Pescador de Azuis - "Fisherman´s Blues"
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Pescador de Azuis - "Fisherman´s Blues"
Agarro-me
aos dias mortos que de mim se vão
dormindo sobre a túnica gratinada
das estradas rasgadas d´água
é nos recifes
que a melodia dos corais
se entrega à ópera dos búzios
Ah ! Hei de despertar
levitando no azul
e submergir no golfo das traineiras !
marinheiros e pescadores coreografam
uma frase salgada :
- Que peixe tão desajeitado !
talvez ainda não haja anzóis
para pescar sonhos ! ...
Luíz Sommerville Junior
*Publicado pela 1a vez neste site e em Távola de Estrelas em 21 Julho de 2010
Ode ao bom sabor
Da mais alta montanha
Corre um rio de chocolate
Que uma selva de morangos banha
Num planeta semelhante a Marte!
Crescem montes de gelado
E abrem-se vales de amendoim!
Há comida por todo o lado
Neste planeta-pudim!
E esta comida toda que olha
O mais não comida haver
Pensa que nem há alguém que colha
O que tanto sabor tem p'ra oferecer!
E de fantasia e recheio
Como bife assado no forno
Pensando num peixe bem cheio
O meu sonho cozinha morno.
www.umpoema-umdia.blogspot.com
Coisas surreais
Já vi dar pérolas a porcos
Cuido que é um desperdício
A vida é mesmo um hospício
Onde os vivos parecem mortos
A mim já nada me espanta
Tenho um olhar surreal
Se já nada levo a mal
Também já nada me encanta
Um porco de bicicleta
Não deixa de ser um suíno
Com estatuto de atleta
Já não há coisas banais
Já nada me surpreende
Sei que sou bota de elástico
Intransigente, por vezes
Venho de um tempo obsoleto
Não me encaixo, não me adapto
Vivo num saco de plástico
Reciclado muitas vezes…
O que podia ser um poema
São só coisas surreais
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
Uma história e pouco mais
Uma história,
Esquece essa parte em que se diz não,
E que houve o perdão final antes de todas as mortes que antecedem a tua,....
Algo sem começo,
Como se o conhecimento fosse um copo inseguro de água podre,....
Talvez o ponto sem fim,
E muitas virgulas,
A sorte protege os hesitantes,...
Respira com tempo,
Anunciei este que foi o meu amor de inexperiência,
E a verdade agora assombra-me,...
Como mal,
Todas as noites têm uma cor,
E esta permanece uma história de algo mais poderoso,...
A seguir vem a vitória da auto depreciação,
E pouco mais,
Talvez uma história a reiniciar,
E um amigo que desse lado me lê
E a mania insuportável do vazio neste olhar
A mim é suficiente o arrependimento de proposito,
Vir inocente como a culpa,
Pé ante Pé por um desnivel de terreno,
E chegar onde me notam como esclarecido,
Detentor de uma verdade minimamente aceitável,....
É aqui que cuido de saber como sou feito por dentro,
Como são as luzes que me fazem os olhos,
E se no reparo dos dias que correm,
Conto como iludido,
Desiludido,
Ou apenas uma vírgula no texto solto da existência,....
Há o plausível,
E o ficcional nisto que penso,
E a mania insuportável do vazio neste olhar
Campanha (e)leitoral
Caros (e)leitores,
Muito me apraz ter a honra de a vós, aqui do púlpito, me dirigir. Como mero servo das letras, aspiro a obter a inscrição do meu nome no passeio da fama da literatura mundial. Para isso conto com a vossa eleição, através de assíduas leituras, veementes recomendações e manifestações de louvor.
Prometo escrever lindos textos e poemas, daqueles que fazem corar o sol de tanta luz irradiar, assim como me comprometo a não causar qualquer espécie de rebuliço ou situação menos decorosa.
Com elevada subscrição,
O Poeta Morto.
O retorno
Ela acordou atônita pois nunca havia
Sonhado daquela maneira.
O passado veio atormentá-la,
Mas parecia um pesadelo; seu coração
Sincero estava ofegante como antes...
Como naquele dia que teve que decidir
Pela razão, quando não houve compreensão!
Estava sonhando com uma antiga paquera...
Nada além disso: Sequer um beijo,
- Ela havia desistido antes -, ele era comprometido
Fugia aos seus princípios se relacionar
Com alguém naquela condição.
Naquela noite, sonhou com ele.
- Ele em silêncio a olhava sem dizer nada;
Demonstrava uma expressão séria, meio que.
Que ’me dera? Estou passando por esta vida
De desilusões... E não vivi um dos meus sonhos.
- Ele estava bem vestido num terno preto!
- Ela chegou perto dele pôs suas mãos com receio
Na sua gravata no intento de arrumar.
Mas ele fez pouco caso!
Em silêncio permaneceu retirando-se em seguida.
Partindo dali sem falar, sem externar um carinho;
Com um olhar vago e triste a olhava,
- Ela continuou olhando sua partida perdida...
No seu vaguear lúgubre, com um nó na garganta.
No seu pensamento: O que será? Por quê?
Àquela visita repentina, sem dizer nada!
Seria um presságio? Teria algo para revelar?
Todavia, a magoa de passada era de um outono
E / ou de uma primavera foi mais forte!
Deixando – á sem norte. E ao olhar para aquela
Realidade encheu-se de tristeza incerteza,
Sabia do sentimento dele, mas não podia...!
Deveria ter pedido perdão.
Quando pensou em o fazer, gritar! Acordou.
Quem poderia retornar para dentro de um sonho?
19/9/17
Mary Jun
Acho por achar
Acho que é só noite uma vez,
E por isso o permitido terá de ser curto,...
Acho que esquisito escreve se com X,
De xilofone,
O ribombar único que justifica a parcimónia,....
Acho que achar será proibido daqui a pouco,
E não haverá prémios de noite às escuras,
Nem crianças alouradas que recitem Goethe,...
Acho por achar,
Nada mais
Portugal está de luto
DIZ ADEUS AO PAPEL E OLÁ A MIM
amo a tua inexistência
tanto
que te quero tanto
e enquanto
escrevo-te num vislumbre
fera de papel com asas
a alçar voo
(escapar-te-ás da tinta inventada?)
talvez te decalque num sonho celofane
sobre a deusa perfeita
que guardo sem tempo
talvez te trace a encarnado vivo
linha a linha
de sangue polido
até ver uma árvore
com raíz de âmago pulsante
talvez deixe o sol trespassar-te
até à lucidez ardente
talvez te deixe ao vento
em mosto de canto sereia
e fermentes até à voz mulher
talvez
de onde te vejo
transcendas o poema meticuloso
antes do ponto final
que já me devoram
as reticências
27-10-2024
Ode à mulher amada (versão suburbana)
É preciso comprar pão,
O que há apodreceu,....
Se conseguires vê das maçãs,
Não passo sem uma antes de sair para o trabalho,....
O chão da cozinha tem cotão,
Se conseguir varro mais logo,...
E vê como está o miúdo,
Anda a dormir mal,
Parece macambuzio,
Só quer espreitar à janela quando anoitece,
Acho que deve ser a vizinha da frente que toma sempre banho à mesma hora,....
Ah,
E gosto do cheiro que se te agarra nestes dias,
Acho que ja não passo sem ele,...
Até logo