiro
e uma pena...
Até que enfim,
sejamos só
uma serena confidência rabiscada
apenas
em guardanapos...
Texto escrito em outras eras...
CIÊNCIA
Provocantes adagas sensoriais singrando como ondas,
retalham o sentido do infinito pela metade
e ficamos vulneráveis ao alcance
dos olhares,
do tato,
do paladar.
Falávamos ainda desmedidamente sobre o surgimento das constelações,
maresias no morno fim de tarde,
orbitávamos como átomos nervosos
formulando ligações que talvez nunca saibamos explicar -
química pura no fundo de uma simples xícara café!
Tudo que é sagrado não pode ser explicado pela ciência
e o imenso rasgo que nos uniu
confirma a despedida,
persistindo com um desejo não saciado.
De que planeta viemos
e se chegaremos além do fundo do mar?
Muitas respostas não querem ser reveladas
há tanto a declarar,
Que nem ouso reformular!
escrito em 16.05.2014
IMACULADA
Imaculada em teu silêncio
Um pouso leve sobre a pele
Carícia d’um olhar que me fatia
Ora doçura
Ora imensidão
Espalhando-me por todos os cantos
[do desejo que me acolhe sob a tutela das tuas mãos]
Permaneço à mercê
[Deste]
Que me palpita as narinas
Teu cheiro corresponde ao meu cio
Na beira da tua sombra
Faz-se arte em espiral
Rima e plástica
Do que não pronuncio
Mas [me] entrego
Dispensando [assim]
Todas as palavras
DUETO: Uma beleza que caçoa, muito além da janela
Quando Nova York fica silenciosa
E a vida sobra no prato
Morrendo aos poucos, de amor aos dias
A mão desenha pelo ar
Saudades, alegrias, dores...
Um sopro, e as pálpebras descolam o amanhecer
Um suspiro, e um nome vai em direção ao sol
Sem que ninguém saiba.
Pedaços de tangerina,
pintam a mesa
Não fosse o tempo que corre lá fora, como um fugitivo
E águas tranquilas espalhando-se pelos ombros, como uma casa
Entornaria a beleza que caçoa, muito além da janela.
Pois,
se eu cair e morrer
Como uma noite interminável...
Tem que permitir que eu morra estilhaçada no infinito
Nuns versos que escrevo em seu interior
Mais perturbador que o silêncio de um sino
Derretendo constelações
em uma igreja.
(By Vania Lopez e Valéria Cruz)
Mais um encontro em que seus pincéis agem na minha penumbra...
Obrigada Querida por dar-me a oportunidade de estar dentro!
Amo tudo isso!!!
Gratidão
PAISAGEM
Parada. Não que estivessem sem movimento, mas inerte, hibernada nos meus musgos no meio da praça, no rumo de tantas pessoas, mesmo assim sem nenhuma direção.
As reticências me contornam perfilando bordados e eu desejando parar de pensar no que veio antes de mim. Queria poder assinar este divórcio com as dúvidas, sem mágoas, sem dores e poder sair arrastando esta mala entulhada de vazios pelas calçadas, como se levasse flores ao túmulo de um velho conhecido, uma despedida saudosa apenas, render minhas homenagens e partir sem remorsos.
Mas, o tempo me acorrenta e me cobre com este manto da invisibilidade. Os sorrisos ecoam, os transeuntes sedimentam minha estrada e parece que só os pombos enxergam de verdade a minha paisagem.
(24/11/2013)
ASPAS
Como uma flâmula ardendo,
condenada,
feito argumentos
imprecisos mas enfileirados,
um tudo,
entre eu o nada numa noite de lua movediça,
tremulo.
“Apartar-me desse desassossego,
leva este vazio do lado de dentro,
que se agiganta e
transborda.
Deita fora minha coleção de ossos e
afoga minhas queixas
num gole de gozo.”
Recolha-me
até cessar essa fase de parir dores,
sem eleger prioridades e
tudo ficar reto,
até que não exista mais chão e eu,
um nada
entre “aspas”.
REMENDOS
Sobre a chuva
Coleciono o orvalho nos meus olhos. Lava o pátio e o porão, como se depois, tudo pudesse ser de novo e é bem certo que seja uma temporada passageira; e algumas vezes até mesmo inconveniente, chove torrencialmente e eu espiando através da janela contendo a alma com vontade de se encharcar!
Sobre o frio e os dias de sol
Não me deixa alvorecer, cheiro cortante de inverno invadindo as narinas, uma visita ao meu inferno particular, frio e úmido. Raspo com as pálpebras as gotas que ficam presas nas paredes, no céu, nas nuvens, nas beiras, no bafejo das nuvens cinzas.
Confesso, não é o sol que quero na pele, senão, o calor do teu olhar.
Faço sempre outono no meu quintal, arremesso as folhas com teu nome rabiscadas ao vento, despetalo as flores buscando o teu bem querer.
Faço a primavera na minha pele sentindo a alma trêmula com desejo de ficar encharcada de nós.
Sobre o tempo
Escavo com as unhas a espádua íngreme do tempo como sobrevivente de uma avalanche. Ergo as anáguas como se fosse o verão rendendo suas últimas flores ao outono.
Inverno, depois de usar a lâmina de descascar esquecimentos em todas as fantasias.
Ah esta mania de remendar odes como se fosse chegar ao final de todos os tempos, travando esta muda comunicação entre o coração e a razão, artifícios em vão.
Sobre todas as coisas
Aqueço nuvens quantas vezes os meus olhos desejarem se banhar. Chovo desafiando a noite, o tempo, as coisas que foram, as que virão...
Só porque aprendi que regar o nosso amor ao luar é nunca estar sozinha.
Santa e inquisitória saudade!
És tu a lama que me reveste, depositário que minh'alma elegeu habitar...
Te amarei até o fim dos meus dias e isso, de verdade, não é uma promessa!
(21/09/2013)
DESATINOS
Já provei do improvável e sobrevivi à fúria e as delícias das quimeras. Aprendi sobre a mitologia enfurecendo deuses e sendo arrastada pelos cabelos para fora do olimpo. Desobedeci à maioria das regras, para criar outras que também nunca pretendi cumprir. Rastejei até soltar a pele, por terem me dito, que me vestia de um pecado original. Contracenei com a noite sem estrelas por ser a única cadente. Embora ainda não tenha me recuperado do tombo, calibro os olhos para enfrentar os desatinos do dia-a-dia, fazendo de conta que tudo isso é absurdamente normal...
(06/10/2013)
RECOLHIMENTO
Desce raspando pela garganta...
Tal qual alpinista no Everest esse choro contido...
Derreado como entremeios de uma vida desarrumada...
Bordado sutil que vai escoando...
Frio e úmido terreno...
Alimento insosso servido num prato raso...
Solidão...
Nunca alimenta nem amanhece...
Jaz em mim dias sombrios...
Desfiguradas lembranças...
Cadência das horas...
Trânsito congestionado...
Barreiras do tempo...
Não consigo fechar meus olhos anoitecidos que ainda orvalham...
11/08/2013
REFRÃO
(Tela em acrílico de Selma Jacob)
“as palavras me dissipam, não morro de verdade.
tomo o lugar delas (...)”
Reciclo o tempo que me escoa
como quem acumula lágrimas
E na fatalidade das horas invertidas
Sustento-me na razão de ser
Do amor natural
entre palavras cruas d’um temporal
e os raios que riscaram o céu escuro
como um afago -
Nasci!
Trovões sufocaram o choro e
num rasgo de fatalidade
sorriu-me a vida(...)
...permaneço...
Uma releitura
Um refrão que me toca
por fim...
Dedicado a minha querida Vania Lopez com seu toque de "Palavra de Poeta"