Poemas, frases e mensagens de CAPaulon

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de CAPaulon

Saudade

 
Saudade

c. a. paulon

Parte de mim a acompanha quando você se vai.
Não sei se a que se vai é a minha melhor parte,
Mas provavelmente é a parte de mim que você atrai,
A mesma que quando você a leva me entrega a arte.

A parte que fica, por estar só, muito pouco me satisfaz,
Por ser ela insuficiente para tornar plena a minha vida,
Por não manter contida toda a paixão que a mim apraz,
Porque não a posso, não a devo e não a quero dividida.

E tudo isso me encontra na angustia de uma saudade,
Essa sensação sofrida, descontrolada, egoísta na essência,
A insistir na inconveniência de perturbar sua liberdade.

Mas sem você, sem seu corpo, seu sorriso, seu cheiro,
Sempre me torno triste por vivenciar a sua ausência,
Porque na sua falta me falta a parte que me torna inteiro.
 
Saudade

Pérola

 
Pérola

Pacífico este mar que Gold Coast encosta-se em "deck"
Revolto o meu estar por profunda ausência em "outback"
Não surfo em saudades velhas, mas de mergulhos bem sei
Agora pego essa onda iluminada pelo farol de Byron Bay.

Volta à tona a minha vida, que muita atenção requer
E dentre novas ostras abertas uma pérola se revela mulher.

Melhor ser de Fátima, por mais branda a minha pena
Pois se de Jesus fora roubada esta querida Tetê pequena
Pelo sal Terezinha chamada, agravado seria meu castigo:
Estender mão amiga,purgar suas quedas,erguê-la ao inferno comigo.
 
Pérola

Maria Neta

 
Maria Neta
c a paulon

Mas que menininha é esta tão completa?
Parece-me ela de tão bela uma maqueta
Construída com arte e engenho de um esteta
Cuja obra de beleza rara não se fez dieta
E a expõe como sua principal vedeta.
Mas que menininha é esta que não pára quieta?
Brinca de cambalhotas e corre na bicicleta
Sabida, cheia de graça e com língua de seta
Falando português, mas do francês faz meta
E quando brava, faz biquinho e se faz secreta.
Mas que menininha é esta tão indiscreta?
A fazer de mim, bobo, palhaço e pateta
Eu que queria ser somente um pobre poeta
Agora me quero amado por essa Maria neta.
 
Maria Neta

Louvação pra Vinicius de Moraes

 
Louvação pra Vinicius de Moraes
C A Paulon


Não, não pagamos o enterro e as flores
Para quem viveu e morreu de amores
E mais, muito mais, a ti devemos louvores.
Nosso inexausto poeta de muitos e novos inícios
Na pena, no violão, no copo e nos demais vícios
Nossa mais candente emoção és tu Vinícius.
Paixões ardentes teu lindo e maior testamento
Viveste muitas, a maior em cada um casamento
Tornando eterna e infinita a vivida num momento.
Teus poemas de vida, mas sempre de olho na morte
Tua música, tua bossa correram pátrias de sul a norte
Era nova, era de bamba, era afro seu samba de porte.
Tua diplomacia pop afirmava tua raça brasileira
A nossa raça, a nossa pátria, antes tão estrangeira
Por ti e de ti cantada mesmo truncada tua carreira.
Inútil tentar calar teus versos, tua reação de herói
Impossível esquecer teu amor, dito grande que dói
Logo tu, poeta do povo, que não nasceu em Niterói.
Eram muitos os amigos de talento, tu eras baricentro
Choraste saudades vivendo lá fora, e ai eu entro
Com nosso povo por ti feliz, cantando cá dentro.
Jovem eu imitei teus versos, tua verve, não nego
Velho como tu tentei amores e por um desassossego
Vivendo a buscar em casamentos. Será que te pego?
Onde estarás poetinha querido, por quem cantas?
Tu não hás de calar, pois canções te restam tantas
Como também mulheres para que tu as faças santas.
 
Louvação pra Vinicius de Moraes

Brasil

 
BRASIL
capaulon

Perguntar, só mesmo com muito espanto:
“Que país é esse”, diz aí meu amigo?
Responder, só com suprema devoção de santo:
“Sei lá”... mas tentarei falar contigo.
É grande, muito grande, é belo e granduna.
É índio: ashaninka, bororo, kayapó, tembé,
Suruí, guarani, ye'kuana, waiana apalaí, mayoruna.
É mestiço, misturado, negro, mulato e branco até.
Há por cá portugueses, espanhóis, alemães, italianos,
Japoneses, coreanos, haitianos, ucranianos, finlandeses,
Angolanos, moçambicanos, árabes, chineses e também ciganos.
Ah!, segundo o Lima Barreto, tem também um javanês.
De credos, cruz credo, o país está cheio, é demais sua crença:
Nas estatísticas, católico, não nas igrejas, nos cartórios.
Por Cristo, Orixás, Maomé, Buda, Jeová, sua fé condensa.
É muito propenso ao espiritismo de terreiros ou territórios.
Sua gente, como traça, pelos cantos do mundo depressa se espalha,
Com futebol, com música, com dança, se faz alegre conhecida.
Tem Escolas de Samba, bumbas, bundas e bandalha.
Gente cantante de ciranda, baião, sertanejo, carimbó, caxambu,
E mais pagode, maculelê, partido alto, repente, moda de viola.
Ouvindo bem, tem o coco, o forró, o congo, o frevo e o maracatu.
Afinal essa gente daqui pula ou dança ou canta ou joga bola.
No vanerão, no xote, no rasqueado e no xaxado é gente bamba
Que nos blocos, nos cordões e nas folias com o axé rebola.
E por fim surpreende com o choro, com a bossa nova e o samba.
Gente estranha, muito admirada, mas muito mal entendida.
Mas não se importa com que o mundo pensa a respeito.
Dizem ser uma nação que está beirando à nova raça.
“Sei lá”, pode ser... e se for o que será desse povo eleito?
Guardará suas matas, suas águas, suas terras sob eficaz couraça?
“Sei lá”, pode ser... vejo a sua construção, com amor e dengo,
De uma pátria rica, varoa, mas tolerante e de brava gente varonil.
Gente enlouquecida pela cachaça, pelo Carnaval e pelo Flamengo
E que não desiste de torcer pelo seu esquisito Brasil.
 
Brasil

Paixão

 
Paixão
c.a.paulon

Paixão -sei não- como febre amarela me parece
Que se mostra como uma flor, não delicada, mas bruta.
Sempre nasce forte, vendo miragens e vozes escuta,
Cresce sem norte e se amor não vira certamente fenece.

É sentimento que a mim sempre alimenta e intriga
E a mente me invade, estremece o corpo e conta me toma,
Sempre a persigo e quando encontrada a guardo em redoma,
Não para prendê-la, só por cuidá-la, como uma flor se irriga.

Foram tantas minhas paixões, passageiras do nada,
Poderão ser tantas as invasões da minha alma aberta
Porque ela se fez assim fraca, como escrava que não resiste.

Porém, esta mesma alma se fez astuta de tanto enganada,
Por isso agora me vigia, me diz ser sonho e me põe alerta.
Também, pudera, tantas vezes a me ver contente e triste!
 
Paixão

Gerânios

 
Emoldurada por gerânios floridos, pequenina é minha janela,
Mas dela, quase sempre só, ouço e vejo um grande mar,
O que sempre insiste nas coisas dela que me vêm contar.
- dela minha quase namorada –
Ela arisca vagueia de lá pra cá em vida doída e descalçada,
Por ora vivendo assustada, cultivando daninhas raízes em taça,
Amargando, inconformada, sua delicada e generosa graça
E queda chicoteada por palavras de ódio e boca na mordaça.
Fui muito tarde encontrá-la pelos tais caprichos do acaso,
Não muito tarde para um amansado coração de esteio,
Empenhado em rachar seu delgado coração ao meio,
Quebrar a sua taça de amarguras, lhe oferecendo liberdade em vaso.
Do mar apreendo estar ela sendo da lamentação um muro,
Estar sendo, das penas alheias frágil e fiel depositária,
Cobrada e reconvocada para incertos mergulhos no escuro,
Mergulhados nas tristezas causadas por um algoz, um pária.
Como maquis resiste guerreira na luta por sua decisão indecisa,
Reagindo ao debater-se nas mágoas de sua culpa imprecisa,
Mas sorri apenas nos intervalos das lágrimas que por atenção noto,
Quando também me ponho triste ao vê-la presa por controle remoto,
Como obedecida presa de seu passado tornado obscuro,
Enquanto eu me atrevo em querer entrar no seu futuro.
Hoje viver meu presente é estar vivendo o dela.
Por ora cultivo apenas aqueles novos gerânios da janela.

Maio/06
 
Gerânios

CARNAVAL

 
CARNAVAL

c.a. paulon

Prata e preto, preto e prata,
Sob as lindas luzes da avenida,
Ela brilhando me fez feliz em exata medida
E criou em mim uma lembrança grata.

Meu tempo não é o dela - nos separam muitos carnavais -
E nada farei por esse meu estúpido coração menino,
Se minha razão vigia e implora retomar meu tino
Para buscar paz e amor, não mais paixões eventuais.

Sambar não sambo, cantar não canto.
Seguia seus passos no ritmo da passarela.
Ela alegre, bela e solta, eu distância mantida, bem perto dela,
Cujo balanço me envolvia e na “festa da carne” tornei-me santo.

Sua beleza menina, tímida, doce e tranqüila,
Eu cuidava para que não me fosse perdida,
Ela, em rodopio, sorria e cantava na multidão aturdida
E o meu carnaval, por causa dela, chamou-se Kamila.
 
CARNAVAL

Abraço

 
Abraço.

c.a.paulon

Vou alongar e estender meu braço
Vou alcançar e caçar você no laço

Vou preencher a lacuna desse vazio traço
Vou buscar você no mais apressado passo

Vou lhe retornar ao seu mais amigo espaço
Vou abandonar os versos nos papeis que amasso

Vou clarear os dias que por saudades embaço
Vou arrumar meus carinhos para o seu regaço

Vou me entregar a você até me fazer bagaço
Vou revigorar por você o meu natural cansaço

Vou fundir nossos desejos de amor a ferro e aço
Vou regar minhas flores de amores em seu terraço.

Vou nada, vim aqui só lhe deixar meu abraço.
 
Abraço

Caminhada

 
[b]
Caminhada
capaulon

Antes me comovia ao vê-la humilhada e triste
Caminhando entre culpas onde culpa alguma existe.
Agora me ponho em festa ao vê-la nesta novidade
De caminhar altiva, pairando acima de sua piedade,
Agora mantida em dimensão bem mais propicia
Não mais, como antes, subjugada, sob ação de sevicia.
Antes lhe via curvada, assustada, quase sempre chorosa.
Agora vejo brotar sua liberdade tal desabrochada rosa,
Iniciando uma caminhada sem saber bem o que quer
Enquanto espero feliz minha doce menina virar mulher,
Sabendo ao menos o que não quer - coisa própria da vida -
Na qual se busca, ou buscar requer, caminhada menos sofrida.
 
Caminhada

Namorada

 
NAMORADA


ca paulon

Você será a minha namorada?
Se for, me diga que sim.

Assim como eu digo, Daniela:

Não quero você pra mim.
Mas quero você comigo.

Será em você minha próxima ou última morada?
Talvez vivendo meu sonho, sonhado por seu doce abrigo.

Acordarei você com bem-postas frases, Gabriela:

Não quero você pra mim.
Mas quero você comigo.

Quando irei vê-la, em seu mundo, iluminada e bela?
Viajando por sua própria estrada para encontrar-me amigo.

Mas sem querer tê-la pra mim, Rafaela,
Mas muito querendo ter você comigo.
 
Namorada

Amiga

 
Amiga
c.a.paulon

Se sempre me vejo só
É porque não desatamos o nó.
Se você se diz confusa e aflita
É porque muito pouco acredita.
Se você quase sempre me evita
É porque seu amor não me grita.
Se a fumaça, ao invés de fogo, faz-se pó,
E porque haverá fim sem piedade ou dó.

Se sua vida, resumindo, não me abriga,
É porque você quer ser apenas outra amiga.
 
Amiga

Testamento Amoroso

 
Testamento Amoroso

CA Paulon

Nem são muitos os meus amores
Mas são fortes e deles me recordo.
Na infância, datam amores caseiros:
Vovó Dadá, tia Lili, amiga Leni, os principais.

Nas brincadeiras foi a Isa de pêra ou uva.
Pouco mais além, amei Nali também.
Adolescente amei Lia, a grande paixão.
Depois amei Teresa até o casamento.
Doloroso mas necessário o primeiro divórcio
Regina me trouxe alento e renovado estímulo.
Mas foi Silvia a violenta paixão adulta, adorada.
E Ida uma querida renovação juvenil.

E outra Lia, me trouxe a vida, a ser vivida
Com a lembrança querida de sete mulheres amadas
E que assim foram, são e sempre serão
Queiram elas ou não.
Um outro equivocado casamento mas com divórcio de alento
Mostrou que me havia tempo e espaço amoroso
Para concluir meu primeiro testamento,
No qual caberiam importantes paixões passageiras
E amores inconclusos: Marilza, Gisa, Lisia,
Todas vividas em feliz passado, mas à limpo presentes,
Amadas, também, queiram ou não.

Meu inventário, talvez ainda provisório,
Provavelmente concluído, me contém Tetê,
Que, sendo o meu presente, é síntese do meu espólio,
Minha parceira achada, minha mulher amada, outra vida.
Uma vida amorosamente dividida, com duas outras mulheres
Que meu passado legou: minhas queridas filhas Carolina e Mariana,
Acrescentando Maria neta, como Teresa última nascida.

À todas e tantas mulheres amadas, agradeço por as ter amado
E com elas aprendido o que fui capaz de entender e dar fé,
Até o ano da graça de 2013, dado e passado.
 
Testamento Amoroso

Meu Sonho

 
Meu Sonho.
ca paulon

Sonhei que te via bela, mais bela do que de costume.
Sonhei que te via rindo a me olhar um olhar de fresta.
Sonhei que te via livre, sem amarras, grilhões ou tapume.
Sonhei que te via seguindo e onde passavas virava festa.

Era um sonho, querida, o sonho da minha vontade.
Era um sonho com a menina de preto pano vestida.
Era um sonho da busca própria de tua pouca idade.
Era um sonho a reencontrar tua liberdade perdida.

Mas de tanto sonhar acreditei na imagem de ti criada
Sem o preto vestido, sonhada agora, completamente nua
Tua alma sonhava assim jogada nesta encruzilhada.

Por caminhos incertos de mata virgem e de terra crua
Sonhava teus pés que andavam sem guia e sem pegada.
E só fiz acordar na irrealidade à qual quisera que fosse tua.
 
Meu Sonho

Ida & Volta

 
Ida & Volta
capaulon

Só sai das cinzas a Fênix chamada,
Só se encontra quem é procurada.
Mas se viraram cinzas eram fogueiras queimadas,
Mas se houve procura havia desencontradas.
Só paira no ar quem tem forma alada,
Só sai do lugar quem busca a estrada.
Mas se voaram estavam soltas as asas,
Mas se viajaram abandonaram casas.
Só renasce quem já teve vida,
Só volta mesmo quem já teve ida.
Mas se renasceram eram vidas perdidas,
Mas se contaram as voltas pelas idas tidas.
 
Ida & Volta