NA PAZ DO CRIADOR
NA PAZ DO CRIADOR
No cume do meu descontentamento,
daqueles que um Homem sente
da vida e da pátria amada,
meti-me por entre penedias,
revendo histórias e troicanas fantasias,
e fiz-me à Serra, calma, serena
e indiferente ao meu tormento.
Do cimo mais alto da Mourela,
sentindo o vento frio no rosto,
que ali corre no mês de agosto,
vi tudo em quadro de aguarela,
que nenhum pintor pintou.
A urze florida, radiosa,
a carqueja, sempre formosa,
vidos, giestas, pinheiros,
carvalhos e castanheiros,
ondulando ao vento
numa dança de sossego,
que uma águia-real observou.
E eis-me ali, no meu tormento!...
Sentei-me, numa pedra, ao vento,
por cima do meu tormento,
por baixo daquele calor;
gritei com raiva um impropério,
daqueles que fazem corar o Barroso,
e com enorme gozo
deitei fora o descontentamento,
curti a Paz do Criador.
( Acácio Costa)
O CHORO DAS ÁRVORES
Aperto-te na minha mão,
urze do monte.
Não pedes nada, neste estio,
mas choras por haver gente
que te quer queimar!...
Tenho-te a meus pés,
feno ondulante ao vento,
nos dourados prados do Barroso.
Não pedes nada, sabendo que vais secar,
mas choras por haver gente
que te quer queimar!...
Contemplo-vos, em silêncio,
carvalhos, pinnheiros,
vidos e castanheiros,
no vosso manto verde
que nem agosto faz murchar.
Não pedis nada, neste estio,
mas chorais por haver gente
que vos quer queimar!...
Chorai, chorai, sim,
árvores e jardins dos montes.
Juntai vossas lágrimas
à cascata que jorra em mim,
pois, essa gente,
que não sente
e vos quer queimar,
ou é demente
ou não merece por cá andar!...
( Acácio Costa)
O Ser e Eu
O Ser e Eu
Eu existo e eu sou eu.
Há dias que mal sou eu,
mas existo.
Há dias em que sou muito eu
e mal existo.
Há dias que não sou eu
e existo, porque penso.
Mas seja lá como for,
como penso, existo
e eu sou eu,
todos os dias
com o meu escopro
gravo no eu que existe
mais um sulco
do eu que eu quero
e devo ser enquanto existo.
(Acácio Costa)