Poemas, frases e mensagens de Frederico

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Frederico

Utente do silêncio

 
 
Calei o pensamento derradeiro
Descobri somente onde a verdade
se revela qual ungüento num profundo
silêncio sorrateiro
Interpretando palavras ecoando
cuidadosamente engomadas
neste verso recriado em cativeiro


Tornei-me utente deste silêncio
namorando os ecos estampados naquela
infância resvalando no tempo estupefacto
Colori com serpentinas e festejos
o cântico dos lamentos mastigando todas
as minhas solidões indiferentes
a uma estatística de amor contagiante
ou num sorriso integral calando cada
desejo deste desejo que adivinho inebriante


Mergulhei as tristeza para lá
do limite destes céus factuais
Esculpi em cada nuvem a imaginária
solidão alimentando uma gargalhada
quase irracional
olhando o buquê de silêncios
adormecer a manhã ao colo
deste tempo predador e sobrenatural


Faz-se depois meu silêncio
sem estardalhaços
Calei-me a espaços entre
a existência que abraço e
aquele instante de tranquilidade
repleto de nós num retrato
colossal…fragmentado no tempo
disperso num lamento de criatividade


As veredas do silêncio são agora o redil
onde pastam as palavras meigas e dóceis
entrelaçando-se em goles de louvores gráceis,
contemplando a efeméride deste sonho irrefutável
submergindo na lauta manhã onde
me alojo finalmente degustando cada
pedacinho de eternidade chegando inexorável

FC
 
Utente do silêncio

Ah...como eu queria

 
 
Ah como eu queria

brindar o sol com gomos

de luz passeando em debandada

pelos teus céus despertando

loucos desejos tão cruciais

silenciando os beijos

que me deixaste tão marginais



Ah como eu queria

reflectir-te minhas paisagens

desenfreadamente cordiais

agitando todas as partículas

quânticas se díluindo num

eco rasgando o tempo em constantes

e renovadas ondas de amor desaguando

na maciêz de um delírio essencial



Ah como eu queria

ser-te factual

fascinar-te com encantos

de amor ancorados

a cada sopro da existência brutal

morrendo na plenitude da saudade

debruçada nesta penitência tão fatal



Ah como eu queria

dissolver-me em ti

alimentando cada verso

dormitando no travesseiro

fértil da vida

onde nos abrigamos à mercê

de um silêncio se despindo

aliciante e sorrateiramente

enclausurado a cada palpitar

do tempo bramindo avidamente

FC
 
Ah...como eu queria

Secreto e invisível

 
Secreto e invisível
 
Tempo de partilhar um gomo de luz

transparente

secreto, invisível

Sentir-me uma ilha descansando

no meio dos oceanos

Atravessar tuas paisagens

pálidas qual vulto navegante

inundando a súbita calmaria

ondulante e curativa



Simples transparências

desnudando minha inspiração

contemplativa

alimentando as franjas de um

sonho corriqueiro trajado a rigor

com tanta malandrice pintalgando

este poema vandalizado…em expectativa



São estados de alma quânticos

Esboços ou rascunhos que a poesia

acata num sonho tântrico

A chatice da ausência

A saudade por inerência

O morrer de amor por cada

palavra apoteótica alimentando

este silêncio sem pedir condolências



Sobraram os restos

do tempo sem permissa

a alma sem ego

solitária, abandonada

caiando a tristeza tão omissa



Os tons da noite

as palavras sem futuro

inacabadas…remissas

A liberdade mitigando

desejos…qual emoção

recuperando desta solidão

quase submissa



O sol sereno lá deixou

seu poente embalar, enxugando

o pranto ao dia que fenece

a cambalear

Resta o suicídio deste poema

despindo os silêncios metodicamente

guardados na vagem do tempo

A transparência da vida que

desabrocha quase Divina

no leito dos sonhos ninando

gargalhadas se regalando

qual poderosa e estimulante anfetamina

FC
 
Secreto e invisível

Quando partir

 
Quando partir
 
Derrama-se pela noite

meu triste pesar em raios de sol

envelhecidos no ébano e puro

olhar dos nossos carentes desejos

ando assim solitário de tanto cismar

de tanto relembrar nossa piedade

esmagada num cemitério

de tantas amarguras

repleto de relevos debruçados

na paciência que se extingue

quando chegámos por fim

ao fim dos tempos

que fazer então…

quando as ilusões se tornam inexistentes

e abrigadas num cálice raso de fé

que fazer se a mente me ilude e permanece

acantonada, contemplando aquele sopro gélido

que extingue mortiço a réstia de luz

que rejuvenesce e consome os dias por vir

que fazer…senão partir

no seio formoso da aurora consagrada

num harpejo lírico transportado

na desilusão do poeta

senão chegar de rompante com o orvalho

agasalhando nossas alegrias acetinadas

e bordadas na morada onde o mar

por fim se deixa por nós aconchegar

vou partir …e por lá decerto te deixo

por mim ancorar

FC
 
Quando partir

Brisa de Verão

 
 
Publiquei na manhã todo o perfumar dos dias

velando teu despertar belo e cheiroso

guardando-te pra mim

viçosa

vestida a rigor no precioso trajar

dos nossos desejos beligerantes

onde te colho qual flor charmosa

e deslumbrante



Estou simplesmente submerso neste

poema onde me disperso todo em ti

sem controvérsias da vida breve

onde tatuo tantas gargalhadas de

euforia me devorando num milésimo

de segundo desabrochando onde louco

eu sei, inspiradíssimo

sem mais opções te flertaria



Povoaste-me o presente com sorrisos

e ovações de saudades

multiplicando toda imaculada serenidade

do tempo que regurgita saciado

por entre aqueles abraços de cumplicidade

e tantos beijos arando os desejos

morrendo numa colheita degustada

com inteira exclusividade



Só eu sei como esta poesia me sacia

infectando cada verso mais volátil

que um súbtil olhar alicia

Só eu sei como inventar-te cada dia

aprendendo as equivalências do amor

expressando cada história contada

auspiciosa e com esplendor



Só eu sei como escoltar-te este silêncio onde

nos desvendamos pra sempre

ancorados ao destino rugindo na frágil

e flébil brisa deste Verão que se escoa

emergindo no púlpito do tempo

pra toda a eternidade



FC
 
Brisa de Verão

E depois...o adeus

 
 
E depois escrevi estes versos

no sossego de um dia

murchando devagarinho

reconciliado num adeus,

até depois… tão órfão e peregrino

Foi num espaço decretado

de tempo

que pavimentamos o soalho

da vida

repleto de sedução

caminhando pelas ruelas

da saudade quase desbotada

implorando urgente

uma singela obra de manutenção

E depois…o adeus

despedindo-se dentro de nós

ao desencontro do nada que resta

indiferente à perpétua hora

morrendo devagarinho num recanto

qualquer perdido na fresta

ou no silêncio dos teus prantos

E depois…o adeus

abandonando-me de vez

melindrado

vulnerável

formal

deixando na plataforma deste versos

o som do canto aflito

demorando na despedida

o aperto comovido do adeus

na hora da partida

E depois…o adeus

partindo pra lugar nenhum

demorando a presença do teu ser

esquecido

encontrar o nosso remetente

amenizando as cicatrizes

umbilicalmente abraçadas a estes versos

que deixamos amortecidos

na matriz do tempo

algoz e sem outra directriz

Será apenas só mais fácil

sonhar-te cada noite

imaginar pra lá de um

sumido sonho

o reencontro da vida fecundada

na antecipação de uma lágrima

alimentando cada ciclo de um adeus

onde me aventurei como passageiro

desta saciada existência madrugando

na chama das lembranças eternamente

camufladas

onde me fiz teu fiel hospedeiro

FC
 
E depois...o adeus

Flutuando

 
Flutuando
 
Flutuando

Evapora-se o olfato pela noite

quebrantada na paisagem perfumada

dos teus olhos

espalham-se consoladas as labaredas

trémulas que inundam a fogueira dos nossos amores

quando restam no tempo a fartura constante

no seio dilacerado nos nossos beijos

no hálito fresco de cada madrugada

que rasga a eito minha solidão sem voz

que não mais escuto

meu cortejo alegórico,astuto,absoluto

ao resplandescer mais um dia

em cada silêncio que flutua

em cada noite cúmplice que a lua gentil ilumina

em cada sílaba que em surdina se aparta feliz

e tranquila adormece teu vulto que à luz da luz

se escapa na nesga de liberdade

efusiva,impassível e mais formosa

na hora que desponta impregnada

de perdão e tanta compassividade

FC
 
Flutuando

Daqui em diante...

 
 
E daqui em diante

vestirei teu arco-íris

com a matiz de um sorriso

alinhando o perfil dos

ecos incalculáveis numa

sinfonia de beijos despertando

geniais e incontestáveis


Doparei este verso

com cores sorrateiras

defenestradas pela noite pousada

à janela do tempo mascarado

de meiguices quando feliz

me saboreias


E daqui em diante

neste concílio de fé

recito uma oração voraz

embriagando-me

neste folhetim de silêncios

onde me sacio na epístola

da esperança

infinitamente veraz


E daqui em diante

vou pela avenida dos ventos

ao som de um samba passageiro

alegrando os foliões da vida

vertendo os suores perfumados

num enredo expressivo onde desfilas

toda mascarada na alegoria de vida

tão sorrateira


E daqui em diante

prepara-me o destino

onde te vislumbro

comprometida

engordando o tempo feliz

onde batucamos nos silêncios

alucinantes

ao rufar deste poema esculpindo

e pincelando

nossos quotidianos de mil euforias

estonteantes


E daqui em diante

tempero nossa loucura

com versos feridos de dor

revelo-te o mecanismo original

do amor empolgante

onde construo cada peça

de uma caricia murmurando

tua imortalidade

assim tão expectante

FC
 
Daqui em diante...

Perdidos no tempo

 
Perdidos no tempo
 
Perdidos no tempo

Neste presente ou futuro
sou o livro que lês
as palavras que discurso neste modesto
e intempestivo feixe de luz
maravilhado na fronteira inacabada
entre o sol e a lua
dissolvidos, insânos
sem espanto
contendo nossas mãos
vazias com um pouco de nada

construímos valores magnos
implementamos leis e princípios
com deveres, saberes e sabores intemporais
afinal o que somos
disfarçados, incompletos
comovidos, poetas fingidores
perante um mundo que desaba
perdido no tempo
sem vestígios mais do que é breve,
pois se sobrevive
sem complexos assumidos
alimenta os mais fracos tão completamente
neste presente que não mais nos machuca
porque afinal nosso futuro
será imenso e por ele me aventuro
FC
 
Perdidos no tempo

Voltar no tempo

 
Voltar no tempo
 
Decifra-me se puderes

encontra-me neste poema

tantas vezes reescrito

onde mergulho cada palavra

no tempo infiel e proscrito


Reserva-me todos os murmúrios

onde transformamos gargalhadas

em versos de prazer inédito

alimentando o sinédrio dos meus

juízos tão itinerários e frenéticos


Data-me o tempo

que se escoa na espessura

limítrofe do vento

Cubram-se os céus factuais

onde te invento

em vícios quase premíscuos

e delimito minhas orações

nas asas arfantes de um anjo

que vela até

meu arrependimento


Voltar no tempo

onde entreabimos a alma

com beijos

e atiçamos nosos seres

com abraços

que se apressam em fuga

delicadamente

mal a manhã vindoura

te ostente de vida inexoravelmente

FC
 
Voltar no tempo

Então, enquanto chove...

 
 
Então enquanto chove

as palavras desprendem-se no vazio

pingando no destelhado zinco das tristezas

Ausentam-se no frio da noite em chuviscos de

amor varrendo as solidões numa subtileza

de palavras sufocantes expostas no currículo

do tempo assim…tão aliciantes



Então enquanto chove

até as lágrimas em silêncio

vertem cada soluço da alma refém

absorta no vai-vem da vida declinando

a cada raiar de uma brisa se decompondo

num sussurro breve, seduzido…ao abandono



Então enquanto chove

te ofereço a madrugada por inteiro

Exalo todos os perfumes do dia

nascendo na eloquência de um beijo

sorrateiro

Promulgo toda esta saudade que perdura

açoitando a memória de um verso galante

e torrencial que ofereço com ternura



Então enquanto chove

Os gestos de outrora são a lúdica

paisagem do teu ser que abordo

em cada hora guardada no túmulo

do tempo loucamente disperso

num sonho que recordo



Então enquanto chove

é tempo de escutar os ventos espremendo

suas nuvens até pingar em nós todo o imenso

e licoroso aguaceiro que desaba no silêncio

unânime,transladado…qual incenso



É tempo de conceber a vida numa pareceria de odores

perfumando a lassidão destas estrofes dotadas de uma

inspiração quase crucial

Pintar um desejo intemporal recriado no design deste

poema embelezado com as hormanas de toda a

estética que me é apaixonante e essencial

FC
 
Então, enquanto chove...

Tantos dias...

 
 
Percorri tantos dias

esqueci-me de acertar

o tempo vagando

ontem, hoje ou amanhã



Elucidei a existência onde

vivo dia a dia errôneo

memorizando os silêncios

indecisos alimentando

cada detalhe do meu quotidiano

que escapa engolido na voracidade

deste instante ilusório

acampado aqui sedutor

invadindo toda a cumplicidade

recriada no tempo redentor



Procurei por ontem

à margem do que

não existe mais

Descortinei todas as

revelações deixadas

neste poema estacionado

num particípio passado

onde imprimo meus versos

expulsados,expressados

compassados,dispersados

num trago de beijos impregnando

nossos seres agora tão acossados



Tantos dias…tantas horas

e o tempo que cessa

paira agora no ventre

de um eco cantando

todas as palavras incógnitas

que deixo ruminando atónitas



Ao reencontrar-me nas esquinas

desta vida

refino minha razão exactamente

aperfeiçoando cada rima irrelevante

onde ostento a paisagem da vida

se reproduzindo atentamente



Tanto tempo…tantos dias

sem saber…na expectativa

exalando-te definitivamente

FC
 
Tantos dias...

E o resto ...é esquecimento

 
 
Regressarei ali

onde o tempo sepultou

minhas ilusões

procurando na impaciência

que os ventos perfumam

o odor mascarado de longínquos

beijos quando agendámos

no mesmo dia aquele

cardume de abraços que ficaram

estáticos

afogando-nos nesse mar sazonal

ancorado na dor silente

que estóicos reportamos

nesta noite breve renascida

em cada um de nós

em lâmpejos de amor tão profilático

– O resto…é esquecimento

quando as palavras rolam

ladeira abaixo

desgovernadas pelos

barbitúricos apelativos

que ingerimos mal adormece

a noite

e nós apaixonados incorremos

tolos

caudalosos

neste fado que ressoa

emblemático na transgressão

de vida pendente

que morre olvidada em mim

– Vejo, ouço,lembro

o majestoso timbre que flameja

entre nós

Reparto o sol em gomos de luz

melancólica

que insinuante ainda flutua

Lunática

tentadoramente frenética

por entre tristes sabores

que degustei tão mediático

Fito-te nos olhos

descrevendo novas órbitas

meridionais

Aplaco a raiva destinada

a esta linguagem onde

se oprimem astutas todas

as lástimas gritando em silêncios

um pranto prévio de vida

um instinto exalado no teu perfil

surgindo anónimo

em recolhimento…em ausências enfáticas

– O resto…é esquecimento

alheamento

dias insolúveis

manhãs prometedoras

vazios repetidos

saudades dramáticas

muito tempo de duração

quase ilimitada

tantas promessas que se abeiram

traumáticas

sempre iguais num verso

acariciando-te repetitivo

deixando-me doido

envelhecendo nesta solidão

aleatória

povoada desse

aditivo que se chama gratidão

e nós apressadamente apagando

as labaredas da vida

vivendo nossa combustão espontânea

submissa …tão cutânea

FC
 
E o resto ...é esquecimento

Serenidade

 
Serenidade
 
Compartilhamos por vezes

um sorrido doce

inimaginável

com lágrimas perdidas no convés

das memórias lembradas com fervor

onde por fim me abrigo

no convívio selecto dos amores

sem mais deixar vestígios

para a eternidade

sem mais morrer

porque a vida feliz

derradeiramente apetece

e assim acontece

– Resta-me viver tremendamente

todas as impossibilidades

de um milagre simplesmente possivel

porque na vida tudo acontece

numa prece perfumada

onde a fé nos habita

em cada manhã que renova

apaixonada delicadeza

de quem revive

em transfusões de serenidade

e beleza

FC
 
Serenidade

Existências...

 
Existências...
 
Existe toda a beleza

que depura a vida

regorgita até minha poesia

que fareja longânime todas

as angustias

assim tristes
solitárias
únicas
descartadas na penúria do tempo



Existe a declaração de amor

estampada neste inesperado verso

assim como respiro a rima

sem ritmo,

sem sombras

trilhando luzes

ilustrando impossíveis milagres

renascendo heróico neste

meu mundo tão inabitável



Existe por vezes

um sorrido doce

inimaginável

uma lágrima perdida no convés

das palavras lembradas com fervor

onde por fim me abrigo

no convívio selecto dos amores

sem mais deixar vestígios

para a eternidade

sem mais morrer quando acontece

mas sim viver porque a vida

assim merece

FC
 
Existências...

Um momento mais...

 
 
Fugiu de mim o dia fluindo flutuando
Sonolento e suave esmorece o cântico
Da citara num abraço insinuando um momento
Mais enquanto estremece a noite nas vésperas
Do dia caindo ameno e pachorrento

Freme o silêncio que amamenta de mansinho
O rumor esmaecido do tempo e se entranha em
Mim ostentando a esfíngie das sombras mascarando
As ausências dementes,vazias engolindo aquele farrapo
De saudades tão irreverentes

Um momento mais ali subjacente onde alimento
A boémia embrulhada em ilusões omniscientes
Uma cascata de solidões mugindo a luz trançada
Num aliciante desejo doendo….doendo contundente

A esperança vestiu-se desbotada…esfarrapada
Pincelou a indumentária do tempo soterrado em
Meigos silêncios onde reciclo e perfumo os poros desta
Estrofe insolvente palpitando encurralada num quieto
Refrão solene madrugando naquele adeus esgotado
Pelo sonho murmurando algures triste e solitário
FC
 
Um momento mais...

Dossier dos silêncios

 
Dossier dos silêncios
 
Pintei lá no azul celestial

o mesmo olhar de amor

com que desperta a proverbial

pulsante e farta manhã

rejuvenescendo fraternal



Deixo na ressaca da noite

Um eco generoso

com que me embebedo

no frutífero e saboroso

salivar das nossas bocas

sem credo nem medo

quando todo em ti me excedo

num beijo tão argucioso



Transpiro de olhar

em olhar

sedento, ansioso

por encontrar-te saltitando

no porão dos meus silêncios

e depois... devorar-te pecaminoso



Correndo vou

suscitando a tua contemplativa

anuência pelos meus abraços

Recrio a rodovia dos teus sonhos

quando alimento os desejos (in)satisfeitos

enfeitando o diploma dos nossos gemidos

desafiando pesarosos

o silêncio que estrangulo

qual criminoso



Deixo-te por encaixotar

meus erros embalsamados

em remotas e resignadas

histórias

que decanto em poesia

sentida

transtornada e dolorosa



Se tiver ainda tempo

realço novas cores

na manhã ociosa e atónita

que brame resignada

perante o ultimato desconcertante

de uma gargalhada gemendo no espectro

da noite se engalanando de estrelas

luzindo fascinadas



Saúdo minha liberdade

Supero se preciso

os medos de ser

amistoso

quando o corpo em decadência

nem suporta mais

tantas vagas ritmadas

de felicidade

onde se decide como

enfeitar de novo a vida

crepitante veloz aplaudida

morrendo depois tolerante

e desiludida



Pelos holofotes mendigando

e adormecendo a luz flagelada

vieste pra mim debruçada sem

complacências...apenas tu

revigorando cada desejo em clamor

que assim se desperta triunfante

em respostas cronometradas

no dossier dos silêncios

onde jazem nossas vidas

estreitando-se ressarcidas

alcatifando cada palavra armazenada

na alfândega do vento rugindo brando

escondido na algibeira do tempo

correndo expedito…rufando

FC
 
Dossier dos silêncios

Ao Gato...Barbieri

 
 
A tua musica tem asas como a alma

que pousa alada no pranto que cessa

Teus acordes pintam o vento que escoa

pelas margens sonoras de um silêncio

que agora enfim começa

Sei que ainda dançaremos pelas

extensões do tempo alimentando

arpejos mais eufóricos

até que por fim...no fim dos tempos

nos encontremos tão harmónicos

Frederico de Castro

- a um musico ímpar que deu às minhas paixões o meio de obter prazer delas...
 
Ao Gato...Barbieri

A cura

 
A cura
 
A cura - à minha filha Noemi

Com o tempo aprendemos que a dor
nem sempre é dor
toda a lágrima nem sempre é triste
assim como um beijo nem sempre
encurta uma ausência
porque afinal podemos sonhar
e curar com antecedência todas
as mágoas que o dia revela
todas as saudades
que durante tanto tempo
voltaram pra mim,

deixando-nos
mais sós e sem contratempos
esquivos, ao sabor da sorte
à procura de uma cura
que teima em chegar
tão de repente como o vento,
tão apressadamente como a morte…
FC
 
A cura

Perfeito silêncio

 
 
Vou deixar quieto

o meu silêncio

Contentar-me em alegrar a fachada

onde deposito plenas gargalhadas

embrulhadas no tempo perfeito

quando enfeito todas as calmarias

debruçadas na ténue luz da manhã

que respira escaldando minh’alma

escancarada

no páteo de tuas cantarias


- Esqueci-me das palavras

neste perfeito silêncio

Penetrei nas sombras da noite

atando-te ao gomo de luar

onde semeio uma grata aurora

forasteira

em ondas ébrias entardecendo

meus horizontes, vagando por ali

nas tuas trincheiras


- Afogámos nossas esperanças

num almanaque de palavras gentis

içando estes versos

num perfeito silêncio

convergindo num destino que pulsa

velando nossa existência infinita

manufacturada na fímbria da noite

que agora fenece tão explicita


- Observo o madrugar dos meus

sentimentos

velar-te imarcescível

enquanto partilho pelas veredas

do tempo

um solicito beijo correndo

apressado por ti

tão apetecível


- Parei do lado do tempo

plausível

entregando-me ao feliz

suspiro deste perfeito

silêncio

quase irreversível


- Deixei-te sem palavras…irrepetíveis

nem saudades intransponíveis

apenas o que restou

deste poema em fragmentos

proféticos abotoado ao degredo

que me deixou tentadoramente

por ti disponível

na eternidade implacável

de um silêncio sorrateiramente inaudível

FC
 
Perfeito silêncio