Que vigilo eu?
No topo de uma duna
Onda estática de um mar imóvel
Agora que o vento amainou
E no céu esmeralda mil luzeiros cintilam
Tão suavemente
Que nem dá para fazer bulir um grão de areia
Os soldados ressonam
Enfiados nos sacos cama
Ouço bater os seus corações
Não sei quem são
Nem donde são
Só os conheço daqui
E só eu sei que como eu
Não vivem de ilusões
Vão para lado nenhum
Para onde o destino aprouver
São a lama
Da raça humana
Sem pátria, nem lar
Talvez fugidos do amor de uma mulher
Só lhes dói a saudade
São flores de Lotus
Que germinam na duna
Como eu
Pura espuma de espiritualidade
Que vigilo eu?
(Algures no Deserto do Sahara)
xxviii-iv-ddix