Poemas, frases e mensagens de arresiur

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de arresiur

writer . thinker . blogger . photographer

Chuva

 
abro a janela
e sinto o ar húmido

sinto o beijo
frio
na minha pele

volto a ser criança

sinto-a escorrer pela minha face

encharco-me

danço entrelaçado em cada gota;

a chuva apenas nos liberta
 
Chuva

Reflexos

 
sou um espelho antigo

frio . vazio . sombrio

como um túmulo

sobre a lareira
domino o quarto

vejo lá fora
as flores e árvores
do teu jardim

há dias em que sinto o vento

vejo-te à noite a pentear
os teus sedosos cabelos

vejo-te à noite a acariciar
os teus voluptuosos seios

fazes amor no reflexo da minha existência

eu sou imortal
nunca minto

eu serei o único
que lá vai estar, no teu quarto
até que definhes

e aí
dar-te-ei as minhas memórias

será muito, muito difícil para mim,
quando já não houver nada para refletir
 
Reflexos

monstros

 
no negro da noite

monstros
passeiam-se pelas vielas

medo
sono
cansaço

abraça o frio
e adormece

esta noite trato eu deles

os teus monstros
os meus pesadelos

os que vivem debaixo da minha cama
os que habitam dentro da minha cabeça

o coração bate forte

esta noite os nossos monstros estarão juntos
 
monstros

a avenida

 
Sigo pela avenida,
os cafés recolhem
as mesas.
Esplanadas frias,
já sem ninguém,
já sem sentido.
Chuis fazem cumprir a lei
com varinhas de condão.
Na janela,
um rosto
imagem distorcida
Uma carabina
um tiro
no frio da noite uma imagem gélida
Sigo em frente
pela estrada de asfalto
rumo à indiferença.
 
a avenida

Rua da solidão

 
deambulo pela rua
à procura da razão
desse amor que me trucida
que me trespassa o coração.

dou comigo perdido
em estradas sem saída
em caminhos cruzados
nas ruas da minha vida.

empedrados já gastos
por uma grande ilusão
pelas vidas passadas
por quem se esconde da solidão.

tanta amargura há em mim
que agora já não tem cura
e sem destino nenhum
parto rumo à aventura.
 
Rua da solidão

 
Sento-me

Dia e noite
O vento sopra lá fora
Velhas árvores expiam-me
Folhas caídas, mortas
A relva
Manto de veludo verde
Sento-me

Nesta cama
Baú de mil sonhos
Uma leve melodia
Paira no ar
Sento-me

Somente comigo
E penso
Quão diferentes
As coisas poderiam ser.
 
só

No conforto da casa

 
Chovia lá fora
na rua deserta
e no conforto da casa
não chovia p’la certa.

Lá fora o frio
fazia-nos tiritar
e no conforto da casa
ouvia-se a madeira crepitar.

E pingava lá fora
num concerto afinado
e no conforto da casa
escrevia eu ao teu lado.
 
No conforto da casa

Sonho

 
noite

um sonho

outra cidade

luzes mecânicas

procurei-te por entre
os escombros da cidadela

mortes apocalípticas

medo

e não é isso que eu quero para mim
 
Sonho

cambaleio

 
Deambulo pelas ruas... sonhos perdidos, ilusões desfeitas. Há um travo amargo no ar da noite. Breve a vila despertará e eu continuarei só.
 
cambaleio

certa noite

 
Certa noite
Murmúrios
Talvez algures
No próprio quarto
Ou noutro tempo
Em parte alguma
Isolado em si mesmo
Ou na mesa do café
Fica o esplendor de um rosto
A ternura de uma flor
E num diário
A escrita
Nostálgica
Moribunda
E a noite é imensa
 
certa noite

Quero ver o teu eu

 
eu quero sussurrar miséria
no lóbulo interior do teu eu

eu quero fazer crepitar o fogo
e voar para fora das amarras que me detêm

eu quero ver os teus olhos castanhos
que deixam manchas na alcatifa
das lágrimas que se desprendem da tua face

eu quero ver o teu eu!
 
Quero ver o teu eu

Para te ter

 
para te ter
pensei um dia
mudar os hábitos
e a alegria
a forma de ser e estar
desobedecer-me sem pensar

para te ter
perdia amigos
enterrava os planos
em jazigos
esquecia como é bom sonhar
só para ao teu lado poder estar

mas...

então descobri um dia
que para te ter basta ser
 
Para te ter

Imaginação

 
sinto frio

frio dos teus dedos
que percorrem o meu ser

calor

suspiro

esmagas-me o corpo
como folha entre as páginas de um livro

sinto o suor
escorrer do teu peito

instantes

acordo

afinal sou feliz
 
Imaginação

Deuses

 
deuses brincam
envoltos em linho branco

o carrocel gira vertiginosamente
no eterno mundo humano

e gira
até ao zero
ao infinito

o omnipresente observa

então os deuses,
na sua sabedoria intemporal
limitam-nos
nas nossas acções . palavras . pensamentos . emoções

e continuam a brincar
rindo desesperadamente
montando os seus cavalos de madeira rachada e entorpecida
 
Deuses

Pode um imortal morrer de amor?

 
pode um imortal
morrer de amor?
e viver
nas palavras intemporais?

mesclemos pois,
vida e morte
e na dualidade
tornemo-nos unos
por amor
 
Pode um imortal morrer de amor?

PALAVRAS FEIAS

 
absinto

licor do entorpecimento
que tolda a mente

anestesia barata
para os males do mundo

e... que te faz soltar
palavras feias

ah! cegueira
que te joga ao fundo

ah! dor
que te faz crescer

ah! amor
que não sabes viver
 
PALAVRAS FEIAS

A REVOLTA DOS PINCÉIS

 
e em cada pincelada
imbuída de sentimento

o pincel revolta-se

revolta-se

contra a caligrafia perfeita
sobre o papel machê

contra a intemporalidade de cada gesto
sobre a folha de papel

estremece

a tinta desfalece sobre a obra
agora manchada

renascimento

rebentos verdes peregrinam
entre as rugas
pontilhadas de um negro puro
 
A REVOLTA DOS PINCÉIS

In(Sanidade)

 
degustação
automutilação
desvalorização

momento de in(sanidade)

negação
abstenção
imperfeição

momento de in(sanidade)

libertação
 
In(Sanidade)

Veneno

 
a ideia escorre
lentamente

fruto do corte profundo

escorrem também
palavras que escrevo

que outrora escrevi

escorrem e
invadem a noite

aperto a ferida

os anticorpos
expulsam o veneno

volto a acreditar
na doçura das palavras

volto a escrever

mas na realidade, o que sai de mim?
 
Veneno

sonho

 
E no esplendor dum entardecer de verão, altas espigas de oiro ardente, reflectem a sensualidade da tua face, num dia ardente à beira-mar.
No sonho do momento, imaginas amplos voos sobre a trágica realidade que nos foi destinada.
E os teus olhos rasos de água, parecem lagos, onde cisnes brancos se banham, por entre a neblina de um amanhecer.
 
sonho