SOU APENAS UM HOMEM APAIXONADO
A minha saudade é uma voz tão cheia de cor,
que eu moro dentro de uma aquarela
pincelada de emoção
Não importa o caminho, n'algibeira
carrego anjos de vento contornados de fogo
cuja missão é contar a história do meu amor
inventando mundos por ti
No rodeio do Boitatá
as árvores liberam melodia e sonho
porque você dança nua sobre o lago
aonde a Vitória-Régia se abre
pelo teu sexo que insuma a flora
de mel orvalhado
A formiga urra o suficiente
p'ra estrela cadente virar um anjo de pedra
e eu vago, maltrapilho, pois já não tenho loucuras
que venda no mercado espiritual,
sou apenas um homem apaixonado
cantando o amor pelo luar sonoro
E este amor,
é só o que te posso ofertar,
meu único palácio é a Natureza
e a riqueza sob meus pés
é o céu profundo aonde o Poder
é o Amor da minha alma máscula por ti
O CRENTE PUTRIFICADO
Aí a Máfia me achou,
um cadáver esverdeado, cabelos confundidos com o lodo,
a única coisa que me faz viver é a esperança da morte, eu dizia.
Sou dos mortos o que jamais viveu
o que teimou ao sofrer o aborto que viver é uma vingança
e vivendo sentiria a morte vazar nos poros.
E então resolví que seria assustador
e que o meu vocabulário um diário
de grosserias e insultos
e o meu batismo o afogamento
quando resistir se tornasse impossível
e o impossível foi sempre o meu ponto final só qu'eu nunca cheguei.
Sou o que decidiu que se o amor não é p'ra mim serei então meu
próprio amante e se o premio pela devassidão é o desprezo
que seja este minha aura. Não posso censurar aos que me
chocam pois eu mesmo tenho me tornado pavoroso. E
tenho como preferências as humilhações e o sofrimento
dos sexo pago com a alma.
Às suas costas eu ficarei sempre na frustração do olhar
e os teus passos ecoam dentro de mim com uma
eternidade de pés num beco molhado. Sinto que a claridade
me é proibida é um veneno que revela minhas feridas, a mim
foi decretada a escuridão p'ra que os sentidos explodam,
deles surgirão auroras alucinadas quando você surgir, auroras
tornadas sepulturas celestiais quando você sumir levando os sóis.
Sei que o mundo é uma sombra costurada entre carniças
e a incapacidade não é apenas um delírio apagado-Meu
a distância é um monumento ao impossível
o céu me deprime
Eu sou o imundo que atazana a população, nas ruas
a sujeira é meu disfarce
jamais ajudei alguém mas exijo ajuda de todos.
Irmão! Irmão! Irmão! Irmão! a religião é um suicídio
e o morto vaza o veneno pelo sexo como uma
menstruação andrógina liberando sentimentos.
Ô! égua de ouro das ancas de fogo
não acredite no que diz a religião ela é a traição
dos desgraçados, falsa mão estendida aos que estão se afogando
quando os salva-vidas dançam loucamente sobre a praia cheia de
covas carnavalescas como o julgamento dos fracos
COSMOLADRÃO
O anjo enroscado no galho da árvore
vocifera brotado de flores e legumes
pelo corpo andrógino de tão combalido
Como a rosa de todos os pecados
aliso o sexo sobre tua foto
ao teu nome os céus permitem
as devassidões mais originais
públicas
porque minhas
sou um homem brutal
espancados verbo e ilusão
reintegrado ao mito,
e se desembainho a lágrima
sideral
é porque nenhum caminho
limitou a minha fúria,
apenas cabe a mim lembrar
estou vivo antes do percebido
imigrante do amor vidente
porque só o teu ventre
me conteve
e desde que me lambuzei
na vertigem do possuir-te minha como saciada
sou teu como o pássaro alucinógeno do sonhar amanheceres
cosmoladrão
como um anjo roubando néctar
do beija-flor
amante porém conspirador
QUANDO VOCÊ ABRE as PERNAS
o cavalo eu trago no meio das coxas
e levanta asas quando você monta
estátuas hipnóticas gramofonam poxas
e os cupidos caralhuam raves êxtases nas grotas
bruxuleio seu andar no deleite da boceta
rockários tinturelam guardanapos
e o resultado é um zé pouco carioca brincando de sambeta
porque os bandeirantes no recreio tiram da lancheira o mais dos sapos
a poção mágica eu bebo - olhando seus olhos - no café expresso,
eu finjo de bravo porque tenho medo de ser menos tigre
todo o meu amor é para ser entregue a você, confesso,
eu invento palavras p'ra chamar sua atenção armando o calibre
cada foto que estou ao seu lado faz prova judicial
de que a felicidade existe, e eu que sempre gostei de ser marginal
canto o amor porque sei como é lindo o seu coração uma estrela
eu atravesso o país gritando o seu nome na cor da aurora mais bela
eu só penso em você, sua pele dá cor à minha alma
e eu que dançava no meio fio das sombras
tiro do primeiro raio do sol um pote de ouro e na calma
do sonho que inventou você de tão linda mastigo as gomas
da tangerina que me perfuma a tara quando você abre as pernas
NO TEU JEITO SOU um MENINO
Meu amor
nem a noite escura
nem a rosa perfeita
são verdadeiras
como o meu amor
como o meu amor
por você, em você.
Só você, meu amor
tem o dom de fazer
do minuto uma canção,
só você meu amor
tem a chave dos segredos,
presenteia brilho na areia,
no teu jeito sou um menino que passeia.
Meu amor,
nem a noite escura
nem a rosa perfeita
fazem de mim um homem
completo só você,
só você tem a receita
da felicidade,
só você apaga o sonho
e faz do homem, verdade.
ÁLGEBRA no OLHAR
Peço perdão, principalmente,
pelos versos mal feitos,
por tanta coisa sem jeito
que sequer eu sei falar
Peço um perdão sem nexo
pelas rimas fáceis e a voz frouxa,
melhor seria lavar a louça
se o navio fosse ao mar
Trago em mim uma pobreza
expressa em fogo
pela álgebra no olhar
e a certeza louca
de que p'ra sempre vou Te Amar
Um Amar de alma entregue
no coração, um Amar tão nomeado
de ser unicamente teu,
que aonde há caminho pinto jardins
p'ra te bater na porta com a rosa
da minha vida na sua mão
MEU CORAÇÃO É UMA ESPADA
Olho a cidade da minha varanda
e o caos parece um bicho bonito,
nem reza de padre velho adianta,
na mão afago o pássaro de coração aflito
e desperta a pergunta: eu morri dos sonhos de menino,
o que resta se eu vivo apenas no desatino?
Carros falam a mesma linguagem dos corpos malhados,
não, eu não sou contra o conforto e a beleza,
vivo o Amor nas fantasias mais loucas porque o estado
da insensatez recupera mais do que o brio a certeza:
a revolta é uma conquista na alma do sábio,
o imbecil prefere se corromper mudando o vestuário
É hora de ser extraterreno - como escutar gente drogada
e ladrões de infância? como acreditar na fada
se a magia é desordem e gargalha o embuste?
sombras no muro antecipam o fim, não se assuste,
de cavalo branco seriamos presas fáceis,
pelo submundo encontramos solidariedade e pão com os miseráveis
´
Muito além dos bancos e dos impérios - a dúvida:
qual o enigma no traçado do sorriso chinês?
prefiro a companhia do louco e do ladrão à morte súbita
de uma religião que promete em nome de um deus que nunca aparece, leis
não explicam ao meu filho porque não é possível ser maior do que o sonho,
por isso grafito no muro burguês: atender ao limite é tristonho
Porque o meu coração é uma espada com asas,
e a manhã do meu galope heroico é bater na porta
da mulher que eu amo mais do que a mim mesmo
e dizer: não preciso de rima p'ra ser teu poeta
porque é o meu Amor tão imenso que as estruturas
são pobres perto de tanto sentimento: meu Amor é louco, é além
deixo do lado de fora: capitalismo tardio, partidos, jornais sônicos,
tudo o que interessa é fazer amor bebericando vinho na frente da lareira,
o resto é idiônico!
O ANJO SONHA AZUL
Me desculpe, se nunca fui perfeito,
o nunca fez de mim alguém cujo defeito
é uma chama dardejada pelo sol
Acaso teu silência responde por tristeza
é o meu jeito ignaro da beleza
crescida no semblante maior do teu sofrer
Eu nunca soube amar direito, é certeza,
apenas um estradeiro cuja roupa alveja
na chuva encerrante da estação
Mas, a decadência fula revoltante do meu ser
não é dona do direito de te fazer sofrer,
minha estrada é na distância como teu lago
é uma fatia de céu quente pois o anjo sonha azul
BURACOS NEGROS
Sangue sangue sangue sangue
sangue sangue sangue sangue
sol
uma bandeira indecifrável
guia o desfile
ignora-se a regra tônica
e o chamado doentio
permanece suspenso
- pedra e espinha da voz
Cavalos loucos guardam
túmulos de mulheres virgens
seladas nos sexos pela cera dos testamentos
porque o Tempo é um Anjo
sorrindo buracos negros
Apenas no submundo da lua
há castelos repletos de orgias e vampiros
descreio no adeus porque o sol nunca faltou
e se me foi o coração dado de morada à alma
é porque chora em mim um Amor
tão definido que até o nome
dos sonho decreta entrega
A mesmice do jornalismo não capta quem chegou,
é de propósito, porque na bagunça
a louca harmonia produz as melhores vítimas
Me conduzi além das muralhas desta cidade
aonde a jurumela atlante do perdão e do arrependimento
provoca gargalhadas nos céus
Eu caminho no labirinto dos jardins loucos
aonde as formigas maiores do que os cães
cultuam o serrote,
redemoinhos de ventos materializam anjos bélicos
só porque a aurora é a bandeja de toda permissividade
do meu sexo devoto de você
MENINO CHEGADO
eu inventei as estrelas
ponteando cada lágrima
nas cordas da guitarra, meu Amor,
festejando em cada curva
fechada a chegada próxima,
porque nunca concebi destino sem Você
eu cantei pela voz dos pássaros
o que só é Amor porque humano
demais p'ra ser entendido,
e Te Amei mais ainda
quando era finda toda existência
compreensivelmente declarada
porque a sua Alma é o céu
que me faz sonhar a derradeira Oração,
p'ra que na Terra aonde semeio
a rosa do meu Amor sem fim,
o sorriso da sua face
ilumine as ruas solitárias do meu coração
que é só Seu e que tão Seu,
permaneça eterno
como a canção
da aurora do Tempo,
quando o Tempo era um menino
chegado na aurora