Utente do silêncio
Calei o pensamento derradeiro
Descobri somente onde a verdade
se revela qual ungüento num profundo
silêncio sorrateiro
Interpretando palavras ecoando
cuidadosamente engomadas
neste verso recriado em cativeiro
Tornei-me utente deste silêncio
namorando os ecos estampados naquela
infância resvalando no tempo estupefacto
Colori com serpentinas e festejos
o cântico dos lamentos mastigando todas
as minhas solidões indiferentes
a uma estatística de amor contagiante
ou num sorriso integral calando cada
desejo deste desejo que adivinho inebriante
Mergulhei as tristeza para lá
do limite destes céus factuais
Esculpi em cada nuvem a imaginária
solidão alimentando uma gargalhada
quase irracional
olhando o buquê de silêncios
adormecer a manhã ao colo
deste tempo predador e sobrenatural
Faz-se depois meu silêncio
sem estardalhaços
Calei-me a espaços entre
a existência que abraço e
aquele instante de tranquilidade
repleto de nós num retrato
colossal…fragmentado no tempo
disperso num lamento de criatividade
As veredas do silêncio são agora o redil
onde pastam as palavras meigas e dóceis
entrelaçando-se em goles de louvores gráceis,
contemplando a efeméride deste sonho irrefutável
submergindo na lauta manhã onde
me alojo finalmente degustando cada
pedacinho de eternidade chegando inexorável
FC
Ah...como eu queria
Ah como eu queria
brindar o sol com gomos
de luz passeando em debandada
pelos teus céus despertando
loucos desejos tão cruciais
silenciando os beijos
que me deixaste tão marginais
Ah como eu queria
reflectir-te minhas paisagens
desenfreadamente cordiais
agitando todas as partículas
quânticas se díluindo num
eco rasgando o tempo em constantes
e renovadas ondas de amor desaguando
na maciêz de um delírio essencial
Ah como eu queria
ser-te factual
fascinar-te com encantos
de amor ancorados
a cada sopro da existência brutal
morrendo na plenitude da saudade
debruçada nesta penitência tão fatal
Ah como eu queria
dissolver-me em ti
alimentando cada verso
dormitando no travesseiro
fértil da vida
onde nos abrigamos à mercê
de um silêncio se despindo
aliciante e sorrateiramente
enclausurado a cada palpitar
do tempo bramindo avidamente
FC
Secreto e invisível
Tempo de partilhar um gomo de luz
transparente
secreto, invisível
Sentir-me uma ilha descansando
no meio dos oceanos
Atravessar tuas paisagens
pálidas qual vulto navegante
inundando a súbita calmaria
ondulante e curativa
Simples transparências
desnudando minha inspiração
contemplativa
alimentando as franjas de um
sonho corriqueiro trajado a rigor
com tanta malandrice pintalgando
este poema vandalizado…em expectativa
São estados de alma quânticos
Esboços ou rascunhos que a poesia
acata num sonho tântrico
A chatice da ausência
A saudade por inerência
O morrer de amor por cada
palavra apoteótica alimentando
este silêncio sem pedir condolências
Sobraram os restos
do tempo sem permissa
a alma sem ego
solitária, abandonada
caiando a tristeza tão omissa
Os tons da noite
as palavras sem futuro
inacabadas…remissas
A liberdade mitigando
desejos…qual emoção
recuperando desta solidão
quase submissa
O sol sereno lá deixou
seu poente embalar, enxugando
o pranto ao dia que fenece
a cambalear
Resta o suicídio deste poema
despindo os silêncios metodicamente
guardados na vagem do tempo
A transparência da vida que
desabrocha quase Divina
no leito dos sonhos ninando
gargalhadas se regalando
qual poderosa e estimulante anfetamina
FC
Quando partir
Derrama-se pela noite
meu triste pesar em raios de sol
envelhecidos no ébano e puro
olhar dos nossos carentes desejos
ando assim solitário de tanto cismar
de tanto relembrar nossa piedade
esmagada num cemitério
de tantas amarguras
repleto de relevos debruçados
na paciência que se extingue
quando chegámos por fim
ao fim dos tempos
que fazer então…
quando as ilusões se tornam inexistentes
e abrigadas num cálice raso de fé
que fazer se a mente me ilude e permanece
acantonada, contemplando aquele sopro gélido
que extingue mortiço a réstia de luz
que rejuvenesce e consome os dias por vir
que fazer…senão partir
no seio formoso da aurora consagrada
num harpejo lírico transportado
na desilusão do poeta
senão chegar de rompante com o orvalho
agasalhando nossas alegrias acetinadas
e bordadas na morada onde o mar
por fim se deixa por nós aconchegar
vou partir …e por lá decerto te deixo
por mim ancorar
FC
Brisa de Verão
Publiquei na manhã todo o perfumar dos dias
velando teu despertar belo e cheiroso
guardando-te pra mim
viçosa
vestida a rigor no precioso trajar
dos nossos desejos beligerantes
onde te colho qual flor charmosa
e deslumbrante
Estou simplesmente submerso neste
poema onde me disperso todo em ti
sem controvérsias da vida breve
onde tatuo tantas gargalhadas de
euforia me devorando num milésimo
de segundo desabrochando onde louco
eu sei, inspiradíssimo
sem mais opções te flertaria
Povoaste-me o presente com sorrisos
e ovações de saudades
multiplicando toda imaculada serenidade
do tempo que regurgita saciado
por entre aqueles abraços de cumplicidade
e tantos beijos arando os desejos
morrendo numa colheita degustada
com inteira exclusividade
Só eu sei como esta poesia me sacia
infectando cada verso mais volátil
que um súbtil olhar alicia
Só eu sei como inventar-te cada dia
aprendendo as equivalências do amor
expressando cada história contada
auspiciosa e com esplendor
Só eu sei como escoltar-te este silêncio onde
nos desvendamos pra sempre
ancorados ao destino rugindo na frágil
e flébil brisa deste Verão que se escoa
emergindo no púlpito do tempo
pra toda a eternidade
FC
E depois...o adeus
E depois escrevi estes versos
no sossego de um dia
murchando devagarinho
reconciliado num adeus,
até depois… tão órfão e peregrino
Foi num espaço decretado
de tempo
que pavimentamos o soalho
da vida
repleto de sedução
caminhando pelas ruelas
da saudade quase desbotada
implorando urgente
uma singela obra de manutenção
E depois…o adeus
despedindo-se dentro de nós
ao desencontro do nada que resta
indiferente à perpétua hora
morrendo devagarinho num recanto
qualquer perdido na fresta
ou no silêncio dos teus prantos
E depois…o adeus
abandonando-me de vez
melindrado
vulnerável
formal
deixando na plataforma deste versos
o som do canto aflito
demorando na despedida
o aperto comovido do adeus
na hora da partida
E depois…o adeus
partindo pra lugar nenhum
demorando a presença do teu ser
esquecido
encontrar o nosso remetente
amenizando as cicatrizes
umbilicalmente abraçadas a estes versos
que deixamos amortecidos
na matriz do tempo
algoz e sem outra directriz
Será apenas só mais fácil
sonhar-te cada noite
imaginar pra lá de um
sumido sonho
o reencontro da vida fecundada
na antecipação de uma lágrima
alimentando cada ciclo de um adeus
onde me aventurei como passageiro
desta saciada existência madrugando
na chama das lembranças eternamente
camufladas
onde me fiz teu fiel hospedeiro
FC
Flutuando
Flutuando
Evapora-se o olfato pela noite
quebrantada na paisagem perfumada
dos teus olhos
espalham-se consoladas as labaredas
trémulas que inundam a fogueira dos nossos amores
quando restam no tempo a fartura constante
no seio dilacerado nos nossos beijos
no hálito fresco de cada madrugada
que rasga a eito minha solidão sem voz
que não mais escuto
meu cortejo alegórico,astuto,absoluto
ao resplandescer mais um dia
em cada silêncio que flutua
em cada noite cúmplice que a lua gentil ilumina
em cada sílaba que em surdina se aparta feliz
e tranquila adormece teu vulto que à luz da luz
se escapa na nesga de liberdade
efusiva,impassível e mais formosa
na hora que desponta impregnada
de perdão e tanta compassividade
FC
Daqui em diante...
E daqui em diante
vestirei teu arco-íris
com a matiz de um sorriso
alinhando o perfil dos
ecos incalculáveis numa
sinfonia de beijos despertando
geniais e incontestáveis
Doparei este verso
com cores sorrateiras
defenestradas pela noite pousada
à janela do tempo mascarado
de meiguices quando feliz
me saboreias
E daqui em diante
…
neste concílio de fé
recito uma oração voraz
embriagando-me
neste folhetim de silêncios
onde me sacio na epístola
da esperança
infinitamente veraz
E daqui em diante
vou pela avenida dos ventos
ao som de um samba passageiro
alegrando os foliões da vida
vertendo os suores perfumados
num enredo expressivo onde desfilas
toda mascarada na alegoria de vida
tão sorrateira
E daqui em diante
prepara-me o destino
onde te vislumbro
comprometida
engordando o tempo feliz
onde batucamos nos silêncios
alucinantes
ao rufar deste poema esculpindo
e pincelando
nossos quotidianos de mil euforias
estonteantes
E daqui em diante
tempero nossa loucura
com versos feridos de dor
revelo-te o mecanismo original
do amor empolgante
onde construo cada peça
de uma caricia murmurando
tua imortalidade
assim tão expectante
FC
Perdidos no tempo
Perdidos no tempo
Neste presente ou futuro
sou o livro que lês
as palavras que discurso neste modesto
e intempestivo feixe de luz
maravilhado na fronteira inacabada
entre o sol e a lua
dissolvidos, insânos
sem espanto
contendo nossas mãos
vazias com um pouco de nada
construímos valores magnos
implementamos leis e princípios
com deveres, saberes e sabores intemporais
afinal o que somos
disfarçados, incompletos
comovidos, poetas fingidores
perante um mundo que desaba
perdido no tempo
sem vestígios mais do que é breve,
pois se sobrevive
sem complexos assumidos
alimenta os mais fracos tão completamente
neste presente que não mais nos machuca
porque afinal nosso futuro
será imenso e por ele me aventuro
FC
Voltar no tempo
Decifra-me se puderes
encontra-me neste poema
tantas vezes reescrito
onde mergulho cada palavra
no tempo infiel e proscrito
Reserva-me todos os murmúrios
onde transformamos gargalhadas
em versos de prazer inédito
alimentando o sinédrio dos meus
juízos tão itinerários e frenéticos
Data-me o tempo
que se escoa na espessura
limítrofe do vento
Cubram-se os céus factuais
onde te invento
em vícios quase premíscuos
e delimito minhas orações
nas asas arfantes de um anjo
que vela até
meu arrependimento
Voltar no tempo
onde entreabimos a alma
com beijos
e atiçamos nosos seres
com abraços
que se apressam em fuga
delicadamente
mal a manhã vindoura
te ostente de vida inexoravelmente
FC