Desafiot
Não sou.
Sou o segredo que não se esconde, o corpo que não se prova, o rosto por trás do olhar, o vulcão no seio das mãos.
E no seio, ah!, no seio carrego o Amor em desuso, aquele que sendo tudo isso, sorri gelidamente na minha boca, devorando ferozmente nos beijos que dá.
Infortúnios silenciosos
Nunca o confessei.
Mas sentia-o. Sempre.
Fui-me perdendo de ti nesta sempre recusa da voz do corpo.
De mão estendida, ansiosa, corri o risco de que não quisesses segurá-la, senti-la, de subir até ao meu cotovelo.
Ficava imóvel, imaginando como dizer não ao gesto que desejava.
E tu dizias-me indecifrável, perdida num céu sem porta, sem escada.
E eu, em cada dia, desejando cair e tocar-te.
Não queiras o que em mim vê.
O que sou, sombras apenas.
Acinzentando o rubro dos beijos, ocultando o volume das formas.
Apenas o meu olhar adormeceu. Do resto, apenas o indefinido. Na boca, o esboço de um sim.
Sem hora.
Não me apeteces.
Não me apeteces.
O teu pensamento de mim deixou-me sozinha.