Amado in verso
Entre versos descrevo,
O amor que me condena.
Ser cativo da dor,
De apenas ser poema.
Quisera ser real,
Por apenas um instante,
Pra ser enfim teu amado,
E do teu corpo,
Ser amante...
Fútil
Fútil
Procuro por teus rastros,
Arrasto-me pelos caminhos,
Buscando por teus carinhos,
Na imensidão da noite eterna.
Meu coração se fez caverna,
Úmida e sombria morada,
Que silencia desabitada,
E que estranha a tua ausência.
Me dilacera a abstinência,
A minha pele se retalha,
Sou eu uns restos de batalha,
Estou vivo por clemência.
Negaste o golpe derradeiro,
E me manténs em cativeiro,
Escravo de teus encantos,
Caindo ébrio pelos cantos
Nesta fútil existência.
Artur Macedo
Triste flor
A felicidade veio a galope
E fez morada no meu sorriso gasto,
Mostrou caminhos floridos,
Que minha inquietude voou longe,
E perdeu-se na beleza de um olhar.
Vejo ao longe a felicidade galopante,
Levantando a poeira na estrada da minha vida.
Espero o outono secar as pétalas
Da triste flor que sonhou ser meu jardim
Mas morreu de tanta lágrima com que a reguei.
Mas minha alma chora à toa,
É o triste legado de poeta.
Dança das fadas
Das surpresas que caem do azul
Que acariciam a minha solidão,
Escolho as que pintam claves de sol,
Com o dourado dos meus sonhos,
E encharcam a aridez do coração.
Levam de enxurrada cinzas e mágoas,
Colorem o breu e fazem reluzir
A fosca e sem graça parte de mim.
Quando abaixo as cortinas da alma
E preparo um rio a descer sobre a face,
Enxugam a salgada gota primeira,
Desatam o sorriso que espedaça,
Que estilhaça o triste resto de tarde.
Então vem flutuando em passos de ponta
A fada que transforma tudo em faz de conta.
Estrelas no olhar
Hoje, juntando os cristais
Que rolavam pela minha face,
Lembrei das duas estrelas
Que reluzem na tua.
O mesmo brilho dorido,
Cheio de esperança,
Que vislumbra a felicidade
No cantinho do teu lábio,
Naquele pedacinho de paraíso,
Que suavemente arqueia
Quando mira os olhos nos meus.
Então as estrelas pousam
Quais passarinhos em nossas mãos
E cantam uma linda melodia que brilha
E tudo o que foi, tudo o que vai
Passa a ser reluzente para nós
E bebemos do amor
Até a embriaguez que nos abate
Então caímos vencidos
À luz das estrelas
Deste olhar tão teu,
Tão meu...
Mera quimera
É estranho sentimento o amor sonhado,
Que corre como doido pelo meu peito.
Antes eu tivesse inventado um jeito,
De guardá-lo dentro e ficasse calado.
Diz a boca o que do coração transborda,
Queria conter os meus lábios e poupar-te,
E julgares que é este amor apenas arte,
Livrar-me dessa agonia de quem acorda.
Mas sonho e arte são assim parceiros,
São cúmplices de sandices, devaneios,
O poeta ao final que fica com os danos.
E deste desespero de sonhar com nada,
Dá-se a luz bela arte em poesia rimada,
Eternizando sonhos no passo dos anos.
Criança
Dança
E faz-me criança,
Enche meus olhos
Do brilho intenso desta manhã.
Deste sol que renasce
A encurvar-se de encantamento,
Frente à beleza que não se traduz
Em palavras humanas.
Rouba meu juízo em passos doces,
E eu num transe, num êxtase,
A cada pequeno gesto,
Caio de amor.
Desconheço o fundo deste abismo,
Não sei dos meus limites.
Ontem sabia,
Mas hoje, esta dança...
Fez-me criança,
E esqueci.
Poemas ao chão
As mais belas palavras,
Espalhadas pelo chão.
Levadas pelo vento,
Perdidos acalantos.
Cura para os prantos,
Alívio dos desamores.
Páginas rasgadas,
De esperanças perdidas.
Poesias não lidas,
Sem cor, sem flores...
Rimas cor carmim
Adorno a vida com pedaços de mim,
Arrancados do meu próprio coração,
Tiradas sem cuidado, sem precisão,
Embebidos no meu fluído carmim.
Sinto quando escorrem as rimas,
Entre meus alternados batimentos.
Chame de lamúrias de lamentos,
Mas são versos meus que subestimas.
Amo com uma força desorientada,
Destruo minhas muralhas pra nada,
Ante soubesse a hora de desertar.
Sigo lutando com gigantes moinhos,
Entorpecido no amor sabor de vinho,
Mas é sangrando que aprendi a lutar.
Noite exausta
Noite exausta
Os cantos da noite alta,
De um silêncio que me cala.
É quando vem um anseio ,
Uma vontade louca,
De te beijar a boca,
Te segurar teus seios,
De te embrulhar em lençóis,
Um presente a mim mesmo,
E andarmos a esmo,
Na calada da noite muda.
Emudecidos de ruídos tantos,
Encharcados de fluídos,
Mergulhados em mil encantos,
Ensandecidos e contidos,
Doidos oprimidos,
Pelo fogo que nos devora.
E a noite ainda lá fora,
Cansada de nós,
Exausta e saciada.
E nós? Que nada!
Esperamos a alvorada,
Saboreando cada hora.