É o eterno segredo...
É o eterno segredo
ter o mundo sem ter nada
ver a magia das coisas
com a alma vazia.
A imaginação é o reflexo
de um sonho que morreu,
de um momento imortal
que não chegou a existir.
Sentir o coração da Terra
sustendo a respiração
sem que ninguem se aperceba.
Voar alto
inverter o horizonte
e ver o sol nascer debaixo.
O chão é um tapete de estrelas
uma passadeira real
desenrolada para mim.
Ver as fadas fugitivas
em cada bosque esquecido,
falar com a madrugada
no despertar da manhã.
Ouvir o canto da sereia
e adormecer o pensamento,
sobre a areia.
Os espectros da memória
invocam deuses antigos.
Inconsciente realidade.
Imortais, omnipresentes
são a vida e a beleza
o enigma dos meus pasos
São a musica dos sonhos,
a magia das estrelas
em espiral
na sombra dos megalítos.
É o eterno segredo:
brincar com as palavras
reflectir imagens soltas
construir e destruir.
Inverter a realidade
numa dimensão oculta
para aprender a voar.
Galopar o pensamento
e fugir para me encontrar.
ilusao
Para disfarçar tudo o que sou
Vou preenchendo as entrelinhas
De palavras e segredos.
O mundo, pesa sobre mim
Numa torrente de lágrimas.
Lama negra que se arrasta
Para a reclusão dos sentidos.
Queria adormecer para sempre, a dor lancinante
Que me envolve
Que me atira para o abismo
Onde moram os fantasmas.
Não há rio, ou mar, ou chuva
Que lave esta magoa
De não ser dona de mim.
A realidade onde os meus passos recuam.
Um dia, o sol não nasceu
E os meus olhos, cegos de tantas estrelas
Adivinharam a ilusão.
Doce tristeza velada
Numa sepultura aberta
Onde me inventei, e me esqueci.
cidade
Perdi a alma da cidade
dentro de mim.
Percorri mil vezes
becos de memória,
paralelos escorredadios
da chuva que caiu.
A manhã húmida e fresca
límpida.
Os autocarros são poucos
no sono de ser Domingo.
Lenta mansidão de olhares.
Passos por entre os passos.
A noite brilha iluminada
pelos letreiros das lojas.
É uma lembrança tão distante que parece de outra vida.
A marginal, era o caminho das luzes.
Perdi o olhar no horizonte
este vento não tem sal.
...como se fosse noutra vida
A existência paralela
extinguiu-se
como o despertar de um sonho.
Vidas vazias.
O escape toxico dos carros e uma pressa inevitável
de chegar a lugar nenhum
e não perder o autocarro.
Porque era um dia de chuva
e o Inverno é mais triste
nos azulejos dos prédio
no cimento dos passeios
nas escolas bafientas
professores medievais.
Tanta pressa, tanta pressa
As ruas esticam estreitas.
Passos sem nome
ressoando sem cessar
por entre os séculos.
Ainda se parasse de chover!
saudade
Há olhares oprimidos
no limiar do invisivel
procuram-me no inconsciente
iceberg da memória.
O meu nome é abafado
pelos nomes que não chamo.
Evoco uma chama extinta
que ainda ilumina a noite.
Momentos - eternos silêncios
exaustão do pensamento.
É esta a voz que me inspira
e me faz voar sobre as casas,
sobre montes e desertos.
É esta a estranha viagem.
O destino dos meus passos.
Magnética lua ancestral,
uma bola de cristal
suspensa na eternidade.
" Não somos pó, somos magia"
Há princesas e dragões
com máscaras de apatia.
Os cavaleiros de prata
já não salvam mais ninguem.
Tudo muda enquanto existe.
As armaduras são de aço
e as máscaras, de gelo.
Fundiram-se com a alma.
Não se encontra, não se vê.
É uma sombra da vida
vive na teia da aranha
aguarda o seu predador.
Liberdade vaga e oca
arrasta correntes de chumbo.
É um espectro condenado.
Eu...
solto as amarras do sonho
percorro mundos submersos
invertendo a luz das coisas
para renascer a cada instante.
Se a felicidade é o momento
em que sonhei que era livre...
Sou livre porque sonhei
que cada instante perdido
ficou gravado no tempo.
Cantado em vozes de outrora
na harpa de algum druida.
O espaço é uma muralha
que não quero derrubar.
Vou galopando no vento
para onde o olhar do pensamento
me levar.
astrológica
A voz daqueles mistérios
voltou para me atormentar
Uma teia que me prende
ao caminho dos fantasmas.
Úivo - um grito lacinante
corta as trevas, ilusões
onde o tempo se perdeu
com o ultimo vampiro.
Estanca-se o sangue envenenado
pela nostalgia vã
Rebenta - explode - destrói
estilhaços de memória
a um passo do abismo
infinito - inadiável.
Estava escrito no céu
tropeço numa nova estrela
e a resposta de saturno
é uma conjunçao astral
oculta, eterna, fatal.
A mais real das respostas
à incerteza dos meus sonhos.
Há um vestido de espanhola
e uma musica qualquer.
Megalítica dança celta
nos domínios de Endovélico.
O tempo cruza-se, confunde-se.
O espírito histórico perde-se
como um átomo de éter.
Só à luz da globalidade
consigo vislumbrara sombra
mas perco-me do objectivo
por estar próxima demais.
A resposta são enigmas,
aspectos interastrais.
E o caminhodas estrelas
é sonhar.
Voar na filosofia
cavalgar o pensamento
ouvir a história do vento
e acordar.
mudança
A minha casa é onde o espírito mora.
Onde arrumo os meus hábitos e organizo momentos.
A fortaleza sem paredes onde me sinto segura.
As almofadas onde a tormenta descança.
Perfumes e recordações.
São livros e objectos pequenos.
A música de que mais gosto, e o lento passar do tempo.
Não tenho laços nem raízes.
Nem cidade nem país.
Habito as palavras e os sonhos onde me sinto tranquila.
É uma janela aberta a um horizonte qualquer
onde adormeço para sonhar,
onde morri tantas vezes para nascer todos os dias.
Não tem divisões demarcadas.
A minha casa etérea, é transparente e maleavel.
Dissolve-se,transfigura-se,desfaz-se.
Dura um segundo e evapora.
Permanece em mim para sempre, como uma cicatriz,ou um instante esquecido de um momento que passou.
A minha casa é o que invento.
É onde me reinvento.
É toda espelhos e luz, mesmo na sombra.
Mesmo que chova.
Mesmo que a humidade torne o ar pesado.
Mesmo que o sol lhe passe ao lado.
Uma estrada lamacenta, relembra o exílio.
Espaço intermédio, ou rampa de lançamento.
Uma casa de lego que encho de bonecas.
Onde não cabem mais bonecas, nem conchas, nem silêncios.
É onde as máscaras se quebram, e as cortinas voam soltas - são lenços de praia filtrando a luz da manhã.
São dias iguais, ou dias cinzentos.
São vozes que me pertencem e velas de baunilha.
Caixas de pequenos nadas,catalogadas por cores.
Padrões rasgados,de tão gastos.
Um velho pano do chão.
É um palácio de princesas, onde falta quase tudo.
Minha casa reciclada.
Veio uma onda brilhante,...
e tudo desapareceu.
espaço intermédio
Mais um daqueles momentos
em que o tempo é um deserto
em que o silêncio vazio
é uma nota constante.
Já não escrevo,já não sinto.
Já me esqueci de tudo.
Vivo no espaço intermédio
espero o que está para vir.
Não me encontro na apatia
onde a ilusão imortal
evoca a voz peregrina
do fantasma
que assombra o pensamento.
O tempo é mais um lamento
mais um lago inacessivel
onde o meu barco se perde
nas ondas onde me invento.
sombras
Podia ficar acordada para sempre
Para que nos olhos sempre abertos, todas as imagens se gravassem.
Alucinação em fogo de artificio.
O tempo agarra-se, pegajoso.
Prende-me os passos.
Queria soltar-me de uma vez, e mergulhar no abismo.
Desmaiar de abandono, para acordar renovada numa praia adormecida, onde barco algum chegou.
Vida de sombra, no vazio das sombras.
Projecta o mundo das ideias
Que algures, na era remota das luzes, o dilúvio inundou.
Desilusão.
Na vertigem do desconhecido, passeia a brisa da manha, e o perfume de flores recém-nascidas.
a pequena sereia
Tinha um castelo de areia
E um diadema de coral.
Quando imergi do oceano
Ninguém soube, ninguém viu.
O príncipe desmaiado,
Abriu os olhos ao naufrágio
Vagas, cordas e destroços.
Percorreu o vento nos meus cabelos
E a vida inundou-se de estrelas.
Troquei a luz da eternidade
Pela ilusão de uma miragem.
Mergulha só mais uma vez
Antes que a espuma te leve
Para o outro lado do mar.
Rasga os véus e os vestidos
Esse brilho, não é o sol!
É o reflexo do punhal
Que sangra o teu coração.