Poemas, frases e mensagens de JCC

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de JCC

Conselho de ministros

 
O desemprego aumentou
como nunca se viu.
A agricultura acabou,
a indústria faliu.

-- Dizei senhores ministros de Portugal,
que medidas havemos de tomar
para resolver este drama nacional
e calar o povo sempre a protestar?

Responde ministro sábio,
embora demasiado novo:

-- Culpa da crise mundial!
O mal chega-nos de fora.
Aprovemos sem demora
o casamento homossexual.

Pasmam os ministros com tal solução
e ouve-se por entre o burburinho geral:
-- Senhor primeiro ministro de Portugal,
assim não resolveremos a situação!

-- Ora, ora, dá para entreter
e depois de este assunto adormecer,
quando a polémica acalmar,
e já não for notícia de jornal
avançamos com a regionalização.

Quatro anos passam a voar
se o governo se aguentar
o povo depressa esquece
voltará a votar PeeSse.
 
Conselho de ministros

Búzio

 
Ouço vozes ao longe
murmurando
como que chamando por mim...

Olho e não vejo vivalma
Areal deserto, tarde calma
Apenas a lonjura do mar
Branco das gaivotas cortando o ar
Ninguém a quem falar

Só o murmúrio distante
das vozes ao longe
sussurrando
como que chamando por mim

E num arrepio
sussurrante
se de medo, se de frio
como que trazido pela brisa
sibilante
o murmúrio das vozes
indistintas
sempre
chamando por mim...

"Poema" meu que abre o romance Entre Cós e Alpedriz.
 
Búzio

Invernia

 
Badaladas do sino
Ecoam pela aldeia deserta
Porta-voz do destino
Recordam aos velhos a morte certa

Quando será nunca mais Primavera
Pelo menos um dia radioso
Que enfeite a atmosfera
Neste tempo tão chuvoso?

Ah, rapazes do meu tempo
Ah, mocidade da minha geração
Uma fogueira no peito
Uma laranja em cada mão
Esqueçamos o tempo já passado
Vamos apanhar gelo
Vamos colorir o coração

(Nasçam malmequeres
Cresça a couve
que se sache e se monde
que se colha e se coma)

Lá, onde corre a fresca regueira
onde cresce o agrião
Enchamos o cinzento de laranjas
uma no céu, uma em cada mão

O sino dobra novamente a finados...

"Poema" meu que fecha o romance Entre Cós e Alpedriz
 
Invernia

Pátria

 
Destroçado pela derrota derramo minha amargura
Pelos caminhos deste país que já foi de vinho e mel
E a ela perdura, amarela e viscosa como fel,
Tingindo cada rosto, cada figura,
De lívida brancura

Já nada é como era dantes
e o cabelo que me vai faltando é apenas
breve indício do Inverno que se vem aproximando.
Mas o que me dói e não tem cura
neste entardecer azedo
é ver o país a adormecer cinzento
de indiferença e pasmo bafiento

Ninguém faz nada sem proveito.
Pelas auto-estradas que conduzem aos centros comerciais
telemóveis saúdam as novas catedrais
(Por aí fora, o abandono
Matas queimadas, hortas perdidas
peixes lançados ao mar
fábricas fechadas, reformas antecipadas
país de alheio dono
Desespero do desemprego, aldeias abandonadas
oh subsídio-servo-dependência!)

Não, nem orgulho ferido nem sonhos perdidos
agora já só o meu olhar camponês me magoa
como o mato à minha terra onde já nada é como era dantes...
Chove no Verão, o Inverno aquece
E o nevoeiro não tece mistérios bastantes
outros que a miséria deste Portugal que esmorece

Só sei que de lado nenhum sairá a luz que rompe as trevas
porque já nem a noite é de breu
nem os dias resplandecem
e os amanhãs não cantam,
silenciosos como a nossa triste terra.

Desculpem a ousadia - não sou poeta, com muita pena minha.
 
Pátria