FATAL-
Me apraz em meio à noite contemplar
Por entre o vaporoso teu perfume
Um seio que me pisca vaga-lume
E aos olhos vão pousando a vacilar
Aonde irão as mãos se demorar
Que entregue em tanta sede e muito ardume
A mente não se furta, e nem se pune
De a febre do desejo despertar
Em frêmito contrai-se a calma face
E o líquido de mim que tanto adoras
Qual vindo de penhascos se derrama
Deixando-te amazona que sonhasse
Galgar essa cadência só de botas
E fosse assim vestida para a cama
Miguel Eduardo Gonçalves
MEDITAÇÃO
Nada além de mim
Nem solidão há
Nesse caminhar
Em vida ocasional
Onde o olhar se passa
Indício de coisa qualquer
Dia ou noite, constantes
Onde tudo é
A intensidade de ser
E nada mais:
Lua que não vem
Apagado Sol
Em sono de silêncios...
Faltas-me!
Miguel Eduardo Gonçalves
VIAGEM NO TEMPO
Perco-me em curioso pensamento
Nele sinto um perfume conhecido
Que traz uma saudade sem sentido
Lembrança causadora do momento
Agora, passo a limpo esse acalento
Pintado que se fora tão morrido
Num sonho que o trouxesse por ter sido
Imprevisto disfarce ao sentimento
Nem sequer o prazer é mais ensaio
Segredo destinado à fantasia
Da vida tempo raro onde recaio
Que todas as volúpias desse dia
Vieram das memórias de um diário
Miragens de uma idade em rebeldia
Miguel Eduardo Gonçalves-
PAIXÃO RITMADA
Mais de sol, a sorrir
Tão carmim, todo cor
E do amor estopim
Donde vim trovador
Em calor puro escol
Só em rol da alegria
Empatia do arrebol
Girassol do seu dia...
Céu, quem diria, assim
Todo ´clean´, pela areia
Minha esteira e lençol
(Miguel Edurado Gonçalves)
Seguinte...
Seguinte
Co’a mesma rapidez de cada instante
O medo paralisa a tentativa
E a vida assim se torna angustiante
Decerto aqui o verso aristocrata
O seja por estar na defensiva
Mentindo como o tempo que nos mata
E a alma de enroscada nesse enredo
Empaca nesta rima por despeito
(MEG)
DO MAIOR DOS PRAZERES-
E chegas tu agora
À superfície d'alma
Em busca do alimento
Com que sonhaste um dia
Remexendo a ficção
De um sonho incendiado
E às portas dessa hora
Fato que não se acanha
Em teu corpo o momento
Que incita a bigamia
Matando a indecisão
De que estive tomado
E entras por um segredo
Com teu mágico ser
Em jeito de serpente
Me virando a cabeça
Estagnando o vazio
Desta pureza amante
Que agora te concedo
Mulher de endoidecer
Altiva e impaciente
Por esta joia acesa
E de livre alvedrio
Meu sol assediante
Carinho sem demora
Que desperte o folguedo
Que te pira e te acalma
E me faz renascer
Com meu ímpeto atento
Da paixão mais veemente
Capricho da energia
Perante essa nudeza
Inteira sedução
Pela qual me extasio
Vencido, apaixonado
Meu vício delirante
Miguel Eduardo Gonçalves
POEMA SEM VERBOS
Bastante para mim, aos outros um apenas
Magnífico e grave no oco dos poemas
Em prosa e verso o ousado raio da razão
Paixão amargurada, falsa e atraente
Dos beijos, poeira, remédio porventura
Mas da alquimia passageira, essa loucura
Pois da miragem, a conclusão: puro branco
Outro mundo fugidio, sem opinião
Um saltimbanco, certamente melancólico
Por entre o doce das carícias do cetim
Enfim em meio dos prazeres e sentidos
Da tão ingrata e todavia sensatez
Miguel Eduardo Gonçalves-
Relação de Corpos e Odores
Beleza que avança perfumista
Tomando a mente de sentido
Na paixão mais fetichista
Librés de sonhos vão à libido
Transpondo o cotidiano que se avista
Tornando-o universal e incontido
O que se descobre num beijo
Pequenas vidas em nádegas roliças
Mais uma razão que explorar
Pois somente é do sexo solfejo
E para transcender às premissas
Vai do instinto pavonear
(Miguel Eduardo Gonçalves)
AURORA
AURORA
Desejo alucinar com teu carinho
Crescendo sob o olhar da inquietação
O amor que vai brotando da paixão
Na própria tentação devagarinho
Sentido requintado de montão
Que a vida agora exulta e ao qual me alinho
Dizendo de um astral em murmurinho
C’a força dos momentos como são
Poder especial, franco expoente
Retrata fielmente a forma bela
Que há de sentinela conivente
Perdida tal beleza no que apela
Do olhar de céu que olha puro e crente
Renasço em verso vivo como ela
(Miguel Eduardo Gonçalves)
Fusão de Sentidos
Rolava pela cama audaz e improvisada
Diante de um desejo indômito e tirano
Alguma gula agindo em força alucinante
No beijo da volúpia em claro desempenho
Compasso que se vira e ondula na ‘tocada’
Perdida em rodopio do qual me louvo e ufano
Perna enroscada enseja o rito e se garante
Matéria humana e mente, acordes que desenho
Fadiga que a faz linda às luzes da indecência
E afoga o esconderijo em seiva indisfarçável
Com louco e involuntário acordo da exigência
Tu só és toda pele, esse lugar provável
Por si, do puro estilo, a fome e a saliência
Te vejo no apogeu excelso e inapelável
(Miguel Eduardo Gonçalves)