Poemas, frases e mensagens de jose rafael

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de jose rafael

Nascido entre rios e montes, cedo tomou contacto com a Natureza. Homem de têmpera rija e desde muito novo habituado à sua autonomia e liberdade, seguiu sempre o que

É EM TI...

 
É na tua boca que o sorriso é candura,
É no teu corpo que orvalham meus versos,
É nos teus olhos que cintila a ternura,
É na tua mente que há sonhos diversos!...

É no teu coração que lavra a tristeza,
É no teu rosto que se espelha a solidão,
É nos teus braços que repousa a firmeza,
É na tua voz que se reflecte a emoção!...

É nas tuas lágrimas que chora o amor,
É nos teus cabelos que brilha o luar,
É nas tuas mãos que refloresce a flor,
É no teu peito que habita o soluçar!...

É na tua vida que palpita o viver
E é em ti que se esmaga o sofrer
 
É EM TI...

O ALENTEJANO

 
Na planície semidesértica e quente
Onde a dureza é pão de cada dia,
Quanta angústia se expressa e sente
Nos tristes cantes cheios de melodia.

Na alma carrega impressa desventura
Que o persegue, negando-lhe o pão,
Nas entranhas abafa sonhos de ventura
De mágoas cheios e grande desilusão.

O sol aquece na charneca despida,
Torrando a terra e tisnando o rosto,
A razão verga-se ao peso da vida
Na ceifa diária dum pão sem gosto.

Vitrais multicolores brilham no suor
Do rosto tisnado pela acalorada estival,
Mil brilhos reflectem o esforço e a dor
Do amargo desespero dum mundo fatal.

Garganta seca e olhos lacrimejantes
Regam a terra de ardentes fornalhas,
Verga-o a fadiga e suores abundantes,
Sonhando fartura, vencendo batalhas.

As palhas ceifa do trigo alourado,
Enchendo de fardos o calcinado chão,
A charneca fica com tom amarelado,
Despida do trigo e envolta em solidão.

O alentejano sonha fugir à melancolia
E esquecer as agruras e os dissabores,
Luta com desespero, combate a agonia
Na esperança futura de dias melhores.

Exausto e alquebrado pela dura labuta
Olha com saudade a planície imensa
O homem que não verga e persiste na luta
De desbravar a charneca agreste e extensa.
 
O ALENTEJANO

HOMEM SÓ

 
Aquele homem, aquele homem só
que calcorreava pelos sopés perdido,
era um pobre de Cristo, pobre de Job,
na míngua enterrado sem ter vivido.

Era um triste pelo mundo errando
que buscava, nem ele sabia o quê,
à deriva no nada, sempre procurando
a rota que percorremos e não se antevê.

Desfasado do tempo que desconhecia
ao viver num espaço que o limitava,
quanta noite que nem sempre dormia
olhava o universo que o fascinava.

Ao vasculhar o astro sempre às escuras,
até ao limite onde alcançava seu olhar,
viajava pelo infinito das suas conjecturas
e continuava vazio sem resposta encontrar.

Seduzido pelo sonho que à vida o prendia,
procurava na essência o sentido do viver,
e vencido por super força que desconhecia
confundia o pensamento e o seu querer.
 
HOMEM SÓ

O APAGAR DA CHAMA

 
Não era ciúme que o amante calava
nem amor que p’ra sempre partiu,
era a saudade que doía e magoava
e que um coração apaixonado feriu.

Era o lamento que a alma irradiava
sem temor na solidão mergulhado,
com esperança que o amor voltava,
avivando no reviver amor sonhado.

Era como se a luz morresse na flor
e achas se apagassem no rubro lume,
se varresse da memória antigo ardor
e ensurdecesse amargo de azedume.

Era chama que abafada pela tristeza
caía na sombra, tecendo escuridão
onde o amante na desilusão e frieza
matava lentamente o ferido coração.
 
O APAGAR DA CHAMA

FADO

 
Nascida do amor
Rodeada de carinhos
É pétala de flor
Cheia de mimos!...
Caminho de ventura
Na rota da vida,
Mil afagos de ternura
A tornam querida!...

Fadada pelo destino
E pela felicidade
Seguirá o caminho
Da pura verdade...
Rosa do mundo
Que a Natureza gerou,
Com amor profundo
Bela desabrochou!...

Idílio do jardim
Num campo de trigais
Terá glórias sem fim
E o amor dos pais!...
 
FADO

CARENTE DE AMOR

 
Inunda meus sonhos de carícias
e poisa em meus lábios ardentes
o beijo com que te delicias
no ardor que tu própria sentes.

Dorme na minha imaginação
um amor triste e esquecido,
amarrado por laços à solidão
à espera doutro amor perdido.

Abre as portas da tua mansão
e deixa que ela sirva de abrigo
a um amor que no teu coração
encontre finalmente um amigo.

Invoca amor minha boca
sedenta e cheia de desejos
que presa a uma paixão louca
soluça e implora teus beijos.
 
CARENTE DE AMOR

AMOR SEM ABRIGO

 
Afaga meu amor com beijos
e enche minh'alma de ternura,
acende em mim loucos desejos
que me afoguem em mar de ventura.

Deixa que teu corpo de encanto
se albergue na minha imaginação
e me cubra com sagrado manto,
tecido de eterna e louca paixão.

Embala-me no teu colo de mulher
com sentidas e fortes emoções,
acolhe-me na tua alma que me quer
e abriga-me com segredos e ilusões.

Estende para mim teus braços
e recebe em tuas mãos meu amor
que sem morada e em pedaços
vive em mar de lágrimas e dor.
 
AMOR SEM ABRIGO

DESESPERO

 
Mergulhado em nostalgia
por caminhos inacabados,
sinto minha vida oca e vazia
e os sonhos jamais realizados.

Perdido o sonho de outrora
o amor deu lugar à dor,
meu coração sofre e chora
na procura insana do amor.

Percorro o mundo inteiro
e deixo-me pelo sonho embalar,
fingindo que o amor primeiro
como ave partiu e vai voltar.

Esta angústia e desalento
ao relembrar os tempos idos
é desespero e sofrimento
pelos sonhos não vividos.
 
DESESPERO

SENTIR DE MÃE

 
Quantas lágrimas choradas
Em sentido pranto!...
Quantas angústias passadas,
Orações rezadas,
Canções de embalar
Com afago e encanto!...
Quanto sonho de menino
No colo que me aconchegava
Cheio de singela ternura
E me almejava um destino
Liberto de amargura
No calor do meu ninho!...
Quanta promessa falhada
E votos de vida futura
Na felicidade sempre desejada
Num mundo pleno de ventura!...
Quanto amor!...
Quanto sofrer!...
Quanta luta no viver!...
 
SENTIR DE MÃE

NATAL

 
Lá longe nos confins do Oriente
No nocturno silêncio estelar,
Luz com fulgor de sol nascente
Surge no painel sideral a cintilar.

Arauto de mensagens celestiais
No mundo derrama paz e amor
Na esperança que nobres ideais
Se espalhem cobertos de fervor.

O raio que resplandece no céu
De amor inunda e suave candura
Pobre mundo, néscio e sandeu,

Para que retorne à origem divinal
E renasça nos braços da ternura
Coberto de harmonia universal...
 
NATAL

OS POBRES

 
Na inquietação da sombreada vida
onde cada qual do outro se afasta,
paira sobre nós a miséria esquecida
que magoa os corações que agasta.

Passamos ausentes sempre apressados
alheios do mundo que a mão estende,
olhamos apáticos os olhos encovados
e lamentamos a miséria que a vida fende.

Acossados pela fome e pelo desamor
suportam os pobres um viver de frieza,
gastos no silêncio são arautos da dor
que curtem angustiados na sua pobreza.

Abandonados na lastimosa solidão
derivam pelas ruelas escuras e frias,
onde só as estrelas possuem o condão
de as aclarar e tornar menos sombrias.

Por caminhos de incerteza e amargura
os pobres no anonimato mergulhados
vibram carentes de carinhos e ternura
e expiam agonizantes os sonhos falhados.
 
OS POBRES

A MORTE DA ANDORINHA

 
Já não voa a andorinha pequenina
Que os ares alegrava com graça
Quebraram-lhe a asa franzina,
Jaz ferida de morte na praça.

Seu encantador trinado e chilreio
Morreu estrangulado pela dor
E as belas tardes de enleio
Desventuradas perderam brilho e cor.

No voo cheio de grácil melodia,
Cortando o primaveril aguaceiro
Cantava enamorada de alegria
Na construção do seu lar primeiro.

Já não geme a guitarra afã
Seu trinado também se perdeu,
Calou-se uma voz amiga e irmã
E com saudade da andorinha morreu.

Mais pobre ficou a primavera
Por ter perdido algum encanto
Morreu a andorinha que era
O arauto que alegrava com canto
Os campos cheios de quimera
Que no silêncio calaram o pranto.
 
A MORTE DA ANDORINHA

A PAIXÃO

 
A paixão é divino dom de encantar
Um coração faminto de amor
Que se expressa com simples olhar
No deslizar amargurado da dor...

A paixão é cristal num sonho embriagado
De poemas fundidos na alegria e ternura,
Arde sem lamentos no coração enamorado
Desejoso de alcançar os laços da ventura.

A paixão é fulgor de magia querida,
Gaivota alucinada ao sabor do vento,
Corre sonâmbula na sombra perdida
No solitário silêncio do pensamento.

A paixão é um bem querer que ecoa
Na amarga desilusão que a vida magoa!...
 
A PAIXÃO

A CAMINHO DO GÓLGOTA

 
Arrasta-se Cristo com pesada carga,
Soltando suspiros e gemidos de dor,
Mil preces se elevam em voz amarga
Para aliviar do sofrimento o Senhor.

Aos ombros transporta robusta cruz
E na cabeça tosca coroa de espinhos,
Verga-se ao peso a figura de Jesus
Pelos pedregosos e rudes caminhos.

Rosto cuspido e esquartejado o corpo
Por soldados romanos com chibatadas,
Três vezes cai sem forças e quase morto,

Três vezes se ergue e caminha de novo
P'ra cumprir as Escrituras Sagradas
E salvar os homens, filhos do seu povo.
 
A CAMINHO DO GÓLGOTA

O PASTOR

 
Nasce na plenitude de encantos o dia
e lá longe o sol começa a despertar,
brilhos multicolores o orvalho irradia
nos montes silenciosos e seu acordar.

Cumprindo o destino da própria vida
num ardoroso labutar a toda a hora,
entrega-se o pastor à dureza da lida
de partir pela madrugada campos fora.

Ensinado pelas aves a sorrir e a cantar
nos cerros e montes onde mora o encanto,
quantas vezes com vontade de chorar
alivia as dores com o próprio canto.

Como companhia tem o carinho do gado,
almas irmanadas numa mesma solidão,
que seduzidas pelos encantos do prado
apagam a tristeza com a mesma canção.

Fustigados pelo frio ou estival calor
percorrem os carreiros da mesma sorte,
lutam em desigualdade com afinco e ardor
que vai esmorecendo até findar na morte.
 
O PASTOR

LEITO DE AMOR

 
Nas noites invernosas e frias
ao ver-me sozinho na cama,
lembro as juras que fazias
incendiadas de calor e chama.

Nossos corações ofegantes,
juntos em amor e orgias,
eram cravo e rosa amantes
nas noites invernosas e frias.

A mais linda rosa em flor
é mulher que chora e ama,
também eu choro de dor
ao ver-me sozinho na cama.

Naquele leito de amor
eterno amor prometias
e da paixão e do ardor
lembro as juras que fazias.

Vivemos horas de encanto
deitados na mesma cama
choravam as almas em pranto
incendiadas de calor e chama.
 
LEITO DE AMOR

MUNDO CÃO

 
Mundo cão,
Mundo ingrato,
Despedaçado,
Amaldiçoado,
Tratado como trapo...
Domínio do rancor e da maldade,
Morte do sentido do belo,
Omissão da pura verdade
Num constante desmazelo...

Prostituição,
Droga,
Ambição,
Pedofilia,
Homossexualismo,
Incesto e mania,
Lesbianismo,
Sida,
Proxenetismo...
Tudo tratado com desdém
Numa perdição total
Sem um olhar de alguém
Que evite um triste final.

Estupro,
Traição,
Furto,
Morte,
E maldição
Grassa por todo o planeta
Num crescendo constante,
Até que um messias profano
Com super força de gigante
Domine o ser humano,
Tornando-o menos arrogante.

Nesta luta sem igual
Amaldiçoa-se pai e mãe
E renega-se o próprio irmão
Que nas malhas do mal
E apanhado na traição
Luta para dobrar a sorte
Que o conduzirá à morte,
Libertando-se do mundo cão
 
MUNDO CÃO

O VINHO DO LAGAR

 
Dançam leves bailados
onde o suor é o vinho
cachos negros e dourados
num espremer de mansinho.
Levado o engaço p’ra o lagar
e colocado em finas camadas
entre as esteiras a chorar
lembra lágrimas derramadas.
Enorme tronco de madeira
o bagaço aperta lentamente
que em camadas na esteira
se aconchega suavemente.
Colcha rubra e brilhante
reveste o lagar inteiro,
escorrendo gotejante
como sangue verdadeiro.
Corre o vinho para a dorna
num melodioso gorjear,
sobe o odor que o torna
divina bebida d’encantar.
 
O VINHO DO LAGAR

AMOR PRISIONEIRO

 
Escravo é o meu amor
cativo do teu olhar,
reza e chora de dor
com desejos de amar.

Afagar tua face morena
num impulso de ternura,
é melodia serena
com laivos de doçura.

No beijo que te dei
com prazer e desvelo,
meu amor nele deixei
com receio de perdê-lo.

O drama de quem ama
num viver apaixonado
é consumir-se na chama
a que vive acorrentado.
 
AMOR PRISIONEIRO

POBRE NASCER

 
POBRE NASCER

Noite gélida na soturna choupana
Onde humano é apenas o ténue calor
Do bafo que alastra na fedorenta cabana
E afoga em pranto a desumana dor.

O abrigo cercam apodrecidos taipais
Onde nem vela lacrimosa derrama luz,
Criança simples nasce como as demais
Na pureza singela da Natividade de Jesus.

Pelas frinchas do telhado coberto de lama
Em dança suave entra neve branca e fria,
Acumula nas rochas que servem de cama
E nos imundos recantos da cabana vazia.

Gritos chorosos de voz débil e rouca
Ecoam nos penedos do monte perdido
Como magia que enche de coisa pouca
A "casa" do menino na pobreza nascido!...
 
POBRE NASCER

jose rafael