Já tenho saudade
Daqui onde estou,
por entre nesgas de céus que aparecem,
nas nuvens escuras,
que o sol há tempo apagou,
vejo estrelas cintilarem saudades,
bem antes, das que por lá ensombrecem.
O tempo, que replicou vaidades,
terra minha, que tão longe ficou.
Coisas boas da vida
Comer um bolo quentinho,
Tomar café batidinho,
Doce de leite caseiro,
Um assado de carneiro,
Queijo fresco e marmelada.
Uma promessa cumprida,
Uma rosa recebida,
Um beijo fora de hora,
E rir de quem cai da escada.
Ver o sol nascer faceiro,
Morgar o dia inteiro,
Comendo doce de amora.
Cortar cabelo sozinho,
Conversar com o vizinho,
Chegar feliz onde mora.
Jornal sem notícia ruim,
TV sem pornografia,
Gargalhar com alegria,
Tristeza chegar ao fim.
Isso tudo misturado,
Faz da vida um bem estar,
Alegria é um bem danado,
Pra quem sabe cultivar.
Cansaço
Cansei de ser a porta de entrada
para os problemas dos outros,
cansei de estar disponível,
de fazer do meu canto, o canto alheio.
Cansei de por a mesa para tantos,
de orar só por receio,
de chorar sozinha pelos cantos,
e sequer, um sorriso veio.
Cansei de remar com remo curto,
em um caudal que me esgotou,
num barco que ia tanta gente,
e essa gente,
meu esforço nem notou.
Cansei de ver a injustiça
correr solta em toda parte,
e os poderes poderosos,
faturando contra a sorte.
As verdades sempre ditas,
em palavras cautelosas,
soçobraram sob o peso,
das mentiras mais vultosas.
Ninguém vence sem luta,
mas cansa,
quando é muito árdua a labuta.
Quero nascer de novo,
pra corrigir erros que cometi,
viver as coisas que deixei pra outros,
e eu mesma não vivi.
Poema escrito em 2007
Uma Carta
Envelope branco selado
Com letras redondas escrito,
No verso este nome vedado
Há muito que estava esquecido.
Abrir, não sei mesmo se devo,
A dúvida cruel insiste,
Pois no coração inda existe,
Prevenção, mágoa e muito medo.
Deixo o carteiro na calçada,
Já convencida subo a escada,
E amasso o indefeso papel,
Acertando a cesta do lixo,
Jogando com ele o capricho,
Amor, dor e o amargo do fel.
Trova1
Não gasto tudo que ganho
Não falo mal de ninguém
Não fico mais com estranhos
Não sonho com nada também.
A Música do Mar
Naquele dia de sol,
Quando as águas refulgiam,
No lugar não mais se viam,
As cores do amanhecer.
E nem pode mais se ver,
As gaivotas em seu voo.
Então junto ao mar entoo,
A música deste olhar,
De um menino solidão,
Que ouviu com o coração,
A música e os sons do mar.
O menino que sonhou
Sua vida mais faceira.
No entanto a fogueira
Do sol queimando seus sonhos
Deixa o menino tristonho
No sonho, que ali deixou.
Vi ali o mar chorar.
O bem maior
C onvenhamos todos nós,
O nde tem sabedoria,
N ão cabe a malquerencia.
H á somente sapiência.
E ntão, se assim for,
C abe dizer que a presença, da
I nformação é preciso,
M esmo que errar aconteça.
E m verdade acredito,
N em precisa de ser dito, e
T ambém, que prevaleça,
O saber, que é o bem maior.
Doce convívio
“Amar a si mesmo é o começo de uma aventura que dura a vida inteira.” (Oscar Wilde)
É bom viver consigo mesmo
Sozinho
No ninho
Com pequenos prazeres, a esmo.
Sorrir para o pássaro que voa
A flor
Pura cor
E o canto do bem-te-vi que entoa.
Nada é mais doce, nem risonho
Ou mais terno que o sonho
De sorrir pra si mesmo
Com amor.
A Seca
Uma solitária cigarra desesperada, chama chuva. A secura invade os poros dos seres, fazendo de tudo o que tem vida, sem vida. Folhas secas despencam das árvores moribundas, caindo na terra ressequida já sem nenhum verde, nenhum inseto. Os pássaros voaram para longe em busca do frescor que aqui não tem. O João de Barro que anuncia a chuva, foi para longe. O sol a pino despenca raios matadouros, que há muito deixaram de ser benfazejos. Saudade da chuva caindo e molhando o chão. Saudade das rosas em seu frescor matinal. Saudade de água caindo do céu, mansa, suave, fresquinha.
Ah! Meu chão verde do Sul! Meu torpor!
Escrito em 2018
Sons do Vento
Ando pelas ruas,
dedilhando valsas ao vento,
pousando o olhar pelas nuvens,
colhendo as flores tão nuas,
tirando do sol a ferrugem.
Dobro esquinas de saudade,
falo com os passarinhos,
tiro as pedras do caminho,
buscando a minha verdade.
Soluço versos pensados,
e não pensados também,
refaço rimas antigas,
com letras minhas amigas,
pensando sempre em alguém.
Andando pelo relvado,
faço minhas escolhas,
sentindo o cheiro das folhas,
sonhando um verde dourado.
Caminho só pela vida,
à procura do que fazer,
seguindo a sombra perdida,
colho a vida por lazer,
em sons há muito tocados.