Poemas, frases e mensagens de jessé barbosa de oli

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de jessé barbosa de oli

LABIRINTO FANTASMA

 
LABIRINTO FANTASMA

Não há saída:
Por mais estratagemas que minha mente engendre,
Não encontro uma porta aberta á minha espera.

A verdade é que entrei em um limbo
E não encontro o caminho da volta.
Minha mentosfera vive em logro:
Sempre seduzida pela fácil e insidiosa visão de lautos oásis.

Pondero: tento entender a fisiologia legislativa que me vige
O cérebro para que eu penetre em suas vísceras
E enfim derrote o sortilégio que os inebria,
A fim de que decifre e compreenda o significado dos enigmas.

Mas não há saída:
Meu fado é a falha, andar em círculos.
Vivo e agonizo no labirinto da impotência de meus idílios falidos.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                               LABIRINTO FANTASMA

CHUVAS DE PENSAMENTO

 
CHUVAS DE PENSAMENTO



Ouvi o fragor das gotas d’agua caídas ontem, lá fora,
mas, fugazes, elas tão-somente se mostraram...
como também a sua ressonância.
Peremptoriamente, aliás, como o é a via temporal de uma bala:
sim, porque, ao sair da ígnea arma,
em poucos momentos, transmuda uma lépida potência de luz
numa vida irremediavelmente ceifada.

Ah, também eu sei
que na minha mente chove.
No entanto, não são gamas de efêmero H2O cadente;
infelizmente, na realidade, vertem-se dilúvios de epígrafes
ácidos:
os quais nem remotamente lembram o olor da transitoriedade.
Creia-me: é muito ao contrário. A bem da verdade,
na mentosfera,
eles se formam; se condensam; deixam-se ficar; expandem-se e
Se reverberam!
Sempre num vôo-passo fleumaticamente contínuo. Continuamente inercial. Inercialmente reto.

Sim, eu tomo essa híbrida espécie de chuva
por fluxos de diária reflexão
que me levam bem ulteriormente a mim;
e, ao mesmo tempo, inimaginavelmente
próximo: próximo das chagas.
Contemplando as chagas: próximo o bastante para
contemplá-las.
Sentindo as chagas: próximo o bastante para
senti-las.
Incorporando as chagas: próximo o bastante para
incorporá-las.
Então, finalmente, sendo as chagas: a se apossar da sua matéria;
e, enfim, ei-las... eis que sou elas!

Não, não posso contemplá-las...
Não, não posso senti-las...
Não, não posso incorporá-las...
Não, não sou a matéria...
Não, não sou a chaga.

Ah, pena que não possa nada...
Ah, pena que uma coisa só fazer possa...
Ah, pena poder apenas empunhar a pena pra exarar
E mais nada.
Sim, que porra não poder conter a chuva... Não estancar a cruel
enxurrada.
Não poder acabar com o padecimento causado pelas mazelas.
Não cicatrizar as dolorosas chagas!
Ah, e esta chuva que não passa...

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
      CHUVAS DE PENSAMENTO

A NÉVOA DE PANDORA

 
A NÉVOA DE PANDORA

Assentadas na colina pênsil sobre a selva de pedra,
Pessoas lançam seu olhar ao firmamento
E vêem numa marcha frenética
Se aproximar delas a sádica névoa do tormento.

Os olhos transidos,
Como a injetar um ânimo febril no cérebro,
Esquadrinham particularíssimas congostas
Onde sabem que afloram escaninhos seguramente sombrios.

Alheia a tal ardil,
A névoa desprende de si
Diminutos cilindros de chumbo que descerram
Escarlates cataratas sem calma ou fecundam
Sementes, flores, florestas, floras do crepúsculo.

Quão, quantos
Cristais, Pérolas, Seivas potencialmente producentes
Que não serão
Carmelas, fulgurantes Auroras, Auréolas,
Diamantes de lume pungente, A Ébana Florescência mais Bela...!

No entanto, em vez disso,
Ela evoca tétricas noites diurnas
Que transformam airosas rosas betúmicas
E açucênicas aquarelas européia-iorubânicas
Em cálidas sepulturas.

Finalmente,
É assim a jacarandânica câmara de gás contemporânea...
É assim a aura da vil-metálica chama...
É assim que caminha a extrordinária e magnânima civilização humana!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
          A NÉVOA DE PANDORA

A FLOR DA SUBJETIVIDADE

 
A FLOR DA SUBJETIVIDADE
( DEDICADO A HELEN)

Por que não te assumes como Poetisa, Trigueira Flora?
Por que te martirizas?
Por que não dás vazão á sublime centelha da verborragia,
Em tua masmorra sentimental inexplicavelmente detida?
Por que não queres que a tua lídima identidade aflore
Para que possamos enxergar nesta, o pélago da tua fantástica
Sensibilidade? Afinal, para descobrirmos se és infensa, imune,
Contrária á vaga de primaveras apaixonadas: sim, pois nela
Reside a febre de lirismos da índole sumária.
Ah, por que não queres te expor aos reveladores raios da magna Aurora, que, aqui fora, caudalosamente, se espraia dardejante e
Suntuosa?

Não te diminuas:
Saibas que o compromisso compele o poeta.
Sim, sobretudo quando a faísca em molde de reflexão o cinge:
Daí, a tinta da impressão o reveste e a palavra, que pulula na sua Mente, transposta para o fulcro da Cibernética ou da Celulose, Cria uma própria vida, materializa-se, se consuma, se expande e Absorve. É Como se Cavalgasse sobre o lombo de um furtivo Repente. E, ao capturá-lo,
O parnaso se sentisse alegre, leve, contente. Alegre por domar Cavalos alados. Leve por parir cavalos alados. Contente por
Sê-los.
Ah, contente por ser o Pégasus de verbos sagrados, aspurgentes,
Altaneiros!

Decerto a sensibilidade quer-te quando queres;
A espontaneidade de forma alguma habita este alfobre.
Porque tu, ao contrário do que dizes e pensas,
Queres e necessitas sofregamente da primeira:
Sim, pois nesta jaz a resposta. Que resposta? O poema.
Portanto reside aí, a procura:
De quem?
A dela, a tua!
Claro, aí deita a vossa relação mútua.

Flor, Flor, Flor:
Não sejas tão-somente Flor bela,
Mas também a Florbela. A Flor bela
Que, deflagrando, lacera...
Que, se entregando aos braços do masoquismo,
Espanca a dor, a mágoa, a festa
Das amorosas venturas funestas.
Ah, Florbela,
Por favor, te assume como parnasa.
Ah, Florbela,
Eu imploro, mostra-nos
Que, ao mundo, poetas, parnasas.
Sejas, então, simplesmente, Poeta!
Sejas, enfim, a Maestrina Maior da Lírica
A reger a Mabiosa Orquestra com o bastão de doces lufadas
Etéreas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                                A FLOR DA SUBJETIVIDADE

A INFAME ALFAZEMA DO CREPÚSCULO

 
A INFAME ALFAZEMA DO CREPÚSCULO

O olor malsão de um atroz embuste
Eiva, lancina e sidera
O cadáver de um nobre varão,
Transformado em fermento para alimentar o âmago da Terra.

O olor malsão de um atroz embuste
Rapta, suga, tortura, enclausura e oblitera
A seiva do oxigênio que sustém a chama da sua grandeza acesa

O olor malsão de um atroz embuste
Enxovalha, desbota, aquareloa, transforma
Sua melodia que passeia tranqüila na alemeda da alegria
Em correntezas dantescas de uma malévola elegia

Enfim, o poder malsão de uma atroz flor de Alfazema ferina
Chafurda, afoga e asfixia no oceano das mais argutas torpes injúrias daninhas
A gloriosa luminescência etérea de um prosaico filho do sol de Libra!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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                                           A INFAME ALFAZEMA DO CREPÚSCULO

O CREPÚSCULO DOS DIAMANTES NEGROS

 
O CREPÚSCULO DOS DIAMANTES NEGROS

A

Não podemos esquecer
Dos corpos que jazem sem cemitério
Por saber ser hábito o genocídio
De negros norte-americanos em tempos pretéritos.

B

Não podemos esquecer
Da inerme ordem pacífica
Que vigorava naquela remota província:
Onde, embora se respeitasse as torpes e indignas regras ferinas,
Era muito forte o ódio que na mente dos filhos da tirania Silentemente fluía.

C

Não podemos esquecer
Das chagas inexoráveis do aparthaid:
O qual até hoje, apesar de oficialmente obliterado,
Continua a mostrar seu gládio nos tribunais
Ao condenar criminosos fabricados.

D

Não podemos esquecer
Do homicídio de pessoas injustamente acusadas,
As quais foram mortas
Por um ardil procedente do medo, da aleivosia, da raiva:
Sim, na socapa de um estupro,
Alegado por uma ariana rameira
Vivendo maritalmente,
Jaz a fórmula para acender a pólvora
Promotora da vaga de hecatombes que destroem a convivência
No mundo, então, comutado em oceano-rio-mar segregantemente
Inclemente.

E

Não podemos esquecer
Do sul estadounidense e dos corpos que jazem sem cova,
Em Housewood, na Flórida.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
               O CREPÚSCULO DOS DIAMANTES NEGROS

O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA CADEIRA DE RODAS)

 
O SOL SOBRE MIM
(O HOMEM DA CADEIRA DE RODAS)

O homem, sentado na cadeira de rodas, analisa
O momento: disseca o céu que, em expansão, caminha:
Caminha em passadas paulatinas.
Por outro lado, o varão bivaga a querer sair com sua, hoje em dia, Tão vulgar e, ao mesmo tempo, tão insólita locomotiva. Sair á Rua.
Respirar a cidade. Ativar a sua vida de esquerdo-militante,
Detida na bruma do não poder calcinante, atroz, infeliz, Medusa!
Marcar com um companheiro de ex-legenda: sim, ansiando por
Vê-lo e discutir ou quem sabe ajudá-lo em seu brilhante projeto, Outrora,
Sumariamente relegado á fria prateleira do descaso,
O qual jaz soturno, ambíguo, nevoento, sepultado. Prateleira de Quem não quer semear a Revolução na mente de ninguém. Oh, Sim, a verdadeira Revolução Gloriosa: A revolução que pode Operar o povo,
Que podem operar as pessoas hoje mortas. Que pode operar o
Hoje chamado rebanho de massa de manobra.
Ele quer visitar uma exposição de quadros. Assistir á encenação
D’alguma peça. Ah, como gostaria de integrar uma amical e
Controversa pleiástica roda de ignotos poetas.
Enfim, apreciaria ajudar, como fomentador da cultura,
A nação alijada e oclusa nos presídios das chagas e das mazelas,
Chafurdada na sádica areia movediça da sarjeta que os lacera,
Encerrada dentro da masmorra sepulcral da tortura que os molda
Besta-fera.
No entanto, ele em casa...
Porém, ele já fora da sua automotiva cadeira...
Entretanto, jazido sobre o chão de sua alcova lúgubre e acerba,
Ele compreende a factual envergadura da magnitude de sua acre
Insignificância e impotências.

Compreensão que se transmuda em convicção:
Convicção que se avoluma na medida em que sua família
Uma ignominiosa palavra degusta:
--- Vadio! --- Eles falam, chamam, bradam, urram!
Não, mas ela perde seu efeito ferino,
Pois algo o motiva. Sim, ele ouve-escuta, ao longe,
Um exemplar do rei dos mitômanos em comício.
Porfim, sobre o circo, os mecenas e o dono, ele exara. Exara co’a
Destra, não á esquerda:
Porque esta é falha, falha de nascença. Aliás, como o mesmo o é em toda a sua opaca inteireza.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                           O SOL SOBRE MIM(O HOMEM DA CADEIRA DE RODAS)

MOUNTAIN OF CLOUDS WITHOUT SHADE

 
MOUNTAIN OF CLOUDS WITHOUT SHADE

Queria que contivesse dentro da arca da minha personalidade
A força necessária para me defrontar com esta montanha.
Queria que contivesse dentro da arca da minha personalidade
O estro necessário para escalar esta montanha.
Queria que contivesse dentro da arca da minha personalidade
A sageza necessária para perceber como se doma esta montanha.
Queria que me contivesse dentro desta arca
A grandeza necessária para chegar ao cume desta montanha
E sobre ela, inteira, jogar névoas infinitas da seiva do orvalho,
Como se quem burilasse o próprio nome
A fim de que o círculo aquoso pudesse tornar estéril, opaco o Medo de quem quisesse se entregar á coragem,
Que jaz oculta em seu espectral
Horizonte de sonhos sublimemente prosaicos.
Entretanto ela assim não o quer, por isso me cobre com esta
Redoma de pusilanimidade e torpor.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                 MOUNTAIN OF CLOUDS WITHOUT SHADE

QUADRA DO QUERER BALDIO

 
QUADRA DO QUERER BALDIO

Ah, mas descobri que o meu querer é inerme:
Ele não suplanta os catalisadores da humana intempérie;
Antes, prefere seguir os passos do vácuo célere.
Assim sou eu: eterna geleira de flocos de neve!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
http://poesiatropega.spaces.live.com/
 
                           QUADRA  DO QUERER BALDIO

AMBIÇÃO

 
AMBIÇÃO

Meus olhos querem enxergar além:
Além da linha do horizonte do sol dos prosaicos;
Não, na verdade, almejam sê-la.
Ser a estrela que o rebanho ilumina e norteia.

Pra ser honesto, os olhos meus querem ser
A manada de gados tocada pelo fluxo condutor da banalidade.

Ah, de fato, meus olhos querem
Que sua luz,
Ao alvejá-los energicamente,
Me faça emergir triunfantemente
Da fonte da contraluz do ordinário fosforescimento
E me comute em mais um membro do seu rebanho.
Rebanho dos zilhares de vaga-lumes que voam
Agarrados nas asas do céu da assiduidade do vento sortilegiante.

Eles, então, encorajados pelo lume da esperança,
Defrontam a muralha de raios imposta por aquela luz, Presunçosamente fugidia,
Para tentar fazer chegar á retina
A nítida esfinge da esfera ígnea.
E assim poder compartilhar com ela
O pólen do segredo,
Que a todos intima, cativa, intriga,
Enleva, pejando-os de vislumbres dulcificantes, por isso mesmo
Dantescos!

No entanto, como se fosse nocauteado inesperadamente pela Brisa,
E, ao ser levado á lona, sentir trespassar-me pelo corpo um Vagalhão de
Nada,
Regresso ao velho inane cenário.
Cenário de minha lúgubre realidade.
Deste modo, entrego-me, uma vez mais,
Á hidrópolis do silêncio,
Pois constato que meus olhos
(embriagados pela melodia do bardo da elegia)
Descobrem que não podem enxergar
Além do horizonte da luz da sombriedade
Cuja presença no meu cotidiano me martiriza tanto, em verdade.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                         AMBIÇÃO

EL ESCLAVO DE LAS CALLES SOMBRÍAS

 
EL ESCLAVO DE LAS CALLES SOMBRÍAS

Um som se divisa da turba de ruídos silenciosos
Que ouço aqui do quarto:
Sim, creio ser a filha mais capciosa, pérfida e graciosa do medo:
Quem poderia ela ser, hein, minha amiga?
A angústia. Sim, ela mesma, vindo corrosiva
Sob a forma de febre terçã, querida.

Receio esta acústica:
A presença ensurdecedora do mutismo
Me faz divagar. E quando divago, costumo ir
A uma zona da mente em que não sou mais auto-controle;
Ao contrário. Lá, é como se eu fosse um corpo autômato,
Inanimado, sendo levado por impetuosa correnteza.

Por que lá eu me sinto assim, querida?
Porque lá eu me contemplo como um náufrago dos mais caros
Sonhos. Tresmalhado do cálido regaço-esteio da certeza,
Aderno, afundo e finalmente feneço sobre o áspero solo da
Racional indigência.

Tenho medo do não ser perene:
Não sei se suporto a premissa de ficar venalmente confinado
Dentro da seara estéril do vácuo.

Eu poderia ser um discípulo da agnose
Eu poderia perigrinar até a cidade de Juazeiro do Norte
Eu poderia ser um rebelde crédulo
Eu poderia ser um tenor evangélico
Eu poderia ser a mente que mais entende o Talmude
Eu poderia ser um apelo de paz de Maomé ao mundo islâmico
Eu poderia ser o desmantelar da nação hindú na Índia cibernética Do século vinte e tantos
Eu poderia fazer com que as pessoas enxergassem a face lídima De Sidarta Gautama
Ah, eu poderia morrer ateu no viés boreal da Irlanda.
Na verdade, eu sou aquele que segue ávido o som que esgarça
A fortaleza protetora da ópera do silêncio que me incide sobre
O ente no exato agora!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
           EL ESCLAVO DE LAS CALLES SOMBRÍAS

COMEÇO TERMINADO

 
COMEÇO TERMINADO

A

Um murro dado em ponta de faca
São os íntimos relacionamentos fátuos:
Meus, se a memória não me falha.

B

Trilham os sentimentos sempre o itinerário do malogro:
Ainda que faça um grande esforço para sustê-los
No limbo do controvertimento e a fim de que eu possa
Fugir do cruel ultraje da negativa,
Não adianta. Não adianta porque a têmpera dos sentimentos
Suplanta e dissolve a inquebrantável barreira da introspecção,
Fazendo-os chegar á superfície da palavra falada.
Ah, e quando dou por mim, já se faz vã a reação,
Pois já se dera toda a desgraça.

C

Então, a mim, só cabe o ficar na expectativa:
Expectativa de receber o fora mais eufemístico
E civilizado que queiram, a mim, ver devotado em vida.
Sei que é de se estranhar,
Mas, embora pareça comicamente dramático,
É muito estimulante e extático
Ver o olor da adiaforia inundar algumas almas;
Como também o sol de compassividade que emanta almas outras Por mim preiteadas.

D

No final das contas,
No fundo do meu âmago,
Sei, sei que sou cônscio do fado reservado aos preitos
E aos pedidos. Sei que eles acabam trilhando o fado
Do crepúsculo. O fado do cair no precipício!
Ainda sim, momentaneamente, caio no ledo engano daninho
De me engolfar no lago da quimera de ver realizado meu idílio.
Oh, mas afinal, recebo um direto desferido pela navalha da Comunhão: ele dilacera a cara do quadro onirico,
A qual me dispus a trabalhar sobre a tela da mente
Com muito apuro, afinco e adoração.
Sim, percebo agora o quão é azedo o repasto da ilusão:
O que me sobra é o refluir ao cais do ermo porto
Do murro dado em ponta de faca e de facão.
Ah, este sensabor já não dói, não reclama tampouco sangra.
Este sensabor é vão, deserto etéreo, é nulo, é lepra Contemporânea!
Este sensabor não fede nem cheira: é inodoro aroma de tristeza.
Este sensabor é brancura infinita e farta, inane luz que o solo
Da opulência encharca:
Inutil drama escrito por uma existência de balsâmico fel
Em que a sua substância deita tenuemente amarga.
Este sensabor é eterna chama que se extingue:
Um corpo sem vida, porfim, estendido na fria cama
Jacente numa alcova lúgubre.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                          COMEÇO TERMINADO

LANDSCAPE OF THE RECENT PAST

 
LANDSCAPE OF THE RECENT PAST

A inesperada voz, que soava leve em meu ouvido desgostoso
Durante o último telefonema, me fez regressar,
Ainda que momentaneamente,
Áquela não muito ulterior atmosfera de alegrias degustadas
Indevidamente: por isso mesmo verdadeiramente etéreas,
Eternamente fosforescentes.

Lembrei-me do quão era bom o jocoso paradoxo da Espontaneidade de dividirmos o pão, não deixando de o Querermos reter, unicamente, em nossas mãos,
A estar envoltas na densa neblina da fome
Da veemente ambição inconseqüente de quem nada come.

Lembrei-me dos viróticos déspotas esclarecidos do saber,
Que, por meio de seu DNA masoquista e deletério,
Ceifam os tenros jardins citológicos da linearmente ideológica
Metamorfose, a qual se processa dentro do cérebro de cada projeto de homem e de mulher posteros: sim, falo, justamente, Daquela que nos pode semear o sentimento de infinita irmandade entre todas as pilastras da sociedade do augusto primata ser, Então, sincero.

Sim, lembrei,
Lembrei-me do cíclico fluxo de vontades represadas
Pela eclusa da sensatez.
Lembrei-me das amorosas venturas forjadas pelo magma
Do anonimato da minha psiquê.
Ah, sim,
Como poderia esquecer
Das marés e marés primaveris de esperança em que tanto me Lancei.

Sim, seguramente, ao falar-me,
Sua voz descerrou-me na memória
Aquela recentemtente fechada porta:
Porta que me trouxe de volta
A sensação da felicidade incauta.
Sim, infelizmente eu vejo,
Claramente perdida, agora.

Contudo, a querela não fora de todo perdida.
Sim, com efeito, consegui colher flores belas, magníficas.
Dentre elas: sua amizade, Querida Negra Pérola,
Na concha da controversão, voluntariamente, jazida!
Sim, falo de você mesmo, Pérola Negra, que mostra ás rosas de Judas o Beijo desabrido da opaca cintilância e aos sinceros corpos Primários os preciosos tesouros recônditos em seu arquipélago Quase impenetrável.

JESSÉ BARBOS DE OLIVEIRA
 
        LANDSCAPE OF THE RECENT PAST

PULMONARICÍDIO

 
PULMONARICÍDIO

Daqui a cinqüenta anos
Não veremos mais o pulmão do mundo:
O cerrado chegará
Devorando tudo em seu horizonte profuso.

Daqui a cinqüenta anos
Não veremos mais o pulmão do mundo:
As queimadas convocarão as savanas e os saharas
Quais encontrarão porto seguro na ex-“República”
Das espadas frondosas e caudalosas cataratas.

Daqui a cinqüenta anos
Não veremos mais o pulmão do mundo:
Desde já a biopirataria demanda
O poder pátrio da Flora e Fauna tropicais, tupinicanas.

Daqui a cinqüenta anos
Começará o apogeu do aquecimento climático:
A poluição manterá o mundo em cárcere privado.
A humanidade iniciará a trilha do seu eclipse
Por teimar navegar cega e temeriamente
Em mares que nunca podem, puderam, podiam e nunca poderiam Ser navegados por nossa espécie, nossa gente, nossa plebe,
Nossa elite.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                                PULMONARICÍDIO

SONO DE JULHO

 
SONO DE JULHO

A

Sensação térmica:
Tão baixa, arrefecida, ínfima;
Vontade indômita
Que me toma, doma, domina.

B

As pálpebras pesadas
Fazem de minhas forças cordas lassas.
O frio dulcifica a raiva:
Preponderante, o langor reina n’alma.

C

Ainda sim, o corpo resiste:
Cedo alguns temporais centímetros,
Mas, depois, suplanto-o destemido.

D

A noite advem:
Até pouco depois da cinza das horas,
Pugno. Pugno e após sucumbo vencido.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                   SONO DE JULHO

LABOR HONRADO

 
LABOR HONRADO

Ontem pude contemplar
O quão é árdua a rotina, a jornada
Dos mantenedores da saúde
De uma das quase inumeráveis faces urbanas
Da nem sempre bem tratada
Aquosa Casa da egocêntrica raça humana.

Ontem pude contemplar
O etéreo reverberar da visceral poesia
Que emana como a fotossíntese do cotidiano urbano:
O correr impávido e ativo
Do esquadrão dos caçadores do lixo.

Quanta alegria, Quanta desenvoltura:
Os jardins de girassóis, que lhes afloram
Da janela d’alma,
Nada nos revelam
De sua dolente e escravizante caminhadura amarga.

Contudo estes heróis não cansam:
Contumazes, têm consigo a fé na esperança
Já que ostentam em seu semblante
O imponente lume da jactância!

E assim bivagam estes:
Trilhando o horizonte da dignidade,
A cada esquina da cidade,
Não removem tão-somente
A embriaguez de detritos que aprisionam nossas vistas,
Mas, da modernidade,
Tornam-se a nova Ametista.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                         LABOR HONRADO

OS CAVALEIROS DE PANDORA

 
OS CAVALEIROS DE PANDORA

Tropas do Apocalipse galgam a proeminência íngrime.
Como morcegos ávidos por plasma,
Bebem, indiscriminadamente,
Sangue de honestas e contaminadas ferramentas:
Ambas deveras voláteis, obsoletas!
Adrede e de bom grado o fazem.
O fazem pois possuem três pérolas preciosas
Em sua concha de desejos guardadas. São elas:
Em primeiro lugar,
Enaltecer a torpe quimera da boa proteção.
Em segundo lugar,
Livrar-se da andrômeda de ameaças que obstem sua ascensão
E em último lugar,
Fabricar copiosa mão-de-obra para tornar indestrutível
A garrida e impenetrável mansão.
Por isso, galgando, eles vão!
Ah, e, na roda-viva da tirania, a ordem se estabelece...
Ah, e, na roda-viva da tirania, um duplo dia anoitece...
Ah, e, na roda-viva da tirania,
A morte paira por sina sobre aqueles que já jazem sobre o arquete
De uma desgraçada vida!
Ah, e depois, lá vão-se embora
OS CAVALEIROS DE PANDORA.
Ah, e depois, lá vão-se embora os anjos:
OS ANJOS DA BOA HORA!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
                        OS  CAVALEIROS DE PANDORA

QUANDO A ÚLTIMA PÉTALA DA VIDA CAIR-ME

 
QUANDO A ÚLTIMA PÉTALA DA VIDA CAIR-ME

Como serei quando a última pétala da vida cair-me:
Um humano relicário de biles e vazios
Ou talvez um pescador de álacres auréolas
Por ter singrado trôpega, altiva e exitosamente
As agruras que salpicam copiosamente
As alamedas do meu caminho...

Como estarei quando a última pétala da vida cair-me:
Cintado de filosofais comensais e estáticos amigos eremitas
Ou no aconchego do tálamo,
Que compartilho com a Ondina do lago de lancinantes lágrimas caladas...

Quando a última pétala da vida cair-me,
Estarei vagando misantropo pela órbita de uma longevidade opaca
Ou será que serei despojado sem indulgência do seio da crisálida...

Todavia, embora trancafiado na masmorra da bruma de dolentes contingências,
Carrego comigo o mais valioso mineral de minha consciência:
A certeza de que, quando a última pétala da vida me cair,
Crepuscularei como mais um trôpego que caminha pelo itnerário
Interminável e magnânimo da Poesia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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                                    QUANDO A ÚLTIMA PÉTALA DA VIDA CAIR-ME

A FONTE DA EXISTÊNCIA

 
A FONTE DA EXISTÊNCIA

Ela é um indômito fluxo
De um caudaloso rio imortal.
Ela é a alba, a aurora, a manhã,
O meio-dia, o pôr-do-sol monumental,
O manto azul-betúmico
Que agasalha imponente
E hermeticamente
A tez do mundo: seu opalínico girassol colossal!
Ela é o pescador, o anzol, a isca:
O cardume de peixes que é a caça
E o caçador canibalista.
Ela é o viço do tempo,
A estridente voz da ventania.
Ela é a liberdade, a sua prisão,
A sua cativa inimiga:
Ela é, sem sombra de dúvidas,
A obra-prima da Poesia!
Ela erige gêiseres, icebergs, um vale de lágrimas
E também floresce nas areias escaldantes do Saara,
Na Brasileira Terra Rachada.
Ela é longevidade, trânsito fugidio.
Ela é a insuplantável densidade;
O onipresente eufemismo!
Ela é um drama contínuo,
Engolfado no exíguo oceano
De doses de prazeres rarefeitos,
Destinados ao limbo, ao vazio, ao reino do eterno efêmero!
Ela é um grão de areia no intangível mar do tempo,
É o próprio tempo em perpétuo movimento;
E, ainda sim, possuidora do cessar como sina, seu intríseco cimento!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
               A FONTE DA EXISTÊNCIA

O VÁCUO É O HORIZONTE

 
O VÁCUO É O HORIZONTE

E eu que sonhei com o horizonte,
Aquela reta que conduz pensamentos de esperança,
Deslindei-a sofisma quando percebi
Que as cinéticas pernas nem sequer perto dela
Haviam chegado.
Então contemplei o céu:
Fitei a cor e o corpo do horizonte.
Sim, e os vi sublimação, vácuo ao longe!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
       O VÁCUO É O HORIZONTE

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ELES PODEM APRISIONAR MEU CORPO, MAS NÃO MINHA MENTE...(MARTIN LUTHER KING)
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