Quero ver o teu eu
eu quero sussurrar miséria
no lóbulo interior do teu eu
eu quero fazer crepitar o fogo
e voar para fora das amarras que me detêm
eu quero ver os teus olhos castanhos
que deixam manchas na alcatifa
das lágrimas que se desprendem da tua face
eu quero ver o teu eu!
Para te ter
para te ter
pensei um dia
mudar os hábitos
e a alegria
a forma de ser e estar
desobedecer-me sem pensar
para te ter
perdia amigos
enterrava os planos
em jazigos
esquecia como é bom sonhar
só para ao teu lado poder estar
mas...
então descobri um dia
que para te ter basta ser
Imaginação
sinto frio
frio dos teus dedos
que percorrem o meu ser
calor
suspiro
esmagas-me o corpo
como folha entre as páginas de um livro
sinto o suor
escorrer do teu peito
instantes
acordo
afinal sou feliz
Deuses
deuses brincam
envoltos em linho branco
o carrocel gira vertiginosamente
no eterno mundo humano
e gira
até ao zero
ao infinito
o omnipresente observa
então os deuses,
na sua sabedoria intemporal
limitam-nos
nas nossas acções . palavras . pensamentos . emoções
e continuam a brincar
rindo desesperadamente
montando os seus cavalos de madeira rachada e entorpecida
Pode um imortal morrer de amor?
pode um imortal
morrer de amor?
e viver
nas palavras intemporais?
mesclemos pois,
vida e morte
e na dualidade
tornemo-nos unos
por amor
PALAVRAS FEIAS
absinto
licor do entorpecimento
que tolda a mente
anestesia barata
para os males do mundo
e... que te faz soltar
palavras feias
ah! cegueira
que te joga ao fundo
ah! dor
que te faz crescer
ah! amor
que não sabes viver
A REVOLTA DOS PINCÉIS
e em cada pincelada
imbuída de sentimento
o pincel revolta-se
revolta-se
contra a caligrafia perfeita
sobre o papel machê
contra a intemporalidade de cada gesto
sobre a folha de papel
estremece
a tinta desfalece sobre a obra
agora manchada
renascimento
rebentos verdes peregrinam
entre as rugas
pontilhadas de um negro puro
In(Sanidade)
degustação
automutilação
desvalorização
momento de in(sanidade)
negação
abstenção
imperfeição
momento de in(sanidade)
libertação
Veneno
a ideia escorre
lentamente
fruto do corte profundo
escorrem também
palavras que escrevo
que outrora escrevi
escorrem e
invadem a noite
aperto a ferida
os anticorpos
expulsam o veneno
volto a acreditar
na doçura das palavras
volto a escrever
mas na realidade, o que sai de mim?
sonho
E no esplendor dum entardecer de verão, altas espigas de oiro ardente, reflectem a sensualidade da tua face, num dia ardente à beira-mar.
No sonho do momento, imaginas amplos voos sobre a trágica realidade que nos foi destinada.
E os teus olhos rasos de água, parecem lagos, onde cisnes brancos se banham, por entre a neblina de um amanhecer.